domingo, 26 de fevereiro de 2012

Trabalho contínuo... Duplo benefício!

TRABALHO CONTÍNUO...DUPLO BENEFÍCIO!
Helena Costa
Assistente Social Pará.

Em janeiro de 2003, a convite de um amigo, comecei a participar na Irmandade de Alcoólicos Anônimos/A.A., do grupo de estudos para profissionais de diversas áreas de atuação, objetivando o V encontro Estadual de A.A. no Estado do Pará, que foi realizado ao final do referido.
A proposta visava a efetivação da cooperação sem afiliação entre A.A. e os profissionais para o trabalho, voltado ao esclarecimento e divulgação das atividades e dos serviços da Irmandade para a sociedade em geral.
Os resultados obtidos com relação ao quantitativo de profissionais não alcançaram as metas em sua totalidade, mas para mim, a experiência foi extremamente gratificante, pois consegui a superação de algumas das barreiras que me impus, quando muitas vezes deixava de olhar ou evitava contato com pessoas que tinham problemas com bebidas alcoólicas.
Era um comportamento egoísta e acomodado que me conduzia a uma vida sóbria e corriqueira, desconhecendo a patologia em si e até mesmo todo o calvário que o alcoólico percorre durante a sua vida ativa no alcoolismo.
A percepção equivocada que tinha dos bêbados foi se desfazendo a cada dia de estudos da literatura, com os esclarecimentos sobre os Doze passos, as Doze Tradições e os Doze Conceitos, bem como a história completa da Irmandade, enfim o Programa de Recuperação que é feito pelo dependente do álcool que deseja parar de beber e que para isso, ele recebe todo o apoio daqueles que fazem parte de A.A.
A aliança entre os Profissionais Cooperadores P.Cs. e a Irmandade é antiga, pois nasceu com eles e busca também ampliar os laços de amizade e cooperação entre os envolvidos para a realização de um trabalho efetivo e eficaz na área do alcoolismo.
Dentre os P.Cs., podemos citar o Dr. William D. Silkworth, psiquiatra ; religiosos como a Irmã Ignacia e Rev. Samuel Shoemaker; Dr. Karl Jung, psicanalista, e cada um teve o seu papel fundamental nos trabalhos iniciais de A.A.
No Brasil, já tivemos profissionais do gabarito do Dr. Eduardo Mascarenhas, psicanalista e jornalista, e no Pará, os Drs. Dorvalino Braga e Edmundo Cutrim psiquiatras do extinto Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira, o berço de A.A. no Pará que muito contribuíram para Irmandade nesse Estado.
Atualmente, temos profissionais cooperadores de diversas áreas da ciência como direito, medicina, serviço social, psicologia e muitas outras.
A necessidade premente de um despertar da sociedade e de se manter sempre a mente aberta para as questões do alcoolismo, bem como de um olhar atento às situações vivenciadas pelo alcoólico em sua relação com o outro, inseridos em um determinado ambiente, nos levam a refletir sobre a urgência de um trabalho contínuo para os profissionais que participam dessa proposta. Eis aí algumas características das atividades da cooperação sem afiliação:
- É voluntária é preciso o desejo de cooperar;
• Disponibiliza qualquer tempo e/ou lugar;
• Existe a Cooperação sem Afiliação entre PC’s e A.A.;
• Não demanda despesas permanentes;
• Proporciona estudos e conhecimentos sobre a doença do alcoolismo;
• Oportunidade de aprendizagem do Programa de Recuperação de A.A.;
• Estreita o relacionamento dos profissionais entre si e destes com a sociedade em geral.
Com uma rotina diária acelerada e estressante, então, nos perguntamos quais motivos poderiam nos levar a aceitação dessa proposta:
• A preocupação com o outro: vivemos em relação com o outro (“Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” Jesus Cristo);
• Crescimento acentuado de consumo de álcool em todos os segmentos da sociedade;
• Alcoolismo uma arma em ação: é a 3ª causa de morte no mundo;
• Cooperação para evitar as conseqüências físicas, psíquicas/psicológicas e sociais do alcoólico;
• Cuidados com a sua própria vida e a dos outros (família, paciente, sociedade em geral meio ambiente), quando orienta e encaminha um(a) alcoólico(a) para tratamento e recuperação;
• Aprendizado para lidar com o seu alcoólico, sem se tornar um co-dependente.
• No desenvolvimento desse trabalho, com dedicação e amizade, chegamos a inevitável conclusão de que existe um duplo benefício, no sentido de que a cooperação sem afiliação proposta por A.A. aos profissionais vem trazendo benefícios para ambos desde a fundação da Irmandade.
Podemos sucintamente pontuar esses benefícios:
• Satisfação em conhecer, aprender e cooperar com o A.A.;
• Ampliação de seus conhecimentos e bibliografia para estudos do alcoolismo;
• Reconhecimento profissional da sociedade e de A.A. pelo trabalho realizado;
• A admiração dos PC’s pelos resultados obtidos por A.A. na recuperação de mais de 1.500.000 alcoólicos no mundo, quando a ciência já havia desenganado muitos deles;
• Oportunidade de atuação profissional na área do alcoolismo;
• A participação de profissionais como custódios não-alcoólicos de A.A., quando se tornam guardiões dos Princípios da Irmandade.
- De A.A.:
• O cumprimento da premissa de levar a mensagem a um (a) alcoólico (a) que ainda sofre no alcoolismo, o que lhe garante a manutenção da sua sobriedade;
• O ingresso de novos membros à Irmandade, permitindo o apadrinhamento e acompanhamento por membros mais antigos;
• A transmissão da mensagem de A.A. pelos profissionais nos meios de comunicação, haja vista a preservação do anonimato dos membros da Irmandade;
• O maior e melhor conhecimento pelo A.A. do trabalho do profissional em sua área de atuação específica.
- Dos Profissionais e de A.A.:
• O trabalho de Cooperação sem Afiliação realizado pelos PC’s e A.A. nas instituições, entidades e empresas públicas ou privadas, de qualquer natureza, para a exposição de questões relacionadas ao alcoolismo;
• Intercâmbio de conhecimentos e experiências de vida, tendo como prêmio uma bela e sólida amizade;
• O respeito e a gratidão mútuos nos trabalhos desenvolvidos pelos PC’s e A.A., através da cooperação sem afiliação;
• A satisfação dos envolvidos nesse trabalho em constatar a recuperação de um (a) alcoólico e sua reintegração à sociedade;
• Buscar sempre a ampliação do número de PC’s na mencionada cooperação, estreitando o relacionamento entre eles e o A.A.
Com esse aprendizado, tenho certeza que pratiquei o meu despertar para alguns valores pessoais e profissionais que me permitiram ver a necessidade de reafirmar minha prática voluntária e solitária em relação ao meu próximo.
E considero que estou me sentindo muito bem.

Vivência nº107 – Mai./Jun./2007.

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