domingo, 31 de julho de 2011

Mente aberta: caminho para a sanidade

Em busca da fé perdida!

Quando procurei me aproximar do 2º Passo enfrentei um dilema bastante sério: - "Viemos a acreditar que um Poder Superior a nós mesmos poderia devolver-nos à sanidade."

Ao ler o passo e a mensagem que ele trazia dizendo que somente um "Poder Superior" poderia resolver minha obsessão pelo álcool, fiquei extremamente desapontado.

Eu já não acreditava mais na existência de Deus. Eu me enquadrava na situação daqueles que já tiveram fé e a perderam.

O alcoolismo desenvolveu dentro de mim um enorme preconceito contra a religião e seus adeptos. Por isso no início de minha caminhada em A.A. se algum companheiro tivesse tentado me impor alguma religião eu estaria fora das reuniões, pois não conseguia encontrar uma fé que funcionasse para mim.

No meu tempo de ativa fui um líder religioso. Tive uma igreja aos meus cuidados e fui pregador da palavra de Deus.

Nessa época eu acreditava que por ser muito religioso Deus resolveria meu problema de alcoolismo. Mas aí veio a derrota.

Cheguei a pregar a palavra de Deus em púlpito, totalmente embriagado.

A igreja me expulsou e não permitiu mais que eu pregasse.

Alguns membros da igreja julgavam que eu tivesse uma legião de demônios junto de mim.

Veio então a derrota total e conseqüentemente cai nas sarjetas.

Eu me encontrava completamente desnorteado, quando alguns companheiros de A.A. tentaram me ajudar dizendo-me que eu deveria ter a mente aberta e humildade, pois assim eu seria novamente conduzido à fé . E que eu não faltasse às reuniões de A.A., pois com certeza, Deus me ajudaria e me devolveria à sanidade.

Mas o que realmente me libertou de todos os traumas religiosos foi justamente uma carta que recebi de uma companheira da cidade de Campinas/SP., quando eu me correspondia com a "RIS" ( Reunião de Internacionalista e Solitários).

Ela me enviou uma reportagem que saiu no jornal onde contava a incrível história de um garotinho que permaneceu agarrado a um toco de árvore dentro de um rio por três dias esperando socorro de seu pai.

Eles estavam pescando e foram acometidos por uma forte tempestade.

O pai do garoto não conseguindo trazê-lo devido à forte correnteza ordenou que ele se agarrasse àquele toco e não o largasse por nada.

Quando o garoto foi encontrado pelos pol iciais levaram-no ao hospital e tendo alta os repórteres lhe perguntaram se ele não teve medo de morrer.

O garoto com um grande sorriso no rosto respondeu que não, pois tinha certeza que seu pai voltaria para salvá-lo.

Estou no programa de de A.A. há oito anos e meio, e sóbrio.

Segurei no galho e não o larguei por nada. Consegui me encontrar com Deus na forma que eu O concebo.

Hoje tenho uma fé que funciona! Hoje sei que esteja onde eu estiver, aconteça o que acontecer haja o que houver, nunca mais estarei sozinho!

Garcia/Ribeirão Preto/SP
Revista Vivência - Matéria do Mês - Edição 112

Reflexões diárias de A.A.: 31/07

31 DE JULHO

UMA ORAÇÃO PARA TODAS AS ESTAÇÕES

“Concedei-nos, Senhor, a  Serenidade necessária, para aceitar as coisas que não podemos modificar, Coragem para modificar aquelas que podemos, e  Sabedoria para distinguir umas das outras.
OS DOZE PASSOS E AS DOZE TRADIÇÕES,  p. 112

    O poder desta oração é irresistível na sua beleza simples, e comparável à Irmandade de A.A. Há ocasiões em que me sinto empacado  enquanto a recito, mas se examino o motivo que está me aborrecendo, encontro a resposta ao meu problema. A primeira vez que isto aconteceu eu fiquei assustado, mas agora a uso como uma ferramenta valiosa. Aceitando a vida como ela é, ganho serenidade. Agindo, ganho coragem e agradeço a Deus pela capacidade de distinguir entre situações que posso decidir e aquelas que devo entregar a Deus.
    Tudo que tenho agora é dádiva de Deus: minha vida, minha utilidade, meu contentamento e este programa. A serenidade me possibilita continuar caminhando.
    Alcoólicos Anônimos é a maneira mais fácil e suave.

sábado, 30 de julho de 2011

Espiritualidade em A.A.

Espiritualidade em A.A.
O que é espiritualidade?
 
Certa vez fizeram esta pergunta ao Dalai-Lama e ele deu uma resposta extremamente simples “Espiritualidade é aquilo que produz no ser humano uma mudança interior”. Não entendendo direito, alguém perguntou novamente: mas se eu praticar a religião e observar as tradições, isso não é espiritualidade? O Dalai-Lama respondeu. Pode ser espiritualidade, mas, se não produzir em você uma transformação, não é espiritualidade.
 
Parece-me que o principal a ser retido desse pequeno diálogo com o Dalai-Lama, é que espiritualidade é aquilo que produz dentro de nós uma mudança. O ser humano é um ser de mudanças, pois nunca está pronto, está sempre se fazendo, física psíquica, social e culturalmente. Mas há mudanças e mudanças. Há mudanças que não transformam nossa estrutura de base. São superficiais e exteriores, ou meramente quantitativas.
 
Já a Espiritualidade em A.A., é algo muito sublime, o prazer de viver é o tema e a ação sua palavra chave, o meio de que A.A. dispõe em nosso preparo para a recepção dessa dádiva, está na prática dos Doze  Passos  de nosso programa. Portanto, procedamos a um rápido levantamento do que temos tentado fazer até aqui.
 
O Primeiro Passo nos revelou um fato surpreendentemente paradoxal: descobrimos que éramos totalmente incapazes de nos livrar da obsessão pelo álcool até que admitíssemos nossa impotência diante dele. No Segundo Passo vimos que já não éramos capazes de, por nossos próprios meios, retornar à sanidade, e que algum Poder Superior teria que fazê-lo por nós, para que pudéssemos sobreviver. Em conseqüência, no Terceiro Passo, entregamos nossa vontade e nosso destino aos cuidados de Deus, na forma em que o concebemos.
A título provisório, aqueles de nós que eram ateus ou agnósticos descobriram que o nosso Grupo ou AA no todo, poderia atuar como Poder Superior. A partir do Quarto Passo começamos a procurar dentro de nós as coisas que nos haviam levado à bancarrota física, moral e espiritual e fizemos um corajoso e profundo inventário moral. Em face do Quinto Passo decidimos que apenas fazer um inventário não seria suficiente, sabíamos que era necessário abandonar nosso funesto isolamento com nossos conflitos e, honestamente, confiá-los a Deus e a outro ser humano. No Sexto Passo, muitos dentre nós recuaram pela simples razão de que não desejavam a pronta remoção de alguns defeitos de caráter dos quais ainda gostavam muito, sabíamos, porém, todos, da necessidade de nos ajustar ao princípio fundamental deste passo, portanto decidimos que embora tivéssemos alguns defeitos de caráter que ainda não podíamos expulsar, devíamos de todos os modos abandonar nossa obstinada e revoltante dependência deles. Dissemos, “Talvez não possa fazer isso hoje  mas, pelo menos, posso parar de protestar. Então no Sétimo Passo, rogamos humildemente a Deus que, de acordo com as condições reinantes no dia do pedido e, se esta fosse a Sua vontade, nos libertasse de nossas imperfeições. No Oitavo Passo, continuamos a limpeza de nosso interior, pois sabíamos que não só estávamos em conflito conosco, como também com pessoas e fatos do mundo em que vivíamos. Precisávamos começar a restabelecer relações amistosas e, para esse fim, relacionando as pessoas que havíamos ofendido, nos propusemos, com disposição, a remediar os males que praticamos. Prosseguimos nesse desígnio no Nono Passo, reparando diretamente junto às pessoas atingidas, os danos que causamos, salvo quando disso resultassem prejuízos para elas ou outros. No Décimo Passo, havíamos iniciado o estabelecimento de uma base para a vida cotidiana, conhecendo claramente que seria necessário fazer de maneira contínua o inventário pessoal, admitindo prontamente os erros que fôssemos encontrando. No Décimo Primeiro Passo, vimos que, se um Poder Superior nos havia devolvido à sanidade e permitido que vivêssemos com relativa paz de espírito num mundo conturbado, valia a pena conhecê-lo melhor, através do contato mais direto possível, ficamos sabendo que o uso persistente da oração e da meditação abria, de fato, o canal para que, no lugar onde havia existido um fio de água, corresse um caudaloso rio que levava em direção ao indiscutível poder e a orientação segura de Deus, tal como estávamos podendo conhecê-lo, cada vez melhor.
 
Assim, praticando esses passos, experimentamos um despertar espiritual e a espiritualidade em AA sobre o qual não nos restava a menor dúvida, e agora, o que diremos do Décimo Segundo Passo? A energia maravilhosa que ele desencadeia e a ação pronta pela qual leva nossa mensagem ao próximo alcoólico sofredor, e que finalmente convertem os Doze Passos em ação sobre todas as nossas atividades é a recompensa, a magnífica realidade de Alcoólicos Anônimos, é comum em quase todos os membros de AA, a afirmação de que nenhuma satisfação é mais profunda e nenhuma alegria é mais intensa e duradoura do que um décimo segundo passo bem executado, contemplar os olhos de homens e mulheres se abrirem maravilhados à medida em que passa das trevas à luz, suas vidas se tornando rapidamente cheias de propósito e sentido, famílias inteiras se reintegrando, o alcoólico sendo recebido alegremente em sua comunidade como cidadão respeitável, e acima de tudo, ver estas pessoas despertadas para a presença de um Deus amantíssimo em suas vidas, são fatos que constituem a essência do bem que nos invade, quando levamos a mensagem de AA ao irmão sofredor. Isto é espiritualidade em AA.
 
Agora, a maior pergunta que já fizemos: o que dizer da prática destes princípios em todas as nossa atividades? Temos condições para amar a vida em todos os seus aspectos com tanto entusiasmo quanto amamos aquela pequena parcela que descobrimos, quando tentamos ajudar outros alcoólicos a alcançar a sobriedade? Somos capazes de levar às nossas vidas em família, por vezes bastante complicadas, o mesmo espírito de amor e tolerância com que tratamos nossos companheiros do grupo de AA? As pessoas de nossa família que foram envolvidas e até marcadas pela nossa doença, merecem de nós o mesmo grau de confiança e fé que temos em nossos padrinhos? Estamos prontos para arcar com as novas e reconhecidas responsabilidades que nos cercam? Além do mais, como podemos nos ajustar à derrota ou ao êxito aparentes? Podemos aceitar e nos adaptar a ambos sem desespero ou orgulho? Podemos aceitar a pobreza, a doença, a solidão e o luto com coragem e serenidade? A resposta de AA, a tais perguntas é: sim tudo isso é possível, se vivenciarmos os Doze Passos de AA. Isso é espiritualidade em AA. É mais maravilhoso ainda, sentir que não é necessário sermos especialmente distinguidos dentre nossos companheiros para podermos ser úteis e profundamente felizes.  Muitos de nós podemos ser líderes proeminentes e nem querem ser, o serviço prestado com prazer, as obrigações cabalmente cumpridas, os reveses calmamente aceitos ou resolvidos com a ajuda de Deus, o reconhecimento de que, tanto no lar como fora dele, somos confrades num esforço comum, o bem compreendido fato de que, perante Deus, todos os seres humanos são importantes. A prova de que o amor, livremente oferecido, na certa traz um retorno total, a certeza de que não mais estamos isolados e sozinhos em prisões criadas pela nossa mente, a segurança de que não somos mais desadaptados, senão que nos integramos e fazemos parte do esquema de coisas criadas por Deus. Estas são as satisfações permanentes e legítimas de que fruímos de uma vida correta, que nenhuma pompa ou ostentação de riquezas materiais poderá suplantar, isto é espiritualidade em AA, é dar sem esperar nada em troca, é viver e deixar viver, isto é espiritualidade em AA.   
Juracy M.www.aaareadodf.org

Reflexões diárias de A.A.: 30/07

30 DE JULHO
DEVOLVENDO

...encontrou algo mais valioso que o ouro... Pode não perceber, de início, que apenas tocou a superfície de uma mina infinita que só pagará dividendos se a explorar para o resto da vida e insistir em distribuir toda a produção.
ALCOÓLICOS ANÔNIMOS, p. 145 ou p. 157
      Minha parte na Sétima Tradição significa muito mais do que apenas dar dinheiro para pagar o café. Significa ser aceito por mim mesmo, ao pertencer a um Grupo. Pela primeira vez posso ser responsável, porque tenho uma escolha. Posso aprender os princípios para resolver os problemas de minha vida diária participando nos serviços de A.A. Sendo autosuficiente, posso devolver a A.A. o que A.A. me deu! Devolver a A.A., não somente assegura minha sobriedade, mas me permite adquirir a garantia de que A.A. estará aqui para meus netos.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Causas e efeitos do alcoolismo na terceira idade

Causas e efeitos do alcoolismo na terceira idade
emdefesadacidadania.wordpress
      
Você já viu campanhas contra o alcoolismo para jovens? Provavelmente, muitas. E com relação a uma campanha para alertar os idosos sobre o perigo que o estrago representa para a sua saúde? É quase certo que nenhuma. Esta falsa premissa de que o álcool é um tema preocupante apenas para a juventude e não para os idosos, pode estar provocando uma epidemia silenciosa entre esse segmento da população.
       Essa falta de atenção com o alcoolismo na terceira idade está resultando em diagnósticos equivocados, que podem ser origem de futuras e graves complicações. Enquanto os meios de comunicação alertam o povo acerca do consumo abusivo do álcool entre os jovens, a verdade é que o próprio sistema não está preparado para detectar facilmente as pessoas idosas que ingerem bebidas etílicas de forma exagerada.
     
CAUSAS
       O consumo de álcool na terceira idade está relacionado a transtornos físicos evidentes e com o agravamento do problema será inevitável que se tomem medidas urgentes, enquanto ainda é tempo. Esses idosos são mais reservados na hora de relatar seus excessos com esta droga, além do que os médicos desconfiam menos dos idosos do que da gente jovem.
       Em conseqüência, esse controle para os idosos é muito mais difícil. Fatores sócio demográficos e outros também podem influir para que um idoso abuse do álcool: violências, abandono, isolamento, depressão, outras doenças, dificuldades econômicas, etc.
       As tabelas em uso para avaliar se uma pessoa é alcoólatra ou não deveriam aplicar-se às pessoas idosas. Não é razoável admitir que o metabolismo próprio do idoso não afeta a absorção do álcool. Na realidade nesta idade o organismo se torna mais sensível a essa droga. Dessa maneira, quantidades equivalentes de álcool provocam maiores efeitos físicos e psíquicos em idosos.
       Geralmente os idosos não tem problemas legais, sociais e profissionais que limitem ou impeçam o consumo de bebidas alcoólicas, apesar de sofrerem danos muito mais sérios do que os jovens. De fato o Instituto Nacional do Alcoolismo e Abuso do Álcool (NIAAA), norte americano, recomenda que não se deve ingerir diariamente, mais de uma bebida alcoólica, a partir dos 60 anos.
       Outro ponto importante para diagnosticar corretamente esse tipo de pacientes é contextualizar seu consumo, ou sua vida alcoólica, em outras palavras. Sendo um grande bebedor ou não, disso dependerá que se descarte ou solidifique certas impressões do especialista que estuda o paciente.
     
EFEITOS
       O consumo de álcool por idosos se relaciona geralmente com problemas físicos, psicológicos e mentais (memória, aprendizado, etc). Também leva a uma maior tendência a ficar doente (morbilidade), ter uma pior imagem de si mesmo (auto-estima), fazer mais visitas ao médico, apresentar transtornos depressivos, ter menos satisfação com o(a) parceiro(a) e menos relações sociais do que os abstêmios.
       As supostas virtudes terapêuticas do consumo moderado do álcool resumem-se em redução do risco de moléstias coronárias, derrames e demência. Todavia, segundo os autores, esses efeitos dependem do perfil do consumidor que pode não ser bebedor, fazê-lo moderada ou abusivamente, terreno ainda pouco estudado.
     
TRATAMENTO
       Existem poucos estudos que avaliem a eficiência dos diversos tratamentos para idosos alcoólatras. A terapia pode beneficiar e ajudar a reduzir o abuso. Tomar consciência do problema, permitiria ajudar muito a combater o vazio terapêutico existente no tratamento do alcoolismo entre os idosos. Uma das recomendações é a de internação para desintoxicação em pacientes com idade avançada. Outra alternativa são os grupos de apoio.
       Neste contexto, a Igreja Batista Carioca e Novo Rumo Obras Sociais colocam à disposição dos interessados um projeto de grande relevância no tratamento do alcoolismo denominado “Celebrando a Recuperação”.
     
PREVENÇÃO
       O tema do uso do álcool por idosos, deve ser redefinido com novos limites, novos critérios, diagnósticos mais precisos e novos instrumentos de prevenção e acompanhamento. Neste contexto, esperamos sensibilizar o Poder Legislativo a criar leis específicas para a terceira idade, atualizando o Estatuto do Idoso, proibindo a venda e o consumo de qualquer tipo de bebida alcoólica por maiores de 60 anos, a exemplo do que já é feito para os menores de 18 anos.

Nota do blogeiro: Para ser membro de AA, o único requisito é o desejo de parar de beber. Se é o seu caso, procure um grupo de A.A. mais próximo ou entre em contato conosco.

Reflexões diárias de A.A.: 29/07

29 DE JULHO

DÁDIVAS ANÔNIMAS DE BONDADE

Como alcoólicos ativos estávamos sempre procurando um donativo de um ou de outro.

AS DOZE TRADIÇÕES ILUSTRADAS, p. 14.

      O desafio da Sétima Tradição é um desafio pessoal, lembrando-me para compartilhar e dar de mim mesmo. Antes da sobriedade a única coisa que eu sempre sustentei foi o meu hábito de beber. Agora meus esforços são um sorriso, uma palavra amável e bondosa.
      Vi que precisava carregar meu próprio peso e permitir aos meus novos amigos caminhar comigo porque, pela prática dos Doze Passos e das Doze Tradições, nunca havia tido algo tão bom.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Quase Sóbrio

Quase Sóbrio
 

Isto não vai lhe fazer mal! Era o raciocínio de meu amigo Ted. Leia em voz alta para entrar na sua cabeça dura: "não-alcoólico"!

Meu "amigo" colocou a bebida geladinha na minha mão. Fiquei olhando enquanto o suor se formava na garrafa marrom. Parecia e se comportava como qualquer outra das cervejas que já havia bebido. Um vento quente soprou sobre minha fazenda, com o cheiro de feno recém-recolhido ao celeiro. Olhei para o rótulo da garrafa que dizia: "meio por cento de álcool". Como um pouquinho de álcool assim poderia me fazer mal? Eu já não tinha três anos de sobriedade? Certamente, esta minúscula quantidade de álcool não seria um adversário para a potente defesa da sobriedade que eu levantara dentro de mim (infelizmente, eu não tinha participado de nenhuma reunião de A.A. no período de um ano). Acalmados os meus justificados medos, tomei a primeira, parando apenas uma vez para respirar. Tomei mais uma sentindo-me muito bem. Finalmente, pensei, agora havia uma maneira de ser socialmente aceitável no meu antigo círculo de amizades.

Em apenas seis meses, eu estava de volta a um centro de tratamento. Sou um alcoólico, sou alérgico a qualquer quantidade de álcool, por menor que seja. Passadas duas semanas tomando "quase" cerveja, eu retomava à minha bebida de sempre bem ali onde tinha parado há três anos.

Os dois anos seguintes foram um tal "rolo compressor" que espero não esquecer tão cedo. Minha sobriedade, como diz o Livro Azul, era "precária". De dois a três meses seco, daí de volta pra lá. Perdi inúmeros bons empregos, bem como um casamento de oito anos.

Alguma coisa aconteceu em março de 1992. Meu Poder Superior, mais uma vez, restaurou a dádiva da sobriedade em minha vida. Os dezessete meses que já se passaram comprovam a fidelidade da minha promessa favorita: Deus está fazendo por mim o que não posso fazer por mim mesmo. Aprecio a dádiva agora e mantenho-a com uma freqüência a várias reuniões e um apadrinhamento cuidadoso.

Tenho uma alergia do corpo e da mente chamada alcoolismo. Se deixo o "gigante adormecido" em paz,estou salvo. Se vou acordá-lo com a mínima quantidade de álcool, o imperioso desejo fisiológico sobrepõe-se. Abstinência total e completa permanece a única esperança de recuperação desta doença incrivelmente traiçoeira.

Rick R. Gradview / USA

VIVÊNCIA N° 32 - NOV/DEZ. DE 1994

Reflexões diárias de A.A.: 28/07

28 DE JULHO

AQUELES QUE AINDA SOFREM

Devemos resistir à orgulhosa ideia de que uma vez que Deus nos tem feito bem numa determinada área, estamos destinados a ser um meio de graça salvadora para todos.

A.A. ATINGE A MAIORIDADE, p. 208 ou p. 221

      Os Grupos de A.A. existem para ajudar alcoólicos a alcançar a sobriedade. Grande ou pequeno, firmemente estabelecido ou recente, de temática, de discussão ou de estudo, cada Grupo tem apenas uma razão de ser: transmitir a mensagem para o alcoólico que ainda sofre. O Grupo existe para que o alcoólico possa encontrar uma nova maneira de vida, uma vida abundante em felicidade, alegria e liberdade. Para se recuperar, muitos alcoólicos precisam do apoio de um Grupo de outros alcoólicos que compartilham suas experiências, forças e esperanças. Logo, minha sobriedade e a sobrevivência de nosso programa dependem de minha determinação de colocar primeiro as primeiras coisas.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Amor incondicional

Amor incondicional

Tenho 38 anos de idade e sou uma mulher negra e alcoólica.

Tenho escutado nas salas, pessoas relatarem que no momento em que entraram na primeira reunião, sabiam que faziam parte dali, mas isto não aconteceu comigo. Fui à primeira reunião de A.A. sozinha, após trinta dias num centro de tratamento. Entrei, peguei uma xícara de café e me sentei. Estavam lá três ou quatro homens brancos conversando em pé. Nenhum deles percebeu a minha presença. Outro homem entrou e começou a relatar aos outros a respeito de seu dia de trabalho. Não creio que ele tenha reparado em mim e começou a falar em um colega de trabalho referindo-se a ele como um "crioulo". Não é necessário dizer como me senti. Agarrei-me na cadeira e li a Terceira Tradição, que estava na parede, e nos diz que o único requisito para ser membro de A.A. é o desejo de parar de beber. Ela não diz nada sobre sexo, raça, religião, idade, etc., e senti que, acima de tudo, eu tinha o desejo de não beber.

Todos os tipos de idéias malucas me vieram à mente. Sou da cidade de New York e desde criança ouvia todo tipo de historias de horror sobre as pessoas do sul. Eu não sabia se seria enforcada numa árvore ou coisa pior. O que realmente sabia, é que não desejava me deter diante de nenhum obstáculo para permanecer sóbria. Portanto, mesmo apavorada, fiquei naquela reunião. Ao final, todos se deram às mãos, rezando o Pai Nosso e cantaram.

Algum tempo depois, um daqueles homens que estavam presentes em minha primeira reunião, introduziu-me no serviço de A.A. e eu consegui amar a todos eles, mesmo àquele que teve a atitude discriminatória. Hoje sinto que faço parte de A.A. Fiz desse grupo a minha família. Todos demonstraram um amor incondicional por mim e nenhum repara na minha cor. Amadrinho diversas mulheres brancas e sou secretária do grupo. Aprendi duas lições naquele primeiro dia:
1) Alguns de nós são mais doentes do que os outros, mas somos todos filhos de Deus, com o direito de acertar e de errar;
2) Irei sempre acolher um recém-chegado com amor e carinho, pois sei como alguém se sente ao chegar à ultima casa do último quarteirão e não ser bem-vindo.

Portanto, se você é um iniciante, tem problema de bebida e não se sente fazendo parte, continue retornando, pois A.A. de fato funciona.

N. Charleston Carolina (USA)

VIVÊNCIA N°. 27 JAN/FEV. DE 1994

Reflexões diárias de A.A.: 27/07

27 DE JULHO

DAR LIVREMENTE

Faremos todos os sacrifícios pessoais necessários para assegurar a unidade de Alcoólicos Anônimos. Faremos isto porque aprendemos a amar a Deus e a nossos semelhantes.

A.A. ATINGE A MAIORIDADE,  p. 209 ou p. 222

      Ser autosuficiente através de minhas próprias contribuições nunca foi uma característica forte em mim durante os meus dias de alcoólico ativo. Dar tempo e dinheiro sempre exigia um preço rotulado.
      Quando ingressei me falaram “Nós temos que dar para manter”. Quando comecei a adotar os princípios de Alcoólicos Anônimos em minha vida, descobri que era um privilégio dar para a Irmandade como expressão de gratidão que sentia em meu coração. Meu amor a Deus e às outras pessoas tornou-se o fator motivador em minha vida, sem pensar em retorno. Agora percebo que dar livremente é a maneira de Deus se expressar atavés de mim.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Através do espelho encontrei uma saída

Através do espelho encontrei uma saída
"O reflexo daquele espelho bateu forte em meu coração"

A Irmandade chegou para mim no dia dois de abril de dois mil, quando descobri que precisava de A.A. para entender que o álcool havia me derrotado e admitir que sou portador da doença do alcoolismo.

Encontrar aquele amigo de infância e membro de A.A. no momento mais difícil de minha vida fazendo uma abordagem direta, perguntando-
me como estava a minha vida e que nem eu mesmo sabia como estava, ou seja, sem rumo e sem eira nem beira, pois minha vida resumia-se apenas e exclusivamente numa frase: "Um dia fui bancário, universitário, sindicalista, amigo, solidário, alegre, bom filho, bom pai, bom marido".

Enfim, um ser humano que um dia foi amante da vida e da natureza, achando que estava chegando na reta final da vida.

Passei a viver em conflito, tormento, angústia, desespero, contra tudo e contra todos: amigos, filhos, esposa, pais, e a mim mesmo; e o pior, buscando respostas com a certeza de que viver não tinha sentido.

Por que viver? Para que viver?

Graças àquele amigo de infância iluminado por um Deus amantíssimo e hoje meu padrinho em A.A., com sua abordagem, deu-me todas as respostas que eu queria encontrar.

Sua sinceridade foi fundamental para mim, quando ele dizia: "Rubinho, você foi sincero e honesto consigo mesmo alguma vez na vida? Faça isso diante de um espelho, sozinho no seu quarto - vai funcionar".

E não é que funcionou mesmo? O espelho estava ali me esperando para revelar e abrir a minha mente, pois o reflexo daquele espelho bateu forte no meu coração.

Em conseqüência, ingressei no Grupo Nova Estrela da Paz em Fortaleza, logo após minha segunda reunião no grupo.

Encontrei-me com o Rubinho, aqui mesmo que "um dia fui" e que renasceu com vontade de viver, de cabeça erguida, cheio de esperanças, sonhos, ideais e objetivos, como por exemplo: concluir minha faculdade, conviver em harmonia com minha esposa, filhos, pais e toda minha comunidade.

Hoje, com o espírito de amor ao próximo, venho agradecer a um Ser Superior em A.A., a ajuda dos companheiros e companheiras.

Nestas vinte e quatro horas, pois é só um dia de cada vez, venho evitando o primeiro gole e com todas as letras desejo vinte e quatro horas de sobriedade a todos (as) que fazem esta Irmandade tão maravilhosa para mim.

Muito obrigado!

Rubinho, Fortaleza/CE

Vivência 85 ­ Set/Out de 2003

Reflexões diárias de A.A.: 26/07

26 DE JULHO

O “VALOR” DA SOBRIEDADE

Todos os grupos de A.A. deverão ser absolutamente autosuficientes, rejeitando quaisquer doações de fora.

OS DOZE PASSOS E AS DOZE TRADIÇÕES, p. 144

      Quando vou fazer compras eu vejo os preços e, se preciso do que vejo, eu compro e pago. Agora que estou em reabilitação, tenho que corrigir a minha vida.
      Quando vou a uma reunião, tomo um café com açúcar e leite, algumas vezes até mais do que um. Mas, na hora que passa a sacola eu estou muito ocupado para tirar dinheiro do meu bolso ou não tenho o suficiente, mas estou ali porque necessito dessa reunião. Ouvi alguém sugerir que se colocasse na sacola o preço que custa uma cerveja e pensei: isto é demais! Quase nunca coloco o que devia. Como muitos outros, confio nos membros mais generosos para financiar a Irmandade. Esqueço que precisa-se de dinheiro para alugar a sala de reuniões, comprar leite, açúcar e copos. Pago, sem hesitação, o preço que é exigido por uma xícara de café, num restaurante, após a reunião; sempre tenho dinheiro para isto. Assim, quanto vale minha sobriedade e minha paz interior?

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Alcoolismo e Acidentes de Trânsito - Sugestão: postos de gasolina poderiam parar de vender bebida?

Alcoolismo e Acidentes de Trânsito
João José Leal
Docente em Direito Penal. Professor do CPCJ/UNIVALI. Promotor de Justiça Aposentado e Ex-Procurador Geral de Justiça de SC. Associado ao IBCCrim e à AIDP.
http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=536

O Código de Trânsito Brasileiro - CTB estabeleceu normas severas para punir os motoristas alcoolizados. Para o Código, aqueles que cometem acidentes com vítimas (fatais ou não) e os que dirigem veículo automotor, na via pública, sob a influência de álcool ou substância de efeitos análogos, colocando em perigo a segurança dos demais, devem ser responsabilizados criminalmente.
Estas são apenas algumas das infrações penais previstas no CTB (homicídio e lesão corporal culposos e embriaguez ao volante). Mas há outras. As penas, conforme o caso, vão de seis meses a quatro anos de detenção - substituíveis por penas pecuniárias ou restritivas de direitos - mais suspensão da habilitação.

Por sua vez, basta que o motorista esteja ao volante sob a influência de álcool, em nível superior a seis decigramas por litro de sangue, para que cometa uma infração administrativa gravíssima. Será punido com multa no valor de um mil reais, retenção do veículo e recolhimento do documento de habilitação (art. 165, do CTB).

Verifica-se, portanto, que o Código é bastante rigoroso com o motorista alcoolizado. As autoridades de trânsito e as judiciárias dispõem de um elenco, relativamente amplo e eficiente de penalidades administrativas e criminais, para prevenir e reprimir a embriaguez no trânsito.

E isto é necessário. Afinal todos sabemos que o álcool tem sido o sinistro combustível dos acidentes de trânsito, com ou sem vítimas. Anualmente, ocorrem mais de 350 mil acidentes nas ruas e estradas brasileiras com um saldo sinistro: 33 mil mortos e mais de 400 mil feridos (dados divulgados pelo CONTRAN). Em grande parte desses acidentes - mais 70% - constatou-se que, ao menos um dos motoristas, encontra-se alcoolizado. Portanto é preciso prevenir e reprimir a embriaguez ao volante.

Diante desta tragédia, o controle efetivo e rigoroso deve ser praticado pelos agentes e autoridade de trânsito. No plano da repressão, bastaria uma fiscalização mais atuante, séria e competente realizada por policiais e agentes de trânsito. Isto coibiria e reduziria o número de motoristas alcoolizados. Mas o controle não deve restringir-se à repressão.

Mais importante é a prevenção, que deve ser feita através de campanhas educativas. Nesse ponto, as autoridades responsáveis pelo trânsito brasileiro, têm feito boas campanhas na mídia, esclarecendo sobre a proibição de se dirigir alcoolizado e sobre as conseqüências graves que poderão advir dessa conduta perigosa e irresponsável. Porém, é preciso fazer muito mais.

Os meios de comunicação social podem dar uma grande contribuição, pois são importantes formadores de opinião. As escolas e as entidades representativas dos diversos segmentos da sociedade devem também fazer a sua parte. Enfim, no plano da prevenção educativa, é preciso que toda a sociedade civil se conscientize de que bebida alcoólica e direção de um veículo são coisas incompatíveis.

No entanto, parece-nos um paradoxo e uma verdadeira insensatez pregar a prevenção e a repressão da embriaguez ao volante, quando se verifica que virou moda a juventude reunir-se nos postos de gasolina, não para encher o tanque do veículo, mas para encher a cuca de bebida alcoólica.

Trata-se de um fenômeno recente, mas que está se intensificando. Principalmente nos finais de semana, é comum os postos de combustível ficarem lotados de jovens, que ali permanecem para ingerir bebidas alcoólicas e se preparar para as suas merecidas festas noturnas. Merecidas, é claro, desde que frequentadas por jovens motoristas não alcoolizados. Infelizmente, muitos destes deixam os postos de combustível, dirigindo seus veículos com um bom percentual de álcool circulando nas veias.

Por isso, cremos que autoridades de trânsito deveriam fiscalizar mais severamente essa prática perigosa e ilícita. Cremos, também, que o Conselho Nacional de Trânsito, tão rigoroso em proibir o analfabeto e o menor de 18 anos ao volante de qualquer veículo automotor, aí incluindo um simples ciclomotor, deveria refletir seriamente sobre a conveniência de se impedir a venda de bebida alcoólica nos postos de gasolina.

Em nome da segurança, temos uma legislação rigorosa a ser observada para a abertura e funcionamento dos postos de combustível. Seria fácil essa mesma legislação proibir a venda de bebida alcoólica nesses locais. Basta vontade política.


Afinal, dirigir embriagado é uma infração à lei administrativa e penal. Além disso, parece um contra-senso gastar com publicidade, de muito bom apelo pedagógico que diz, se você vai dirigir, não beba; se você bebeu não dirija, mas admitir que os postos de gasolina sejam mercados do sinistro combustível de mais acidentes com mortes e lesões corporais nas ruas e vias públicas de nossas cidades.

Reflexões diárias de A.A.: 25/07

25 DE JULHO

AQUELES QUE AINDA SOFREM

Quanto a nós, se neglicenciarmos aqueles que ainda sofrem, nossas próprias vidas e segurança correrão riscos inomináveis.

OS DOZE PASSOS E AS DOZE TRADIÇÕES, p. 136
Eu conheço o tormento de beber compulsivamente para acalmar meus nervose meus medos. Também conheço a dor do esforço para a sobriedade. Hoje eu não esqueço a pessoa desconhecida que sofre quieta, retirada e escondida no alívio desesperado da bebida. Peço ao meu Poder Superior para me dar a Sua orientação e a coragem para ter disposição de ser Seu instrumento para levar dentro de mim compaixão e ações altruístas. Que o Grupo continue a me dar força para fazer com os outros o que não posso fazer sozinho.

domingo, 24 de julho de 2011

Quando o Grande "Eu" se torna "Ninguém"

Quando o Grande "Eu" se torna "Ninguém"

Dr. Harry Tiebout, Psiquiatra


Grande amigo da irmandade desde 1939 foi o primeiro psiquiatra a reconhecer o trabalho de A.A. e a usar os seus princípios em sua prática profissional. Junto com outros médicos, o Dr. Tiebout acelerou e aprofundou a aceitação mundial de A.A. entre os homens da medicina.
O programa de ajuda de A.A. foi bafejado por elementos de verdadeira inspiração, e, em nenhum aspecto é mais evidente do que na escolha de seu nome, Alcoólicos Anônimos.
O anonimato constitui-se, naturalmente, em uma proteção de grande valor, especialmente para o recém chegado; porém, minha intenção presente é de enfocar um valor ainda maior do anonimato, na contribuição para o estado de humildade necessário para a manutenção da sobriedade do alcoólico recuperado.
Minha tese é de que o anonimato, cuidadosamente preservado, fornece dois ingredientes essenciais para essa manutenção. Esses dois ingredientes, na verdade, são duas faces de uma mesma moeda: primeiro, a preservação de um ego reduzido; segundo, a presença contínua de humildade ou simplicidade.
Conforme o que constatamos nas Doze Tradições de A.A., “o anonimato é o alicerce espiritual das nossas Tradições”. Cada membro é lembrado a colocar “os princípios acima das personalidades”.
Muitos de vocês talvez queiram saber o que essa palavra “ego” significa. Há tantas definições, que primeiramente é preciso esclarecer a natureza da necessidade da redução do ego.
Esse ego não é um conceito intelectual, mas sim um estado de sentimento – uma sensação de importância – de ser “especial”. Poucas são as pessoas capazes de admitir em si mesmas a necessidade de serem especiais.
Muitos de nós, entretanto, podem reconhecer ramificações desse procedimento e colocar uma denominação própria para elas.
Deixem-me ilustrar:
Nos primeiros dias de A.A., fui consultado a respeito de um problema sério que estava preocupando um grupo local.
O costume de se comemorar um ano de sobriedade com um bolo de aniversário teve como conseqüência o fato de que alguns vieram a se embriagar, pouco tempo depois da comemoração. Parecia que alguns não podiam agüentar a prosperidade. Pediram a minha posição a respeito; a favor do bolo, ou contra o bolo de aniversário.
Caracteristicamente, escusei-me por não poder ajudá-los, não por modéstia, mas por ignorância. Cerca de três ou quatro anos depois, o próprio A.A. forneceu-me a resposta. O grupo não teve mais esse problema, segundo o que disse um membro:
“Nós ainda comemoramos, mas agora um ano de sobriedade tornou-se lugar comum. Nenhum de nós precisa ter mais a menor preocupação com isso”.
Uma olhada ao que aconteceu nos mostra o egoísmo, como eu o vejo, em ação. Em primeiro lugar, a pessoa que esteve sóbria por um ano inteiro, tornou-se um exemplo, algo para se admirar. Seu ego naturalmente se expandiu, seu orgulho floresceu e qualquer diminuição de egoísmo, obtida anteriormente, desapareceu. Tendo sua confiança renovada, acabou por tomar um drinque.
Tinha sido considerada especial e reagiu de acordo. Depois, essa parte especial se esvaiu. Nenhum ego é alimentado, estando na condição de lugar comum, e desse modo, o problema de ego elevado desaparece.
Hoje A.A., na prática, está bem consciente do perigo de se bajular alguém com honrarias e louvores. Os riscos da realimentação do ego são reconhecidos.
A frase “servidor de confiança” constitui-se num esforço para manter baixo o nível do egoísmo, embora alguns servidores tenham problemas nesse particular.
Agora, vamos dar uma olhada mais acurada nesse egoísmo que causa transtornos. Os sentimentos, associados a esse estado da mente, são de fundamental importância na compreensão do valor que tem o anonimato para o indivíduo – o valor de colocá-lo na condição de um mero participante do contingente da humanidade.
Certas particularidades demonstram esse ego, que vê a si próprio como algo especial e, por isso mesmo, diferente. É elevado em si mesmo, e propenso a manter, igualmente, suas metas e suas fantasias em alto nível. Menospreza àqueles que define como sendo vermes que rastejam penosamente, sem o ardor e a inspiração daqueles iluminados pelos ideais de tirar pessoa do lugar comum, prometendo a elas melhor sorte para o futuro.
Frequentemente, esse mesmo ego funciona ao contrário. Ele tira a esperança do homem, com suas falhas e fraquezas, e desenvolve um cinismo que amarga o espírito e faz de seu possuidor um realista excêntrico que nada acha de bom nesse vale de lágrimas.
A vida nunca obtém dele resultados plenamente satisfatórios, e ele vive uma existência amargurada, agarrando-se ao que puder no momento, mas nunca realmente participando do que acontece ao seu redor. Ele anseia por amor e compreensão e discursa incessantemente sobre o seu senso de alienação em relação àqueles que o cercam.
Basicamente, ele é um idealista frustrado, sempre voando alto e aterrisando baixo. Esses dois tipos de egoísmo confundem humildade com humilhação.
A seu modo as crianças atuam como bons terapeutas ou “redutores de cabeças”. São hábeis alfinetadores de egos inflados, ainda que seus propósitos não sejam, propriamente, terapêuticos.
A.A. teve seu começo justamente em uma tal alfinetada. Bill W. sempre se refere à sua experiência no Hospital Towns como uma “deflação em grande profundidade”, e naquela ocasião ouviram-no dizer que seu ego havia levado uma “surra dos diabos”.
A.A. nasceu daquela deflação e daquela surra.
Está muito claro que a sensação de ser especial, de ser “algo” tem seus perigos e suas desvantagens para o alcoólico. Já o oposto, ou seja, aquele que está fadado a ser um “nada”, tem pouca motivação. O indivíduo vê-se diante da possibilidade de ser algo e beber, ou de ser nada e também beber, por frustração.
O dilema, muito compreensível, reside na falsa impressão sobre o chamado oposto, o que está prestes a ser um “nada” e não vê alguma compensação. A característica de ser um “nada” não é facilmente desenvolvida.
Vai contra todos nossos anseios por uma identidade, por uma existência significativa, plena de esperanças e perspectivas. Tornar-se um “nada” parece ser uma forma de suicídio psicológico. Agarramo-nos ao nosso “pouco” com todas as forças de que somos capazes. A idéia de ser um “nada” é simplesmente inaceitável. Mas, o fato é que, se o indivíduo não aprender a agir como um nada, não conseguirá compreender que ele é apenas um mero cidadão do dia a dia, misturado na raça humana e, assim, estará sendo humilde perdido na multidão e essencialmente anônimo. Quando isso puder acontecer, o individuo terá conseguido muito a seu favor.
As pessoas com o “nada” em vista, podem relaxar e resolver seus negócios calmamente, com o mínimo de transtorno e de preocupação. Podem, até, curtir a vida da forma que ela vier.
Em A.A., isso é conhecido como programa das vinte e quatro horas, que significa, efetivamente, não ter o indivíduo o amanhã em mente. Ele consegue viver o presente encontrando a satisfação aqui e agora; não fica mais se acotovelando por aí. Sem preocupações, a pessoa se torna receptiva e mantém a mente aberta.
As mais importantes religiões estão cônscias da necessidade do nada, para a-quele que pretende alcançar a graça. No Novo Testamento, Mateus (18-3) cita estas apalavras de Cristo:
“Em verdade vos digo; se não vos transformardes, e não vos fizerdes como meninos, não entrarão no Reino dos Céus. Por isso, todo aquele que se tornar pequeno como este menino, esse há de ser o maior no Reino dos Céus”.
Zen ensina a libertação pelo nada. Uma série de cenas com o intento de mostrar a evolução da natureza do homem termina por um círculo no interior de um quadrado. O círculo representa o homem em um estado de “nada”. O quadrado representa a conformação das limitações com as quais o homem precisa aprender a conviver.
Nessa concisa afirmação: “Nada é fácil, nada é difícil”, e outras mais, Zen também acrescentou a modéstia, a humildade e a graça.
Anonimato é um estado de espírito de grande valor para o indivíduo, na manutenção da sobriedade. Não obstante eu reconheça sua função protetora, sinto que qualquer discussão a respeito seria unilateral, se falhar na ênfase do fato de que a manutenção de um sentimento de anonimato, um sentimento de “eu não sou nada de especial”, é a garantia fundamental de humildade, e, consequentemente, a verdadeira salvaguarda contra futuros problemas com relação ao álcool. Esse tipo de anonimato é verdadeiramente um bem precioso.


Fonte: Revista Vivência n° 43 – Setembro/Outubro 1996

Reflexões diárias de A.A.: 24/07

24 DE JULHO

AJUDANDO OS OUTROS

Nossas próprias vidas, como ex-bebedores-problema, dependem de nossa constante preocupação com o próximo e da maneira em que possamos ser-lhe úteis.

ALCOÓLICOS ANÔNIMOS, p. 43 ou p. 49 e 50

    Meu problema era egocentrismo. Durante toda minha vida, as pessoas faziam as coisas para mim e eu, não somente esperava, como era ingrato e ficava ressentido por elas não fazerem mais. Por que deveria ajudar os outros, quando por suposição os outros é que deveriam me ajudar? Se os outros tinham problemas, eles não os mereciam?
    Eu estava cheio de autopiedade, raiva e ressentimento. Então aprendi que ajudando os outros, sem pensar em retorno, podia vencer esta obsessão egoísta e, se eu entendesse a humildade, conheceria a paz e a serenidade. Já não preciso mais beber.