segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Onde está a doença primária

" ONDE ESTÁ A DOENÇA PRIMÁRIA "
Dr. Alberto Duringer- Médico
Conselheiro no Conselho Estadual de Entorpecentes - Ex-Diretor do Hospital Central da Polícia Militar (RJ)

Vamos imaginar que um médico foi chamado para atender um caso de pneumonia. As queixas são de febre, tosse, dor nas costas, mas o que o médico receita são antibióticos – única coisa capaz de atuar na doença primária, no caso uma bactéria que penetrou nos pulmões. Fácil, não é? Mas se o médico desconhecesse a doença primária na pneumonia e se confundisse com os sintomas, talvez receitasse um xarope para a tosse ou um analgésico para a dor.

Por isso, tratamentos que funcionam são aqueles que atuam na doença primária e essa sempre foi a grande dificuldade da medicina em relação ao alcoolismo, doença crônica, progressiva e de evolução lenta. Ao ver o doente pela primeira vez, freqüentemente já em estado mais avançado, o médico ouve do alcoólico e de seus familiares uma série de queixas ligadas a um adoecimento físico importante, a um distúrbio de comportamento que pode beirar a loucura e uma mais ou menos acentuada perda de valores ético-morais, sem que se saiba direito o que começou primeiro e muito menos onde está a doença básica, aquela que deve ser o alvo do tratamento.

Até o final do século passado, quase todos admitiam que a origem do alcoolismo estava na esfera ético-moral: o alcoólico bebia porque era fraco de caráter, porque não dispunha de reservas morais para resistir ao "vício" ou simplesmente porque não tinha vergonha na cara. Estando a doença primária colocada nesta área, o tratamento limitava-se a umas lições de moral, alguns bons conselhos ou exortações de cunho religioso, sendo os resultados obtidos, bastante precários.

Depois da publicação das obras de Freud, muitos profissionais passaram a ver as coisas de modo diferente e começaram a situar a doença primária do alcoolismo na esfera psíquica. A origem do problema estaria em algum conflito na personalidade ou um trauma profundamente escondido no subconsciente e este distúrbio fazia o doente buscar anestesia no álcool. Visto desta forma, o tratamento mudava bastante: o paciente era levado a se analisar deitado num divã, na busca das razões que o levavam a beber descontroladamente e com a esperança de que se o descobrisse, voltaria a ter um consumo moderado do álcool. Variantes deste tratamento foram também os mais variados medicamentos de uso psiquiátrico, tudo sem que se obtivessem resultados melhores do que os anteriores.

Hoje em dia, há muita gente colocando a doença primária na esfera social. O doente é pobre, as vezes miserável, mora na favela, ganha salário-mínimo, tem família numerosa e diante de tantas desgraças juntas, só pode mesmo tornar-se um alcoólico. Ele bebe para esquecer, para enganar a fome. Neste caso, a doença primária seria pobreza e o tratamento mais difícil, mas não impossível: vamos imaginar que ele ganhasse sozinho na Sena e ficasse milionário, da noite para o dia. Estaria curado da falta de dinheiro e se isto fosse a origem do seu alcoolismo, passaria a beber pouco, provavelmente só champanhe francês, no seu novo apartamento à beira-mar. Alguns exemplos conhecidos mostram, que na prática, as coisas não são bem assim.

Neste ponto, vale a pena citar estatística do governo suíço, publicada recentemente, em Genebra: 90% dos suíços bebem dez por cento das bebidas alcoólicas vendidas no país, mas apenas 10% da população bebe os restantes noventa por cento. Em outras palavras, em uma nação rica, sem os problemas sociais que enfrentamos no Brasil, existem os mesmos 10% de alcoólicos que nos demais países ocidentais, dos mais opulentos aos mais miseráveis.

Na realidade, a origem do alcoolismo, a doença primária, dificilmente pode ser achada na área psíquica, social ou ético-moral. As esmagadoras maiorias dos pacientes adoecem primariamente pelo lado físico: começam a beber sem problemas, como a maioria das pessoas, mas por uma série de fenômenos particulares do seu organismo, como a maior ou menor tolerância à bebida e tendência para uma adaptação de seus neurônios ao álcool, acabam por se tornarem alcoólatras.

A tolerância ao álcool acontece através do fígado. Este órgão dispõe de enzimas capazes de decompor e eliminar o álcool ingerido, transformando-o numa primeira etapa em um composto bastante tóxico, o acetaldeído, responsável pelas famosas ressacas. Existem pessoas que tem um fígado rico nestas enzimas e por isso rápido na decomposição do álcool, que fica pouco tempo na circulação, logo não tendo tempo de fazer muito efeito. Essas pessoas bebem bastante e se embriagam pouco, um processo que chamamos de tolerância ao álcool. Esses, citados na sociedade como pessoas que "sabem beber", são os candidatos a futuros alcoólicos, exatamente porque conseguem beber muito. Como também eliminam rapidamente os derivados tóxicos, no início da doença têm muito poucas ressacas, o que os estimula a voltar a beber. Já aqueles que se embriagam com um copo de cerveja e passam o dia seguinte com dor de cabeça e vômitos, não sendo tolerantes ao álcool, dificilmente vão conseguir beber a quantidade necessária para detonar a doença.

Ainda mais importante, é o que acontece no cérebro. Em pessoas alcoólicas, o acetaldeído formado no fígado do bebedor, ao passar nas células nervosas, é capaz de se combinar com neurotransmissores, como a dopamina e a serotonina, por exemplo, dando origem a um grupo de outras substâncias altamente excitantes, genericamente conhecidas como tetrahidroisoquinolinas (THIQs)

Em experiências feitas na Universidade da Carolina do Norte, colocaram-se vasilhas com álcool na jaula de macacos. Como era de se esperar, os animais experimentaram, não gostaram e não voltaram a beber. Em seguida, injetaram-se nestes bichos líquidos ricos em THIQs, retirados do cérebro de alcoólicos humanos. O resultado é que os macacos desenvolveram enorme avidez por álcool, ficando embriagados. No dia seguinte, passado o efeito da injeção, voltaram ao padrão de não beber. Injetados novamente com THIQs, o fenômeno se repetiu. Existem ratos que, por sua natureza, rejeitam qualquer líquido que contenha álcool, mesmo em pequenas quantidades. Se colocarmos algumas gotas de álcool na sua água de beber, eles não mais a ingerem, preferindo passar sede e até morrerem desidratados. No entanto, se injetarmos estes ratos com liquido retirado do cérebro de alcoólicos, os ratos transformam-se em grandes bebedores, até morrerem de cirrose. Há muitas outras experiências com animais de laboratório, apresentando resultados semelhantes. Daí para a frente, torna-se muito difícil tentar explicar que estes animais passaram a beber por quaisquer razões psíquicas, éticas ou sociais, já que o adoecimento primário nestes casos fica claramente relacionado com a injeção de uma substância química, proveniente de alcoólicos humanos.

Hoje sabe-se que a neuroquímica do cérebro alcoólico é bastante complexa. Ocorrem mudanças na membrana celular dos neurônios, nas trocas de sódio e potássio e muitas outras, de modo que se pode dizer que os neurônios de algumas pessoas que consomem álcool em quantidade, acabam por se adaptar a ele, tornando-se mais excitáveis. De início um pequeno número de neurônios muda desta forma, depois outros e mais outros – até que progressivamente predominam os neurônios "alcoólicos", a doença se instalando aos poucos, ao longo do tempo. Por isso também, nos alcoólicos, a perda de controle sobre o álcool é progressiva, sua intensidade depende do número de neurônios atingidos.

Em outras palavras, a doença primária do alcoolismo situa-se no cérebro dos alcoólicos, não na sua mente. Neste sentido, alcoolismo é doença incurável, porque a capacidade adquirida de reagir ao álcool de forma diferente à dos não-alcoólicos fica marcada no organismo. Não há força de vontade ou reserva moral capaz de impedir que estes neurônios modificados reajam com excitação, na presença de álcool.

Isto explica também o que ocorre na abstinência, mesmo nas de curta duração, por exemplo, uma noite de sono. Ao acordar, com os neurônios excitados, o alcoólico está nervoso, trêmulo, inquieto, ansioso, com pulso acelerado, tudo muito desagradável. Para que tudo passe, ele já sabe que basta beber: enquanto houver álcool no sangue, as coisas voltam ao normal, até que o ciclo recomeça.

Note-se que o alcoólico que busca desesperadamente um bar ou padaria que abra às cinco horas da manhã, não está mais movido pelo prazer de beber ou pela companhia dos amigos e não está também querendo embriagar-se; ele busca apenas alívio para uma situação perturbadora, que o impede ocasionalmente até de trabalhar, através do único remédio que ele conhece, muitas vezes já agora cheio de culpas e vergonhas. Usa manhas a artifícios para esconder dos outros a quantidade de álcool que bebe; começa a ter medo de estar em lugares e situações onde talvez não haja bebida. O álcool passa a ter um papel cada vez mais preponderante em sua vida, já que, para sentir-se normal, depende quimicamente dele. Com as negações, explicações e fantasias típicas da doença, surge um processo de comprometimento psíquico ou comportamental que se sobrepõe ao físico, já existente – é a dependência emocional. Na maioria das vezes, é só aí que ele passa a chamar a atenção como doente, apesar do processo ter começado muitos anos atrás.

À medida que mais neurônios ficam comprometidos, a alcoolismo evolui para uma terceira esfera de comprometimento, a dos valores ético-morais ou espirituais, substituídos que são por um único interesse na vida: continuar bebendo.

Assim, desde a doença primária, a dependência química, passando pelo emocional e a perda de valores, passam-se muitos anos de progressivo adoecimento, o que obriga qualquer recuperação, para ser bem sucedida, a seguir a mesma ordem natural das coisas: primeiro o doente tem de começar pelo lado físico e parar completamente de beber. Depois, é preciso que reformule seu comportamento e atitudes, para no final readquirir seus valores.

Alcoólicos Anônimos é um poderoso agente de recuperação, exatamente porque segue a história natural do adoecimento. Primeiro, vem a abstinência – e se fosse dito ao alcoólico que ela é para o resto da vida, ele levaria um grande susto, talvez não permanecesse. Assim, A.A. teve a sabedoria de dividir essa "eternidade" em períodos de 24 horas, ficando mais fácil – é só por hoje.

Ainda muito confuso e fragilizado, o alcoólico encontra ajuda nas milhares de reuniões existentes no Brasil inteiro, identificando-se com os depoimentos e percebendo que não está mais sozinho.

Segundo, depois de estar com seu raciocínio mais lúcido e aceitando melhor sua doença, A.A. oferece-lhe um programa individual de recuperação emocional e de relacionamento com o mundo exterior, através de uma escalada de Doze Passos, em seqüência. Finalmente, abstinente de álcool e reconciliado consigo mesmo e com o mundo, o alcoólico encontra antigos ou novos valores espirituais, como os que se alicerçam nas Doze Tradições, especialmente aqueles relacionados com o bem-estar comum e o anonimato.

Tratando-se de doença crônica, o alcoolismo exige permanente ação de recuperação: trata-se de um programa para toda a vida. Freqüentemente, encontram-se recuperações apenas parciais, em que alcoólicos apenas param de beber e recusam-se a fazer quaisquer mudanças em seu comportamento, atitudes e valores; embora abstinentes, ainda estão muito adoecidos emocional e espiritualmente. São pessoas que a comunidade de A.A. diz estarem em "porre seco" ou que "só tamparam a garrafa". Como a recuperação também é progressiva, estão também mais sujeitos a uma recaída.

A vigilância sobre o perigo da recaída deve ser permanente, pois é engano pensar-se que ela começa no primeiro gole. Na realidade, a recaída termina nele, uma vez que aí o processo é inverso: primeiro o doente perde valores espirituais, depois fica emocionalmente perturbado por distúrbios de comportamento, até que finalmente volta a beber. Há uma série de sintomas precedentes desta volta e muitos podem ser percebidos pelo próprio ou por pessoas que o cercam, desde que estejam vigilantes. A recaída emocional pode ser revertida antes do doente estar com seu raciocínio crítico tão afetado, a ponto de achar que o álcool possa ser novamente solução para seus problemas.

Recuperação e recaída são como duas faces da mesma moeda: quem não está se recuperando, está recaindo e vice-versa. Esta gangorra das emoções é normal e não deve assustar além da justa medida, acontecendo também com outros doentes crônicos, o diabético com sua dieta ou o reumático com seus exercícios. No alcoolismo, importante é não deixar qualquer recaída evoluir a ponto de se voltar a beber, porque aí entram em ação as poderosas forças da doença primária – a dependência química – e aí a situação fica novamente fora do controle do alcoólico.

Reflexões Diárias de A.A.: 31/10

31 DE OUTUBRO

EVITANDO CONTROVÉRSIAS

Toda a história nos proporciona o espetáculo de nações e grupos belicosos terminando por despedaçarem-se, porque estavam fadados a entrar em controvérsias ou porque se deixavam atrair por elas. Outros desmoronaram por uma questão de falsa moralidade, ao tentar impingir ao restante da humanidade alguma porção de suas convicções.

OS DOZE PASSOS E AS DOZE TRADIÇÕES


Como um membro de A.A. e padrinho, sei que posso causar danos reais se caio em tentação e dou opiniões e conselhos sobre problemas médicos, matrimoniais ou religiosos de outras pessoas.

Eu não sou doutor, conselheiro ou advogado. Não posso dizer a alguém como ele ou ela deveria viver; contudo, posso compartilhar como enfrentei situações parecidas sem beber, e como os Passos e as Tradições de A.A. me ajudam a lidar com a minha vida.



domingo, 30 de outubro de 2011

Uma parceria fundamental: profissionais da saúde e Alcoólicos Anônimos

UMA PARCERIA FUDAMENTAL: PROFISSIONAIS DA SAÚDE E ALCOÓLICOS ANÔNIMOS
Dr. Raul Castro Miranda
Médico Psicoterapeuta
Petrópolis/RJ

Se Voltaire (1694 1778) ainda estivesse vivo, talvez não reafirmasse que “os médicos se valem de medicamentos que pouco conhecem para curar doenças que conhecem menos ainda em seres humanos dos quais nada sabem”.
Afinal, de lá para cá a medicina evoluiu tanto, que a afirmação do renomado escritor, hoje, parece já não fazer mais nenhum sentido
Mas, será sempre assim mesmo?
Se observarmos o que sabemos hoje sobre o alcoolismo, por exemplo, verificaremos que se, por um lado, estamos muito distantes da época em que acreditávamos que aqueles que bebiam demais eram seres degenerados ou estavam possuídos por espíritos malignos, por outro lado, devemos admitir que ainda não conhecemos e não conheceremos tão cedo alguns aspectos fundamentais dessa doença, como a sua causa, ou a sua cura, por exemplo.
Mas, se é assim, como lidar então com essa importante moléstia que, afinal de contas, não pode ser ignorada, já que é tão freqüente e acomete uma em cada dez pessoas do planeta; é tão grave que só mata menos do que o câncer e as doenças do coração?
Sigmund Freud dizia que “só um homem que realmente sabe é modesto, pois ele sabe quão insuficiente é o seu conhecimento”.
Talvez seja disso que estejamos necessitados aqui: um pouco de modéstia!
Esclareço.
A formação dos profissionais especializados em alcoolismo (médicos, psicólogos, enfermeiros, fisioterapeutas, assistentes sociais, conselheiros em DQ, etc.) tem por objetivo capacitá-los a compreender como funcionam o corpo, a mente e os principais acontecimentos da vida de um (a) alcoólico (a). Eles aprendem, por exemplo, que o (a) alcoólico costuma se alimentar muito mal (desnutrição), que o seu estômago costuma chiar (gastrite, úlcera), que o seu fígado tende a degringolar (cirrose), que os seus neurônios podem não agüentar (atrofia cortical), que o seu ser chega a delirar (delirium tremens), que os seus negócios teimam em sucumbir (falência, dispensa do trabalho), que os seus amores costumam esmorecer (distanciamento, separação), que os seus limites insistem em desobedecer (agressão, acidente), que as suas verdades valem tanto quanto as suas mentiras (decepção, calote), que as suas culpas “se mandam” rápido para
debaixo do tapete (embora sempre permaneçam lá), que o seu choro e o seu sorriso podem impressionar (embora possam nada significar), que os únicos parceiros leais costumam ser os de copo (ainda que eles nunca possam ser chamados de amigos), enfim, que a sua vida, tal qual uma estranha ilha, é uma garrafa de álcool (grande) cercada de coisas (pequenas) por todos os lados...
Tudo isso, e muito mais, ainda, o profissional especializado pode e deve aprender. E se aprender com afinco, se dedicar-se com presteza ao seu ofício, poderá vira ser, em algumas ocasiões, a diferença entre a vida e a morte dos seus pacientes.
Uma coisa, entretanto, ele jamais poderá compreender. Por mais que tente, que se esforce que se dedique, ele jamais saberá, de fato, o que é SER UM ALCOÓLICO. Por isso, quando se der conta dessa verdade, ele deve deixar de lado os próprios preconceitos (e eles geralmente estão presentes, sim) e procurar conhecer, ainda que superficialmente, os Alcoólicos Anônimos.
Se tiver sensibilidade e boa vontade, ali ele descobrirá que todas as vezes que um alcoólico fala ou ouve o depoimento de outro alcoólico, realiza-se uma façanha que nenhum profissional não alcoólico jamais poderá realizar: a da transmissão, através da palavra, da única força no mundo capaz de ser respeitada por quem está tão acostumado a desrespeitar: a FORÇA DO EXEMPLO.
Não o exemplo do mestre ou do herói, sempre pronto a ditar regras de conduta, mas o exemplo do homem comum, que bebeu muito mais do que podia ou devia e que finalmente compreendeu que a atitude de largar a bebida é muito importante; sim, mas é apenas a primeira etapa de um processo de reformulação interna que tem por objetivo atingir uma outra coisa muito mais importante: A SUA SOBRIEDADE!
Se for inteligente e tiver juízo, o profissional especializado estabelecerá então com a Irmandade uma espécie de parceria informal que eu considero fundamental para o sucesso do manejo do paciente alcoólico.
Nela, fica “acertado” que enquanto os primeiros se ocuparão de cuidar do corpo e da mente desses enfermos, aos segundos caberá o exemplo, o apóio e o acompanhamento desses companheiros recém-chegados dos seus dolorosos caminhos de perdas e danos.
Que sejamos sempre bem sucedidos nessa empreitada!

Vivência n.105 – Janeiro/Fevereiro/2007.

Reflexões Diárias de A.A.: 30/10

30 DE OUTUBRO

VIVA E DEIXE VIVER

Desde o seu início jamais Alcoólicos Anônimos foi dividida por uma questão controversa de grande monta. Tampouco a nossa Irmandade tomou partido em qualquer disputa neste mundo conturbado. Não se trata, contudo, de uma virtude duramente conquistada. Pode-se quase dizer que nascemos com ela... Não discutindo tais coisas em particular é facílimo para nós deixar de discuti-las em público.

OS DOZE PASSOS E AS DOZE TRADIÇÕES


Será que eu lembro que tenho direito à minha opinião mas que os outros não precisam compartilhá-la? Este é o espírito de “Viva e deixe viver”. A Oração da Serenidade me lembra, com a ajuda de Deus, de “Aceitar as coisas que não posso modificar”. Estou ainda tentando mudar os outros? Quando chego em “Coragem para mudar as coisas que posso” será que lembro que minhas opiniões são minhas e as suas são suas? Ainda tenho medo de ser quem sou? Quando chego em “Sabedoria para saber a diferença”, lembro que minhas opiniões vêm de minha experiência? Se tenho uma atitude de “sabe-tudo”, não estou sendo deliberadamente controverso?



sábado, 29 de outubro de 2011

Interdependência vital (UNIDADE)

Interdependência vital (UNIDADE)

"Uma célula fora do corpo é uma célula morta"

Alguns até podem encontrar o caminho da recuperação sozinhos. Muitos até já o fizeram e a maioria de nós conhece exemplos disso. Mas todos os que estão entre nós, não o conseguiram.

Para nós foi essencial a existência de um grupo, onde, num ambiente de liberdade e cooperação, conservando nossa identidade, absorvemos experiência de outros indivíduos e também transmitimos as nossas.

O convívio e a troca de experiências nos permitiram crescer em todos os sentidos.

Nossa Primeira Tradição aborda essa necessidade, destacando que a nossa recuperação depende da Unidade da Irmandade.

Suponhamos que em determinado grupo um companheiro não esteja satisfeito com determinado procedimento. Se ele se afastar de seu grupo, estará enfraquecendo a Unidade, pois, se todo contrariado ou insatisfeito se afastar, em pouco tempo o grupo desaparece e os que estão por chegar poderão perecer por falta de auxílio. Entretanto, se ele se manifestar, colocando e discutindo claramente sua opinião, certamente será ouvida e a questão será levada à consciência para decisão, contribuindo para o crescimento e a unidade do grupo.

Suponhamos agora que determinado grupo tenha restrições a procedimentos da Estrutura de Serviços, ou à própria estrutura em si. Em que ele será beneficiado, mantendo-se no isolamento? Será que um grupo, para crescer e se manter informado sobre novas necessidades e novas experiências, não tem também necessidade de se comunicar com outros grupos? Como a Irmandade estará em Unidade se os grupos se mantiverem isolados e incomunicáveis?

Assim como do membro nada se exige e a nada se obriga para que faça parte do grupo, do grupo nada se exige e nem se obriga para que tome parte nos órgãos de serviços.

Da mesma forma que o membro não precisa abrir mão de sua personalidade e sua opinião, o grupo não precisa abrir mão de suas características para se unir à estrutura. Sua autonomia permanece garantida pela Tradição Quatro. Além disso, a contribuição para os órgãos de serviços é como a sacola na sala de reuniões: quem tem põe...

Costumo comparar a nossa Irmandade a um corpo vivo, onde cada célula, independente da função ou do órgão do corpo a que pertence, traz no seu núcleo o código genético completo do indivíduo (DNA). Cada indivíduo corresponderia a uma célula, cada grupo a um órgão, cada conjunto de grupos (Distrito/Área) a um sistema, o conjunto de sistemas formando o corpo (a Irmandade). Não existe célula, tecido, órgão ou sistema mais importante; o corpo só vive em plenitude quando todos desempenham suas funções em harmonia e cooperação. Uma célula fora do corpo é uma célula morta. O órgão fora do corpo apodrece e morre e, além de morrer, pode provocar a morte do corpo!

(Gilson, Rio de Janeiro/RJ)

Vivência - maio/junho 2000)

Reflexões Diárias de A.A.: 29/10

29 DE OUTUBRO

NOSSSA SOBREVIVÊNCIA

Uma vez que, para nós, a recuperação do alcoolismo representa a própria vida, torna-se imperativo que preservemos na íntegra nossos meios de sobrevivência.

OS DOZE PASSOS E AS DOZE TRADIÇÕES


A honestidade expressa pelos membros de A.A. em reuniões tem o poder de abrir minha mente. Nada pode bloquear o fluxo de energia que a honestidade traz consigo. O único obstáculo a este fluxo de energia é a embriaguez mas, mesmo assim, ninguém encontrará uma porta fechada, se ele ou ela saíram e desejam retornar. Uma vez que ele ou ela tenham recebido a dádiva da sobriedade, cada membro de A.A. é desafiado, um dia de cada vez, a aceitar um programa de honestidade.

Meu Poder Superior me criou para um propósito na vida. Peço a Ele que aceite meus esforços honestos na caminhada em um modo de vida espiritual. Peço a Ele que me dê forças para saber e procurar a Sua vontade.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Breve história do Escritório de Serviços Gerais

Breve história do Escritório de Serviços Gerais

O General Service Office – GSO, ou, Escritório de Serviços Gerais de A.A., nasceu em um prédio comercial de duas plantas localizado no nº 17 da Rua William, em Newark, Nova Jersey, em 1938, num escritório que servia de sede para uma malsucedida empresa de negócios criada por Bill W. , poucos anos após seu último gole e por seu amigo e também companheiro de A.A., Hank P., que Bill tinha apadrinhado no Hospital Towns. Os dois alugaram esse escritório para servir como sede de uma cooperativa de compradores de gasolina conhecida como Honor Dealers. Contrataram uma secretária, Ruth Hock, para manter o escritório organizado, a qual logo percebeu que os dois homens estavam muito mais interessados em ajudar um grupo de alcoólicos anônimos do que organizar postos de gasolina.

Lá, no primeiro escritório (não oficial) de A.A., Bill W. produziu o primeiro manuscrito do Livro Grande com a ajuda da secretária Ruth. E, nesse escritório, visando a publicação do livro, Bill e Hank estabeleceram a Works Publishing Company, vendendo ações aos seus companheiros alcoólicos e a seus amigos. Poucos anos mais tarde, a Fundação do Alcoólico compraria a companhia para assegurar que o livro fosse sempre propriedade da Irmandade.

A Fundação do Alcoólico empreendeu o projeto de procurar um lugar permanente para a Irmandade e em 1940 alugou um escritório com duas salas localizado no nº 30 da Rua Versey, no distrito financeiro de Nova York. Seu aluguel mensal era de $ 650,00 dólares e assim surgiu a “Sede Nacional de Alcoólicos Anônimos”, como rezavam seus papeis timbrados.

Em pouco tempo o escritório foi inundado por grande quantidade de correspondência, uma vez que a década de 1940 foi uma época de crescimento muito rápido para A.A. O jantar organizado por Rockefeller, a cobertura da mídia e, por último, o artigo de Jack Alexander na Saturday Evening Post, serviram para chamar cada vez mais a atenção sobre a Irmandade. “Logo apareceu o dilúvio”, disse Bill W. “Súplicas desesperadas chegavam ao escritório de Nova York. No começo, apenas as líamos aleatoriamente alternando lágrimas e risadas. Como íamos poder responder todas aquelas cartas comovedoras? Ruth e eu não podíamos fazê-lo sozinhos”.

Em maio de 1944, a Sede mudou-se para um escritório de três salas no nº 415 da Av. Lexington de frente para a Grand Central Estation. “Mudamos-nos porque a necessidade de servir aos muitos viajantes de A.A. em trânsito pela cidade chegou a ser urgente. O novo escritório, próximo a Grand Central, nos pós em contato com visitantes que, pela primeira vez, puderam ver Alcoólicos Anônimos como uma visão para o mundo inteiro”, disse Bill W.

No começo de 1945, o escritório contava com seis funcionários em tempo integral e as necessidades da Irmandade continuavam aumentando. “A.A. crescia tão rapidamente que era impossível informar todos os membros sobre o que a Sede estava fazendo. Muitos grupos, preocupados com seus próprios assuntos, não nos ajudaram em nada. Menos da metade fazia contribuições. Os déficits constantes eram uma praga, porém, afortunadamente esses déficits podiam ser compensados com o dinheiro proveniente das vendas do Livro Grande e de nossos cada vez mais numerosos folhetos. Se não tivéssemos podido contar com os ingressos produzidos pelo livro, teríamos fracassado”, disse Bill W.

Em 1950, o escritório mudou-se novamente para um local mais amplo, no nº 141 da Rua Leste, a pouca distância do local anterior para manter a proximidade com a Grand Central Estation. Deixou de se chamar “Sede” e passou a ser chamado de Escritório de Serviços Gerais, nome que se mantém até os dias de hoje (2011). Deu-se início a um sistema rotativo dos funcionários, e, devido a algumas recaídas, foram estabelecidas normas para estabelecer o período mínimo de abstinência dos membros alcoólicos contratados.

O volume de correspondência anual nesse período chegou a mais de 31.000 postagens e foram vendidos mais de um milhão de livros e folhetos de A.A. Além disso, um intercâmbio de correspondência com membros solitários, tais como o Capitão Jack S. que contribuiu para a criação do programa de Solitários / Internacionalistas tal como existe na atualidade. A.A. Works Publishing, a entidade responsável pela supervisão do ESG, mudou seu nome em 1953, para o atual A.A. World Services, Inc. (A.A.W.S.).

Depois de dez anos no nº 305 da Rua 45 Leste, em 1970, o ESG mudou novamente, desta vez para o nº 468 da Av. Park Sul, que seria seu endereço nos próximos vinte anos. Com o passar do tempo, o escritório ocuparia cinco andares em dois prédios adjacentes onde se encontravam os recém abertos Arquivos Históricos, os escritórios da Grapevine e as salas destinadas às reuniões da Junta de Serviços Gerais.

Atravessando um período de crescimento sem precedentes, quando se calculava que A.A. duplicava de tamanho a cada sete anos, o ESG fazia todo o possível para seguir o ritmo das mudanças. Para poder responder à grande variedade de perguntas feitas pela Irmandade, foram redigidas uma serie de Guias de Atuação do ESG acerca de, por exemplo,os centros de tratamento, os programas do Legislativo, as Forças Armadas, membros de A.A. empregados no campo do alcoolismo, e outras áreas de interesse. Estes Guias continuam a ser publicações importantes nos dias de hoje e são revisados regularmente para refletir novas experiências, dados e idéias para poder compartilhá-los e colocá-los à disposição de toda a Irmandade.

Para satisfazer as demandas decorrentes de tão rápido e extenso desenvolvimento, os métodos e procedimentos utilizados no ESG tiveram de mudar drasticamente. Foi introduzida a automatização onde isso era possível, especialmente no que se referia aos registros dos grupos e dos órgãos de serviço. Foi instalado um sistema de microfichas e o primeiro computador do ESG foi ligado em setembro de 1977.

O aumento no volume de publicações também levou a grandes mudanças. O ESG assumiu algumas das funções de uma editora de grande porte; pela primeira vez comprou seu próprio papel e dedicou-se cada vez mais à produção e distribuição de literatura.

É muito provável que os atuais visitantes do ESG cheguem à conclusão de que, embora o escritório, desde 1992 localizado em Riverside Drive, 475, é maior que os anteriores, segue fazendo o que sempre fez, porém numa escala muito maior. Como Bill W. escreveu: “O Escritório de Serviços Gerais de A.A. é, de longe, o maior portador da mensagem de A.A. Conseguiu relacionar acertadamente com o mundo turbulento em que vivemos. Difundiu nossa Irmandade por todos os lugares... Está pronto e disposto a responder às necessidades de qualquer grupo ou indivíduo isolado independentemente da distância ou do idioma. Suas experiências acumuladas no decorrer de muitos anos estão à disposição de todos nos”.

Transcrito, com permissão, do texto em español no boletim oficial do GSO, Box 4-5-9, Outono (setembro) 2011 => http://www.aa.org/lang/sp/sp_pdfs/sp_box459_fall11.pdf