quinta-feira, 20 de outubro de 2011

As armadilhas da vaidade

As armadilhas da vaidade

Eu nunca vira nada semelhante. Em cada reunião, eram cerca de 30 pessoas que ali compareciam. Todas sentavam em cadeiras iguais.

O coordenador conseguia passar quase despercebido, para que o grupo e não ele, fizesse a reunião.

Difícil distinguir, pelos depoimentos, se o companheiro tinha 1 ou 20 anos de A.A. Difícil saber se tinha algum encargo na estrutura de A.A. Com naturalidade, ouvia-se uma leitura inicial, sugerida como assunto a quem quisesse incluir em seu depoimento. Depoimentos em que cada um falava APENAS de si.

Foram esses anônimos companheiros que, aos poucos, devolveram a alegria de viver a quem, como eu, chorava lá num canto, com pena de mim mesmo. E na minha inocência de iniciante, julguei ter encontrado um paraíso perfeito, que flutuava sobre as nuvens.

Hoje, esta inocência passou. Que pena. Estou curado. Não fico mais nas cadeiras junto aos outros, mas à parte, observando de longe. Também não faço mais depoimentos sobre meu alcoolismo, coisa de iniciante. Aprofundei-me no organograma da estrutura de A.A. e na interpretação da literatura a experiência escrita dos outros e assim evito falar da minha e de mim, mas comento os depoimentos dos outros, dizendo o que devem fazer. Observo o estrito cumprimento das formalidades da reunião.

Por sinal, já detenho um encargo na estrutura de A.A. e no meu depoimento, deixei claro que eu sabia, já no primeiro dia, que chegaria lá. Incentivo reuniões acaloradas, em que se possa até apartear o companheiro que está depondo, até com comentários jocosos, para dar mais graça.

Já somos muitos professores em A.A. Mas não sei por que, desconfio que os alunos que entraram e ficaram no grupo estão rareando. Não sei por que, às vezes me parece complicado que toda a estrutura de grupo, Intergrupal, Distrital, sirva para cuidar da própria estrutura, uma finalidade em si, longe do Décimo segundo Passo.

Não sei por que, uma certa desilusão começa a me perturbar porque agora, em participação disso tudo. Este sou eu, aliás, igualzinho a um sujeito que freqüentava um bar, por anos a fio, em que as discussões sem fim se estendiam pela madrugada, sem se chegar a um acordo.

Mas eu sempre tinha razão. Como hoje.

E não sei porque, às vezes me bate uma enorme saudade da minha inocência, de quando era iniciante em A.A., de quando éramos todos iguais.

Oswaldo Camboriú SC

VIVÊNCIA N°. 29 (mai/jun 94)

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