terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O Inventário do Grupo

" O INVENTARIO DO GRUPO "

Apresentação: Sou igual a vocês, não vim ensinar, mas trocar com vocês as experiências que aprendi em todos os anos que convivi, com companheiros e companheiras de AA, no Grupo, e em diversos setores de A. A. Se alguma coisa eu falar, que desgoste a algum de vocês, não liguem, eu não vim dizer o que você tem que fazer e sim o que a maioria faz, pôr ter entendido que isso é o melhor, mesmo que desagrade a alguns.
Ninguém está em A. A. para agradar ou desagradar companheiros (as), mas sim para ficar sóbrio e servir a AA, para fazer o melhor para que A. A. permaneça para sempre, e para isso o melhor é amar nossos irmãos, compreendê-los, tolerá-los, perdoá-los e ajudá-los em sua trajetória nesta vida, mesmo que discordemos de suas atitudes. Posso até detestar as atitudes de alguém, mas devo amá-lo mesmo assim, pois somos irmãos/as, estamos na mesma nave e dependemos um do outro para sobreviver.

VEJAMOS O INVENTÁRIO:

O grupo e o indivíduo. O indivíduo, os conflitos e a paz. O Grupo é um conjunto de indivíduos que dele fazem parte, não é composto só dos que prestam serviços, portanto o que é feito ou não, é da responsabilidade de todos. Ao melhorarmos o comportamento individual melhoramos o grupo, ao diminuirmos os conflitos internos de cada um de nós, geramos a paz em nosso o grupo. Ninguém pode melhorar o comportamento do outro, mas sim o seu próprio, e isto já é difícil, é preciso querer modificar-se, é necessário programar-se para isso e agir. A diferença entre o ideal e a ação que transforma é enorme. Cada um dos problemas maiores que estão diante de nós foi provocado por um comportamento humano nosso. A boa notícia é que nosso comportamento é a causa, nós temos o poder de modificá-lo! Existem ações que cada um de nós pode realizar dentro de si mesmo, para iniciar uma cadeia de conseqüências específicas e positivas no seu grupo, no seu distrito, na sua área e no A. A. como um todo. O único limite para o impacto que causamos é a nossa imaginação e o nosso compromisso com AA. Pensemos bem nisso, AA é maior de que qualquer um de nós e de que qualquer uma parcela de nós, AA é para todos seus membros, e todos devem ser ouvidos e considerados, não há os mais sábios, nem os melhores, mas a consciência coletiva, à qual todos devemos render-nos humildemente. Em A. A. não deve prevalecer os gostos, usos e preferências pessoais, seus princípios são a nossa única salvação, quer seja na Recuperação, na Convivência e nos Serviços.

Vejamos então sob o ponto de vista individual e coletivo:

1 - Qual o propósito básico do Grupo?
2 - O que mais poderá ser feito para transmitir a mensagem?
3 - Estamos alcançando o número suficiente de alcoólicos (as)?
4 - Que mensagens temos dado aos diversos setores da sociedade?
5 - Estamos atingindo todas as camadas sociais?
6 - Os companheiros (as) têm permanecido entre nós?
7 - Nosso apadrinhamento na recuperação e no serviço é eficiente?
8 - As nossas salas de reuniões são agradáveis, ou tem sempre alguém contestando algo?
9 - Esclarecemos o suficiente, sobre a necessidade de prestarmos serviços?
10 - A todos (as) é permitido participar das atividades do grupo?
11 - Os servidores (as) são escolhidos (as) com cuidado e responsabilidade?
12 - 0 grupo cumpre a sua parte referente aos órgãos de serviço?
13 - Damos a todos (as) informações sobre Recuperação, Unidade e Serviços?
14 - Sou saudável? Será que somo, ao invés de dividir?
15 - Critico companheiros (as) ou grupos em depoimentos de recuperação?
16 - Sou pacificador (a) ou provocador (a) de discussões estéreis?
17 - Gosto de comparar meu grupo com os demais da cidade?
18 - Considero inferiores certas atividades em AA?
19 - Estou bem informado sobre AA como um todo, para discutir esses assuntos?
20 - Pareço bonzinho (boazinha), mas secretamente faço conluios e ajo com rancor e hostilidade em grupinhos fora de A. A.?
21 - Procuro conhecer a afundo, o programa de AA, para usá-lo e transmiti-lo?
22 - Compartilho nos momentos bons e difíceis do grupo e da Irmandade?
23 - Vivo criticando líderes, serviços, e centrais sem auxiliá-los?
24 - Procuro elogios pelas minhas idéias e ações, e destaco meu trabalho dizendo que quando eu era responsável por um serviço tudo era melhor?
25 - Sou aberto (a) para aceitar as deliberações do grupo? Trabalho com boa vontade, mesmo que as decisões sejam contra o que penso?
26 - Mesmo antigo (a) ainda faço tarefas simples nos grupos?
27 - Não participo pôr desconhecer os assuntos de AA?
28 - Julgo a possibilidade de recuperação dos novatos (as)?
29 - Acho que alguns (umas) companheiros (as), não deveriam vir ao meu grupo?
30 - Costumo julgar o ingressante como sincero ou hipócrita?
31 - Tenho preconceito de qualquer tipo, a meus companheiros (as)?
32 - Impressiono-me com pessoas consideradas importantes?
33 - Não dou importância às pessoas que eu considero inferiores?
34 - Abordo com a mesma boa vontade, um companheiro (a) sujo (a) e uma companheiro (a) novo (a) e bonito (a), sendo eu mulher ou homem respectivamente?
35 - Como trato o anonimato do outro, com os amigos e na minha família?
36 - Como ajo com a lei do sigilo? Com o que ouço dos desabafos de companheiros (as)? No grupo? Na rua? Em casa?
37 - Sabendo que somos emocionalmente infantis e cheios de mania de grandeza, procuro o autoconhecimento para modificar-me, ou só julgo os outros?
38 - Sei hoje, de que muitos de meus defeitos de caráter são inconscientes?
39 - Procuro métodos, para eliminar meus defeitos de caráter, além das ferramentas de AA, sem trazê-los para dentro de A. A.?
40 - Continuo entendendo que eu sei como é melhor para AA e meus companheiros (as), do que a Consciência Coletiva do Grupo?
41 - Procuro em meus depoimentos, limitar-me ao tempo concedido, ou sou indisciplinado?
42 - Deixo de dar minha experiência, ou sempre pulo na frente para falar?
43 - Tenho falado só do meu progresso material, ou falo preferencialmente de meu crescimento espiritual e autodomínio emocional?
44 - Continuo dizendo que em AA tudo é de graça, ou digo que somos responsáveis pelas nossas despesas e manutenção dos órgãos de serviços, e de nosso Grupo?
45 - Digo que em AA é proibido proibir, ao invés de dizer que em AA temos uma liberdade responsável, como A. A. nos ensina?
46 - Sei que sem o uso das tradições, A. A. correrá perigo no futuro, ou desprezo essa verdade?
47 - Observadas as tradições e os passos, insisto dizendo que são poucas as maneiras de proceder em AA?
48 - Meu grupo sempre considera o bem estar de todo A. A.?
49 - Considero todos os companheiros (as) ou excluo alguns como indesejável, ou até desejo atenção especial para assuntos meus particulares?
50 - Para os que sabem que sou um A. A. sou um bom exemplo em minha vida particular?
51 - Preocupo-me em saber o que devo dizer ao recém chegado (a)? Como trato o que já é companheiro (a), tenho atenção para com todos?
52 - Gosto de homenagem e elogio, ou faço homenagem e elogio a companheiro (a) vivo ou morto (a)?
53 - Faço observações maldosas sobre o comportamento dos companheiros (as)?
54 - Critico os companheiros que querem estudar os princípios de AA, e falar sobre eles?
55 - Já me perguntei, porque só quero reuniões de depoimentos, e só gosto de falar sobre minha época de bebedeira? Não tenho nada de reformulação para contar?
56 - Já me dei conta que o plano de 24 h. é só para parar de beber, mas que para permanecer abstêmio e ser feliz preciso praticar os doze passos, as doze tradições e entrar nos serviços?
57 - Já me dei conta que faço parte do todo e que sem um, ou com a ausência de alguém, o todo estará incompleto?
58 - Entendi que A. A. não nos obriga a nada, mas que devo obrigar-me a participar dos serviços de AA, e a contribuir com dinheiro tão logo possa, pôr gratidão?
59 - Já pensei que se não consigo amar a todos, muito e sempre, pelo menos posso não ter reserva ou raiva de ninguém?
60 - Tenho ajudado na divulgação efetiva de AA? Preparei-me para isso?
61 - Uso o nome de A. A. para obter desconto, emprego, transporte publico, etc.?
62 - Participo das reuniões de serviço para cooperar, ou para ser do contra e derrotar alguém? Ou sequer participo das mesmas?
63 - Culpo o grupo pôr tudo, ou ajudo o mesmo no que posso? Entendo que a verdade se divida em cada mente, e que cada um tem a sua visão do certo?
64 – Preocupo-me com a origem da sugestão para considerá-la; ou se ela é boa ou não para AA? Dou atenção a quem não participa do grupo, para trazer seus questionamentos pessoais e particulares para o grupo?
65 - Não faça tudo dizendo que ninguém o faz, estimule humildemente que outros façam alguma coisa, não diga também que ninguém o deixa fazer, faça humildemente alguma coisa.
66 - Você é livre, mas coopere, participe, não espera convite, não seja indiferente com seus irmãos.
67 - Procure ser sintético quando falar, treine para isso, você falará menos, dirá mais coisas e outros poderão falar também.
68 - Não critique quem fala bem, nem quem fala mal, quem não fala, ou quem fala demais, deixe cada um ser como é, e dar-se conta, se estiver errado. (Se o fizer, faça-o direta e particularmente, ou nas reuniões de serviço se o grupo estiver sendo prejudicado).
69 - Não tenha vergonha de ser entusiasta com A. A. e mostrar calor humano.
70 - Não precisa concordar com as opiniões alheias, mas nem detestar-lhes pôr pensarem diferente.
71 - Não prejudique o grupo, seja parte da solução, participe.
72 - Não procure companheiros (as) errados (as), e sim acertos.
73 - A consciência coletiva só se manifesta após exaustivas discussões, em várias reuniões, sempre à luz dos princípios de AA, para que a votação atinja substancial unanimidade, colaboro para isso.
74 - Lembro-me que os antigos (as) também são doentes?
75 - Sei que a recuperação sem os passos não traz unidade, nem paz?
76 - Sei que Unidade sem Tradições produzem Serviços deficientes?
77 - Contribuo com gratidão, para a mensagem atingir outros doentes?
78 - Se todos fossem como eu, como seria o A. A. hoje?

Pense nisso. Como numa empresa, que passa a utilizar um programa de qualidade, não basta uma exposição por outra empresa especializada desse processo moderno; é necessário impregnar seus servidores desses princípios, com atividades permanentes no sentido de tirar velhos hábitos, e introduzir novos em seus servidores e membros. Em A. A. esse processo não é diferente, o que muda é que temos orientação definida, os Três Legados de nossa Irmandade, e para aplicá-los com acerto, é necessário dedicação, debates, estudos e troca de experiências permanentemente, tendo como norte esses mesmos Legados. Em A. A. isso não é diferente, a mudança exige esforço contínuo, não devemos ficar no sonho, é necessária a ação, e sempre a Consciência Coletiva é nosso Mestre.

VAMOS PARTICIPAR
VOCÊ TAMBÉM É RESPONSÁVEL PELO SEU GRUPO BASE.

Reflexões Diárias de A.A.: 31/01

31 DE JANEIRO

NOSSO BEM-ESTAR COMUM DEVE ESTAR EM PRIMEIRO LUGAR

A unidade de Alcoólicos Anônimos é a qualidade mais preciosa que nossa Irmandade possui... ou nos mantemos unificados ou A.A. morre.

OS DOZE PASSOS E AS DOZE TRADIÇÕES, p. 115

Nossas Tradições são elementos-chave no processo de definição do ego, necessário para alcançar e manter a sobriedade em Alcoólicos Anônimos. A Primeira Tradição me relembra de não atribuir a mim o mérito ou autoridade por minha recuperação. Colocando o bem-estar comum em primeiro lugar me faz lembrar de não tornar-me um curandeiro neste programa; ainda sou um dos pacientes. Modestos pioneiros construíram a enfermaria. Sem eles, duvido que eu estaria vivo. Sem o Grupo, poucos alcoólicos se recuperariam.
O papel ativo na renovação da rendição da vontade me dá condições de ficar de lado da necessidade de dominar, do desejo de reconhecimento, duas coisas que representaram um grande papel no meu alcoolismo ativo. Adiando meus desejos pessoais pelo bem maior do crescimento do Grupo, contribuo para a unidade de A.A., que é central para toda recuperação. Ajuda-me a lembrar que o inteiro é maior que a soma de todas as suas partes.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O processo de transformação da personalidade

"O PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO DA PERSONALIDADE"
*Autor: Frederico Eckschmidt *(1)

A espiritualidade é um fator muito importante no tratamento da dependência química porque o desenvolvimento de novos valores ajuda o indivíduo a buscar a transformação que ele tanto procura e necessita.

Nesse difícil caminho da recuperação, o cultivo de um novo código de ética universal facilita a aquisição das mais altas qualidades humanas, como a paciência, compaixão, humildade, responsabilidade, etc.

Se, para a maioria das pessoas, já é difícil viver de acordo com esses valores, para os dependentes químicos é uma batalha diária. Devido ao caráter degenerativo da doença, tanto os homens quanto as mulheres tornam-se cada vez mais propensos a mentir, seduzir e manipular, podendo inclusive começar a roubar, prostituir-se ou, até mesmo, matar.

Mas a mudança pode acontecer e possui uma programação que serve para todos que verdadeiramente procuram melhorar sua vida. O primeiro passo é admitir o problema e buscar ajuda através de uma psicoterapia com um psicólogo especializado ou um grupo de ajuda mútua, como os *Alcoólicos Anônimos* ou os *Narcóticos Anônimos*.

*A dificuldade em aceitar a ajuda*

Aí se encontra um grande obstáculo: a maioria dos dependente não aceita ajuda.

Isso faz parte do quadro clínico e, quanto maior a recusa, maior a gravidade de sua doença. Caso, porém, ele aceite um processo terapêutico, seu empenho vai ajudá-lo a adquirir o autoconhecimento necessário para saber o que lhe faz bem e traz felicidade e o que causa sofrimento e aflição.

Em seguida, começa a fase da mudança. O dependente deve procurar extinguir os antigos hábitos negativos que o fazem sofrer e substituí-los por hábitos saudáveis e positivos. Isso se torna possível gradativamente e um dia de cada vez. É uma busca constante para melhorar seus comportamentos, suas atitudes e pensamentos, procurando sempre estar em harmonia com as regras sociais, jurídicas e espirituais.

Depois vem o processo mais longo: disciplinar-se para manter ativa a transformação. Essa é fase de maior desafio, pois é enfrentando os problemas cotidianos e se relacionando verdadeiramente com as pessoas que se treina a serenidade e a personalidade se fortalece.

*O valor da serenidade e da criatividade*

Para ajudar nesse processo, a oração da serenidade (ver quadro abaixo) é uma ferramenta muito importante, pois é seu desenvolvimento que ajuda o dependente a aceitar as coisas que ele não pode modificar. É através dela que se cultiva a tolerância, a paciência e a humildade para entender que as coisas não são sempre do jeito que se quer, mas mesmo assim elas não perdem seu valor.

A serenidade treina a compaixão com outros seres vivos e é um grande antídoto contra a ira. Ter compaixão é colocar-se no lugar do outro e ver além do próprio umbigo. Transcendendo o próprio ego, é possível reduzir as expectativas projetadas no mundo e o indivíduo ganha a paz.

Para manter-se sereno também, o indivíduo deve praticar uma técnica muito poderosa conhecida como *criatividade interior*.

A criatividade exterior é bem conhecida por todos aqueles que transformam ou unificam objetos para conseguir uma nova função. Já a criatividade interior permite transformar nossos sentimentos, crenças ou pontos de vista, sempre buscando uma nova perspectiva. Esse novo ponto de vista permite ao dependente químico simbolizar os obstáculos que surgem no caminho da recuperação como preciosas oportunidades de aprendizado, ao invés de problemas e "chateação".

Por fim, para manter uma atitude de responsabilidade com a vida, o indivíduo deve procurar fazer as coisas certas pelos motivos certos sem se preocupar que isso lhe traga recompensas ou punições. E, se vier o reconhecimento pelo trabalho, que seja a conseqüência de fazê-lo bem feito por gostar do que faz e, não, pela simples satisfação do ego.

Tudo isso porque uma das causas da dependência química é uma imensa fragilidade egóica, um sentimento de baixa auto-estima e culpa por não corresponder às expectativas das pessoas que amam. Esse padrão só é vencido por um trabalho conduzido lentamente, com muita sabedoria, e que deve ser sempre incentivado.

*A Oração da Serenidade*

No tratamento da dependência química faz-se necessário abandonar antigo hábitos e a aceitar as condições para uma vida saudável. Para ajudar nesse processo, uma ferramenta muito útil é a Oração da Serenidade. Ela foi escrita pelo teólogo protestante norte-americano Reinhold Niebuhr (1892-1971) e representa uma síntese dos esforços que devemos desenvolver para vencermos a nós próprios e aprendermos a exercer nossa vontade. Sua primeira parte é mais conhecida nos grupos de ajuda mútua, como o A. A. e o N. A.

*"Concede-me, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar as que eu posso e sabedoria para distinguir uma das outras"*.

Mas ela continua:

"Vivendo um dia de cada vez, desfrutando um momento de cada vez, aceitando as dificuldades como um caminho para alcançar a paz, considerando o mundo pecador como ele é e não como gostaria que ele fosse, confiando em Deus para endireitar todas as coisas para que eu possa ser moderadamente feliz nesta vida e sumamente feliz contigo na eternidade. Amém."

(1) Frederico Eckschmidt - Psicólogo clínico, formado pela UniversidadeMackenzie e especializado em dependência química

Reflexões Diárias de A.A.: 30/01

30 DE JANEIRO

LIBERDADE DE ... LIBERDADE PARA...

Iremos conhecer uma nova liberdade....

ALCOÓLICOS ANÔNIMOS, p. 103 ou p. 112

Liberdade para mim são duas: liberdade “de” e liberdade “para”. A primeira liberdade da qual eu usufruo, é a liberdade da escravidão do álcool. Que alívio! Então começo a sentir liberdade “de” – do medo de pessoas, da insegurança econômica, de compromissos, de fracasso, de rejeição.
Então começo a usufruir da liberdade “para”: liberdade para escolher sobriedade hoje, liberdade para ser eu mesmo, liberdade para expressar minha opinião, para experimentar paz de espírito, para amar e ser amado, e liberdade para crescer espiritualmente. Mas como posso conseguir estas liberdades? O Livro Grande diz claramente que antes de estar no meio do caminho para fazer as reparações, começarei a conhecer uma “nova” liberdade: não aquela antiga liberdade de fazer o que me agradava sem preocupar-me com os outros, mas, uma nova liberdade que permite o cumprimento das promessas em minha vida.
Que alegria ser livre!

domingo, 29 de janeiro de 2012

A.A. On-line

A.A. ON-LINE

Meu nome é Marcelo e sou um alcoólico. Tenho 30 anos e há algumas 24 horas busco minha recuperação em A.A. através de uma sala física e no Grupo AABR pela Internet.
Depois de não ver mais saída para o tipo de vida que o álcool havia me levado e me encontrar completamente confuso e derrotado, finalmente aceitei ajuda e iniciei minha recuperação em uma clínica onde fiquei um ano em sistema de semi¬internação.
Ao receber alta, minha terapeuta me fez um lembrete: "Nunca se esqueça, é uma doença incurável, progressiva e de fins fatais. Sempre vai ter que lidar com ela, você não está curado, portanto procure uma sala de A.A. para dar continuidade à sua recuperação".
No começo não gostei muito da idéia, achei que já estava ótimo, mas resolvi ingressar em A.A.. Sentado na primeira cadeira escutei o depoimento de vários companheiros e não me identifiquei muito, pois falavam em beber pela manhã, delírios e outras coisas que eu ainda não havia passado. Saí do Grupo um pouco mal e não continuei a freqüentá-lo. Mesmo tendo ficado um ano em uma clínica, ainda não tinha aceitação suficiente.
Consegui ficar uns dois anos sóbrio e depois veio a recaída. Fiquei quase um ano bebendo, sempre tentando controlar, evitando beber em curtos períodos de tempo, inventando todo tipo de fórmula para curar as ressacas, mas mesmo assim, a insanidade havia voltado e cheguei novamente ao fundo de poço. Não entendia como aquelas "pessoas" em A.A. conseguiam ficar sóbrias falando na cabeceira de mesa e escutando "aqueles" depoimentos.
Um dia, navegando pela internet, resolvi procurar alguma coisa sobre A.A. e encontrei o Grupo AA-Sobriedade que disponibilizava um "Chat" para trocas de experiências ao vivo e uma lista de e-mails onde todos escreviam sobre sua recuperação. Ingressei e conheci os companheiros on-line que me ajudaram para o retomo a A.A.. Diziam sempre: é muito importante sua presença aqui, mesmo assim, procure também um Grupo físico de A.A., pois você precisa do calor humano que é diferente de nossa tela fria. Após algum tempo resolvi voltar a um Grupo de A.A..
Ao chegar numa reunião da tarde, encontrei-me com amigos que bebiam comigo e já estavam sóbrios em A.A.. Conversamos muito e vi que realmente a vida deles havia mudado e o principal, que estavam felizes.
A atração levou-me novamente ao interesse pelos Grupos de A.A.. Procurei conhecer a Irmandade através da Literatura e me identifiquei muito com o Livro Azul. Conheci as promessas de A.A., as sugestões de como chegar lá e finalmente iniciei minha recuperação.
Sabia que apenas parar de beber era muito pouco, que não chegaria à felicidade se realmente não procurasse recuperar os sintomas que a doença do alcoolismo havia deixado em minha vida, portanto, acatei as sugestões de A.A. e comecei a fazer os passos.
O primeiro foi até fácil, pois como estava vindo de uma recaída, sabia claramente que realmente não tinha controle sobre o álcool e tinha perdido o domínio da minha vida, já o segundo e o terceiro foram um pouco mais complicados, pois minha fé em um Poder Superior estava completamente abalada devido às confusões de minha ativa.
Aceitei que existia um Poder Superior, mas como iria entregar minha vida a Ele? Resolvi fazer uma carta para Deus, dizendo tudo o que pensava Dele. Sem medo, falei das confusões que tinha sobre as religiões e tudo que sempre tive vontade e no final da carta escrevi que a partir daquele momento, minha vida seria entregue a Ele, para que fosse feita a Sua vontade e não mais a minha. Fiquei um dia sozinho, entrei em meditação, li a carta pra Deus e no final a queimei, e para mim, a fumaça simbolizou a aliança que fiz com o Poder Superior.
O Quarto Passo direcionou minha recuperação. Entre as linhas do inventário consegui perceber o que o álcool havia trazido pra minha vida e o que eram meus próprios defeitos, ou seja, consegui separar o alcoolismo de minha vida e primeiramente tratar os sintomas do alcoolismo nos passos seguintes. Depois de me livrar da carga que carregava através do Quinto Passo, aumentar o contato consciente com Deus, trabalhar meus defeitos de caráter trazidos como sintomas de alcoolismo e fazer as reparações necessárias, minha vida foi se transformando; o vazio foi acabando, voltei a estudar, a trabalhar e entrei para o Serviço no Grupo. Freqüentava as reuniões do Grupo físico e todo o dia à noite ia para internet, para o meu grupo virtual, rever meus amigos que me deram muita força para continuar minha recuperação.
Hoje os fantasmas foram embora, o vazio acabou, as compulsões pela bebida sumiram e tudo aconteceu automaticamente, esse é o milagre. Quando olho pra trás e lembro de como tudo era confuso e como o programa de A.A. é simples e me ajudou a ter novamente a natureza exata da vida, só tenho sentimentos de gratidão por essa Irmandade e por todos que ajudaram e me ajudam em minha caminhada, por isso sou responsável.
Não vivo mais no futuro e nem no passado, hoje posso sonhar, antes eu delirava. Mantenho minha sobriedade através do 10°, 11 ° e 12° Passos; faço meu futuro a cada 24 horas, dando o melhor que posso somente hoje, pois A.A. me ensinou que meu amanhã é conseqüência apenas de meu hoje.
Além do Grupo físico que tenho presença quase que diária, faço parte da lista de e-mails do Grupo AABR e do Chat de texto, onde encontro com grandes amigos todas às noites e trocamos experiências.
Participo também do Grupo AABR no Paltalk que é um Chat de voz, onde escuto as experiências dos companheiros ao vivo e temos todos os dias diversas reuniões, como temáticas, reuniões de estudos da Literatura e de depoimentos.
Com todas essas ferramentas que A.A. disponibiliza e minha força de vontade, de 24 em 24 horas, consegui me formar; estou crescendo profissionalmente, me casei com a pessoa que eu amo, e hoje contemplo o que A.A. me deu de melhor: A liberdade para eu ser quem realmente sou! ! !

MacBello/Uberlândia/MG

Vivência n° 97 – Setembro/Outubro 2005

Reflexões Diárias de A.A.: 29/01

29 DE JANEIRO

A ALEGRIA DE COMPARTILHAR

Sua vida terá novo sentido. Ver as pessoas se recuperar, vê-los ajudar aos outros, ver desaparecer a solidão, ver uma Irmandade crescer ao redor de você – eis a experiência que não se deve deixar de ter. Sabemos que você não vai querer perder tal oportunidade. O contato frequente com os ingressantes e os outros membros é a parte resplandecente de nossas vidas.

ALCOÓLICOS ANÔNIMOS, p. 109 ou p. 117

Saber que cada ingressante com quem compartilho tem a oportunidade de experimentar o alívio que encontrei nesta Irmandade, enche-me de alegria e gratidão. Sinto que todas as coisas descritas no A.A. irão acontecer com eles, como aconteceram comigo, se eles agarrarem a oportunidade e abraçarem totalmente o programa.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Desejando ir a quaisquer distâncias

DESEJANDO IR A QUAISQUER DISTÂNCIAS

"Com honestidade, mente aberta e boa vontade."

Honestidade, mente aberta e boa vontade são o caminho, a estrada e a autopista para a recuperação. Eu não sabia disso no primeiro dia em que cheguei a uma reunião de Alcoólicos Anônimos.

Aquele primeiro dia eu estava cheio de medo e com auto-piedade. Estava deprimido. Estava em estado de suicídio. Sentia que não havia saída.

O álcool, meu amigo, que eu descobrira na puberdade, não funcionava mais. Se eu bebia ou não, a dor da vida estava presente. O álcool que me ajudara através da vida, através dos altos e baixos, não acalmava mais as dores.

Agora sei que ao longo da minha vida havia problemas.No meu caso, toda vez que alguma coisa não funcionava da forma que eu desejava, eu corria para a garrafa. A garrafa não funcionava mais.

E, Alcoólicos Anônimos me foi mostrada uma forma diferente para lidar com os problemas que acontecem na vida. Para fazer isso, eu tive que praticar os Doze Passos de A.A., e para praticá-los eu tinha que ser honesto, com mente aberta e ter boa vontade. Em A.A. me foram mostradas soluções espirituais para os problemas ou os ressentimentos que ocorrem diariamente na vida.

No meu primeiro dia em Alcoólicos Anônimos eu conheci um companheiro que me apresentou uma solução espiritual para os meus problemas. Ele sugeriu que eu fosse o mais humilde possível e pedisse a um Poder superior a mim, para ficar sóbrio por um dia. Ele também sugeriu que eu orasse por qualquer um que me aborrecesse. Eu achei tudo muito esquisito, mas estava desesperado. Como ele disse, o que poderia perder?

Naquela noite me ajoelhei e pedi ajuda a um Deus do meu entendimento, um Deus de amor e esperança. Poderia Ele ajudar-me a me manter sóbrio para que eu evitasse o suicídio e para que eu pudesse ajudar um indivíduo alcoólico?

Eu sei agora que naquele momento eu estava com boa vontade e certamente com a mente aberta. Estava fazendo algo que jamais pensara que faria. Eu era às vezes, um agnóstico, mas desde que vim para A.A. fiquei com a mente aberta o suficiente para fazer as coisas sugeridas por outros membros de A.A., e também para ler e absorver o livro Alcoólicos Anônimos, que é basicamente a minha autobiografia.

Este livro conta a história da minha vida e também como eu posso me recuperar da doença do alcoolismo, praticando os Doze Passos de A.A. Há um capítulo no livro intitulado "Como Funciona". Ele não é intitulado "Como poderia Funcionar" ou "Como Funcionaria".

O capítulo mostra como são os Passos de A.A. Foi-me dito que a palavra "Como do título, quer dizer Honestidade, mente aberta e boa vontade. A partir do meu primeiro dia em A.A. eu tive que me tornar honesto. Como diz o ditado, a honestidade é a melhor política.

Eu também descobri praticando os Passos que é realmente verdadeiro o que um outro A.A. diz: "Você é tão doente quanto os seus segredos". Eu tive que ser honesto e ganhando um padrinho e praticando os Passos, principalmente o Quarto e o Quinto. Tive que olhar a minha vida passada. Tive que ser honesto e contar para meu padrinho todos os meus segredos, da maneira como é descrito no Livro Azul. Aqueles segredos iriam comigo para o túmulo. Esses segredos ou ressentimentos estavam me arrastando para baixo, eram um peso ao redor do meu pescoço, mas agora eles foram embora. É uma liberdade fantástica.

É claro que quando me foi apontado que eu teria de praticar os Passos, no começo eu não queria. A dor, entretanto, é a maior motivadora e, como é dito ela é a pedra de toque da espiritualidade. A dor fez-me ficar com boa vontade e com a mente aberta. Quando iniciei os Passos eu não podia acreditar que as coisas sugeridas a mim me fariam bem; sugestões como me ajoelhar pela manhã e à noite, executando serviços em A.A., usando o telefone para falar a outros alcoólicos, lendo o Livro Grande diariamente, tendo um padrinho para me ajudar e guiar.

O que isso tem a ver com a sobriedade? Eu estava com a mente aberta pela dor mas também pude me identificar com as pessoas, ajudando-me. Quando eu falava a respeito do meu desespero, auto-piedade e história de bebedeiras, elas rapidamente se identificavam comigo. Elas rapidamente diziam que tinham problemas semelhantes em suas vidas, mas que tendo um padrinho e praticando os Passos eles tinham agora vidas felizes, sóbrias e com sucesso.

Elas eram felizes agora, alegres e livres como narrado no Livro Azul. Elas conseguiram ficar dessa forma sendo honestas, com a mente aberta e com boa vontade.

Que você também possa experimentar essa nova vida de sobriedade e felicidade tendo uma mente aberta para aceitar as idéias e sugestões espirituais do Livro Azul, desejando ir a quaisquer distâncias para a sobriedade, sendo honesto o suficiente para encontrar um padrinho e praticar os Passos.

(Anônimo - Tradução de artigo da Revista Share)

Vivência 83 Mai../Jun. 2003

Reflexões Diárias de A.A.: 28/01

28 DE JANEIRO

O TESOURO DO PASSADO

Mostrar aos outros que ainda sofrem, como fomos ajudados, é justamente o que hoje nos faz sentir o valor de nossas vidas. Apegue-se a este pensamento: nas mãos de Deus o passado escuro é a maior riqueza, é a chave para a vida e a alegria dos outros. Com ele você poderá evitar-lhes a morte e a miséria.

ALCOÓLICOS ANÔNIMOS, p. 141 ou p. 153

Que dádiva é para mim perceber que todos aqueles anos que pareciam perdidos não foram desperdiçados. As mais degradantes e humilhantes experiências mostram-se como as mais poderosas ferramentas para ajudar outros a se recuperar. Conhecendo as profundezas da vergonha e do desespero, posso alcançá-los com uma mão amável e compassiva, bem como saber que a graça de Deus está disponível para mim.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O poço de cada um

O poço de cada um

Quando me convidaram para ir a uma reunião de A.A., eu fui por curiosidade, pois achava que meus problemas com a bebida não eram muito sérios. Ao chegar ao grupo, fui muito bem recebido e durante a reunião as pessoas falaram de seus problemas e do programa dos Doze Passos de forma bem esclarecedora.
Os Passos chamaram minha atenção, pois tenho muitos problemas de convivência com as pessoas. Achei que esse programa seria de muita ajuda para mim e passei a freqüentar as reuniões.
Com o passar do tempo, percebi que muitos companheiros afirmavam que "quem não chegasse ao fundo do poço não ficaria em A.A. por muito tempo". Ouvia, através dos depoimentos, as desgraças pelas quais muitas pessoas haviam passado, e pelas quais eu nunca havia passado e nem queria passar - por isso é que eu estava participando de um programa tão importante. E pensava: "O que estou fazendo aqui? Tenho de passar por tudo isso para ser A.A.?"
Continuei participando das reuniões e não bebi mais. Passei a estudar os Passos e vi que eram realmente o que eu estava precisando.
Quando ouvia os companheiros afirmarem que "quem não chegou ao fundo do poço não se firma no programa", pensava que "fundo de poço" era ter passado por muito sofrimento e desgraça, era ter chegado à situação humilhante e deplorável de não ter mais para onde ir.
Tive então a oportunidade de participar de uma reunião de Distrito. Gostei de conhecer outros companheiros e aprender mais algumas coisas - uma delas sobre o "fundo do poço": depois da reunião fomos almoçar na casa de um companheiro e pude ouvir pessoas experientes. Conversei com alguém que me disse: "Você é um felizardo por ter encontrado A.A. em seu caminho, estando ainda tão jovem e 'inteiro'. Cada um sabe a profundidade do seu 'poço'. Alguns agüentam mais sofrimentos e outros, como você, procuram uma saida antes de as coisas tomarem um rumo no qual o retorno fica difícil. Eu conheço pessoas cujo 'fundo de poço' foi um porre."
Depois dessa conversa eu me sentí à vontade, sabendo que não era um intruso que quisesse tirar proveito de algo que não era seu. Estou completando dois anos em A.A. e graças a um Poder Superior até hoje estou sóbrio, procurando ter serenidade, coragem e sabedoria para viver uma vida de acordo com a vontade de Deus. Só por hoje estou tentando melhorar em todos os sentidos. Agradeço a Alcoólicos Anônimos por tudo de bom que estou aprendendo e tentando pôr em prática em minha vida.
Eu tinha me inclinado e despencado. Senti a vertigem da queda e o impacto com o chão duro e frio do fundo do poço. Por sorte minha, esse poço não era tão profundo e eu pude ver a saida, embora achasse que estava bem. Algumas vezes tentei sair, mas não achei a borda e continuei acomodado naquela situação. Até que, sem que eu esperasse, vi a mão de A.A. estendida, oferecendo-me ajuda e me fazendo perceber que se eu não saisse de onde estava, poderia despencar num outro poço, muito mais profundo e mais difícil de sair. Então agarrei essa mão estendida e a estou segurando até hoje.
Gostaria de agradecer a todos os companheiros do Grupo Castelo dos Sonhos. Vocês são meus irmãos e eu torço por vocês nessa caminhada que não é muito fácil, mas que, com a ajuda de um Poder Superior e de A.A., conseguimos percorrer. Infinitas vinte e quatro horas de serenidade e sobriedade a todos os irmãos de A.A.

(Francisco, PA)

(vivência - Jan/Fev 2000)

Reflexões Diárias de A.A.: 27/01

27 DE JANEIRO

LIBERAÇÃO DA CULPA

No tocante às outras pessoas, tivemos de eliminar a palavra “culpa” de nosso vocabulário e de nossos pensamentos.

OS DOZE PASSOS E AS DOZE TRADIÇÕES, p. 41

Quando me tornei disposto a aceitar minha própria condição de impotência, comecei a perceber que culpar a mim mesmo por todos os problemas na minha vida poderia ser uma viagem para dentro de mim mesmo, de volta para a desesperança. Pedindo ajuda e escutando profundamente as mensagens contidas nos Passos e nas Tradições do programa, foi possível mudar essas atitudes que atrasam minha recuperação. Antes de ingressar em A.A. eu desejava tanto a aprovação de pessoas importantes, que estava disposto a me sacrificar, bem como aos outros, para ganhar posição social. Invariavelmente eu tinha muitos desgostos. No programa encontrei verdadeiros amigos que me amam, me entendem e procuram ajudar-me a aprender a verdade sobre mim mesmo. Com a ajuda dos Doze Passos, sou capaz de construir uma vida melhor, livre da culpa e da necessidade de autojustificação.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Algumas ferramentas sugeridas por A.A. para trabalharmos o sentimento de inferioridade

" ALGUMAS FERRAMENTAS SUGERIDAS POR A.A. PARA TRABALHARMOS O SENTIMENTO DE INFERIORIDADE "
Por: Edson H.

No livro "NA OPINIÃO DO BILL", em seu índice, quando procuramos por "inferioridade" encontramos a observação `veja inadequabilidade ". Portanto", inferioridade "e" inadequabilidade "foram colocadas na mesma panela".

1. "A verdadeira ambição e a falsa".
Concentrávamos muito em nós mesmos e naqueles que nos cercavam. Sabíamos que éramos cutucados, por medos ou ansiedade descabidos, a uma vida que levava à fama, dinheiro e ao que supúnhamos que fosse liderança. Assim, o falso orgulho tornou-se o outro lado da terrível moeda com a marca do "medo". Simplesmente tínhamos que ser a pessoa mais importante, a fim de encobrir nossas inferioridades mais profundas."(pág. 46)".

FERRAMENTA: "A verdadeira ambição não é aquilo que achávamos que era. Ela é o profundo desejo de viver de maneira útil e caminhar humildemente, sob a graça de Deus".(pág. 46);

2. "Ver desaparecer a solidão".
Quase sem exceção, os alcoólicos são torturados pela solidão. Mesmo antes de nossas bebedeiras se tornarem graves e as pessoas começarem a se afastar de nós quase todos sofremos a sensação de estarmos sós. Ou éramos tímidos e não nos atrevíamos a nos aproximar dos outros, ou éramos capazes de ser bons sujeitos, sempre desejando ardentemente a atenção e o companheirismo, mas raramente conseguindo. Sempre existia aquela barreira misteriosa que não conseguíamos vencer nem entender.
Essa é uma das razões pela qual amávamos tanto o álcool. Mas até Baco nos traiu; ficamos finalmente arrasados e calmos numa terrível solidão."(pág. 90)".

FERRAMENTA: "A vida adquire um novo sentido em A.A. Ver pessoas se recuperarem, vê-los ajudarem os outros, ver desaparecer a solidão, ver crescer uma fraternidade ao redor de você, ter um grande número de amigos - essa é uma experiência que não deve ser perdida".(pág. 90);

3. "Vitória na derrota".
Convencido de que nunca poderia fazer parte e jurando nunca me conformar com o segundo lugar, eu sentia que simplesmente tinha que vencer em tudo que quisesse fazer: trabalho ou divertimento. Como essa atraente fórmula de boa-vida começou a dar resultado, de acordo com minha idéia de sucesso, tornei-me delirantemente feliz. Mas quando acontecia de um empreendimento falhar, me enchia de ressentimento e depressão que só podia ser curado com o próximo triunfo. Portanto, muito cedo comecei a avaliar tudo em termos de vitória ou derrota - "tudo ou nada". A única satisfação que eu conhecia era vencer."(pág. 135)".

FERRAMENTA: "Somente através da derrota total é que somos capazes de dar os primeiros passos em direção à libertação e à força. Nossa admissão de impotência pessoal finalmente vem a ser o leito de rocha firme, sobre o qual podem ser construídas vidas felizes e significativas".(pág.135)

4. "Defeitos e reparações".
Mais que a maioria, o alcoólico vive uma dupla vida. É um verdadeiro ator. Para as pessoas de fora ele se apresenta como se estivesse no palco. Isso é o que ele quer que os outros vejam. Quer gozar de uma certa reputação, mas sabe, do fundo do coração, que não a merece."(pág. 140)";

"O sentimento de culpa é realmente o reverso da moeda do orgulho. O sentimento de culpa visa à autodestruição, e o orgulho visa a destruição dos outros." (pág. 140);
FERRAMENTA: "O inventário moral é um exame ousado dos danos que nos ocorreram, durante a vida, e um sincero esforço para vê-los em sua verdadeira perspectiva. Ele tem o efeito de tirar o veneno de dentro de nós, a substância emocional que abate ou inibe ainda mais".(pág. 140);

5. "Apenas tentar".
Em minha adolescência eu tinha que ser um atleta, porque não era atleta. Tinha que ser um músico, porque não podia entoar a melodia mais simples. Tinha que ser o líder de minha classe no internato.
Tinha que ser o primeiro em tudo, porque em meu coração perverso eu sentia em mim mesmo a última das criaturas de Deus. Não podia aceitar minha profunda sensação de inferioridade, e assim me tornei capitão do time de beisebol, e assim aprendi a tocar violino. Tinha que ser sempre o líder. Foi essa espécie de exigência "tudo ou nada" que mais tarde me destruiu. (pág. 214)

FERRAMENTA: "Estou contente porque você vai tentar esse novo trabalho. Mas esteja certo de que vai apenas "tentar". Se você tiver a atitude de que "devo ser bem-sucedido, não devo falhar, não posso falhar", então você praticamente vai garantir o fracasso, que por sua vez vai garantir sua recaída na bebida. Mas se você considerar o empreendimento, como apenas uma experiência construtiva, então tudo sairá bem." (pág. 214);

6. "Já não estamos sozinhos".
O alcoolismo significa solidão, embora estivéssemos cercados de pessoas que nos amavam. Mas quando "nossa prepotência afastou todo mundo e nosso isolamento foi completo, começamos a bancar o importante em botequins de última categoria. Quando também isso acabou, tivemos que perambular, sozinhos, pela rua para depender da caridade dos transeuntes".
Ainda procuramos encontrar a segurança emocional, dominando ou nos fazendo dependentes dos outros. Mesmo quando nossa sorte não era das piores, não obstante nos encontramos sozinhos no mundo. Ainda inutilmente procuramos obter segurança, através de algum tipo de domínio ou dependência."(pág. 252)".

FERRAMENTA UM: Para aqueles de nós que eram assim, A.A. teve um significado muito especial. Nessa Irmandade começamos a aprender a nos relacionar bem com as pessoas que nos compreendem; não temos mais que estar sozinhos."(pág. 252)".

FERRAMENTA DOIS: (extraída do livrete "O MELHOR DE BILL"): "... Ajudado por qualquer Graça que pudesse obter através da oração, cheguei à conclusão de que eu tinha de apelar para toda minha força de vontade e ação para eliminar estas defeituosas dependências emocionais das pessoas, de A.A., na verdade, de qualquer conjunto de circunstâncias".(pág. 58).

"... Se examinarmos todo distúrbio emocional que temos, leve ou sério, encontraremos na origem do mesmo alguma dependência doentia e a exigência igualmente doentia que dela deriva. Renunciemos de maneira continua, com a ajuda de Deus, a essas exigências claudicantes. Então podemos sentir nos livres para viver e amar".(pág. 61).

Reflexões Diárias de A.A.: 26/01

26 DE JANEIRO

HONESTIDADE RIGOROSA

Quem se dispõe a ser rigorosamente honesto e tolerante?
Quem se dispõe a confessar suas falhas a outra pessoa e a fazer reparações pelos danos causados? Quem se interessa, ao mínimo, por um Poder Superior, e ainda pela meditação e a oração? Quem se dispõe a sacrificar seu tempo e sua energia tentando levar a mensagem de A.A. ao próximo? Não, o alcoólico típico, egoísta ao extremo, pouco se interessa por estas medidas, a não ser que tenha que tomá-las para sobreviver.

OS DOZE PASSOS E AS DOZE TRADIÇÕES, p. 20

Eu sou um alcoólico. Se eu beber eu morrerei. Meu Deus, que poder, energia, e emoção esta simples declaração gera em mim! Mas, verdadeiramente, é tudo que preciso saber por hoje. Estou disposto a ficar vivo hoje? Estou disposto a ficar sóbrio hoje? Estou disposto a pedir ajuda e estou disposto a ajudar outro alcoólico que ainda sofre hoje? Descobri a natureza fatal de minha situação? O que devo fazer, hoje, para permanecer sóbrio?

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

"A sua excelência Alcoolatra, bom dia"

"A sua excelência Alcoolatra, bom dia"

Nesta manhã clara e tranquila eu quero te dirigir algumas palavras, a ti que deve estar curtindo aquela ressaca.
A ti que com os olhos empapuçados pelo vapor do alcool, acordou desesperançado e triste dono de toda melâncolia do mundo, afogado nas perspectivas mais desalentadoras, que vê nascer mais um dia que vai se perder na sua totalidade.

Porque essa manhã que vive hoje, eu já as vivi durante muitos anos. Não vai em minhas palavras nenhuma censura ou maldade. Não quero que te sintas deprimido ao saber que de algum canto da cidade tu és observado e notado, pois por mais que faça para esconder tua doença, ela emana em tudo que tu és, deixando para longe, tudo que tu fostes.

Vejamos por exemplo se no decorrer do dia de hoje, terás a disposição nescessária para a luta cotidiana, ou se no teu trabalho não irá sobrecarregar teus colegas, se na tua casa não irá trazer tristezas. Observa-se nas cavas profundas de teus olhos, e no seu rosto inchado, a marcas que denunciam ao descontrôle total da noite passada. Suas mãos tremem e mostram a imcapacitação que a doença do alcoolismo lhe trouxe.

És inteligênte eu sei, e é por isso que te dirijo essas palavras, pois para aqueles que não entendem, eu prefiro calar. A ti eu te falo, porque eu sei que as minhas palavras encontraram éco em tua formação moral, pois se quizeres deixaras de ser um bêbado. Se falo assim contigo é porque tenho a experiência adquirida em em todos os
rôtulos de bebidas existentes, pois palmitei inconcientimente todos os antros onde a bebida pode levar.

Não me envergonho em dizer que em matéria de alcoolismo fui professor. Senti tambem a transformação do caráter e a agressividade da alma, com o cinismo comum em todo alcoolatra. Afundado nos vapores enganosos da falsa alegria e na descida do poço, recebi a cota da amargura que ficou para toda a minha vida.

Mas acordei em tempo e te confesso penalizado no fundo da minha alma, que não queria te escrever essas linhas. Queria que nessa manhã, como eu, tu pudesse ver a verdadeira maravilha que nos traz um novo dia de vida. Como é bom despertar e sentir a felicidade de estar ralmente vivendo. Como é prazeiroso se sentir gente e poder colaborar para a formação de um mundo novo e bom. Sentir a paz invadir nosso ser, sentir-se útil aos nossos familiares e amigos.

Não criando problemas e apreenção para aqueles que nos cercam, pois creia meu amigo; tu os cria, eu tambem assim procedia. Nesta manhã, enquanto queima os restos da noite passada, eu humildemente te convido a partilhar minha vida. venha comigo por um caminho onde a vida é mais bela e mais simples. Experimente e compare, depois tu que é inteligênte me dirá. Terás a tua opção. Terás a liberdade da vida sem o freio inconciente da doença, pois o alcoolatra e conduzido pelo cabresto sordido da desgraça.

És um homem doente, venha comigo e te mostrarei um caminho de luz, pois quando eu me encontrava sem esperanças e em desespero como tu, alguem me me ajudou e me conduziu para o caminho dos "Doze Passos" da verdadeira vida.

Anônimo.

Reflexões Diárias de A.A.: 25/01

25 DE JANEIRO

O QUE PRECISAMOS – UM AO OUTRO

Alcooólicos Anônimos está sempre a dizer a todo beberrão contumaz: “Você será um membro de Alcoólicos Anônimos se assim o quiser... ninguém poderá mantê-lo de fora”.

OS DOZE PASSOS E AS DOZE TRADIÇÕES, p. 125

Por anos, anos, quando refletia sobre a Terceira Tradição (“Para ser membro de A.A. o único requisito é o desejo de parar de beber”), achava isto bom apenas para os ingressantes. Era sua garantia de que ninguém podia barrá-los em A.A. Hoje, sinto uma gratidão permanente pelo desenvolvimento espiritual que a Tradição trouxe para mim. Obviamente, eu não procuro pessoas diferentes de mim mesmo.
A terceira tradição, concentrada na única maneira em que sou igual aos outros, levou-me a conhecer e a ajudar todo tipo de alcoólico, da mesma forma como eles também me ajudaram.
Charlotte, a atéia, mostrou-me os mais altos padrões de ética e de honra; Clay, de outra raça, ensinou-me a paciência: Winslow, que é gay, levou-me pelo exemplo à verdadeira compaixão; a jovem Megan diz que ver-me nas reuniões, sóbrio 30 anos, faz com que ela continue voltando. A Terceira Tradição garante que conseguiremos o que precisamos: um ao outro.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Bem recebido e bem informado

Bem recebido e bem informado

Ao ingressar em A.A. recebi algumas informações preciosas que relembro agora com vocês. Fui informado que:

1. O alcoolismo era uma doença física (o que não contestei, já que estavam se manifestando em mim evidentes sintomas físicos da doença).

2. Que era uma doença mental (o que também aceitei, já que estava evidente que sob o efeito do álcool eu ficava louco, agindo de forma incompatível com os meus princípios e a minha razão).

3. Que era uma doença espiritual (e, apesar de ser, à época, ateu... eu aceitei a hipótese na base da boa vontade).

4. Que o doente manifestava compulsão pela bebida (e era verdade no meu caso, eu começava a beber de repente... num impulso... sem querer... a compulsão seria isso, não ter controle sobre o começar a beber...).

5 Que o doente era vítima de uma obsessão mental (e no meu caso também era verdade, quando eu não estava bebendo estava planejando beber, ou parar de beber, mas meu cérebro estava sempre girando ao redor da garrafa).

6. Que o doente negava a sua doença (o que também era verdade no meu caso, nunca admiti que ninguém se manifestasse sobre minha forma de beber).

7. Que a doença era progressiva (o que também era verdade no meu caso, eu estava cada vez mais afetado pelo álcool).

8. Que era incurável (e aí eu tive que acreditar no que me diziam, mas a minha experiência fazia com que eu admitisse que poderia ser verdade, eu havia perdido o controle sobre a bebida e não conseguia recobrá-lo).

9. É de terminação fatal, ou seja, que um alcoólico como eu só iria parar de beber morto (ou talvez internado num manicômio eficiente ou num presídio mais ou menos organizado, porque ainda ali - num hospício ou na cadeia - eu iria continuar bebendo até morrer, se tivesse chance).

Apesar de serem péssimas notícias, eu não fiquei muito desesperado com elas, já estava num ponto em que a bebida me desesperava mais do que qualquer outra coisa no mundo. Eu estava num ponto em que não conseguia mais beber, nem parar de beber, eu era simplesmente levado e percebia que qualquer coisa poderia acontecer comigo e não seria surpresa nem para mim nem para ninguém.
Reparem bem, para chegar a esse ponto eu nunca dormi na rua, nunca fui preso, nem internado por doença alguma. Mas não ficaria surpreso que uma dessas coisas viesse a ocorrer comigo. Assim, quando algumas pessoas me falaram que isso havia ocorrido com elas, eu não me choquei muito, era bom saber que isso poderia ocorrer e era melhor ainda pensar que eu poderia evitar que viesse a ocorrer comigo.
Eu recebi os fatos sobre o alcoolismo de viva voz, de pessoas que haviam vivido a experiência de beber como eu bebia então... e essas pessoas haviam saído do inferno onde eu estava, algumas haviam saído de infernos piores do que o meu e eu queria saber como fora possível para elas, e se seria possível para mim.
Naquele momento não me importei nem um pouco com o fato de estarem na sala pessoas com níveis sociais, econômicos ou culturais acima ou abaixo do meu próprio... Isso era para mim mais uma evidência de que se tratava de uma doença, tal como as doenças "de verdade" (gripe, câncer, diabetes, etc.) o alcoolismo não fazia distinções desse tipo.
Na verdade, naquele exato momento, todos naquela sala me pareciam melhores e mais espertos do que eu: eles sabiam viver sem a bebida e eu não sabia.
Vieram então as boas notícias e a primeira era a de que a doença poderia ser paralisada em sua lenta progressão até a minha morte.
E que para isso não era preciso parar de beber para sempre, mas por apenas vinte e quatro horas!
Eu quase caí da cadeira... parar por vinte e quatro horas, só!
A primeira revolução efetiva que os companheiros de A.A. me propuseram foi a de parar de beber só por vinte e quatro horas.
É evidente que eu já havia pensado e desejado parar de beber para sempre, mas sempre era um tempo grande demais para o tamanho da minha força de vontade, que era pequena demais no que se referia a parar de beber.
Depois de um porre qualquer, eu, sempre, decidia que iria dar um tempo (uns meses, umas semanas, uns dias), mas eu mal conseguia ficar horas sem beber.
Achei de tamanho adequado à minha fraqueza o compromisso de ficar sem beber só por vinte e quatro horas.
É claro que eu sabia que aquelas pessoas já estavam há muitas vinte e quatro horas sem beber e é óbvio que eu também era capaz de compreender que aquelas vinte e quatro horas deveriam ser seguidas de outras mais indefinidamente, mas eu compreendi muito claramente que não deveria me preocupar com o dia seguinte, mas só com o dia de hoje.
Os companheiros que estavam naquela sala foram muito enfáticos em me explicar que, tal como eu, eles também ficaram cansados de tentar parar de beber a partir de amanhã, que amanhã ainda não existe e ontem já passou e que, portanto, só existe o dia de hoje... e assim por diante foram colocando argumentos e mais argumentos a favor da tese das vinte e quatro horas em oposição ao nunca mais...
Mas o que me impressionou foi algo que um companheiro disse. Ele enfatizou que decorridos 4 anos sem bebida ele ainda sentia, eventualmente, desejo de beber. Quando esse desejo era imenso, o que ele fazia era dizer para si mesmo que iria beber até cair... no dia seguinte, amanhã, quando esse dia chegava, se transformava em hoje, e como ele não queria beber só por hoje, ele ia driblando o seu desejo dia após dia sem grandes sofrimentos (só para registro, esse companheiro ainda faz parte da nossa Irmandade, já completou 14 anos de sobriedade contínua e não sente mais, há alguns anos, desejo de beber).
Era simples, mas uma revolução completa na minha forma de pensar. Tudo o que eu deveria fazer era uma pequena troca no meu calendário... o que antes eu fazia só por hoje (beber) eu passaria a fazer amanhã e o que eu faria amanhã (parar de beber) eu passaria a fazer só por hoje.
Parar de beber só por vinte e quatro horas era muito mais fácil do que parar de beber para sempre e eu comecei a achar que poderia dar certo, mas a questão era que eu estava bebendo todos os dias há 10 anos (eu tinha 31) e estava bebendo desde que acordava, há pelo menos 5 anos...
Sem dúvida era mais fácil parar de beber por vinte e quatro horas do que para sempre... mas no meu caso, mesmo vinte e quatro horas pareciam ser toda a eternidade e eu tinha medo...
Os companheiros então resolveram me dar sugestões de ordem prática.
De cara me sugeriram comer doces, caso não fosse diabético, e me explicaram que a ingestão de refrigerantes e doces (açucar) me ajudaria a amenizar a compulsão física pelo álcool. Antes que eu pudesse dizer que eu não gostava de doces, quase todos me relataram que, quando bebiam, também pensavam, como eu, que não gostavam de doces, mas que depois haviam descoberto que a rejeição aos doces era uma das pequenas conseqüências do alcoolismo (o álcool e o açucar são "primos", substâncias altamente calóricas e uma grande ingestão de uma, satura o organismo de calorias e diminui o desejo pela outra...).
Na mesma linha insistiram para que eu mantivesse o aparelho digestivo cheio todo o tempo, mesmo que fosse à custa de passar todo aquele primeiro dia beliscando coisas, e me alertaram que, dali por diante, uma alimentação regular deveria fazer parte de minhas preocupações (como eu sou do tipo magro, muito magro, até hoje tenho dificuldade em regularizar minha alimentação).
Insistiram que eu deveria dormir satisfatoriamente, que insone eu estaria à mercê de uma compulsão repentina pela bebida, sem acuidade mental necessária para enfrentar a pressão da doença.
Finalmente me disseram que eu não deveria, em hipótese alguma, naquelas primeiras vinte e quatro horas, ir a qualquer lugar onde estivesse acostumado a beber. "Evite os lugares da ativa", me disseram...
No campo mental me sugeriram que fixasse na mente o meu compromisso de ficar sem beber só por vinte e quatro horas, nada mais.
No campo espiritual... Bem, no campo espiritual estava ocorrendo uma verdadeira revolução dentro da minha cabeça, algo de muito importante estava acontecendo desde a véspera deste primeiro dia e eu vou ter que contar por partes porque foi tudo muito, muito significativo para mim e os detalhes estão gravados no meu cérebro, como se fosse uma tatuagem na carne.
Eu não sei se vocês ainda estão lendo, nem mesmo sei se estarão gostando ou detestando, mas vou continuar escrevendo. Aprendi em A.A. que pode ser, mas não é muito provável que eu consiga ajudar alguém com minhas palavras, mas que eu sempre vou conseguir me ajudar contando a minha história, e como pelo menos eu quero continuar por mais vinte e quatro horas sem beber, eu vou continuar.

(Armando, Rio de Janeiro/RJ)

(Compartilhando a Sobriedade)

Reflexões Diárias de A.A.: 24/01

24 DE JANEIRO

CONSEGUINDO SE ENVOLVER

É preciso ação e ainda mais ação. “A fé sem obras é morta.”... Nossa única meta é sermos úteis.

ALCOÓLICOS ANÔNIMOS, p. 107 ou p. 116

Entendo que o serviço é uma parte vital da recuperação mas muitas vezes imagino, “O que eu posso fazer?” Simplesmente começar com o que tenho hoje. Olho em volta para ver onde há uma necessidade. Os cinzeiros estão cheios? Tenho mãos e pés para limpá-los? Subitamente, estou envolvido! O melhor orador pode fazer o pior café; o membro que é o melhor com os novatos pode ser incapaz de ler; o único disposto a fazer a limpeza pode fazer a maior confusão com a conta do banco – mas, cada uma destas pessoas e trabalhos são essenciais para um Grupo ativo. O milagre do serviço é este: quando uso o que tenho, descubro que há mais disponível para mim do que percebia antes.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A Reparação era para mim ?

A Reparação era para mim ?
A Reparação era para mim ?

Para este alcoólico, fazer reparações pelos danos causados era uma limpeza necessária.
No começo de minha sobriedade, durante aqueles primeiros doloridos e quase insanos meses - até mesmo anos - freqüentando a Irmandade e conseguindo chegar a um acordo com a minha irrascível e crônica personalidade alcoólica, existia pendurado, atrás da porta da sala de minha casa, um grande sobretudo preto onde estava escrita a palavra "culpa". Sempre que eu chegava em casa, tirava aquele casaco do cabide e o vestia. Da forma como ele se amoldava perfeitamente em mim, não podia haver dúvida alguma sobre a quem ele pertencia. Eu me sentia perdido sem ele.
Mesmo hoje, depois de tantos anos, eu não estou absolutamente certo sobre quem teria sido o primeiro a pendurá-lo ali. Se foi a minha própria culpa, mais o remorso pela minha arrogante existência alcoólica ou, talvez, a total falta de respeito de minha família por um marido e pai que sempre quebrava toda e qualquer promessa que fizesse. Provavelmente, foi uma combinação das duas coisas.
Ficar sóbrio era como despertar de um frenético pesadelo sem fim e ao acordar ver no pesadelo a realidade. Aqueles vinte e cinco anos de bebedeiras, de mentiras, de fraudes, de infidelidade e promessas quebradas, causaram um incalculável desgosto àqueles que na época eu dizia amar. "Perdoe-me", era, de pronto, a palavra que eu mais usava (e abusava) do meu novo vocabulário de A.A.
Os "Doze Passos", no que se refere ao Nono Passo, sugere: "Bom senso, um cuidadoso sentido de escolha do momento, coragem e prudência." Nenhuma dessas qualidades era particularmente alta no que concerne à minha lista de habilidades. Como poderia existir coragem e prudência, estando eu como quem tivesse sido atingido por um furacão duplo? A reação imediata foi o pânico; foi sair imediatamente fazendo toda e qualquer reparação que me fosse possível, sem mesmo compreender o significado da palavra reparação. Estava, eternamente, em busca de reafirmação. "Diga-me que eu estou bem, que você não vai me botar pra fora; que você ainda me ama."
Lembram-se daquela velha canção que diz "os tolos enveredam por trilhas onde até os anjos temem pisar"? Na época, essas palavras poderiam ter sido escritas exatamente para mim. Absolutamente não havia nem bom senso, tampouco momento propício, naqueles primeiros meses.
Convencido de que me seria mostrado o caminho da porta, transformaram-me no velho alcoólico em recuperação, pálido e maltrapilho, ansioso por apanhar aquele sobretudo da culpa... mesmo, às vezes, quando não era a minha vez de vestir aquela coisa desprezível.
O tempo era o ingrediente necessário se eu quisesse fazer minhas reparações de uma maneira honesta. Tempo, para eu poder levantar minha cabeça, para compreender o que honestidade realmente significa para deixar de lado o orgulho e pedir socorro ao meu padrinho, para começar a trabalhar o programa com o melhor das minhas habilidades.
Com certeza, eu não tinha mais dúvidas sobre o porquê dos Doze Passos terem sido escritos na ordem em que se encontram. Toda uma vida alcoólica, enganando a mim mesmo, achando que tal conduta desonesta era o padrão, tinha que ser adequadamente compreendida à luz do Quarto e do Quinto Passos, antes que eu tivesse pronto para fazer qualquer reparação. Quem eu havia machucado? A família, sem dúvida. Ela, talvez, mais do que ninguém. Também pessoas relacionadas aos negócios (naqueles anos eu ainda era capaz de trabalhar). Vizinhos, é claro. Quantas vezes eu, cambaleante, ficava gritando ofensas diante de suas janelas? A amável japonezinha que dirigia a loja da esquina a quem xinguei por ter recusado me vender fiado uma garrafa. A mulher que deu à luz meu filho ilegítimo - esta, talvez a mais grave de todas. E que dizer daqueles credores todos, a quem eu fazia questão de evitar?
Vieram-me à lembrança os fatos daquele tempo, quando ouvi em uma reunião de A.A. o orador falar sobre ressarcir todas as dívidas em dinheiro, não algumas. Aquele orador, naquele momento, me deixou em pânico; porém, mais tarde, tornou-se um bom e fiel amigo.

Havia, naturalmente, alguns dos quais me era impossível fazer qualquer tipo de reparação. Alguns que morreram nos anos subseqüentes; outros, inquestionavelmente se enquadravam no "salvo quando fazê-lo significasse prejudicá-las ou a outrem". Mas mesmo aqui, ou talvez, principalmente aqui, conhecendo aquela minha velha propensão à autodecepção e procrastinação, eu precisava averiguar duplamente o que deveria fazer. É muito simples decidir que "fazer reparações vai machucá-los", quando na verdade o que estou querendo é achar uma maneira mais fácil.
E com relação a todas as minhas dívidas de dinheiro? Na época em que comecei na Irmandade, eu estava falido e desempregado (e não empregável). Como me seria possível, de alguma forma, pagar tanto, se tudo o que minha família tinha era um auxílio-doença semanal?
Foi então que me mostraram que o Oitavo Passo diz nesse caso: "Fizemos uma relação de todas as pessoas a quem tínhamos prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos a elas causados." Vontade, foi-me dito, era a chave desse Passo, bem como dos demais. A coisa mais extraordinária foi que com o passar dos anos, em determinadas circunstâncias, quando aparecia a ocasião propícia, eu estava sendo capaz de converter a vontade em ação.
Livrar a mim mesmo dos fantasmas, aqueles fantasmas que por tantos anos estiveram estimulando minhas bebedeiras foi, talvez, mais do que qualquer outra coisa, fundamental.
Ainda hoje percebo um certo burburinho quando entro em meu banco e ouço o caixa dizer: "Bom dia, Sr. J!" Muito diferente do que acontecia antes.
Logo que entrei na Irmandade, ensinaram-me que a melhor reparação de danos que eu poderia fazer era ser visto sóbrio. Era ser, hoje, conhecido como homem honesto e de confiança. Retribuir com um pouco de sobriedade que naqueles meus primeiros meses e anos foi-me dada com tanta boa vontade pelos membros dessa Irmandade. Que fazer reparações não era tão somente uma questão de dizer "sinto muito" (a maioria de nós é muito hábil em fazer isso), mas, sim, agir agir através do meu próprio modo novo de proceder. Que prestar serviços em A.A. era também uma forma fundamental para se fazer reparações.
E aquele casaco de culpa pendurado atrás da porta de entrada da minha casa? Eu o usei por muitos anos, algo parecido como usar aquela velha jaqueta surrada, de estimação, que a gente veste por muitos anos, mesmo com os cotovelos esgarçados e o colarinho esfiapado. Vesti-lo tornara-se um hábito, até que um sábio companheiro veio e gentilmente tirou-o de mim. "Se Deus te perdoou, não acha que está na hora de você perdoar a si próprio?", perguntou ele, "pois você já fez as reparações para consigo mesmo?"
(anônimo)

(Compartilhando a Sobriedade)

Reflexões Diárias de A.A.: 23/01

23 DE JANEIRO

AINDA TENDO ALEGRIA?

...não somos pessoas tristes. Se os recém-chegados não encontrassem alegria e felicidade na nossa existência, não a iriam querer. Insistimos absolutamente em gozar a vida. Tentamos não gastar muito tempo em especulações sobre a situação das nações, nem carregamos nas costas os problemas do mundo.

ALCOÓLICOS ANÔNIMOS, p. 147 e 148 ou p.160 e 161

Quando minha própria casa está em ordem, acho que as diferentes partes de minha vida são mais manejáveis. Despido da culpa e do remorso que escondiam meus anos de bebida, estou livre para assumir meu próprio papel no universo, mas esta condição requer manutenção. Devo parar e perguntar a mim mesmo: “Ainda estou tendo alegria?” Se achar que responder esta pergunta está difícil ou doloroso, talvez esteja me levando a sério demais – e achando difícil admitir que extraviei-me na maneira de trabalhar o programa para manter minha casa em ordem. Penso que a dor que sinto é uma maneira que meu Poder Superior tem para chamar minha atenção, induzindo-me a avaliar o meu desempenho. O pouco tempo e o esforço tomados, para fazer funcionar o programa – um inventário relâmpago, por exemplo, ou fazer reparações, quando for apropriado – bem valem o esforço.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Quando o grande "Eu" se torna "Ninguém"

QUANDO O GRANDE “EU” SE TORNA “NINGUÉM”

Grande amigo da irmandade desde 1939 foi o primeiro psiquiatra a reconhecer o trabalho de A.A. e a user os seus princípios em sua prática profissional. Junto com outros médicos, o Dr. Tiebout acelerou e aprofundou a aceitação mundial de A.A. entre os homens da medicina.

O programa de ajuda de A.A. foi bafejado por elementos de verdadeira inspiração, e, em nenhum aspecto é mais evidente do que na escolha de seu nome, Alcoólicos Anônimos. O anonimato constitui-se, naturalmente, em uma proteção de grande valor, especialmente para o recém-chegado; porém, minha intenção presente é de enfocar um valor ainda maior do anonimato, na contribuição para o estado de humildade necessário para a manutenção da sobriedade do alcoólico recuperado.

Minha tese é de que o anonimato, cuidadosamente preservado, fornece dois ingredientes essenciais para essa manutenção. Esses dois ingredientes, na verdade, são duas faces de uma mesma moeda: primeiro, a preservação de um ego reduzido; segundo, a presença contínua de humildade ou simplicidade. Conforme o que constatamos nas Doze Tradições de A.A., “o anonimato é o alicerce espiritual das nossas Tradições”. Cada membro é lembrado a colocar “os princípios acima das personalidades”.

Muitos de vocês talvez queiram saber o que essa palavra “ego” significa. Existem tantas definições, que primeiramente é preciso esclarecer a natureza da necessidade da redução do ego.

Esse ego não é um conceito intelectual, mas sim um estado de sentimento – uma sensação de importância – de ser “especial”. Poucas são as pessoas capazes de admitir em si mesmas a necessidade de serem especiais. Muitos de nós, entretanto, podem reconhecer ramificações desse procedimento e colocar uma denominação própria para elas. Deixem-me ilustrar. Nos primeiros dias de A.A., fui consultado a respeito de um problema sério que estava preocupando um grupo local. O costume de se comemorar um ano de sobriedade com um bolo de aniversário, teve como conseqüência o fato de que alguns vieram a se embriagar, pouco tempos depois da comemoração. Parecia que alguns não podiam agüentar a prosperidade. Pediram a minha posição a respeito; a favor do bolo, ou contra o bolo de aniversário. Caracteristicamente, escusei-me por não pode ajudá-los, não por modéstia, mas por ignorância.l Cerca de três ou quatro anos depois, o próprio
A.A. forneceu-me a resposta. O grupo não teve mais esse
problema, segundo o que disse um membro: “Nós ainda comemoramos, mas agora um ano de sobriedade tornou-se lugar comum. Nenhum de nós precisa ter mais a menor preocupação com isso”.

Uma olhada ao que aconteceu nos mostra o egoísmo, como eu o vejo, em ação. Em primeiro lugar, a pessoa que esteve sóbria por um ano inteiro, tornou-se um exemplo, algo para se admirar. Seu ego naturalmente se expandiu, seu orgulho floresceu e qualquer diminuição de egoísmo, obtida anteriormente, desapareceu. Tendo sua confiança renovada, acabou por tomar um drinque. Tida sido considerada especial e reagiu de acordo. Depois, essa parte especial se esvaiu. Nenhum ego é alimentado, estando na condição de lugar comum, e desse modo, o problema de ego elevado desaparece.

Hoje A.A., na prática, está bem consciente do perigo de se bajular alguém com honrarias e louvores. Os riscos da realimentação do ego são reconhecidos. A frase “servidor de confiança” constitui-se num esforço para manter baixo o nível do egoísmo, embora alguns servidores tenham problemas nesse particular.

Agora, vamos dar uma olhada mais acurada nesse egoísmo que causa transtornos. Os sentimentos, associados a esse estado da mente, são de fundamental importância na compreensão do valor que tem o anonimato para o indivíduo – o valor de colocá-lo na condição de um mero participante do contingente da humanidade.
Certas particularidades demonstram esse ego, que vê a si próprio como algo especial e, por isso mesmo, diferente. É elevado em si mesmo, e propenso a manter, igualmente, suas metas e suas fantasias em alto nível. Menospreza àqueles que define como sendo vermes que rastejam penosamente, sem o ardor e a inspiração daqueles iluminados pelos ideais de tirar pessoa do lugar comum, prometendo a elas melhor sorte para o futuro.

Freqüentemente, esse mesmo ego funciona ao contrário. Ele tira a esperança do homem, com suas falhas e fraquezas, e desenvolve um cinismo que amarga o espírito e faz de seu possuidor um realista excêntrico que nada acha de bom nesse vale de lágrimas. A vida nunca obtém dele resultados plenamente satisfatórios, e ele vive uma existência amargurada, agarrando-se ao que puder no momento, mas nunca realmente participando do que acontece ao seu redor. Ele anseia por amor e compreensão e discursa incessantemente sobre o seu senso de alienação em relação àqueles que o cercam. Basicamente, ele é um idealista frustrado, sempre voando alto e aterrisando baixo. Esses dois tipos de egoísmo confundem humildade com humilhação.

A seu modo as crianças atuam como bons terapeutas ou “redutores de cabeças”. São hábeis alfinetadores de egos inflados, ainda que seus propósitos não sejam, propriamente, terapêuticos.

A.A. teve seu começo justamente em uma tal alfinetada. Bill W. sempre se refere à sua experiência no Hospital Towns como uma “deflação em grande profundidade”, e naquela ocasião ouviram-no dizer que seu ego havia levado uma “surra dos diabos”. A.A. nasceu daquela deflação e daquela surra.

Está muito claro que a sensação de ser especial, de ser “algo” tem seus perigos e suas desvantagens para o alcoólico. Já o oposto, ou seja, aquele que está fadado a ser um “nada”, tem pouca motivação. O indivíduo vê-se diante da possibilidade de ser algo e beber, ou de ser nada e também beber, por frustração.

O dilema, muito compreensível, reside na falsa impressão sobre o chamado oposto, o que está prestes a ser um “nada” e não vê alguma compensação. A característica de ser um “nada” não é facilmente desenvolvida. Vai contra todos nossos anseios por uma identidade, por uma existência significativa, plena de esperanças e perspectivas. Tornar-se um “nada” parece ser uma forma de suicídio psicológico. Agarramo-nos ao nosso “pouco” com todas as forças de que somos capazes. A idéia de ser um “nada” é simplesmente inaceitável. Mas, o fato é que, se o indivíduo não aprender a agir como um nada, não conseguirá compreender que ele é apenas um mero cidadão do dia-a-dia, misturado na raça humana e, assim, estará sendo humilde perdido na multidão e essencialmente anônimo. Quando isso puder acontecer, o individuo terá conseguido muito a seu favor.

As pessoas com o “nada” em vista, podem relaxar e resolver seus negócios calmamente, com o mínimo de transtorno e de preocupação. Podem, até, curtir a vida da forma que ela vier. Em A.A., isso é conhecido como programa das vinte e quatro horas, que significa, efetivamente, não ter o indivíduo o amanhã em mente. Ele consegue viver o presente encontrando a satisfação aqui e agora; não fica mais se acotovelando por aí. Sem preocupações, a pessoa se torna receptiva e mantém a mente aberta.

As mais importantes religiões estão cônscias da necessidade do nada, para aquele que pretende alcançar a graça. No Novo Testamento, Mateus (18-3) cita estas apalavras de Cristo: “Em verdade vos digo; se não vos transformardes, e não vos fizerdes como meninos, não entrarão no Reino dos Céus. Por isso, todo aquele que se tornar pequeno como este menino, esse há de ser o maior no Reino dos Céus”.

Zen ensina a libertação pelo nada. Uma série de cenas com o intento de mostrar a evolução da natureza do homem termina por um círculo no interior de um quadrado. O círculo representa o homem em um estado de “nada”. O quadrado representa a conformação das limitações com as quais o homem precisa aprender a conviver. Nessa concisa afirmação: “Nada é fácil, nada é difícil”, e outras mais, Zen também acrescentou a modéstia, a humildade e a graça.

Anonimato é um estado de espírito de grande valor para o indivíduo, na manutenção da sobriedade. Não obstante eu reconheça sua função protetora, sinto que qualquer discussão a respeito seria unilateral, se falhar na ênfase do fato de que a manutenção de um sentimento de anonimato, um sentimento de “eu não sou nada de especial”, é a garantia fundamental de humildade, e, conseqüentemente, a verdadeira salvaguarda contra futuros problemas com relação ao álcool. Esse tipo de anonimato é verdadeiramente um bem precioso.

(Dr. Harry Tiebout, psiquiatra – Best of Grapevine) –

Revista Vivência n° 43 – set/out 1996.