quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Unidade

UNIDADE

"Bill, nós adoramos recebê-lo e ouvi-lo falar. Conte-nos onde você costumava esconder as suas garrafas e fale-nos daquela experiência espiritual. Mas não venha nos falar mais a respeito destas malditas Tradições." (Levar Adiante)

Era mais ou menos coisas deste tipo que Bill ouvia quando, antevendo o perigo que corria A. A., colocou o pé na estrada e passou a divulgar o que ele chamava de Doze Pontos Para Garantir o Nosso Futuro.
O nome Tradições só veio mais tarde e atesta toda a genialidade de Bill, pois já pensaram se ele tivesse dado o nome de "12 regras", "12 leis", "estatuto", ou qualquer outra coisa que significasse regulamento?
Talvez nenhum membro de A. A. aceitaria estes princípios, Bill conhecia muito bem seus companheiros alcoólicos; ele sabia que nenhum bêbado que se auto-respeitasse, sóbrio ou não, se submeteria docilmente a um conjunto de "leis" isso seria autoritário demais!
Mas por que Bill sentiu a necessidade das Tradições como garantia do futuro de A. A.?
Bill tinha uma mente obcecada e uma visão de futuro excepcional. Ele sabia o que era bom para A. A. e não desistia de seus propósitos facilmente quando em benefício de A. A.
Bill estudou e pesquisou profundamente sobre o Movimento Washingtoniano, movimento que surgiu de maneira espetacular nos Estados Unidos um século antes de A. A. com o objetivo de salvar bêbados e da mesma maneira espetacular que surgiu naufragou por dois motivos básicos: a) Eles não consideravam o alcoolismo como doença e sim como um desvio de caráter, uma fraqueza, que podia ser corrigido apenas com a força de vontade e b) Não oferecia um padrão de conduta, uma orientação que salvaguardassem o movimento.
Por exemplo, táticas carnavalescas de promoção e a carência de qualquer princípio de anonimato era o modo que eles divulgavam o movimento; participavam ativamente de controvérsias públicas, política, religião, etc.
A. A. já havia corrigido o primeiro motivo quando afirmou que o alcoolismo é uma doença incurável e que a força de vontade é inteiramente nula no seu combate, mas e a segunda causa do naufrágio dos Washingtonianos como fazer?
Pois bem, as respostas a estas perguntas vieram nos anos seguintes e tiveram a sua origem nos próprios Grupos.
Desde 1937, já contávamos com o auxilio de um Escritório e grande parte do trabalho de Bill W. neste escritório era de cuidar da correspondência.
A maioria das correspondências pedia orientação para a abertura de novos Grupos ou pediam sugestões para a solução de problemas de funcionamentos dos grupos.
A idéia da criação de diretrizes para funcionamento de grupos surgiu justamente da crescente correspondência com pedidos de ajuda.
As Tradições em A. A. representam a experiência extraída de nosso passado e nos apoiamos nelas para nos manter em unidade, através dos obstáculos e perigos que nos possa trazer.
Tradição significa um método específico de determinada ação, atitude ou ensinamento que são passados de geração para geração. Uma coisa que se torna tradicional, se torna normal, e, portanto, é seguida muitas vezes sem nenhuma indagação.
Nota-se, de um modo geral, a grande dificuldade que tem o membro de A. A. com a prática das Tradições, chega a ser até um preconceito. Talvez por nunca recebermos a informação correta para o significado dos princípios de A. A. quando chegamos ao Grupo pela primeira vez.
Tive muita dificuldade em quebrar esta barreira. Como diz uma citação de Hebert Spencer em nosso livro azul: "Há um princípio que é um barreira a toda informação, que é uma refutação de qualquer argumento e que não pode deixar de manter um homem na ignorância perpétua: o princípio consiste em depreciar antes de investigar". Normalmente depreciamos antes.
Devido a este "depreciar antes de investigar" é que aceitamos passivamente a afirmação que as Tradições de A. A. são só para os Grupos.
"Mas as Doze Tradições também apontam diretamente para muitos de nossos defeitos individuais. Por dedução, elas pedem a cada um de nós para deixar de lado o orgulho e o ressentimento. Elas pedem pelo benefício do Grupo, bem como pelo benefício pessoal. Elas nos pedem para nunca usar o nome de A. A. em busca de poder pessoal, fama ou dinheiro. As Tradições garantem a igualdade de todos os membros e a independência de todos os Grupos." (A. A. Atinge a Maioridade pg.87).
Se formos cuidadosos em sua prática veremos que são as Tradições que têm a capacidade de revelar aqueles defeitos que mais nos prejudicam e que insistem em dirigir a nossa vida.
São os conflitos em nossas relações interpessoais um valioso terreno de observação de nossa personalidade. Esses conflitos são reveladores de nós mesmos. Afinal, todos temos uma agenda oculta e nesta agenda estão escondidos aqueles nossos já conhecidos instintos de busca de prestígio, poder e prazer. A nossa incrível capacidade de conduzir as coisas para que beneficiem a nós mesmos. O querer sempre estar com a razão, independente de tê-la ou não? Energia perdida. Em vão.
Tal como Os Passos surgiram com a finalidade de evitar que voltássemos a beber ao longo de sua prática percebeu-se que poderíamos conseguir muito mais com eles, o mesmo ocorre com as Tradições de A. A.
Se em seu princípio a finalidade era orientar os Grupos para problemas que fossem surgindo, com a sua prática percebeu-se rapidamente que elas são um poderoso instrumento em minha recuperação.
Afinal, se os Passos são sugeridos para um melhor conhecimento de mim mesmo, para melhorar a minha auto-aceitação, as Tradições têm o poder de me mostrar a melhor maneira de viver em grupos.
Se aprendermos a conviver com os companheiros do Grupo de A. A. já teremos um ótimo indicador de como conviver com as demais pessoas de nossos diversos grupos.
Se os Passos nos ensinam a viver, as tradições têm o poder de nos ensinar a conviver, talvez a nossa maior dificuldade. Só se cresce espiritualmente na convivência com os outros. Aqui temos outra máxima muito usada por nós que é: "quer saber côo está meu relacionamento com Deus, pergunte às pessoas que convivem comigo".
Quanto mais praticarmos as Tradições em nossos relacionamentos, mais cresceremos em direção a um Poder Superior, mais cresceremos espiritualmente.
Uma filosofia afirmou determinada época que se reprimimos uma tradição, ela escapa pelo ladrão e retorna... Assim se dá em A. A., se reprimimos uma das Tradições mais à frente seremos obrigados a observá-la novamente. Para o nosso próprio bem.
As Tradições de A. A. existem justamente para isso, para evitar a repetição de erros. Erros velhos não nos levam a nenhum crescimento, que cometamos erros novos, pois através deles é que continuaremos a aperfeiçoar a melhor maneira de viver em grupos de nos relacionarmos com a sociedade lá fora e, principalmente, melhorar a nossa qualidade de recuperação.
O crescimento espiritual inicia quando nos juntamos a um Grupo e passamos a viver em Unidade com os companheiros deste Grupo e com A. A. em seu todo.

(Fonte: Revista Vivência Nº 123 – Jan/Fev – 2010 – Anônimo)

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