sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O poço de cada um

O poço de cada um

Quando me convidaram para ir a uma reunião de A.A., eu fui por curiosidade, pois achava que meus problemas com a bebida não eram muito sérios. Ao chegar ao grupo, fui muito bem recebido e durante a reunião as pessoas falaram de seus problemas e do programa dos Doze Passos de forma bem esclarecedora.
Os Passos chamaram minha atenção, pois tenho muitos problemas de convivência com as pessoas. Achei que esse programa seria de muita ajuda para mim e passei a freqüentar as reuniões.
Com o passar do tempo, percebi que muitos companheiros afirmavam que "quem não chegasse ao fundo do poço não ficaria em A.A. por muito tempo". Ouvia, através dos depoimentos, as desgraças pelas quais muitas pessoas haviam passado, e pelas quais eu nunca havia passado e nem queria passar - por isso é que eu estava participando de um programa tão importante. E pensava: "O que estou fazendo aqui? Tenho de passar por tudo isso para ser A.A.?"
Continuei participando das reuniões e não bebi mais. Passei a estudar os Passos e vi que eram realmente o que eu estava precisando.
Quando ouvia os companheiros afirmarem que "quem não chegou ao fundo do poço não se firma no programa", pensava que "fundo de poço" era ter passado por muito sofrimento e desgraça, era ter chegado à situação humilhante e deplorável de não ter mais para onde ir.
Tive então a oportunidade de participar de uma reunião de Distrito. Gostei de conhecer outros companheiros e aprender mais algumas coisas - uma delas sobre o "fundo do poço": depois da reunião fomos almoçar na casa de um companheiro e pude ouvir pessoas experientes. Conversei com alguém que me disse: "Você é um felizardo por ter encontrado A.A. em seu caminho, estando ainda tão jovem e 'inteiro'. Cada um sabe a profundidade do seu 'poço'. Alguns agüentam mais sofrimentos e outros, como você, procuram uma saida antes de as coisas tomarem um rumo no qual o retorno fica difícil. Eu conheço pessoas cujo 'fundo de poço' foi um porre."
Depois dessa conversa eu me sentí à vontade, sabendo que não era um intruso que quisesse tirar proveito de algo que não era seu. Estou completando dois anos em A.A. e graças a um Poder Superior até hoje estou sóbrio, procurando ter serenidade, coragem e sabedoria para viver uma vida de acordo com a vontade de Deus. Só por hoje estou tentando melhorar em todos os sentidos. Agradeço a Alcoólicos Anônimos por tudo de bom que estou aprendendo e tentando pôr em prática em minha vida.
Eu tinha me inclinado e despencado. Senti a vertigem da queda e o impacto com o chão duro e frio do fundo do poço. Por sorte minha, esse poço não era tão profundo e eu pude ver a saida, embora achasse que estava bem. Algumas vezes tentei sair, mas não achei a borda e continuei acomodado naquela situação. Até que, sem que eu esperasse, vi a mão de A.A. estendida, oferecendo-me ajuda e me fazendo perceber que se eu não saisse de onde estava, poderia despencar num outro poço, muito mais profundo e mais difícil de sair. Então agarrei essa mão estendida e a estou segurando até hoje.
Gostaria de agradecer a todos os companheiros do Grupo Castelo dos Sonhos. Vocês são meus irmãos e eu torço por vocês nessa caminhada que não é muito fácil, mas que, com a ajuda de um Poder Superior e de A.A., conseguimos percorrer. Infinitas vinte e quatro horas de serenidade e sobriedade a todos os irmãos de A.A.

(Francisco, PA)

(vivência - Jan/Fev 2000)

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