O ALCOOLISMO
NAS MULHERES
Teca/Curitiba/PR
Mulheres alcoólicas e o preconceito contra elas não é nenhuma novidade.
O Antigo Testamento já condenava especificamente a embriaguez feminina. Entre
os romanos e a Idade Média, mulheres que bebiam eram tão repudiadas quanto as
adúlteras. Dizia-se que as moças com o hábito de beber tornavam-se mais
agressivas e promíscuas.
Até hoje, acredita-se que o menor número de mulheres alcoólicas tem razões
morais, pois a sociedade as condena de forma mais rigorosa. Embora esmaecidos
pelos anos o preconceito contra a mulher que bebe ainda está arraigado na
população.
A maior parte da sociedade tende a ver com tolerância e até achar engraçado um
homem bêbado, porém se afasta enojada de uma mulher que se encontre nas mesmas
condições. E o que é ainda mais trágico: a mulher alcoólica, ela mesma,
frequentemente compartilha desse preconceito. Para ela, o peso da culpa que
todo bebedor alcoólico carrega na consciência é muitas vezes dobrado.
Para conseguir a tão valorizada liberdade sexual, abusavam das bebidas para
terem coragem de agir como "mulheres livres".
Existe uma clara divisão entre as duas personalidades: a primeira séria e
honesta, e a segunda, que bebe, que facilita, que dança, que gargalha e que
quer sexo.
Graças à emancipação feminina, direitos iguais, etc. a mulher vem se equiparando
ao homem nas vantagens de uma vida independente, tendo que lidar ao mesmo tempo
com os prejuízos que esta realidade traz. A mudança no estilo de vida trouxe a
sobrecarga de trabalho e o stress além de muitas frustrações antes só inerentes
ao homem.
Desde meados da década de 1940, com o fim da Segunda Guerra Mundial, a bebida
para a mulher tornou-se mais aceitável socialmente não dimimuindo, entretanto,
o preconceito.
Chegando aos dias de hoje, constatamos que as mulheres estão bebendo cada dia
mais. A indústria da bebida tem investido em propagandas para elas, mostrando
que a bebida é um meio de contraternização e relaxamento sendo também uma
válvula de escape para fugir da realidade e suprir carências.
Mais ricas e mais educadas elas tornaram-se protagonistas de cenas impensáveis
décadas atrás, como um grupo de amigas desacompanhadas em um bar.
Atualmente muitas mulheres seguem o padrão masculino, até para serem aceitas no
mercado de trabalho e conseguir competir de igual prá igual.
Na hora do "happy hour" isso fica explícito principalmente quando
elas tentam ingerir bebidas "masculinas" para acompanhar os homens.
As tais bebidas masculinas são as mais fortes e causam um efeito nas mulheres e
garotas que não se contentam com uns drinques suaves, feitos à base de frutas.
O problema é que as mulheres são mais fracas ao álcool que os homens. Por isso,
enquanto você está alegrinha com apenas um copo de caipirinha, eles nem se
abalaram ainda. O organismo metaboliza o álcool de forma diferente da dos
homens e por isto sofre mais rápido os efeitos da bebida. A fragilidade aos
efeitos embriagadores do álcool no sexo feminino é explicada pela maior
proporção de tecidos gordurosos no corpo das mulheres, por variações na
absorção de álcool no decorrer do ciclo menstrual e por diferença entre os dois
sexos na concentração gástrica de desidrogenase alcoólica (enzima crucial para
o metabolismo do álcool).
Por estas razões as mulheres ficam embriagadas com doses mais baixas e
progridem mais rapidamente para o alcolismo crônico e suas complicações
médicas. Os homens, segundo o psiquiatra Sergio Ramos. levam 15 anos para ter
problemas no fígado e as mulheres apenas cinco. Além disso, há outra
peculiaridade no alcoolismo feminino: a relação entre a dependência de
substâncias psicoativas, entre elas o álcool, e transtornos alimentares. As
mulheres podem ser bêbadas, deprimidas, caídas, mas gordas jamais!
Há até um termo leigo para definir a restrição alimentar ao abuso do álcool:
"drunkorexia", união de termos "drunk" (embriagar) e
"anorexia", que significa se privar de comida para beber sem se
preocupar com as calorias das bebidas.
Mais de 50% das mulheres que procuram os serviços públicos têm distúrbios como
anorexia nervosa, bulimia ou transtorno de comer compulsivo. Além destes
transtornos psiquiátricos as alcoólicas também sofrem mais riscos de
desenvolver doenças cardiovasculares, câncer de mama e ostereoporose.
A mulher alcoólica, por vergonha e medo, tende a beber escondida e tarda em
buscar ajuda. O aumento do alcoolismo entre as mulheres também se deve ao
aumento do serviço especializado. Havia uma demanda reprimida. Antes a mulher
era internada. Com o tratamento ambulatorial ela se sente mais estimulada a
buscar ajuda. Hoje o alcoolismo feminino é a quarta causa de internamento de
mulheres perdendo para gravidez/parto, doenças do aparelho circulatório e
das doenças respiratórias.
As mulheres em A.A. lançaram longe a carga paralisante da culpa injustificada.
Aprenderam um fato, comprovado pela medicina, que se aplica a elas:
"O alcoolismo em si não constitui uma questão, nem de moral nem de
comportamento (embora certamente influa nos dois). O alcoolismo é um problema
de saúde. É uma doença e como tal é descrita pelas Associações Médicas
Americana e Britânica." Esta definição não é mais revolucionária. Tem
sido muito divulgada inclusive com as novelas trazendo personagens como a
"Santana" de Por Amor, fazendo com que aceitemos com naturalidade
este fato, desde que de forma genérica: "É claro que o alcoolismo é uma
doença".
Porém quando se trata de uma pessoa específica de seu relacionamento, as velhas
atitudes voltam junto com julgamentos: "Por que ela não consegue
beber como uma senhora?", ou "Porque eu não posso beber como as
outras mulheres?", ou ainda, "Por que não consigo parar?",
"Não tenho força de vontade", "Eu não presto"!
Individualmente, a doença é vista como falta de educação, quando em fases
iniciais e, quando já mais avançada, como profundo fracasso moral. Os
alcoólicos são peritos quando se trata de não enxergarem sua própria doença. O
Teste do alcoolismo não é quanto você bebe, nem o que você bebe, nem mesmo
porque você bebe e sim as respostas a estas perguntas:
*O que a bebida já fez a você?
*De que maneira a bebida afeta sua família, seu lar, seu desempenho no trabalho
ou na escola, sua vida social, seu bem estar físico, e as suas emoções mais
íntimas?
Dificuldades em qualquer uma dessas áreas sugerem que você sofra da doença do
alcoolismo.
Se você está "funcionando bem", cuidando da casa, estudando, trabalhando,
etc., mas ao custo de ocultar os efeitos de suas bebedeiras, pergunte a si
mesma:
*Qual o esforço, quanta força de vontade você precisa por em jogo para manter o
disfarce?
*O efeito vale o esforço?
*Ainda resta algum divertimento nesta forma de "divertir-se"?
O alcoolismo sendo uma doença progressiva torna o modo de beber cada vez mais
incontrolável tornando-se uma preocupação. Beber somente vinho e cerveja, fazer
promessa a si mesma de que apenas beberá em fins de semana, espaçar os
dias em que bebe, eis uma pequena amostra dos muitos métodos usados no afã
de controlar sua maneira de beber. Tais tentativas fracassadas são, igualmente,
um sintoma clássico da doença do alcoolismo, tanto como aquela ressaca
insuportável ou o apagamento assustador. Há um ponto crítico e você
não precisa chegar lá passando primeiro por um leito de hospital, nem por um
centro de tratamento ou por uma prisão, se bem que muitas mulheres somente
chegaram a Alcoólicos Anônimos depois de atingirem esses estágios mais
avançados da doença. Em qualquer ponto da progressão vertiginosa dessa doença
chamada alcoolismo, você pode afastar-se e manter-se longe dela, simplesmente
estendendo sua mão e
dispondo-se a enfrentar o seu problema.
Não faz diferença se você tem 15 ou 50 anos; se você é rica ou pobre; formada
numa faculdade ou se abandonou a escola no primário; se ganha o seu próprio
sustento ou mora em casa de uma família; não importa se é uma paciente num
centro de tratamento; se está cumprindo pena numa prisão; nem se é uma mulher
de rua. A ajuda existe, mas é você quem tem que tomar a decisão de pedi-la.
Em Alcoólicos Anônimos não há formulários de inscrição para serem preenchidos,
nem taxas de matrícula a serem pagas. Você não será convidada a adotar nenhum
esquema de tratamento formal. Você simplesmente encontrará homens e mulheres
que acharam um caminho para se livrarem da dependência do álcool e que
começaram a consertar os estragos que ele havia feito em suas vidas.
Você também pode gozar desta liberdade e desta recuperação, bastando para isso
procurar um grupo de A.A. próximo à sua casa.
Teca/Curitiba/PR
Bibliografia:
Folhetos de A.A. para a mulher.
Artigo da Revista Galileu: "Comportamento".
Cruz Azul no Brasil: "A mulher e o álcool".
Dráuzio Varella: "Alcoolismo em mulheres".
Centro Terapêutico Viva: "Álcool + mulher será que combina?".
Vivência nº 120 - Julho/Agosto-2009