sábado, 30 de junho de 2012

O Alcoolismo nas mulheres


O ALCOOLISMO NAS MULHERES
                                                                                                Teca/Curitiba/PR
 
Mulheres alcoólicas e o preconceito contra elas não é nenhuma novidade.
O Antigo Testamento já condenava especificamente a embriaguez feminina. Entre os romanos e a Idade Média, mulheres que bebiam eram tão repudiadas quanto as adúlteras. Dizia-se que as moças com o hábito de beber tornavam-se mais agressivas e promíscuas.
Até hoje, acredita-se que o menor número de mulheres alcoólicas tem razões morais, pois a sociedade as condena de forma mais rigorosa. Embora esmaecidos pelos anos o preconceito contra a mulher que bebe ainda está arraigado na população.
A maior parte da sociedade tende a ver com tolerância e até achar engraçado um homem bêbado, porém se afasta enojada de uma mulher que se encontre nas mesmas condições. E o que é ainda mais trágico: a mulher alcoólica, ela mesma, frequentemente compartilha desse preconceito. Para ela, o peso da culpa que todo bebedor alcoólico carrega na consciência é muitas vezes dobrado.
Para conseguir a tão valorizada liberdade sexual, abusavam das bebidas para terem coragem de agir como "mulheres livres".
Existe uma clara divisão entre as duas personalidades: a primeira séria e honesta, e a segunda, que bebe, que facilita, que dança, que gargalha e que quer sexo.
Graças à emancipação feminina, direitos iguais, etc. a mulher vem se equiparando ao homem nas vantagens de uma vida independente, tendo que lidar ao mesmo tempo com os prejuízos que esta realidade traz. A mudança no estilo de vida trouxe a sobrecarga de trabalho e o stress além de muitas frustrações antes só inerentes ao homem.
Desde meados da década de 1940, com o fim da Segunda Guerra Mundial, a bebida para a mulher tornou-se mais aceitável socialmente não dimimuindo, entretanto, o preconceito.
Chegando aos dias de hoje, constatamos que as mulheres estão bebendo cada dia mais. A indústria da bebida tem investido em propagandas para elas, mostrando que a bebida é um meio de contraternização e relaxamento sendo também uma válvula de escape para fugir da realidade e suprir carências.
Mais ricas e mais educadas elas tornaram-se protagonistas de cenas impensáveis décadas atrás, como um grupo de amigas desacompanhadas em um bar.
Atualmente muitas mulheres seguem o padrão masculino, até para serem aceitas no mercado de trabalho e conseguir competir de igual prá igual.
Na hora do "happy hour" isso fica explícito principalmente quando elas tentam ingerir bebidas "masculinas" para acompanhar os homens. As tais bebidas masculinas são as mais fortes e causam um efeito nas mulheres e garotas que não se contentam com uns drinques suaves, feitos à base de frutas.
O problema é que as mulheres são mais fracas ao álcool que os homens. Por isso, enquanto você está alegrinha com apenas um copo de caipirinha, eles nem se abalaram ainda. O organismo metaboliza o álcool de forma diferente da dos homens e por isto sofre mais rápido os efeitos da bebida. A fragilidade aos efeitos embriagadores do álcool no sexo feminino é explicada pela maior proporção de tecidos gordurosos no corpo das mulheres, por variações na absorção de álcool no decorrer do ciclo menstrual e por diferença entre os dois sexos na concentração gástrica de desidrogenase alcoólica (enzima crucial para o metabolismo do álcool).
Por estas razões as mulheres ficam embriagadas com doses mais baixas e progridem mais rapidamente para o alcolismo crônico e suas complicações médicas. Os homens, segundo o psiquiatra Sergio Ramos. levam 15 anos para ter problemas no fígado e as mulheres apenas cinco. Além disso, há outra peculiaridade no alcoolismo feminino: a relação entre a dependência de substâncias psicoativas, entre elas o álcool, e transtornos alimentares. As mulheres podem ser bêbadas, deprimidas, caídas, mas gordas jamais!
Há até um termo leigo para definir a restrição alimentar ao abuso do álcool: "drunkorexia", união de termos "drunk" (embriagar) e "anorexia", que significa se privar de comida para beber sem se preocupar com as calorias das bebidas.
Mais de 50% das mulheres que procuram os serviços públicos têm distúrbios como anorexia nervosa, bulimia ou transtorno de comer compulsivo. Além destes transtornos psiquiátricos as alcoólicas também sofrem mais riscos de desenvolver doenças cardiovasculares, câncer de mama e ostereoporose.
A mulher alcoólica, por vergonha e medo, tende a beber escondida e tarda em buscar ajuda. O aumento do alcoolismo entre as mulheres também se deve ao aumento do serviço especializado. Havia uma demanda reprimida. Antes a mulher era internada. Com o tratamento ambulatorial ela se sente mais estimulada a buscar ajuda. Hoje o alcoolismo feminino é a quarta causa de internamento de mulheres perdendo para gravidez/parto, doenças  do aparelho circulatório e das doenças respiratórias.
As mulheres em A.A. lançaram longe a carga paralisante da culpa injustificada. Aprenderam um fato, comprovado pela medicina, que se  aplica a elas: "O alcoolismo em si não constitui uma questão, nem de moral nem de comportamento (embora certamente influa nos dois). O alcoolismo é um problema de saúde. É uma doença e como tal é descrita pelas Associações Médicas Americana e Britânica." Esta definição não é mais revolucionária. Tem sido muito divulgada inclusive com as novelas trazendo personagens como a "Santana" de Por Amor, fazendo com que aceitemos com naturalidade este fato, desde que de forma genérica: "É claro que o alcoolismo é uma doença".
Porém quando se trata de uma pessoa específica de seu relacionamento, as velhas atitudes voltam junto  com julgamentos: "Por que ela não consegue beber como uma senhora?", ou "Porque eu não posso beber como as outras mulheres?", ou ainda, "Por que não consigo parar?", "Não tenho força de vontade", "Eu não presto"! Individualmente, a doença é vista como falta de educação, quando em fases iniciais e, quando já mais avançada, como profundo fracasso moral. Os alcoólicos são peritos quando se trata de não enxergarem sua própria doença. O Teste do alcoolismo não é quanto você bebe, nem o que você bebe, nem mesmo porque você bebe e sim as respostas a estas perguntas:
*O que a bebida já fez a você?
*De que maneira a bebida afeta sua família, seu lar, seu desempenho no trabalho ou na escola, sua vida social, seu bem estar físico, e as suas emoções mais íntimas?
Dificuldades em qualquer uma dessas áreas sugerem que você sofra da doença do alcoolismo.
Se você está "funcionando bem", cuidando da casa, estudando, trabalhando, etc., mas ao custo de ocultar os efeitos de suas bebedeiras, pergunte a si mesma:
*Qual o esforço, quanta força de vontade você precisa por em jogo para manter o disfarce?
*O efeito vale o esforço?
*Ainda resta algum divertimento nesta forma de "divertir-se"?
O alcoolismo sendo uma doença progressiva torna o modo de beber cada vez mais incontrolável tornando-se uma preocupação. Beber somente vinho e cerveja, fazer promessa a si mesma  de que apenas beberá em fins de semana, espaçar os dias em que bebe, eis uma pequena amostra dos muitos métodos usados no afã de controlar sua maneira de beber. Tais tentativas fracassadas são, igualmente, um sintoma clássico da doença do alcoolismo, tanto como aquela ressaca insuportável ou o apagamento assustador.  Há um ponto crítico  e você não precisa chegar lá passando primeiro por um leito de hospital, nem por um centro de tratamento ou por uma prisão, se bem que muitas mulheres somente chegaram a Alcoólicos Anônimos depois de atingirem esses estágios mais avançados da doença. Em qualquer ponto da progressão vertiginosa dessa doença chamada alcoolismo, você pode afastar-se e manter-se longe dela, simplesmente estendendo sua mão e
dispondo-se a enfrentar o seu problema.
Não faz diferença se você tem 15 ou 50 anos; se você é rica ou pobre; formada numa faculdade ou se abandonou a escola no primário; se ganha o seu próprio sustento ou mora em casa de uma família; não importa se é uma paciente num centro de tratamento; se está cumprindo pena numa prisão; nem se é uma mulher de rua. A ajuda existe, mas é você quem tem que tomar a decisão de pedi-la.
Em Alcoólicos Anônimos não há formulários de inscrição para serem preenchidos, nem taxas de matrícula a serem pagas. Você não será convidada a adotar nenhum esquema de tratamento formal. Você simplesmente encontrará homens e mulheres que acharam um caminho para se livrarem da dependência do álcool e que começaram a consertar os estragos que ele havia feito em suas vidas.
Você também pode gozar desta liberdade e desta recuperação, bastando para isso procurar um grupo de A.A. próximo à sua casa.
 
 
                                                                                                                                            Teca/Curitiba/PR
 
 
Bibliografia:
Folhetos de A.A. para a mulher.
Artigo da Revista Galileu: "Comportamento".
Cruz Azul no Brasil: "A mulher e o álcool".
Dráuzio Varella: "Alcoolismo em mulheres".
Centro Terapêutico Viva: "Álcool + mulher será que combina?".
 
 
 
Vivência nº 120 - Julho/Agosto-2009

Reflexões Diárias de A.A.: 30/06


30 DE JUNHO
SACRIFÍCIO = UNIDADE = SOBREVIVÊNCIA

A unidade, a eficiência e mesmo a sobrevivência de A.A. sempre dependerão de nossa contínua boa-vontade para renunciar a nossos desejos e ambições pessoais, pela segurança e o bem-estar comum. Do mesmo modo que o sacrifício significa sobrevivência para o indivíduo, também significa unidade e sobrevivência para o Grupo e para a irmandade de A.A. como um todo.

NA OPINIÃO DO BILL, p. 220

   Aprendi que devo sacrificar algumas de minhas características pessoais para o bem de A.A. e, como resultado, tenho sido recompensado com muitas dádivas. O falso orgulho pode ser inflado pelo prestígio, mas vivendo a Sexta Tradição, recebo a dádiva da humildade. Cooperação sem afiliação muitas vezes é enganadora. Se não me envolvo com outros interesses, estou livre para manter A.A. autônomo. Então a Irmandade estará aqui, saudável e forte para as gerações que virão.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Fichas ou Livros?



FICHAS OU LIVROS?    
 
    

“O que você acha da idéia do grupo entregar livros junto com as fichas, ou no lugar delas?”         
Que teria acontecido se A.A. e seus grupos não tivessem literatura? Como disse nosso co-fundador, Bill W., “nossa mensagem teria sido totalmente desvirtuada. .. (e) A.A. sem dúvida teria se atolado em um tumulto de controvérsia e desunião”.         
Larry S., delegado canadense, nos coloca sua experiência e opinião: 
Nesses dias em que a integridade de nossa mensagem se vê posta em duvida em tantas direções, necessitamos, mais do que nunca, apreciar e ler nossa literatura e transmiti-la a outros alcoólicos. Enquanto lia todo o material informativo sobre as diversas formas de levar a mensagem de A.A., perguntei a mim mesmo o que havia se passado com a importância de nossa literatura. Recordei, como se fora ontem, as primeiras responsabilidades. Meu padrinho me contou que chegava às reuniões uma hora antes de começar, para arrumar os objetos. Invariavelmente, eu também chegava cedo. Então ele me dava um artigo da literatura de A.A. para que eu lesse, e voltando para casa me fazia perguntas sobre o seu conteúdo. Essa era a maneira de me transmitir a mensagem de sobriedade de A.A. E funcionou naquela época, como funciona ainda hoje.         
Em nossa área, havia outros companheiros que estavam igualmente preocupados com o papel da literatura de A.A. Em conseqüência, alguns de nós fizemos uma pesquisa não oficial, telefônica, com uns sessenta membros de A.A., de quatro grupos, todos eles com menos de dois anos de sobriedade. A pergunta era: quantos possuem ou já leram os folhetos O grupo de A.A., Perguntas e Respostas sobre Apadrinhamento, As Doze Tradições Ilustradas e os livros Viemos a Acreditar, Viver Sóbrio, Na Opinião de Bill, A.A. Atinge a Maioridade e Alcoólicos Anônimos.         
Os resultados foram inquietantes. Nenhum dos sessenta membros de A.A., a quem perguntamos, tinha ou havia lido qualquer dos folhetos, nem os livros Viemos a Acreditar, Viver Sóbrio e inclusive A.A. Atinge a Maioridade. No entanto seis membros disseram que possuíam ou haviam lido Na opinião de Bill e trinta e sete o livro Alcoólicos Anônimos.         
Com a esperança de efetuarmos uma mudança, começamos a discutir sobre essa situação em nossas reuniões de grupo, Distrito e Área. O resultado é que alguns dos grupos que somente entregavam fichas e medalhões de sobriedade, agora os substituem por literatura de A.A. Por exemplo: com 30 dias de sobriedade, concedem o folheto O Grupo de A.A.; por 60 dias, Perguntas e Respostas sobre Apadrinhamento; com 90 dias, As Doze Tradições Ilustradas; por 6 meses, Viver Sóbrio ou Viemos a Acreditar e com um ano, uma assinatura da revista.         
Alguns grupos gostaram da idéia da literatura, porém, também queriam continuar com as fichas. Assim, chegaram a um acordo e agora entregam fichas junto com a literatura aos recém-chegados.         
Isto é somente o principio. Talvez possamos mudar de uma sociedade de “pedir” para uma sociedade de “dar”, quando os principiantes descobrirem do que se ocupa nossa comunidade, se desenvolvem de uma maneira sadia, experimentem a alegria do apadrinhamento e de passar a mensagem ao alcoólico que ainda sofre.A hora da verdade, a isto de chama "voltar ao básico".  

Vivência n° 42 – Julho/Agosto 1996

Reflexões Diárias de A.A.: 29/06


29 DE JUNHO
UM EFEITO DE ONDULAÇÃO

Tendo aprendido a viver de forma tão feliz, mostraríamos ao resto do mundo como fazê-lo... Sim, nós de A.A. idealizamos tais sonhos. Nada mais natural, pois a maioria dos alcoólicos não passa de idealistas falidos... Por que então não compartilhar o nosso modo de vida com o resto do mundo?

OS DOZE PASSOS E AS DOZE TRADIÇÕES, p. 140

            A grande descoberta da sobriedade levou-me a sentir a necessidade de espalhar as “boas novas” para o mundo à minha volta. Os pensamentos grandiosos dos meus dias de bebida retornaram. Mais tarde, aprendi que a concentração em minha própria recuperação era um processo de plena dedicação. Quando tornei-me um cidadão sóbrio neste mundo, observei um efeito de ondulação que, sem qualquer esforço consciente de minha parte, alcançou outras “entidades relacionadas ou empresas alheias”, sem me desviar do propósito primordial de manter-me sóbrio e ajudar outros alcoólicos a atingir a sobriedade.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Ter Afilhados


TER AFILHADOS 

A reflexão de um padrinho, que continua atual mesmo depois de 21 anos.

"SEM UM NOVATO PARA APADRINHAR, NÃO SEI O QUE SERIA DE MIM".

"Muitas vezes ouço em depoimentos o seguinte: "Dou graças à Deus por meu padrinho", ou "Meu padrinho me salvou". ou ainda, "Sem meu padrinho, não sei o que teria feito."
Não há dúvida alguma quanto à grande vantagem que tem um novato em A.A., quando consegue um bom padrinho. Muitos de nós devemos nossa sobriedade, às vezes de anos e contínua, à paciência e perseverança, à bondade e mesmo à dureza dos mais velhos em A.A., principalmente nos nossos primeiros dias.
 Entretanto, um grande número de nós, padrinhos e madrinhas, dizemos (ou deveríamos dizer): "Graças à Deus pelo meu afilhado",  ou " Foi meu afilhado quem me salvou", ou ainda "Sem um novato para apadrinhar, não sei o que seria de mim". Muitas vezes, mais do que eu gostaria de admitir, foi um novato que me salvou no exato momento em que eu precisava ouvir algo, foi um afilhado que  telefonou para me trazer um pacote de problemas que eu teria de ajudar a  resolver. E nesses assuntos dele, havia algo em particular que me abriu os olhos para alguma coisa que EU deveria  estar fazendo a respeito de minha própria vida, a respeito de mim mesmo, naquele momento.
 O novato, evitando aquele primeiro gole e seguindo nosso programa, acabaria por descobrir que o problema achou sua solução e acreditaria que aquela MARAVILHA de padrinho havia resolvido tudo. Entretanto, com o correr do tempo, todos nós sabemos, os padrinhos são reconhecidos exatamente por aquilo que são - alcoólicos como os novatos, lutando com seus próprios problemas, um dia de cada vez, em sobriedade.
 Assim, como padrinho, gosto de espalhar por aí o quanto os afilhados me ajudam! Um veterano em A.A. que esteja procurando soluções para certas dificuldades, talvez descubra que o truque se tornar padrinho de alguém e que isso não falha! Quando tudo mais parece não dar certo, o que funciona é isto:

 SER PADRINHO.(Grapevine , junho de 1980)

 Rev Vivência nº 73 - Set / Out 2001

Reflexões Diárias de A.A.: 28/06


28 DE JUNHO

A DETERMINAÇÃO DE NOSSOS FUNDADORES

Um ano e seis meses depois, estas três pessoas haviam alcançado êxito junto com mais sete.

ALCOÓLICOS ANÔNIMOS, p. 172 ou  p. 187

            Se não fosse a férrea determinação de nossos fundadores, A.A. teria desaparecido rapidamente, como tantas outras chamadas boas causas. Vejo as centenas de reuniões na cidade onde vivo e sei que A.A. está à disposição 24 horas por dia. Se eu tivesse de continuar com nada além da esperança e do desejo de não beber, experimentando rejeição por onde quer que fosse, teria procurado o caminho mais fácil e suave, e retornado ao meu antigo modo de viver.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

O Serviço em Alcoólicos Anônimos


O SERVIÇO EM ALCOÓLICOS ANÔNIMOS

"Serviço em Alcoólicos Anônimos: direito de todos, previlégio de poucos."

O objetivo dos Serviços em A.A. é evitar a recaída?    
- Não; o objetivo é promover o crescimento no sentido de encontrar a paz e a prosperidade, tanto individualmente como em Grupo. A Unidade proporcionada por esse estado de espírito mantém o ambiente preparado para a chegada do próximo companheiro de jornada.
Por que os Serviços em Alcoólicos Anônimos são um direito de todos? - O programa de Recuperação de A.A. está baseado no trípé da "Recuperação, Unidade e Serviço" o que nos remete à "longitude, amplitude e profundidade" .
1ª e 5ª TRADICÕES.
É direito de todos os indivíduos que procuram A.A. encontrar A.A.em "Unidade" e essa Unidade depende de um grupo de companheiros que os esperavam trabalhando. Esse trabalho é a base da permanência no programa de Recuperação ao mesmo tempo em que também é o  objetivo da existência do Grupo, que leva as informações às pessoas ainda sofredoras sob o efeito  da bebida alcoólica. Esta é a essência de A.A., que ao mesmo tempo promove a Recuperação, a Unidade e presta Serviço. Não é por acaso que no triângulo elas aparecem no mesmo nível.
Sendo assim, constata-se que se não há Serviço também não há Recuperação ou Unidade. Se não ha Recuperação o indivíduo morre.
Se o companheiro procurou A.A. entende-se que ele merece por direito garantido da nossa Terceira Tradição a chance da sua Recuperação e a Quinta Tradição é clara no que se refere ao objetivo de A.A., então, finalmente a resposta: TODOS  TÊM ESSE DIREITO.
A capacitação necessária ao exercício dos Serviços em A.A. sempre será o objetivo dos companheiros dispostos ao crescimento, na medida em que buscam material para as suas experiências, na mesma medida se distanciam do homem velho; o homem velho era um bêbado, portanto não se encontrava em condições morais ou espirituais  para exercer tarefas que tivessem como único objetivo o bem comum, portanto a busca do conhecimento certamente influenciará o indivíduo ao crescimento nas outras áreas da vida, fora de A.A.
A busca que faz direcionada aos Serviços em A.A. proporciona o progresso ao companheiro e o que imaginava ser prestação de Serviços a A.A. revela-se como agradável caminho de crescimento individual; está é a Recuperação esperada do programa sugerido  em A.A. e esse é um direito que cada companheiro  passa a ter quando chega em Alcoólicos Anônimos.
Informá-lo desses direitos é um dever dos servidores que de alguma forma promoveram a sua vinda através do trabalho no CTO, e que por outro lado o receberam na sala de reuniões de forma anônima e prazerosa.
11ª TRADIÇÃO.
Essas informções que o Grupo tem o dever de passar ao recem chegado se baseia no reconhecimento de que o simples fato de parar de beber não será o suficiente para salvar a vida do novo companheiro, ; serão necessárias a adoção de novos valores em detrimento dos velhos e ineficientes valores; será necessária uma profunda mudança em sua personalidade de forma que se torne capaz de escondê-la abaixo da linha onde devem prevalecer os Princípios de Racuperação de Alcoólicos Anônimos mostrando que o companheiro poupará tempo, na medida em que se encontre consigo mesmo, conheça-se o mais rápido possível e isso é um previlégio. Por que previlégio de poucos?
Embora seja um direito de todos os companheiros, muitos abrem mão desse  direito porque não entenderam ainda a gravidade da sua doença pensando que o fato de haver parado de beber por algum tempo, solucionará seus problemas; NÃO ENTENDERAM QUE SEUS PROBLEMAS NÃO SÃO CONSEQUÊNCIAS DO ÁLCOOL E SIM, DA DOENÇA CHAMADA  "ALCOOLISMO"  E QUE NÃO SE RECUPERA DESTA DOENÇA PELO SIMPLES FATO DE ABSTER-SE DA BEBIDA ALCOÓLICA. Esta sim, é a primeira de uma série de atitudes que deverão ser tomadas ao longo do tempo e dentre estas a mais importante se destaca pelo desejo de servir ao Grupo, ao A.A. em seu todo e de forma geral em sua vida como cidadão recuperado.
Temos várias experiências, a iniciar pelas nossas próprias, no sentido de que atingida a zona de conforto da abstinência do álcool, algumas coisas que antes não valorizávamos, começam então a fazer sentido em nossas vidas e em alguns casos essas coisas entram na escala de prioridades na vida do alcoólico esquecendo-se que entre as prioridades deve incluir sua Recuperação.
Posso cirar alguns exemplos: família, trabalho, amigos, música, futebol, programa na televisão, preguiça... e passa a fazer uso do jargão que diz "primeiro as primeiras coisas" esquecendo-se que esse  jargão encontra-se no plural; AS PRIMEIRAS COISAS NECESSARIAMENTE DEPENDEM DA PRIMEIRA COISA E ESSA PRIMEIRA COISA , NO CASO DO DOENTE ALCOÓLICO EM RECUPERAÇÃO, É EXATAMENTE SUA RECUPERAÇÃO.
Este entendimento é que faz a diferença entre a caminhada bem sucedida e o fracasso, a humildade e a arrogância, a honestidade e a prepotência, e aí percebo que na realidade não estou prestando Serviços para Alcoólicos Anônimos, e sim, promovendo o meu próprio crescimento.
2ª TRADIÇÃO
Apesar dos Serviços exigirem do servidor que ele esteja em boa Recuperação, funcionam também de forma dinâmica proporcionando  a plena Recuperação. A prática dos Serviços exige do servidor  a prática do programa de Recuperação e as páginas da nossa Literatura saem da teoria; não há nada que evidencie mais essa experiência DO QUE A DEFESA DE ARGUMENTOS E IDÉIAS QUE GERAM UMA VOTAÇÃO EM UMA REUNIÃO DE SERVIÇOS.
POSSO MEDIR A QUALIDADE DA MINHA RECUPERAÇÃO SEMPRE QUE EXPERIMENTO DERROTAS NESSE SENTIDO; O EXERCÍCIO EM BUSCA DA HUMILDADE E A ACEITAÇÃO DOS RESULTADOS ESTABELECIDOS INCLUINDO-ME ENTRE OS SERVIDORES VENCEDORES, ACEITANDO O VOTO VENCIDO APESAR DE CONTINUAR TENDO O DIREITO DE PRESERVAR AS MINHAS IDÉIAS E PROJETOS DE TRABALHO PARA OUTRA OCASIÃO.
7ª TRADIÇÃO.
Um servidor em Alcoólicos Anônimos não tem dificuldades para entender o valor do seu dinheiro para a Irmandade: - "ELE AINDA SE LEMBRA DO DESTINO DO SEU DINHEIRO NA ÉPOCA QUE VIVIA BÊBADO"! Hoje ele sabe que precisa ser bem sucedido em sua vida profissional e luta por isso, pois afinal até disso depende a qualidade do seu Grupo e esse também é mais um resultado direto da boa vontade em praticar o programa de "Recuperação" sugerido em A.A..., e alcançar a sua libertação (independência) .
1ª TRADIÇÃO.
Um servidor em Alcoólicos Anônimos beneficia o Grupo compartilhando suas experiências. Quando está presente nas reuniões o faz físico e espiritualmente ( Unidade) e dessa forma opera nas atividades que lhe foram delegadas.
12ª TRADIÇÃO.
Um servidor em Alcoólicos Anônimos jamais espera reconhecimento do bom desempenho em suas tarefas, pois sabe ser um previlegiado e tem consciência da sua missão divina. recebe bônus espirituais que o recompensam permanentemente; sente-se iluminado, amparado e possui um coração agradecido; segundo nossa experiência, um coração agradecido não é solo fértil para o orgulho.
12º PASSO.
ESTA PRÁTICA SÓ É POSSÍVEL PARA OS COMPANHEIROS QUE REALMENTE ENTENDERAM A PROFUNDIDADE E A GRAVIDADE DA DOENÇA DO ALCOOLISMO  e sabem que tentaram de todas as formas levar a vida com acerto  na época em que dependiam da bebida alcoólica. Sabem que não conseguiram e que jamais conseguiriam melhorar as suas vidas com base em velhos valores e antigos ideais; por esta razão abandonaram os velhos valores e esta escolha está condicionada às mudanças de personalidade, "pensamento e comportamento" .
Quando isso acontece, está formado um servidor que se destaca dele próprio e se projeta através do Despertar  Espiritual na competição entre ele e a doença do alcoolismo. Ele sempre será o vencedor na medida em que se preserva nesses princípios, interagindo com a vida de forma eficaz e tornando-se um ser efetivamente em Recuperação. E qual seria a outra opção?
9º PASSO E 3ª TRADIÇÃO.
Caso eu não quisesse acreditar nas experiências contidas em nossa literatura, bastaria olhar para os lados e verificar o que acontece com os alcoólicos rebeldes e egoistas. Não me refiro aos recaídos que experimentaram a sargeta novamente embriagados; ME REFIRO AOS ABSTÊMIOS DO ÁLCOOL QUE SE UTILIZAM DO GRUPO COMO SE UTILIZAM DE TUDO EM VOLTA DE SI SEM O MENOR COMPROMETIMENTO, MAL CARÁTER E POLÊMICOS, BARULHENTOS E UNÚTEIS, QUE NO LUGAR DE FAZER COMPANHIA AOS SEUS COMPANHEIROS, OS PERSEGUEM E SABOTAM.
EM TODAS AS CIRCUNSTÂNCIAS DA VIDA, FAZEM QUESTÃO EM CONTINUAR SENDO VAGÃO; NUNCA PASSA EM SEUS PENSAMENTOS A POSSIBILIDADE DE TORNAREM-SE UMA LOCOMOTIVA!
Analisando este resultado em experiências constantes em Grupos, escolho convenientemente a opção do triângulo: Recuperação, Unidade e Serviço, de Alcoólicos Anônimos.
Portanto não fica difícil responder a pergunta:  -  "por que previlégio de poucos?????"

JC/Teresópolis/ RJ  

Vivência nº 117, de Jan/Fev de  2009.

Reflexões Diárias de A.A.: 27/06



27 DE JUNHO
ACEITANDO A MANEIRA DE A.A.

Seguimos os Passos e as Tradições de A.A. porque realmente os desejamos para nós. Não é mais uma questão de ser uma coisa boa ou ruim; aceitamos porque sinceramente desejamos aceitar. Esse é o processo de crescimento em unidade e serviço. Essa é a prova da graça e do amor de Deus entre nós.

A.A. ATINGE A MAIORIDADE, p. 96 ou p. 93

É divertido observar o meu crescimento em A.A. Eu lutei contra aceitar os princípios de A.A. desde o momento em que ingressei, mas aprendi pela dor de minha beligerância que, escolhendo viver pela maneira de vida de A.A., me abria para a graça e o amor de Deus. Então comecei a conhecer o significado completo de ser um membro de Alcoólicos Anônimos.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Alcoolismo ontem e hoje



ALCOOLISMO ONTEM E HOJE
 
JOVENS ENVOLVIDOS COM DROGAS E ÁLCOOL CHEGAM AO “FUNDO DO POÇO” PRECOCEMENTE.

Dr. Cláudio de Souza Leite
Membro da Sociedade Brasileira de Alcoologia
Médico Amigo de Alcoólicos Anônimos

Alcoolismo é uma doença progressiva que desmoraliza antes de levar à morte e atinge 13% da população. Podemos estimar em 20 milhões o número de alcoólicos no Brasil.

Beber abusivamente é a principal causa de problemas na vida atual: acidentes, traumas, violência familiar e urbana, mau desempenho escolar e doenças causadas pelo álcool (diabetes, cirrose, hipertensão arterial, câncer de boca, laringe, esôfago e pulmão etc...) são responsáveis por 30% de internações em hospitais gerais e 50% em hospitais psiquiátricos.

A doença do alcoolismo é o principal problema de saúde pública atualmente. Em todos os países que culturalmente usam bebidas alcoólicas são raras as pessoas que não entraram em contato com o álcool ainda crianças.

O álcool é considerado pela sociedade como inofensivo e até saudável. Todo brinde de saúde é feito com álcool, champanhe, vinho e cachaça. O álcool está culturalmente ligado ao sucesso, à beleza e à saúde.

No seio familiar ninguém se preocupa com um filho ou filha de 12 a 14 anos que chega em casa de pilequinho. O nome pilequinho já procura minimizar o problema.

O USO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS PELOS JOVENS

O hábito de beber entre os jovens é cada vez mais precoce e difundido. O jovem bebe para se desinibir e participar dos seus grupos. Beber tornou-se hábito freqüente nos últimos 20 anos. É fácil avaliar, pois basta compararmos neste período o crescimento da produção de cerveja, de vinho e de cachaça. Além da liberdade do uso de bebida alcoólica com plena aceitação dos pais, o jovem é estimulado por uma agressiva publicidade na mídia. Os melhores anúncios da televisão são relacionados ao sucesso, à beleza e à juventude de quem bebe. Desencadeada sistematicamente, a maciça propaganda é um dos fatores responsáveis pelo crescimento descontrolado do uso da bebida alcoólica.

Não beber fará do jovem um careta, porque o efeito do álcool sobre o cérebro, de imediato, causa euforia, desinibição e coragem, dando uma falsa idéia de liberdade. Inserido em seu grupo, o jovem necessita atuar com desembaraço e desinibição e o álcool é perfeito para criar estas condições. O convívio em turmas faz parte da iniciação do jovem. Nelas, eles têm hábitos semelhantes e fazem sempre as mesmas coisas, inclusive beber.

Concomitantemente, começa a ocorrer neste jovem uma mudança hormonal que provoca alterações no comportamento. Este aumento hormonal na puberdade intensifica a necessidade de liberdade geral, de viver intensamente, aproveitar tudo ao máximo. Temos que considerar que este jovem nem sempre vem de um lar e de família estruturados, o que acentua sua necessidade de libertação da casa dos pais.

O USO DE DROGAS ASSOCIADAS

O álcool atua como depressor do cérebro com o uso continuado, provocando sono. E a sonolência impede o prazer e a euforia da primeira fase de sua ação. Para usar o jargão próprio dos jovens, o uso continuado do álcool corta o barato. A participação na festa ou no cotidiano dos bares fica prejudicada. Este é o momento em que entra em ação a necessidade de usar drogas estimulantes, como a cocaína e o ecstasy (droga à base de anfetamina). O uso concomitante destas duas drogas (álcool e cocaína) permite a prolongação do prazer e euforia iniciais, porque, sendo antagônicas, uma neutraliza a outra. O usuário permanece acordado e com disposição de participar ativamente da balada. Continua curtindo o barato. Esta associação é usada com freqüência nas festas raves. O usuário pode ficar dias fazendo uso contínuo de bebida alcoólica com cocaína, sem dormir e com a falsa ilusão de extrema felicidade. Esquece, porém, que está
usando as duas drogas em quantidades crescentes, que podem levar à dependência química em pouco tempo.

É fácil entender porque os casos de overdose ocorrem com freqüência e com conseqüências que vão desde a hospitalização causada por problemas cardiorrespiratórios até a morte.

A perda total do controle agravado pelo uso das drogas não dá a menor chance ao usuário de decidir o que é melhor para ele. O cérebro está totalmente entregue aos cuidados do álcool e do pó, com a perda do domínio da vida. Nesta fase do envolvimento com as drogas surgem outros fatores de risco. Ao acrescentar a droga ilícita (cocaína ou ecstasy), o usuário de álcool corre riscos maiores e sofre mais conseqüências, como o aumento considerável da despesa com o programa. Afinal, a necessidade de obter a droga ilícita provocará seu envolvimento com traficantes, levando-o a subir morros para chegar às bocas-de-fumo. O consumo aumentado progressivamente faz o usuário chegar mais cedo à derrota para as drogas com total destruição da espiritualidade.

ACELERANDO O PROCESSO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA

O consumo associado de álcool com a cocaína diminui o tempo de entrada na dependência, aumentando a compulsão e a tolerância, caminho certo para a dependência química. A destruição física, mental e social é total, o que leva o usuário a precisar de ajuda urgente. Passa a ser a única opção, pois a alternativa é a morte. Sua vida e de seus familiares vira um terror sem precedentes. Jovens com 16/18 anos começam a ingressar com freqüência em grupos de ajuda mútua Alcoólicos Anônimos (A.A.) e Narcóticos Anônimos (N.A.).

É difícil saber qual a droga principal. Sabe-se, entretanto, que a dependência ao álcool é bem mais difícil de ser controlada. Isto ocorre por ser o álcool uma droga lícita aceita e usada há séculos. Nossa herança genética ao álcool é bem mais antiga.

Conclusão: O aumento de jovens procurando ajuda em A.A. é um fato indiscutível.

O alcoólico típico do passado, com mais de 50 anos e dependente apenas do álcool, é cada vez mais raro buscando ajuda nos grupos de A.A.

A aceleração do processo de dependência está associada ao uso de uma droga depressora com outra estimulante.

Esta associação aumenta o número de jovens com 18 ou 20 anos já com problemas sérios de saúde física e comportamental que necessitam de tratamento imediato.

Um dependente químico jamais conseguirá controlar sozinho a sua compulsão pela droga.

As clínicas para dependentes químicos desempenham papel importante na fase inicial da recuperação.

Para a manutenção da recuperação, entretanto, é fundamental que seja feita em grupos de ajuda mútua que utilizam o Programa dos Doze Passos.

Alcoólicos Anônimos é uma Irmandade de ajuda mútua com 72 anos de experiência, presente nas principais cidades de 180 países. Os melhores resultados de recuperação prolongada são obtidos em grupos de A.A.

Narcóticos Anônimos é outra Irmandade que surgiu a partir do programa e exemplo de A.A. É bem mais recente, mas já conta com resultados excepcionais. Não podemos subestimar o uso de drogas pelos jovens.

Ninguém pode decidir se um jovem vai usar droga ou não.

Durante sua formação certamente vai surgir um momento em que lhe será oferecida uma droga.

E não devemos esquecer que o álcool é uma droga.

O que fazer, então?

A única atitude possível é ele estar informado sobre a ação das drogas e suas conseqüências.

E forçar a decisão o mais rápido possível é melhor, pois a informação lhe chegará a tempo de obter os melhores resultados no processo de recuperação.

Infelizmente, esta informação ainda não faz parte do contexto educacional brasileiro.

Vivência nº109 – Set./Out.2007.

Reflexões Diárias de A.A.: 26/06


26 DE JUNHO

            UMA DÁDIVA QUE CRESCE COM O TEMPO

Para a maioria das pessoas normais, a bebida significa o convívio, o companheirismo e uma imaginação colorida. Significa a liberação momentânea da ansiedade, do desgosto e da angústia. É a intimidade alegre com os amigos e o sentido de que a vida é boa.

ALCOÓLICOS ANÔNIMOS, p. 165 ou p. 179

            Quanto mais perseguia estes sentimentos ilusórios com o álcool, mais fora de alcance eles ficavam. Contudo, aplicando esta passagem para minha sobriedade, descobri que ela descreve a magnífica vida nova disponível para mim pelo programa de A.A. As coisas realmente melhoram, um dia de cada vez. O calor, o amor e a alegria tão simplesmente expressos nestas palavras, crescem em alcance e profundidade cada vez que as leio. Sobriedade é uma dádiva que cresce com o tempo.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Jogo da Vida


JOGO DA VIDA 

Ouvi, certa ocasião, a seguinte expressão: "morre o cavalo para alimentar o urubu". 
Em sua essência, o que quer dizer esta frase? Acredito se tratar de uma crítica à vida natural, isto é, morre o cavalo, um animal de tamanha utilidade ao homem, para dar de comer ao urubu, ave de rapina das mais repugnantes, que muita gente acha não ter qualquer serventia. 
Mas o que fazer? A vida é assim mesmo: "alegria de uns, choro de outros". Se não, vejamos o que ocorre com as cobaias que são sacrificadas em laboratórios: suas vidas são ceifadas para beneficiar ou manter vivos outros seres. 
A história sempre se repete: "quando um ganha, outro perde". Não é assim que se dá com os jogadores? É o jogo da vida, "o que dá para rir, dá pra chorar". Isso em parte explica as recaídas no A.A. 
Pergunto eu: existiria o A.A. se ninguém recaisse? Sei que tudo isso é melodramático, mas infelizmente a verdade deve ser dita: no A.A. tem que haver recaídas. Que valor teria a primavera se não existisse o inverno? 
Nessas circunstâncias, devemos rogar a um Poder Superior que o A.A. permaneça existindo com um mínimo de recaídas. 
Mas parece, para o conforto dos companheiros que levam a sério o programa de A.A., que os escolhidos para recair têm sido quase sempre aqueles que querem apenas receber e nada dar em troca da sobriedade, ou os que ficam "em cima do muro" sem saber se assumem ou não a sua condição de alcoólicos, e ainda aqueles que não procuram desenvolver um programa espiritual de reformulação de caráter e que apenas tapam a boca da garrafa. 
A recaída é o castigo dos egoístas, dos auto-suficientes, dos arrogantes, dos incrédulos que não querem curvar-se aos princípios de recuperação da Irmandade, que os recebeu tão carinhosamente e que foram confiantes no seu sucesso.
Em razão disso, sem saberem, passam a ser experiências vivas para a recuperação de outros, que humildemente aceitam as sugestões dos "Doze Passos" e procuram praticá-los dentro da medida do possível. São os que tentam modificar suas vidas, certos de que no A.A. "jamais fracassará aquele que cuidadosamente seguir o seu caminho (Livro Azul - V capítulo)". 
Quando alguém souber de algum companheiros que recaiu, é bom lembrar da consagrada sabedoria popular: "aquele que vê a barba do vizinho pegando fogo, é bom por a sua de molho". 
Assim, trate de reforçar a sua guarda, policie-se melhor e lembre-se do que o álcool é capaz de fazer com você. Não vale a pena servir, desse jeito, de nutriente para os que ficam "de pé" no A.A. 
Você os pode ajudar também, muito mais com sua sobriedade do que com sua recaída. Além de estar fazendo um bem enorme para si mesmo.

Bi da CENSAA-PA
(Vivência nº 34) 

Reflexões Diárias de A.A.: 25/06


25 DE JUNHO

UMA RUA DE MÃO DUPLA

Se pedirmos, Deus certamente perdoará nossas negligências.
   Porém sem a nossa cooperação, em nenhum caso nos torna brancos como a neve e nos mantém assim.

OS DOZE PASSOS E AS DOZE TRADIÇÕES, p. 57

       Quando rezava, costumava omitir muitas coisas que eu precisava que fossem perdoadas. Pensava que se não falasse dessas coisas para Deus, Ele nunca ficaria sabendo sobre elas.
   Não sabia que se eu tivesse me perdoado por algumas das minhas ações passadas, Deus me perdoaria também. Sempre fui instruído a me preparar para a jornada da vida, nunca percebendo até chegar em A.A. que a própria vida é a jornada – quando então honestamente tornei-me disposto a aprender a perdoar e a ser perdoado. A jornada da vida é algo muito feliz, desde que eu esteja disposto a aceitar uma mudança de vida e responsabilidade.

domingo, 24 de junho de 2012

Apenas alcoólico


APENAS ALCOÓLICO

Nossa visão sobre supostos "problemas" sempre pode ser relativizada.
Conheci A.A. muitos anos atrás, mas, naquele tempo, fui apenas por curiosidade. Eu achava que usavam o termo "anônimo" porque eram pessoas excluídas da sociedade, que viviam no anonimato por vergonha do seu passado e para fugirem do estigma do alcoolismo, que andavam pela penumbra e pelos becos, vivendo na clandestinidade.
E não fiquei, pois não fui para ficar. Eu achava que não era alcoólico, pois tinha ainda emprego, casa e família. Aquela "Irmandade "era para aqueles que já não tinham mais nada para perder e precisavam viver no mimetismo".
Eu me lembro que achei estranho, pois fui até A.A. para ver alcoólicos e não vi nenhum - vi pessoas bem postas, bem vestidas, bem falantes - saí decepcionado. Onde estariam os bêbados? Fui enganado, pensei.
Fui embora e não mais voltei, não mais me lembrei daquela Irmandade e continuei minha caminhada no alcoolismo. Isso demorou muitos anos, pois minha doença progrediu devagar.
Começaram então as primeiras perdas: de início foram os empregos, um atrás do outro, logo depois os amigos, a seguir a família e, daí por diante, o equilíbrio, a temperança, a vergonha, a moral, a dignidade e, por fim, a fé. Fiquei sozinho no mundo.
Um dia fui visitar um antigo amigo que não sabia da minha atual situação, e ele me colocou na direção de uma pequena empresa que acabara de montar. Pouco tempo depois, dormi com a cabeça apoiada nos braços, em cima da mesa. Quando descobriu o meu estado, para salvar a sua firma ele me mandou embora. E alguns dias antes de eu deixar o emprego, entrou no escritório um cliente que gostava de conversar comigo. Sentou e começou a contar a sua vida: havia perdido um irmão há poucos dias, que era carcereiro da Penitenciária do Carandiru e fora assassinado. Contou-me ainda que ele próprio também tinha sido carcereiro de lá e que na época, ambos bebiam demais. Contou também o que faziam sob o efeito do álcool.
Ele falou isso tudo sem saber que era para a pessoa certa. No final do seu desabafo, perguntei-lhe como e onde tinham conseguido parar de beber. Ele me olhou meio cismado, já desconfiando de alguma coisa. Eu disse: "Tenho um problema seríssimo com o álcool, tanto que estou sendo demitido dessa empresa por esse motivo e, quando sair, não tenho para onde ir e nem mesmo onde ficar, pois já perdi tudo, só me restou a vida".
E ele respondeu: "Sobrou demais então, pois enquanto há vida, há esperança". Chamou-me lá para fora e apontou para uma capelinha simples dizendo: "Ali, todas as quartas feiras, às 20 horas, acontecem reuniões de um grupo de pessoas que tiveram os mesmos problemas que nós.
São os Alcoólicos Anônimos, já ouviu falar?" Eu respondi que sim, que no passado tinha ido a uma reunião, mas que não tinha entendido nada, pois estava alcoolizado. Então ele completou: "Pois foi ali que eu e meu falecido irmão paramos de beber e onde tudo começou a mudar. Vá lá, na quarta-feira, tomar um café com os companheiros, e assim que sair daqui e não tiver onde ficar, arrumo um lugarzinho para você dormir no fundo da minha firma".
Fiquei ansioso para que chegasse logo a quarta-feira e realmente conhecer - como disse ele - aqueles companheiros, aquela Irmandade que um dia eu não tinha aceitado e nem mesmo entendido.
Chegando lá, uma porção de gente veio me encontrar na porta. Recebi muitos apertos de mão e todos me diziam que eu era a pessoa mais importante daquela noite. Eu estava confuso, há muito tempo não recebia tamanha consideração e respeito. Entrei, sentei-me e passei a observar aquele pessoal alegre e simpático, perguntando a mim mesmo: "Onde estariam os bêbados?" Uma vez mais, fiquei curioso.
Quando começou a reunião, logo no primeiro depoimento percebi que estava o tempo todo misturado com os alcoólicos, que ali mesmo, naquela platéia distinta, estavam as pessoas problemáticas do passado.
Fiquei maravilhado. Percebi que não estava sozinho naquele sofrimento, que meu caso ainda tinha solução e esperança e que bastava querer, pois eles haviam conseguido.
Então veio uma mulher, sentou-se e afirmou "Graças a Deus, sou uma alcoólica". Pensei: "Não só alcoólica, mas louca também". Como podia dar graças a Deus por isso? Ela então disse que tinha em sua família uma pessoa com uma doença incurável em fase terminal, e que quando chegasse em casa talvez não a encontrasse mais com vida. Ela, por outro lado, tinha uma doença também incurável, mas que podia estacionar, bastava querer - e começou a chorar.
Quando terminou a reunião, voltei para casa, ou seja, para o fundo da firma do amigo.
Chegando lá, levantei com dificuldade a porta de aço, acendi um palito de fósforo, entrei devagar, desviando-me das máquinas, pilhas de ferro, montes de sucatas e outros incômodos pelo caminho. Ao chegar ao fundo do galpão, acendi a luz, estendi uns papelões no chão, forrei-os com um lençol e me deitei, cobrindo-me com um cobertorzinho daqueles que a turma chama de "tomara que amanheça" e disse a mim mesmo: "Graças a Deus, sou apenas um alcoólico". Deus, como O entendo, se manifesta em nós, a cada momento de tolerância.

N.L., Mogi Mirim/SP

Vivência 71 – Maio/Jun 2001

Reflexões Diárias de A.A.: 24/06


24 DE JUNHO

UM JARDIM DE INFÂNCIA ESPIRITUAL

Estamos apenas pondo em funcionamento um jardim de infância espiritual, no qual as pessoas ficam capacitadas a parar de beber e a encontrar a graça para viver de melhor maneira.

NA OPINIÃO DO BILL, p. 95

            Quando vim para A.A. estava correndo para a garrafa e desejava perder a obsessão pela bebida, mas realmente não sabia como fazê-lo. Decidi ficar o tempo suficiente para descobrir com aqueles que vieram antes de mim. De repente estava pensando sobre Deus! Me falaram para conseguir um Poder Superior e eu não tinha ideia de como seria Este. Descobri então que havia muitos Poderes Superiores. Falaram-me para achar Deus, como eu O concebo, pois não havia doutrina de divindade em A.A. Encontrei o Poder Superior que funcionava para mim e então pedi a Ele que me devolvesse à sanidade. A obsessão pela bebida foi removida e – um dia de cada vez – minha vida continuou e aprendi como viver sóbrio.

sábado, 23 de junho de 2012

A Justiça e o Trabalho com Alcoólicos Anônimos


A Justiça e o Trabalho com Alcoólicos Anônimos

Conta a tradição que há mais de setenta anos dois doentes alcoólicos começaram a conversar e não beberam. No mundo todo alcoolistas continuam a conversar desde então e não beberam. O "só por hoje" já dura mais de que através do diálogo o homem pode encontrar soluções brilhantes para sua existência.
Em 1988, a Constituição Cidadã trouxe para o direito penal, carcomido por uma prática ineficaz desde os tempos da Colônia, um novo sopro, um novo conceito, o da pacificação social, criando o instrumento dos Juizados Especiais Criminais. 
A Justiça penal deixa de ser apenas uma retribuição do mal praticado por um mal (violência legítima do estado que, quando é exercida de maneira errada, como, por exemplo, em prisões superlotadas, se torna ilegítima) e passa a poder contar com soluções visando o futuro, para uma determinada categoria de delitos - infrações penais com pena privativa da liberdade inferior a dois anos - a que apelida de "infrações penais de menor potencial ofensivo". 
Ora, o que é essa Justiça Especial, criada pela Constituição Federal em 1906 e disciplinada pelo legislador comum em 1995, através da Lei nº. 9.099?
É a Justiça do diálogo, onde as partes envolvidas, direta ou indiretamente no litígio, são chamadas a conversar. É a justiça coexistencial.
Nossa cultura está acostumada a terceirizar a solução dos litígios. As partes depositam na mão de terceiros a solução de seus problemas. O Estado encarregado desta terceirização, o Juiz, por sua vez, acostumou-se a dirimir conflitos. Todavia essa solução se mostra insuficiente para a sociedade moderna. Mesmo se dirimido o primeiro conflito, a litigiosidade social permanece latente e outros conflitos se instalam e cada vez mais a presença do Estado é requisitada, gerando acúmulo de processos e demora. Justiça que tarda é sempre Justiça que falha, diz o velho ditado.
Assim, cada vez mais a Justiça deve se empenhar em diluir o conflito, em verdadeiramente atacar o litígio social existente e na medida em que o real problema da vida é solucionado, o litígio processual passa a ser desimportante.
Quando as partes voltam a ser chamadas para buscarem a solução de seus conflitos, o Juizado Especial Criminal reforça a cidadania.
Assim, é o princípio basilar do Juizado Especial Criminal a reconstrução da cidadania e o prestígio à autonomia da vontade e responsabilidade individuais.
Mais uma vez, aqui os caminhos dos grupos de mútua ajuda e da Justiça se aproximam.
Obviamente o álcool, a droga mais consumida em nosso País, constitui um dos elementos presentes na violência interpessoal. Não se trata aqui de buscar desculpa no álcool para a violência, mas apenas a constatação de que sem resolver o problema do relacionamento do alcoolista com a droga não se chegará jamais à solução do litígio interpessoal em que este se envolveu.
O álcool está presente em nossa sociedade. É um problema que afeta todas as classes sociais, etnias, sexos e assim deve ser resolvido na sociedade.
A prática vem demonstrando a pouca eficiência, nesta área, de medidas de força como a prisão ou a internação compulsória. Cessada a constrição da liberdade, geralmente, o primeiro passo do liberto é em direção ao álcool.
O maior êxito vem sendo obtido nos grupos de mútua ajuda, com reconhecimento até mesmo da ciência médica. Porque, então, excluir esse valioso conhecimento da 
Justiça?
Por certo não pode a Justiça determinar que alguém se torne membro de Alcoólicos Anônimos. Para se tornar membro basta à vontade de querer parar de beber, diz a tradição, e vontade é o ato unilateral do alcoolista.
Também não pode a Justiça exigir que Alcoólicos Anônimos seja fiador da abstinência de ninguém. Toda a filosofia dos grupos se baseia no "só por hoje".
Muito menos ainda pode a Justiça demandar que a freqüência às sessões do grupo surta o efeito desejado independentemente da interação de outros fatores. Cada ser humano possui seu tempo personalíssimo. Se para alguns o "só por hoje" é atingido no primeiro dia, para outros ele leva toda a vida. O próprio programa de Alcoólicos Anônimos é composto por 12 Passos e 12 Tradições, que devem ser percorridas, uma a uma, e renovadas diariamente, o que demanda uma progressividade.
O que espera, então, a Justiça do trabalho com Alcoólicos Anônimos?
Primeiramente, longe de exigir que o encaminhado se torne membro de A.A., ela confia na habilidade dos grupos e na seriedade do programa para que o encaminhado 
se encante e, um dia, no seu tempo pessoal devido, lhe seja dado alcançar a condição de membro. Freqüentador é o que se exige.
Entendemos que a partir da freqüência certamente alguma semente ficará plantada na mente do encaminhado, que germinará no tempo certo.
Em segundo lugar, a Justiça respeita a autonomia dos grupos. Não se deve impor a aceitação da presença do encaminhado e a freqüência deve ser demonstrada por 
qualquer meio idôneo.
Se para o encaminhado a freqüência a A.A. deve ser encarada primeiro como um benefício, de certa forma ela contém um caráter de sanção pela infração penal praticada, ao privá-lo de seus momentos de ócio ou lazer. Não se olvida que estamos tratando de direito penal, de processo penal e a comprovação do cumprimento é uma exigência do sistema penal.
Em minha experiência pessoal, certa vez determinei que um alcoolista prestasse serviços à comunidade, no período de reuniões durante a sessão. Esse era o meio idôneo que imaginei para obter a comprovação da presença à reunião. Felizmente o representante de A.A. da cidade em que trabalhava me procurou no gabinete, demonstrando o desatino da minha decisão e a partir daí começaram a surgir novos meios de comprovação da freqüência.
Hoje, instituímos no Rio de Janeiro, um cartão de freqüência, cuja responsabilidade pela guarda é do encaminhado, no qual o responsável pela reunião deve apor um carimbo ou uma rubrica. Não se descumpre assim o princípio do anonimato, tanto de quem conduz a reunião do grupo, como do encaminhado que, voluntariamente, ao aceitar o acordo para por fim ao processo, renuncia ao seu anonimato.
Mais uma vez, o reforço da autonomia da vontade está presente, ao entregar ao encaminhado a obrigação de comprovar a freqüência.
A decisão de permitir ou não a presença em reuniões fechadas incumbe ao grupo que recebe o encaminhado. Caberá a ele, dentro de sua autonomia, avaliar a adequação ou não de admitir pessoas encaminhadas pela Justiça, se há discriminação ou não, em fim, se a presença de um encaminhado pela Justiça rompe ou não as tradições de A.A.
Certamente, o risco da presença de um encaminhado pela Justiça à reunião fechada é o mesmo da presença de um outro qualquer membro que recaia no uso do álcool.
Segundo se aprende no contato com o maravilhoso trabalho dos grupos de A.A., todos aqueles que alcançaram o desenvolvimento pessoal a ponto de se tornarem membros de A.A. ali chegaram encaminhados por alguém, pela família, pelo patrão, por amigos, por médicos ou até mesmo pelo "Poder superior".
Pergunto, por que não aceitar a Justiça como um facilitador do contato de quem sofre da doença do alcoolismo com aqueles que podem ajudá-lo?
A pergunta permanece no ar para que, trabalhando juntos possamos respondê-la.

Rio de Janeiro, 30 de outubro de 2006

Dr. Joaquim Domingos de Almeida Neto
Juiz de Direito do IX Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher e Especial Criminal
Barra da Tijuca/Rio de Janeiro/RJ


Vivência nº 107 - Maio/Junho 2007

Reflexões Diárias de A.A.: 23/06


23 DE JUNHO
CONFIANDO NOS OUTROS

Mas acaso a confiança exige que sejamos cegos em relação aos motivos dos outros ou até aos nossos? Absolutamente; isto seria uma loucura. Certamente deveríamos avaliar tanto a capacidade de fazer o mal como a capacidade de fazer o bem nas pessoas em quem vamos confiar. Esse inventário particular pode revelar o grau de confiança que podemos depositar em qualquer situação que se apresente.

NA OPINIÃO DO BILL, p. 144

       Eu não sou vítima dos outros, mas sim uma vítima de minhas expectativas, escolhas e desonestidade. Quando espero que os outros sejam o que eu quero que sejam e não o que eles são, quando eles deixam de alcançar minhas expectativas, então me magoo. Quando minhas escolhas são baseadas em meu egocentrismo, me encontro sozinho e desconfiado. Adquiro confiança em mim mesmo, contudo, quando pratico a honestidade em todos os meus assuntos. Quando examino meus motivos e sou honesto e confiante, sou consciente dos possíveis danos que surgem em algumas situações, podendo assim evitá-las.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Mente


Mente

O conhecimento e avaliação de Alcoólicos Anônimos é necessário para aqueles que tenham um grande desejo de ajudar o alcoólico, porque o amam ou vivem com ele. Observando como e o que A.A. faz por ele, entendemos do que ele precisa, e principalmente aquilo que não podemos dar a ele. Tenho uma profunda e abrangente convicção a respeito de Alcoólicos Anônimos - eles são teoricamente confiáveis, racionais e, na prática, impressionantemente bem-sucedidos.

Meu relacionamento com A.A. é o do psiquiatra que teve acesso em primeira mão a seus milagres. Nós, psiquiatras, estamos habituados a milagres. Não existe para um médico satisfação maior do que o crescimento sólido do paciente - antes de ser um miseravelmente confuso, infeliz e medroso - em direção à saúde e autoconfiança. Como terapeuta, costumo ver com frequência a profunda reeducação emocional (que chamamos de psicoterapia ou psicanálise) tomar conta, aprofundar-se, crescer e solidificar-se na direção da maturidade.

Por que não é possivel fazer isso pelo alcoólico agudo? E por que A.A. pode? Por que quase sempre é certo que o alcoólico agudo ou bebedor-pesado - cheio de ira, confuso, quase sempre sem dinheiro, irrascível, desesperado, escondendo uma profunda sensação de baixa auto-estima por trás de uma atitude de arrogância defensiva - não é um candidato à psicoterapia? Ele precisa de ajuda. Por que resiste então a ela? É surpreendente para mim, agora, que nós psiquiatras não tenhamos visto o porquê antes. O alcoólico não consegue confiar em nós e nem em ninguém. O primeiro passo em qualquer psicoterapia é estabelecer o que chamamos de "transferência". O paciente transfere para nós o propósito de uma educação emocional, extremamente similar ao da criança na primeira infância, além de uma abrangente confiança no terapeuta, para que possa retomar novamente sua caminhada ousando desta vez, viver, ser ele próprio, cometer erros, fazer questionamentos, aprender e acreditar que não será abandonado e que nós o ajudaremos na sua busca de um novo crescimento.

No início de sua recuperação, o alcoólico não consegue confiar em ninguém; é difícil para ele amar e confiar até mesmo em um Deus, uma vez que ele O teme. Isso me faz lembrar da profunda verdade que existe na frase: "Se um homem não ama seu irmão, a quem ele pode ver, como amará a Deus, a quem ele não vê?" O alcoólico não consegue fazer a transferência, não consegue amar nem confiar em seu irmão, não se relaciona como uma criança confiante com o novo médico que se intitula "psiquiatra".

Entretanto, o alcoólico consegue entreabrir levemente a porta de suas emoções para outro alcoólico. Ele não teme do seu igual nenhuma condenação moral, ou irritante e humilhante indulgência, pois o outro esteve no mesmo inferno que ele. Começa a sentir afinidade por outrem após um longo tempo de solidão. Temos então agora aquilo que os psiquiatras chamam de relacionamento interpessoal. É essa para mim a essência e o alicerce de A.A. : estabelecer e manter relacionamentos humanos.

O próximo grande passo na direção da recuperação é uma perda gradual daquela sensação de ser único e diferente, que muitos pacientes têm. À medida que começa a frequentar as reuniões de A.A. e encontra mais e mais pessoas, vê que o mundo é cheio de bebedores-problema e alcoólicos. Para os amigos e a família ele sempre foi o pária, a catástrofe inaceitável. Mas nas reuniões de A.A. ele ouve sua própria história muitas e muitas vezes. Começa a se sentir livre para tentar entender essa estranha expressão - "bebedor compulsivo". Até ser chamado de "personalidade adicta" por outro que está no mesmo barco, não o incomoda mais. No meio de tantos companheiros ele ousa fazer o inventário , conhecer mais sua própria personalidade e preparar-se para enfrentar seus pontos fracos, reconhecer sinais de perigo e aceitar as limitações de vida como todos os outros alcoólicos o fazem - evitando o primeiro gole - porque chegou à conclusão de que é um doente (...)

(Grapevine, nov/98)
Adele E. Streeseman, M.D.

(Vivência nº 61- Set/Out 99)

Reflexões Diárias de A.A.: 22/06


22 DE JUNHO

HOJE, ESTOU LIVRE

Isso me levou à boa e saudável conclusão de que havia muitas situações no mundo sobre as quais eu não tinha nenhum poder pessoal – que se estava tão pronto a admitir isso a respeito do álcool, devia admitir também em relação a muitas outras coisas. Tinha que ficar quieto e entender que Ele era Deus, não eu.

NA OPINIÃO DO BILL, p. 114

            Estou aprendendo a praticar aceitação em todas as circunstâncias de minha vida, para poder desfrutar de paz de espírito. Houve um tempo em que a vida era uma batalha constante, porque eu sentia que tinha que passar cada dia lutando comigo mesmo e com todo mundo. Finalmente isso tornou-se uma batalha perdida. Terminava embriagado e chorando sobre minha miséria. Quando comecei a me soltar e a deixar Deus tomar conta de minha vida, comecei a ter paz de espírito. Hoje sou livre.
            Não preciso lutar contra mais nada nem contra ninguém.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Querer ou poder: Como Funciona o EGO?


Querer ou poder: Como Funciona o EGO? 

"Façamos a experiência dizendo em voz alta: - eu não posso beber e - eu não quero beber! Qual das duas frases tem mais força?"

Ouço com freqüência vários companheiros dizerem "eu não posso beber". Não seria mais interessante dizer "eu não quero beber"?
Façam uma experiência: pronunciem essas duas frases em voz alta; deixem-nas ecoar na mente e percebam quanto a segunda é mais forte; como ela transmite certeza, convicção, positivismo, enquanto a primeira deixa transparecer uma certa dúvida, um quê de incerteza.
Além disso, "eu não quero beber" sugere decisão consciente e firme por parte de quem emite a frase, ao passo que "eu não posso beber" pode fazer pensar em uma atitude de fora para dentro, uma decisão que uma pessoa toma por outra.
Buscando apoio para essa distinção que faço entre querer e poder, procurei auxílio no dicionário e lá descobri que querer, dentre outras coisas, é "ter ou manifestar vontade firme e decidida" e que poder é, dentre outras coisas, "ter força, ou energia, ou calma ou paciência para".
Se analizarmos atentamente as duas definições, veremos que a primeira, a priori, não permite falhas nem vacilos, pois parte de um desejo firme e honesto, o qual, aplicado a nós, se traduz num desejo firme e honesto de não ingerirmos bebidas alcoólicas. Já a segunda mostra um estado e/ou virtudes que podem, em determinados momentos de nossa vida, falhar, constrangendo-nos, fazendo-nos duvidar ou vacilar diante de nossa escolha inicial. Essa pequena discussão pode parecer inoportuna ou sem propósito, mas quero lembrar-lhes que, segundo alguns autores (opinião, diga-se de passagem, compartilhadas por mim), a palavra possui um grande poder, sendo capaz de derrubar ou erguer qualquer indivíduo.
Partindo dessa premissa e da definição de querer, quando digo "eu não quero", estou fortalecendo em mim uma idéia que, para a grande maioria de nós, foi construída sobre uma base de muito sofrimento, tanto pessoal quanto daqueles que se encontram ou se encontravam conosco.
Para nós, alcoólatras em recuperação, esta vida de abstinência e de busca de sobriedade é uma construção que se realiza a cada período de 24 horas em que nos mantemos sóbrios. Sendo uma construção, tem como pedra fundamental a admissão e a aceitação da nossa impotência perante o álcool.
Quando iniciamos nossa caminhada, é compreensível que utilizemos o verbo poder, pois ainda temos a nos sondar a mente algumas incertezas e medo que nos conduzem a duvidar do nosso sucesso na empreitada iniciada.
No decorrer das 24 horas, porém, fortalecemos o nosso ideal, retiramos das nossas reuniões os materiais de que necessitamos para erguer uma sólida construção e, então, passamos a utilizar o verbo querer, que traz em si, como já foi dito, uma fonte de convicção de que conseguimos e de que conseguiremos vencer este obstáculo, o Alcoolismo.
Responder a alguém que nos pergunta se queremos ou não beber com "não posso" ou "não quero" dependerá da circunstância, do momento, porém, em minha opinião, ao dizermos "não quero", estamos afirmando, sem sombra de dúvida, ao nosso interpelador e a nós mesmos que estamos convictos da nossa posição.

Luiz Carlos/Ouro Preto/MG

(Revista Vivência nº 97 - SET/OUT 2005