terça-feira, 12 de junho de 2012

Os muitos nomes de Deus


Os muitos nomes de Deus 

"Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que O concebíamos".

Uma das maiores dificuldades enfrentadas por muitos ingressantes em A.A., começa no Segundo Passo e cresce no limiar do Terceiro. Por isso, tanta gente "pula" os dois, prometendo voltar a eles mais tarde.

"Está certo, tanto eu admiti minha impotência perante o álcool, que estou aqui com vocês, disposto, inclusive, a fazer um inventário moral e procurar me corrigir. Mas essa história de Deus não está dando", dizem ou pensam.

Depois, dialogando com os companheiros mais antigos, alguns chegam a uma barganha: "Se eu puder chamar de Poder Superior a força, acima de minha energia isolada, que vem da unidade do grupo, tudo bem. Mas nada além disso".

Nenhuma crítica a essa "negociação de consciência", já que ela ajuda o ingressante em sua integração à Irmandade e contribui para sua recuperação. Aceitar essa postura, não só é prova de sabedoria de quem tem mais algumas 24 horas, como torna mais eficaz o trabalho de atração.

Mas - e esta é a razão de ser deste texto - o que podemos fazer para ajudar aos mais novos a vencerem a relutância em se colocar confiantemente nas mãos de Deus?

Muitos de nós passaram ou ainda estão passando por essa fase. Sabemos como ela é difícil, em razão da nossa prepotência, sim, mas, principalmente, em razão da nossa insegurança.

"Se não consigo confiar nem em mim mesmo, e por isso ingressei em A.A., como entregar minha vontade e minha vida a Alguém que não consigo, sequer, conceber?"

Penso na resposta que eu daria, se alguém me fizesse essa pergunta. Eu diria o seguinte:

Entendo sua dúvida, porque também a sofri. Até entendo tratar-se muito mais de uma questão de medo das palavras do que resistência decidida à entrega. Parte do problema você já resolveu, ao perceber que era bom negócio ter a ajuda de um Poder Superior em sua recuperação, porque ele funciona mesmo, tanto faz você dar o nome de Poder Superior ao grupo ou a Deus. Agora, vamos ver que nome você dava, no tempo de ativa, ao fator no qual você mais confiava.Provavelmente o nome era sorte.

Você confiava cegamente na sorte (até porque não conseguia enxergar direito), quando dirigia bêbado e, no dia seguinte, nem sabia como tinha conseguido chegar com o carro em casa. Você confiava na sorte quando desafiava estranhos no bar, quando se metia em lugares e em situações de perigo, quando arriscava o emprego por problemas de bebida.

Você contava com a sorte para atravessar o mês, depois de gastar o dinheiro levianamente, logo depois do pagamento. Você contava com a sorte para - talvez - não perder a família, agindo como agia.

Sempre a sorte, nunca a atitude racional, baseada naquele livre arbítrio do qual você hesita, agora, em abrir mão, ainda que seja de uma pequena parcela e por um período de experiência. No entanto, quase certamente, você bateu o carro, agrediu e foi agredido, perdeu o emprego ou o prestígio no emprego, endividou-se e ficou com a ficha suja, fez a família sofrer, tendo ou não perdido o seu convívio.

Ora, se você acreditou tanto na sorte, e acabou dando no que deu, por que não dar uma chance, por pequena que seja, à possibilidade da existência e ajuda de Deus, que, no mínimo, deve ser mais constante e mais compreensivo?

Por sorte, você chegou a uma sala de A.A. a tempo. A tempo, até, de descobrir maneiras mais construtivas de entregar sua vontade e sua vida aos cuidados de algo que não pode ser visto nem tocado. E de descobrir, também, que Deus pode atender por muitos nomes: sorte, acaso, destino, karma, coincidência ou Poder Superior.

A diferença do nome que você dá, e, por conseguinte, da atitude que você assume perante os acontecimentos e expectativas da vida, pode ser a diferença entre a serenidade e a ansiedade, entre a motivação e a depressão, entre a fé e o medo.

Entre uma vida razoavelmente feliz (o que não quer dizer sempre alegre) e uma vida atormentada.

A escolha é sua. E para fazê-la, ar sim, use seu livre arbítrio."

É isso que eu diria a um ingressante em dúvida.

(Evandro B.)

VIVÊNCIA 25 JUL\AGOS\SET\93 

Nenhum comentário:

Postar um comentário