sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Por que servir?

POR QUE SERVIR?

"Sempre procurei fazer a minha parte, e você, está fazendo a sua? "

Trabalho desde os sete anos de idade. Estou aposentado faz nove anos; continuo trabalhando e não pretendo parar senão quando me faltar lucidez mental ou condições físicas para prosseguir. Não acredito que o trabalho tenha qualquer efeito nefasto, a não ser quando executado em condições inadequadas. Pelo contrário, entendo que trabalhar me proporciona a sensação de estar sendo útil. Por isso mesmo sempre procuro, em qualquer atividade, fazer o melhor que posso.
Consciente da utilidade do meu labor, nunca busquei somente ganhar dinheiro. É justamente essa concepção, no meu entender, que separa o mercenário do profissional.
Quando ingressei em A.A., logo percebi que havia muito trabalho a ser feito e pouca gente disposta a trabalhar.
Como sempre, procurei fazer a minha parte, de modo que, aos três meses de abstinência, já me encontrava a secretariar as reuniões de recuperação. Aí não parei mais. Fui secretário, tesoureiro, coordenador, RI e RSG do meu grupo.
Em certa ocasião, aceitei o convite de um dos meus padrinhos e fui assistir uma reunião de área. Tomei conhecimento de que a nossa Irmandade ultrapassava as fronteiras do grupo.
Incentivado por esse mesmo companheiro, comecei a freqüentar a então Central de Serviços (atualmente Escritório de Serviços Locais) e, aos três anos de sobriedade, fazia parte da diretoria desse órgão de serviços.
Depois, tudo foi acontecendo normalmente. Passei por todos os encargos da estrutura dos serviços locais e mais tarde fui Delegado de Área.
Porque tinha experiência administrativa, levei muitos anos colaborando na administração da Central de Serviços e na coordenação de vários eventos.
Em todo esse tempo, duas idéias básicas nortearam as minhas atividades. Nunca me descurei do quanto ensinam a Segunda e a Décima Segunda Tradições. Procurava, amiúde, o apadrinhamento dos mais experientes, sempre que necessário, pois tinha em mente o meu exato tamanho. Por outro lado, apadrinhei todos os companheiros que, incentivados a participar, mostraram interesse em servir.
Jamais esqueci de colocar os princípios de A.A. acima das personalidades, principalmente da minha. Se existiram membros que poderiam ter sido insubstituíveis, esses foram Bill e o doutor Bob. No entanto, Alcoólicos Anônimos sobreviveu a essas duas grandes perdas. Por que, então, eu deveria me considerar insubstituível?
Se consultarmos atentamente a História da Humanidade, constataremos que os vultos de destaque sempre passaram, nada obstante seus ensinamentos ainda por vezes perdurem.
Assim também deve ser conosco. Um dia, cada um de nós se afastará dos serviços, pelos mais variados motivos.
Os nossos princípios, esses sim, devem ser preservados porque vieram para ficar.
Há alguns anos, a Conferência de Serviços Gerais adotou o lema: "Serviço: privilégio de cada um."
À primeira vista parece encerrar uma incoerência. Como se pode ser privilegiado pelo fato de prestar serviços?
Refletindo melhor, poderemos alcançar seu verdadeiro sentido.
Foi dito nas linhas iniciais deste escrito que, nos meus primeiros tempos na Irmandade, havia muito trabalho e pouca gente disposta a trabalhar. Ainda hoje é assim. Por quê?
Em Alcoólicos Anônimos há múltiplas tarefas a serem executadas. Existe trabalho para todos, não importa o grau de escolaridade ou a formação profissional.
Como afirmou Bill, tudo que resulte, direta ou indiretamente, na transmissão da mensagem ao alcoólico que ainda sofre é serviço.
Assim sendo, desde o ato de limpar a sala de reuniões e servir cafezinho até participar da Junta de Custódios ou da Reunião de Serviços Mundiais, reveste-se de fundamental importância.
Em A.A. não existe hierarquia. Não há servidores de primeira nem segunda classe; apenas há servidores. Apenas um requisito torna-se essencial a quem quer bem servir, pois sem ele qualquer companheiro que se habilite aos mais diversos encargos estará fadado ao insucesso. Trata-se da genuína vontade de servir.
Pois bem, se há serviço para todos e dispomos de um grande contingente de companheiros aptos ao exercício das tarefas disponíveis, não se pode entender a carência crônica de servidores, senão pela falta de boa vontade para trabalhar.
Não estariam esses companheiros, quando afirmam não dispor de tempo para servir a nossa Irmandade, egoisticamente voltados para si mesmos, no cultivo da ingratidão?
O privilégio de servir está justamente no entendimento de que Alcoólicos Anônimos deve continuar a prestar serviços à humanidade, como vem prestando a cada um de nós. Privilegiados são, nessa ordem de idéias, todos aqueles que souberam entender essa realidade. São os que têm ouvidos de ouvir e olhos de ver. São os que cultivam a gratidão no fundo de seus corações.
Nesse diapasão, podem ser reconhecidas duas espécies de membros: os que servem e os que apenas querem ser servidos. Pertencer a uma delas é escolha pessoal. Eu já fiz a minha desde o início e posso assegurar que a prestação de serviços, ao lado da persistência no programa de recuperação, me tem feito sentir íntegro, útil e feliz, como prometido no Livro Azul.
E você, companheiro que me lê, já fez a sua escolha?

Joeraldo/BA
Vivência n° 96 - Julho/Agosto 2005

"Em Alcoólicos Anônimos há múltiplas tarefas a serem executadas. Existe trabalho para todos, não importa o grau de escolaridade ou a formação profissional."
"Nesse diapasão, podem ser reconhecidas duas espécies de membros: os que servem e os que apenas querem ser servidos."

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