segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Alcoólicos Anônimos não opina sobre questões alheias à Irmandade

Alcoólicos Anônimos não opina sobre questões alheias à Irmandade
“O nome de A.A. jamais deverá aparecer em controvérsias públicas”

Recentemente passamos por um teste prático da aplicação da Décima Tradição aqui no Brasil que foi uma matéria publicada por uma revista de grande circulação nacional com alto teor crítico ao nosso funcionamento. Companheiros indignados com a matéria da referida revista ficaram exaltados. Queriam uma resposta à altura prontamente.

Um dos nossos maiores amigos e colaboradores de A.A. aqui no Brasil, Dr. Viotti, primeiro Presidente da JUNAAB, sugeriu, a princípio, invocar a postura dos cofundadores de A.A., quando nos primórdios da Irmandade convocados pelos companheiros inconformados com a manifestação da imprensa desfavorável à Irmandade e exigindo uma resposta, sugeriram eles, Bill e Bob, que deveriam antes reavaliar a atuação de cada um dos companheiros no sentido de verificar alguma falha e corrigi-las, assegurando resultados mais consistentes com o programa de recuperação e, em especial, com o exercício do Décimo Segundo Passo.

E continua, para nós esta é a hora de exercitar a humildade, cortando a cabeça do amor próprio, não polemizando, mas sim provocando uma honesta avaliação da nossa atuação enquanto membro de A.A.. Há males que vem para bem! Não devemos nos esquecer que somos assistidos pelo Poder Superior. Acredito que amigos de A.A. irão se manifestar favoravelmente à nossa Irmandade, mostrando que esse A.A. retratado na reportagem, não é o A.A. que conhecem e que tem salvado inúmeras vidas por esse mundo afora e que tem servido de paradigma para tantos outros programas que visam a recuperação do ser humano, utilizando os Doze Passos.

Serenidade é a palavra de ordem neste momento. Confiantes na Junta de Custódios, que saberá se posicionar com firmeza e sabedoria, procuremos acalmar os ânimos de companheiros inconformados e os mais exaltados.

A nossa Junta de Custódios à época sabiamente silenciou e não entrou em controvérsia pública. E com essa atitude foi mais uma vez confirmada a eficiência da prática das Tradições, no caso específico a Décima Tradição.

Críticas como a citada acima sempre acontecerão e cabe a nós membros de A.A. tirar o melhor proveito delas, afinal aqueles que nos criticam são os nossos melhores professores. Se eles estiverem certos, fazemos uma reflexão profunda, admitimos as nossas falhas, as corrigimos e seguimos adiante. Se eles estiverem errados, podemos tenta-los persuadi-los, mas se nada conseguirmos, nos afastamos serenamente.

Sempre estaremos sujeitos às críticas e se tivermos em mente o espírito da Décima Tradição saberemos tranquilamente como lidar com elas e transformá-las em algo positivo para nós.

Como citado em artigos da nossa literatura, mais precisamente no texto da Décima Tradição: “desde que A.A. começou nunca foi dividido por uma polêmica de maior importância. Nossa Irmandade nunca tomou publicamente partido em qualquer questão nesse mundo um tanto conturbado. Não se trata de uma virtude duramente conquistada. Nascemos com ela. Como não discutimos acaloradamente sobre religião, política ou qualquer tipo de reforma internamente, com certeza não discutiremos em público”.

Como por instinto, sabemos desde o princípio que não importa qual seja a provocação, nunca devemos publicamente tomar partido, como A.A., em qualquer disputa, ainda que seja muito digna. Vale enfatizar que essa aversão pela luta de uns com os outros ou com quem quer que seja não é considerada uma excepcional virtude, em razão da qual nos sentimos superiores às outras pessoas.

Nem significa que os membros de A.A., agora reintegrados ao mundo, vão deixar de cumprir suas responsabilidades para agir como bem entenderem com relação aos problemas. Mas quando se refere a A.A. como um todo, isso é outro assunto. Como A.A.’s não entramos em controvérsias públicas porque sabemos que a sobrevivência e a expansão de A.A. são mais importantes do que qualquer valor que possamos todos juntos dar a quaisquer causas. Recuperação do alcoolismo é para nós a própria vida e desejamos preservar com toda a força nossos meios de sobrevivência.

Talvez pareça que nós alcoólicos, agora em A.A., nos tornamos de repente pessoas pacíficas e nos transformamos em uma grande família. Claro que não é assim. Somos seres humanos e também discutimos. Muitas vezes dirigimos ataques amargos a pessoas de intenções duvidosas e às vezes até mesmo membros mais antigos se tornam fariseus e mal humorados, mas sempre por um breve espaço de tempo. Entramos em controvérsia pela aplicação do dinheiro para a nossa sobrevivência e como consegui-lo, sobre autonomia de grupo, anonimato, etc. Entretanto, nossas desavenças internas nunca causaram nenhum mal para o A.A., aliás elas funcionaram como um aprendizado importante para nós individualmente e estavam e estão ligadas ao fato de como tornar A.A. mais eficiente, como fazer melhor para um maior número de alcoólicos.

A Sociedade Washingtoniana, um movimento entre alcoólicos iniciado nos EUA meados do século XIX, quase descobriu a resposta para o alcoolismo e o seu fracasso se deveu principalmente à controvérsia pública. O crescimento deles estava a todo o vapor, milhares de recuperações. Tivessem eles permanecido no único objetivo, poderiam ter encontrado a resposta. Em vez disso, eles permitiram que os políticos e os reformadores, alcoólicos ou não, usassem a sociedade para seus próprios propósitos.

A abolição da escravidão, por exemplo, era uma agitada questão política da época da qual eles tomaram partido, que ela talvez até tivesse sobrevivido a esse movimento, mas sucumbiu quando resolveu reformar os hábitos de bebida da população. Desviando de seu propósito inicial, a sociedade perdeu a sua eficiência na ajuda aos alcoólicos e sofreu um colapso. A lição desse movimento não foi negligenciada por A.A.. Como tínhamos visto o fracasso desse movimento, decidimos manter nossa sociedade longe de controvérsia pública. Acredito que do fato narrado anteriormente deva ter nascido o princípio de A.A. de não entrar em controvérsia.

Que o Poder Superior multiplique as 24 horas de sobriedade de todos os companheiros e que saibamos evitar as controvérsias públicas. Obrigado!


Marcos P.
Belo Horizonte / BH

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