quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Mitos, costumes e tradições

MITOS, COSTUMES E TRADIÇÕES

Quando ingressei em A.A. aliás, quando me ingressaram, em 1980, a primeira informação que recebi foi: "Alcoólico Anônimos não precisa de dinheiro". Bastava colocar uns trocadinhos na sacola para cobrir as despesas do cafezinho e o restante era para fazer um agrado ao pároco da igreja que cedia a sala e, se sobrasse algum dinheiro, o mesmo era mandado para o escritório. Informaram-me também que o segredo de A.A. seria revelado na próxima reunião.

Com o decorrer das reuniões fui tomando conhecimento dos "segredos": "Eu não sou obrigado a nada em A.A.". "Em A.A. é proibido proibir", "Os Doze Passos são para quem quiser virar santo", "Em A.A. não se pede desculpas". "Primeiro EU, segundo EU e terceiro, também EU", etc.

Sendo eu, por natureza, um alcoólico preguiçoso e acomodado achei maravilhosa esta "filosofia". Eu me deliciava com os humoristas e com os campeonatos de cachaçal. Não me esqueço de um companheiro poeta que escreveu no quadro negro a seguinte preciosidade: Os bares estão cheios de corações vazios.

Posteriormente, após sucessivas recaídas, fui orientado por um padrinho sobre a importância dos Doze Passos e com sinceridade e franqueza ele me disse que talvez a minha dificuldade em permanecer sóbrio estivesse relacionada a não observância dos princípios sugeridos no programa de recuperação de A.A..

Comecei então a tentar compreender a praticar Os Passos e o pouco que consegui foi suficiente para expulsar a compulsão pelo álcool.

Interessei-me pela literatura de A.A. e, ao ler as Tradições percebi que muitas coisas que estávamos praticando e dizendo no grupo não estavam de acordo com o que estava escrito.

A.A. precisava de dinheiro para manter funcionando sua estrutura local, nacional e mundial e para alavancar a transmissão da mensagem (CTO e 5ª Tradição).

Os Passos são para crescimento espiritual e não para santidade; eu preciso me obrigar a seguir os princípios se quiser obter êxito; perdão é ato de grandeza, dentro e fora de A.A.. Eu, Eu e Eu constituem na realidade o cúmulo do egocentrismo, mas o que me chamou mais a atenção foram a cerimônia de ingresso, contrariando frontalmente a 3ª Tradição, que desde o ano de 1946 sugeriu a abolição de tal procedimento.

Acredito que essas distorções não aconteceram por má fé.

A.A. chegou ao Brasil em 1947. O primeiro livro oficialmente aditado em português, o Livro Azul, só foi lançado em novembro de 1969. As Tradições chegaram a nós na década de 70. Durante mais de 22 anos a Irmandade cresceu e expandiu para todas as regiões do Brasil sem apoio da literatura criando assim, oportunidade para a proliferação de costumes estranhos aos Três Legados.

Alguns costumes estão tão arraigados que permanecem até hoje, em muitos grupos, como se fossem mitos intocáveis.

Em A.A. não há lugar para mitos ou misticismos. Temos uma grande dívida de gratidão para com os pioneiros que com muita garra e determinação mantiveram A.A. funcionando até os nossos dias, mas temos que ser gratos também aos co-fundadores que deixaram para nós os Legados.

E a melhor forma de manifestarmos nossa gratidão é cumprindo fielmente os preceitos da Irmandade.

Raposo/DF

Vivência nº 106 – Mar./Abr. – 2007

Nenhum comentário:

Postar um comentário