domingo, 16 de outubro de 2011

"Aos Empregadores"

"Aos Empregadores"

Entre os diversos empregadores que conhecemos atualmente lembramos de um companheiro que passou muito tempo de sua no mundo dos grandes negócios. Ele contratou e despediu centenas de homens. Conhece o alcoólico do ponto de vista do empregador. Suas opiniões atuais devem ser de extrema utilidade para os homens de negócios de todo mundo.

Mas deixemos que ele mesmo fale: - Em determinada época, fui assistente do diretor de uma empresa com seis mil e seiscentos funcionários. Um dia, minha secretária me avisou de que o Sr. B. ao insistia em falar comigo. Eu o havia avisando diversas vezes que aquela seria sua última chance.

Pouco tempo depois, ele me telefonou da cidade de Hartford em dois dias seguidos, tão bêbado que mal conseguia falar. Eu lhe disse que estava demitido - finalmente e para sempre. Minha secretária voltou à sala para me dizer que não era o Sr. B. ao telefone, era o irmão do Sr. B. e queria me transmitir um recado. Eu esperava outro pedido de perdão, mas estas foram as palavras que ouvi: - "Eu só queria lhe dizer que B. pulou da janela de um hotel em Harford, no sábado passado. Ele nos deixou um bilhete dizendo que o senhor foi o melhor patrão que ele já teve e que por motivo algum deveríamos achar que o senhor fosse responsável pelo que ele fez." Em outra ocasião, ao abrir uma carta que havia sobre a minha mesa, um recorte de jornal caiu de dentro dela. Era o aviso fúnebre de um dos melhores vendedores que eu já tivera. Depois de beber durante duas semanas, ele havia apertado o gatilho de uma espingarda carregada - o cano estava em sua boca. Eu o havia demitido seis semanas antes, por beber demais.

Uma outra experiência: Uma voz de mulher, muito fraca, me chegou através de um interurbano vindo do estado de Virgínia. Queria saber se o seguro de vida de seu marido pago pela empresa ainda estava em vigor. Quatro dias antes, ele havia se enforcado. Eu fora obrigado a demiti-lo por beber de mais, embora fosse brilhante, eficiente e um dos melhores administradores que já

conheci.

Estes foram três homens excepcionais que o mundo perdeu porque eu não compreendia o alcoolismo como compreendo hoje.

Que Ironia! Eu me tornei um alcoólico!

E, não fosse pela intervenção de uma criatura compreensiva, poderia ter seguido os passos dos três. Minha ruína custou milhares de dólares à comunidade comercial, pois custa muito caro o treinamento de um homem para um cargo de executivo. Este tipo de desperdício continua a existir.

Acreditamos que o mundo dos negócios enfrenta um problema que poderia ser evitado através de um melhor conhecimento de causa. Praticamente todos os modernos empregadores sentem-se moralmente responsáveis pelo bem-estar de sues funcionários e tentem assumir tal responsabilidade. É fácil compreender porque nem sempre o fazem em relação aos alcoólicos. Para eles, o alcoolismo parece muitas vezes um complemento idiota.

Devido a competência especial do empregado, ou dos fortes laços de amizade pessoal existente entre eles, o empregador conserva em sua equipe um homem nestas condições, por um tempo bastante razoável. Alguns empregadores já tentaram todas as soluções conhecidas. Em raros casos tem havido falta de paciência ou tolerância. E nós, que enganamos os melhores patrões, não podemos culpá-los caso nos tratem com severidade.

Eis, aliás, um exemplo típico: o diretor de um dos maiores bancos americanos sabe que não bebo mais. Um dia, ele conversou comigo a respeito de um executivo do mesmo banco que, a julgar pelo que me descreveu, era sem duvida um alcoólico. Pareceu-me uma boa oportunidade de ser útil e, portanto, passei duas horas falando sobre alcoolismo, a doença, e descrevendo os

sintomas e as conseqüências da melhor forma que pude.

Seu comentário foi: - "muito interessante, mas tenho a certeza de que este homem não vai mais beber. Ele acaba de voltar de uma ausência de três meses, fez um tratamento, parece bem e para encerrar o assunto, os diretores lhe disseram que esta é sua última chance." Sublinhe o fato de que eu não havia bebido nos últimos três anos, mesmo estamos enfrentando dificuldades que fariam com que nove entre dez homens bebessem até cair. Por que não lhe dar, pelo menos, uma oportunidade de ouvir a minha história? - "Ah, não", disse meu amigo. "Ou este camarada para de beber ou fica sem emprego. Se ele tiver a sua força vontade e a sua coragem, fará o que é certo." Tive vontade de erguer os braços em sinal de desânimo, pois percebi que falhara em minha tentativa de fazer com que meu amigo banqueiro compreendesse o problema.

Ele, simplesmente, não conseguia acreditar que seu colega executivo sofria de uma doença grave. Nada mais podia fazer, alem de esperar. Pouco tempo depois, o homem teve uma recaída e foi demitido. Depois disto, entramos em contato com ele. Sem maiores problemas ele aceitou os princípios e as atitudes que nos haviam ajudado. Está, sem dúvida, a caminho da recuperação.

Para mim, esta história ilustra a falta de compreensão quanto ao que realmente aflige o alcoólico e a falta de conhecimento a respeito do papel que os empregadores poderiam desempenhar na recuperação de seus funcionários doentes. Ao lidar com um alcoólico, pode haver uma irritação natural. Como pode um homem ser tão fraco, estúpido e irresponsável?

Mesmo conhecendo melhor a doença, este sentimento pode aflorar. Observar o alcoólico que trabalha em sua empresa pode ser esclarecedor. Não é ele, em geral, brilhante, de raciocínio rápido, criativo e agradável? Quando sóbrio, não trabalha duro e tem jeito para conseguir que tudo seja feito?

Se ele tivesse estas qualidades e não bebesse, não valeria a pena conserva-lo? Mereceria a mesma consideração que outros empregados enfermos? Vale a pena recupera-lo? Talvez você tenha tal homem em mente. Ele quer parar de beber e você quer ajudá-lo, ainda que apenas para fazer um bom negócio.

Agora você conhece mais a respeito do alcoolismo. Pode compreender que seu empregado está mental e fisicamente doente. Está disposto a deixar passar seu comportamento anterior. Imagine que uma abordagem seja feita mais ou menos assim: - Diga-lhe que sabe o quanto ele bebe e que aquilo precisa acabar. Você pode dizer que aprecia sua capacidade, que gostaria de conservá-lo na empresa, mas que não poderá fazê-lo se ele continuar a beber. Uma posição firme, neste sentido, já ajudou muitos de nós.

(Fonte: Trechos do livro: Alcoólicos Anônimos)

Vivência nº111 - Jan/Fev/2008.

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