terça-feira, 18 de outubro de 2011

Por que Deus diz não?

Por que Deus diz não?

Para a maioria de nós, a primeira vez que realmente percebemos a ajuda potente, tremenda e continuada de um Poder Superior, foi quando nos demos conta de que algo além de nós mesmos estava nos libertando daquela compulsão frustrante e intrigante de beber. Quando apareceram os primeiros resultados concretos, começamos a respeitar o lado proveitoso de uma vida espiritual. Mais tarde, compreendemos que a ajuda de Deus não estava confinada aos nossos problemas com bebida mas penetrava todas as atividades de nossa vida. E aí começa, para alguns, um certo tipo de problema.

Como conseguimos, de uma maneira ou de outra, resposta imediata para nosso problema com bebida, concluímos que deveríamos obter, também, respostas rápidas para tudo mais que nos esteja perturbando no momento. Aprendemos que, para Deus, tudo é possível. Daí concluímos: não devemos ser perturbados e desapontados em nada.

Assim rezamos por ajuda e o rol de nossos pedidos pode chegar a ser tão longo como a lista de encomendas de uma criança a Papai Noel. Mas Deus não nos atende e assim ficamos desapontados.

Nosso grilo aumenta quando notamos que outros obtêm aquilo que desejamos e nós não. Pior ainda. Estamos vendo, por outro lado, gente sem qualquer base espiritual usufruindo uma onda de sucesso, situação que nos leva a becos sem saídas de autopiedade e inveja, com a sensação de que Deus nos enganou.

Perguntamo-nos ao Poder Superior, que parece não atender, se, afinal, não estamos tentando levar uma vida direita? Estamos fazendo tudo para nos tornarmos corretos, bondosos, corteses, prestativos e honestos. As boas coisas, então, não deveriam vir para nosso lado, até mesmo as coisas materiais? Estamos evitando convenientemente a admissão de tentar levar uma vida direita, tão-somente porque o álcool nos pegou, nos atirou na sarjeta, sem outra alternativa a não ser o A.A.? Pode ser que tenhamos sido seduzidos por alguma literatura presentemente em voga, contendo aquelas estórias maravilhosas de como incontáveis problemas foram resolvidos pelo simples expediente de passar alguns minutos diariamente em prece e meditação.

Não deveríamos, em primeiro lugar, considerar o verdadeiro sentido dos passos Três e Onze? Com estes Passos, nos entregamos à vontade de Deus, qualquer que seja, independentemente das conseqüências.

Nossos planos podem aparentar certo valor, nossos desejos imediatos podem ser modestos, mas, mesmo assim, podem entrar em conflito com os planos de Deus. A estratégia Dele pode ser no sentido de que a vitória final dependa de perder e não ganhar batalhas ao longo do caminho. A decepção de hoje, vista daqui a seis meses, pode revelar-se como melhor golpe de sorte. E, no devido tempo, nossa grata retrospectiva deixará perceber os caminhos da infalível previdência de Deus.

A história do inicio de A.A. ofecere algumas boas e objetivas lições de como este principio funciona. Certa época, Bill e mais alguns pioneiros resolveram solicitar contribuições a pessoas em situação financeira folgada, para o movimento ainda em lutas do começo. Quando nada arrecadaram, certamente, devem ter pensado que Deus tinha se esquecido das necessidades do grupo em formação. Como mais tarde ficou comprovado, esta experiência nos ensinou o principio da auto-suficiência. Certamente foi uma das maneiras de Ele fazer milagres.

Vejamos o exemplo dos negócios mal-sucedidos de Bill em Akron pouco antes de encontrar-se com o Dr. Bob. Por que Deus haveria de infligir uma derrota assim, especialmente a um homem conhecedor de desastres consecutivos e que estava fazendo tudo ao seu alcance para levar novo tipo de vida? Mas Deus o permitiu e, procurando uma saída daquele atoleiro, Bill armou-se de seus recursos espirituais com aquela técnica restauradora da alma: ajudar aos outros. Hoje, nós, os beneficiados pelo poder redentor de A.A., podemos ver que a aparente adversidade foi, na realidade, a mão de Deus moldando e dando vida a um movimento magnífico.

Mas façamos de conta, somente a titulo de ilustração, que Deus nos desse resposta imediata, concordasse plenamente com nossos desejos, entregasse-nos uma espécie de cheque em branco para fazer ou conseguir tudo o que quiséssemos. Sair-nos-íamos bem com um negócio assim? Uma vez que o egoísmo é defeito característico do alcoólico e a maioria de nós é perita em aproveitar pessoas e circunstancias a fim de puxar brasa para a nossa sardinha, não faríamos a mesma coisa com Deus? Iríamos bombardeá-Lo com pedidos sem fim, dos ganhos materiais ao controle ditatorial da vida dos outros. Uma vez que somos uma raça impaciente, usaríamos a ajuda Dele para tirar todo mundo de nosso caminho, afirmando, ao mesmo tempo, com a cara mais lisa, estarmos apenas recebendo o que nos é devido. Iríamos gabar-nos dos sucessos nos negócios, das conquistas galantes, do prestigio e de outras vantagens, pensando bem pouco na implícita e desagradável idéia de que nossos ganhos podem ser perdas para outros.

Sim, manipularíamos Deus como crianças estragadas, pedindo tudo aos pais tolos e indulgentes.

Mas Deus não é tolo nem indulgente e possui a sabedoria para dizer NÃO. Suas respostas são sempre para o nosso bem. Nada disso significa, que Deus responderá sempre com um NÃO. Todos conhecemos numerosas ocasiões, quando a resposta foi um SIM imediato. Mas estes pedidos foram atendidos porque estavam certos e, sem dúvida, foram feitos no espírito de humildade e sem egoísmo.

Alguns companheiros de A.A. parecem conseguir uma harmonia belíssima quase imediata quando se entregam à vontade de Deus. Desenvolvem uma visão espiritual tão profunda que obtêm respostas a quase todas as suas preces. Admiramos a serenidade e sabedoria deles mas continuamos tentando manobrar Deus para que Ele faça as coisas à nossa maneira.

Examinando o curso de nossas vidas, descobrimos a sabedoria infinita de Deus no passado e, talvez aí, também, começamos a compreender verdadeiramente porque Ele, algumas vezes, teve que responder NÃO.

(fonte: Grapevine)

VIVÊNCIA N°. 17 - Julho / setembro / 1991

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