sábado, 2 de julho de 2011

A força nascendo da fraqueza


A força nascendo da fraqueza

Pode-se perceber, com nitidez, que nos tempos atuais a tecnologia que desponta se apresenta como uma nova divindade. Uma tecnologia fascinante que aproxima pessoas e eventos distantes, mas que por vezes separa aqueles que estão próximos. Um paradoxo contemporâneo que já nos habituamos como um reflexo da modernidade ou como algo muito normal.

Cada vez mais as máquinas se tornam interativas e o contato pessoal mais distante. O perverso e doentio desta nova ideologia é que somos levados a aceitar como naturais e verdadeiros os valores que estão nos objetos externos.

Observamos que dentro do atual espírito consumista os remédios compensam qualquer dificuldade, as drogas e o álcool substituem o contato e o conforto humano. Pois é justamente o contato interpessoal, esta relação intersubjetiva, que se constitui, em Alcoólicos Anônimos a base de nossa recuperação.

Pode-se, em principio, ter a impressão que a nossa Irmandade está na contramão da história, quando na realidade é a sociedade atual que se encontra na contramão do bom senso e da sanidade. A nossa época já foi definida por um historiador como a “Era do Narcisismo”. Uma sociedade de pessoas egocêntricas e solitárias.

Na minha vida o alcoolismo se tornou um mergulho para dentro de mim mesmo, não com o sentido de reflexão e autoconhecimento, mas com a característica de isolamento e solidão.

Eu me sentia em constante contraste com a sociedade de um modo geral. Era antes de tudo um solitário limitado pelas minhas próprias contradições. Tinha uma personalidade em constante conflito comigo mesmo e com o outro e desta forma o álcool se tornou um anestésico para camuflar esta realidade e uma muleta para compensar minhas inadequações.

Havia me tornado um ser atormentado por desejos ardentes e tristes pesares. Sentia, diante da vida, uma fraqueza, sem força para me reerguer.

Meu ingresso em Alcoólicos Anônimos possibilitou- me verdadeira transformação na situação em que me encontrava. Da fraqueza nasceu a força que tanto necessitava através do acolhimento e carinho tão característicos em quaisquer grupos de A.A., os quais me encantaram desde o primeiro momento.

Percebi que se tratava de uma Irmandade muito especial. Um grupo com um propósito comum no qual aprendi a conviver com o outro. A conviver com as diferenças. As diferenças que caracterizam uma sociedade verdadeiramente democrática. Convivemos com diferentes pessoas respeitando os seus respectivos valores e suas maneiras próprias de encarar a vida.

Em A.A. temos a oportunidade de conhecer pessoas diversas, com personalidades distintas, com experiências alcoólicas bastante pessoais, mas que almejam um único objetivo comum: a libertação de servidão que o alcoolismo impõe.

Como Dr. Bob ressaltou: “O álcool é um grande nivelador de pessoas e A.A. também.” Nossa quinta tradição estabelece que A.A. tem um único propósito primordial o de transmitir sua mensagem ao alcoólico que ainda sofre.

Bill declara em um artigo de 1946: “O primeiro registro por escrito da experiência de A.A. foi o livro Alcoólicos Anônimos, que abordou o âmago do nosso maior problema a libertação da obsessão pelo álcool”.
A questão que se põe, no entanto é: - qual é a função primordial do hábito de beber de forma obsessiva?
Antes de obter o prazer, a finalidade principal é a de evitar em pensar e a de evitar o sofrimento. O Alcoolismo é então uma tentativa de não sentir a dor existencial. É uma negação da própria condição humana.

É compreensível, portanto que o alcoólico ao negar, em principio, seu próprio alcoolismo expresse, de forma subjacente, uma fragilidade e um temor ao sofrimento, um sofrimento que no meu caso antecedeu o hábito de beber. Percebendo este quadro senti a necessidade de entrar em ação para reverter aquele ciclo vicioso. Precisava adquirir uma força partindo da minha própria fraqueza.

De inicio uma noção da realidade: a consciência da impotência diante da obsessão pelo álcool e a aceitação de que apesar de ser uma doença incurável é perfeitamente tratável, podendo, portanto ficar inteiramente sob controle.

E assim, a partir do Primeiro Passo, adquiri a força necessária seguindo as sugestões do mesmo.

Vivo o presente dentro do plano pessoal faço uma releitura do passado tentando tirar o melhor proveito das circunstâncias, ainda que adversas.

Esta atitude permite nortear a minha ação em uma base segura para o futuro.

Enfim, passado, presente e futuro podem ser vivenciados dentro do plano das 24 horas. É um plano simples e singelo, mas que funciona.

Como sempre é enfatizado em nossas reuniões: “Basta fazer certo que dá certo”.

Richard/Rio de Janeiro/R.J.

Vivência nº111 – Janeiro/Fevereiro/ 2008.

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