sexta-feira, 8 de julho de 2011

“Eu sou responsável”


“Eu sou responsável”

Dr. Laís Marques da Silva
Ex-Custódio e Ex-Presidente da JUNAAB

Mais de 44.000 membros de A.A. celebram a sobriedade na Convenção Internacional realizada em Toronto, de 1 a 3 de julho de 2005.

Em Toronto, no Canadá, em 4 de julho de 1965, no Maple Leaf Graten, 10.000 membros de A.A., amigos e familiares, deram-se as mãos e se uniram ao cofundador Bill W. e Lois, sua esposa, para declarar, pela primeira vez: “Eu sou responsável. Quando qualquer um, em qualquer lugar, estenda a sua mão pedindo ajuda, quero que a mão de A.A. sempre esteja ali. E por isso: eu sou responsável.”

Quarenta anos depois, mais de 44.000 membros de A.A. se reuniram novamente em Toronto para celebrar o 70º aniversário de A.A. com o lema “Eu sou responsável”.
Box 459, vol.38, nº4/agosto-setembro de 2005

Costumamos dizer: é da sua responsabilidade. Aqui, o termo responsabilidade se refere a alguém ou alguma coisa pela qual alguém ou uma organização é responsável. É o nosso caso. Esta é a acepção, das existentes, que se ajusta às nossas circunstâncias. Ser responsável é ser capaz de responder.

 Responsabilidade é a obrigação de responder pelas próprias ações e pressupõe que as mesmas se apoiem em razões ou motivos, ou seja, a responsabilidade implica numa escolha e, ao mesmo tempo, numa decisão racional. Isto significa que a responsabilidade é o fundamento da liberdade. A liberdade pode ser física, civil, de expressão, etc. mas, filosoficamente, a liberdade moral está relacionada à capacidade humana de escolher e de decidir racionalmente os atos que se vai praticar. Assim, a liberdade implica que sejamos responsáveis antes do ato, ao decidirmos por uma escolha racional, conhecendo os motivos da nossa ação. Também implica em ter responsabilidade durante a prática do ato, ou seja, pela forma na qual atuamos e ainda depois do ato, ao assumir as consequências decorrentes da ação praticada. Essa avaliação mais ampla do que se deve entender por responsabilidade é importante porque a ética, a moral e a responsabilidade determinam a perfeição das nossas ações, do nosso modo de ser.

 Estamos habituados a entender responsabilidade como sendo uma atitude que se tem em relação a instituições, a chefes de serviços, a patrões, enfim, a superiores hierárquicos ou não, o que deixa uma ideia de verticalidade, algo que é voltado para cima. Mas, no nosso caso, a responsabilidade tem um componente espiritual muito valioso pois que ela coloca o membro de A.A. na condição de responsável em relação àqueles que ainda sofrem no alcoolismo. Responsabilidade em relação a seres humanos que estão sendo batidos pelo alcoolismo, mas de quem não se conhece a face. Sendo horizontal e dirigida a quem não se conhece, a responsabilidade traduz-se num ato de amor ao próximo e que se estende a um número elevado de dependentes. Além de ser horizontal e também um ato amoroso, é uma atitude mental abrangente, ampla, alargada até os limites do amor ao próximo. Ou seja, a responsabilidade em A.A. é ato que enobrece cada membro que a assume. No nosso caso, a responsabilidade não só tem características muito peculiares mas engrandece a quem a assume.

A declaração de responsabilidade é um chamado para uma transcendência, para um ir além de si mesmo, em que o dom de cada um não se vê limitado a familiares próximos e a amigos mas traduz uma atitude de solidariedade que vai além de vinculações comunitárias, religiosas, étnicas ou nacionais. É um chamado para uma forma de solidariedade mais ampla. A declaração de responsabilidade, nessa visão, ganha a dimensão de ato de amor ao próximo. A declaração clama para uma expansão ilimitada do dom de si, pois que ela se dirige àquele que ainda sofre nas garras do alcoolismo, não importando quem e onde, independente de laço privilegiado ou preestabelecido pela tradição. André Malraux, grande escritor de assuntos culturais e políticos francês, falou “sobre a possibilidade de um acontecimento espiritual em escala planetária”, o que poderá ocorrer no século em que vivemos. Então, que comece por nós.

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