sábado, 23 de julho de 2011

Alcoolismo na Adolescência

Alcoolismo na Adolescência

Lucimar de Oliveira - Psicóloga Clínica
Centro de Recuperação de Farmacodependências - Embu/SP



Sabemos que o álcool sempre faz parte da nossa sociedade. As pessoas, além de beber em situações associadas à diversão (para ter relaxamento e descontração), também bebem em momentos de tristeza (para amenizar a dor e o sofrimento). Tendo em vista essa cultura, percebemos que as crianças crescem observando e muitas vezes bebericando em tais comemorações regadas a álcool.

Então pergunto:
. Por que não beber quando chegar à adolescência?
. Por que não lidar com as emoções com este recurso aprendido desde a mais tenra infância?

. O que quero dizer é que nenhum jovem começa a beber para se tornar alcoólico e sim porque aprendeu a beber em sua própria cultura. Mas por que será que o alcoolismo acontece?
. Alcoolismo é uma doença que atinge cerca de 10% da população, é incurável e de terminação fatal. Mas quais são os jovens que vão desenvolver a doença do alcoolismo?

Muitos acreditam que os alcoólicos são aqueles que com poucas doses ficam embriagados e que aqueles que agüentam beber muito, sem ficar aparentemente bêbados, são aqueles que "sabem" e que "podem" beber.

Este é um grande e perigoso engano, pois quanto mais um jovem consegue beber sem aparentar-se embriagado, mais perigo ele corre (por exemplo: em um grupo de jovens onde todos estão bebendo, aquele que exagera na dose, mas ainda consegue manter-se em pé e ajudar os outros é o principal suspeito de ser alcoólico), isso significa que ele tem tolerância.

Na doença do alcoolismo, tolerância quer dizer que o organismo suporta, ou seja, tolera muita quantidade de álcool.

O jovem bebe muito e fica sem gaguejar, sem perder o equilíbrio, sem ficar tonto e sem ter ressacas; em resumo, sem ficar aparentemente bêbado.

Esse é o estágio inicial do alcoolismo: o jovem ingere maior quantidade que os outros, aparentemente não fica embriagado e desfruta mais dos benefícios do álcool, do efeito de euforia e estimulante (sente-se mais desinibido, bonito, atraente, inteligente), e por acreditar que sabe beber e que não terá problemas graves.
Pensando dessa forma continuará bebendo, começando assim a adaptação do álcool no organismo.

A adaptação é um instrumento de sobrevivência do organismo que ajuda o corpo a suportar mudanças estressantes, pois quando se bebe muito o organismo tem que trabalhar duro para eliminar a grande quantidade de álcool ingerida. As células então se alteram em suas estruturas (adaptando-se ao álcool), e acabam usando-o como fonte de energia. Por esse motivo, nessa fase, o jovem começa a se sentir mal sem o álcool, sente-se desanimado e sem energia para suas atividades diárias. A adaptação acontece principalmente no fígado e no sistema nervoso central. Ocorre rapidamente em semanas ou meses após o primeiro drinque.

O jovem pode tornar-se claramente dependente.

Repito:
O alcoolismo é uma doença progressiva, crônica, e se não for tratada com o passar do tempo, agrava-se e pode levar à loucura ou à morte prematura.

Num segundo estágio, o alcoolismo traz muitos problemas ao jovem, tais como no relacionamento com familiares, amigos e namorados (as); na escola, sua atenção e rendimento cai consideravelmente; seu estado de humor fica alterado, oscilando várias vezes durante o dia, começa a se envolver em encrencas, brigas constantes, batidas de automóveis; pode isolar-se com certa frequência; faltar a compromissos de responsabilidade; pode perder o interesse sexual; tem necessidade de beber em horários determinados, passa a beber em locais onde ninguém o conhece, para que ninguém fiscalize; começa a ficar nervoso, agitado e deprimido, não consegue parar dentro de casa, e não fica por muito tempo em lugar nenhum a não ser que esteja bebendo; perde a fome ou come com irregularidade.

Podemos dizer que essa doença é a doença da negação; existe uma falta de percepção da realidade e o jovem nega a todo preço que tenha problemas com o álcool, mas na realidade o seu organismo não consegue mais funcionar de forma adequada sem a substância. O alcoólico desenvolve uma barreira protetora psicológica que reforça a negação. Desta forma o jovem não percebe que o seu beber está lhe causando tantos problemas e que bebe cada vez mais para esquecer ou fugir do mal estar e das confusões.

Essa barreira protetora psicológica consiste nas seguintes defesas:

Racionalização:
O jovem usa toda a sua inteligência para convencer as pessoas de que ele pode beber (bebo somente no final de semana, só à noite, não misturo bebidas, etc.).

Justificativas:
O jovem inventa mil desculpas para poder beber (um amor que não deu certo, a aula que estava péssima, que precisa relaxar, o dia que está quente, que está frio, etc.).

Projeção:
Quando alguém lhe diz que está com problemas, ele aponta para os problemas dos outros (se falta em uma aula para ficar bebendo, diz que o professor é incompetente, não sabe dar aulas), que o mundo é que não presta, etc.

Mentiras:
Desmarca compromissos de responsabilidade para poder beber, inventa histórias, mente o tempo todo.

Minimização:
Começa a miniminizar a quantidade que bebe e as conseqüências do seu beber. Se ele se atrasar, diz que foi só um pouquinho.

Atenção seletiva:
Desfocaliza o tempo todo, aponta os problemas dos outros para não falarem do seu (chega em casa e diz que a comida está péssima e fica insistindo nisso sem dar a oportunidade para ninguém reclamar dele).

Essa barreira psicológica vai se cristalizando com o tempo e cada vez fica mais difícil o jovem enxergar que o álcool está lhe trazendo tantos problemas, impedindo-o de resolver os problemas do dia a dia, pois a barreira serve justamente para defender o uso.

Os alcoólicos costumam parar de beber por algum tempo e depois voltam. Para eles o grande problema não é parar, e sim continuar sem beber. Para o tratamento é preciso abstinência total, é preciso ajuda para quebrar a barreira psicológica que impede que eles vejam a realidade.

São instrumentos desse tratamento os grupos de ajuda mútua, como Alcoólicos Anônimos, e muitas vezes terapia com profissionais especializados.

É necessário trabalhar sua personalidade, corrigir defeitos de caráter para poder organizar sua vida. Enfatizamos que a doença não está na garrafa, e sim na pessoa que bebe e que depende muito da rendição e da boa vontade de cada um para viver sóbrio.

Fonte: Revista Vivência - Jan/Fev 2004

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