sábado, 11 de fevereiro de 2012

A dura tarefa de ser eu mesmo

A DURA TAREFA DE SER EU MESMO

"Estou inclinado a pensar que a chave mestra para uma boa e sólida sobriedade é a aceitação de dois fatos - não apenas que sou um alcoólico, mas também que eu sou eu, que tenho certas limitações, bem como certas habilidades com as quais tenho que trabalhar."
A Oração da Serenidade começa com o apelo a Deus, como nós O concebemos, para que Ele nos conceda a serenidade necessária para aceitarmos as coisas que não podemos modificar. No início eu aplicava somente em relação ao meu alcoolismo, esquecendo outros pontos. Mas muitas das experiências na sobriedade ensinaram-me a tentar aceitar outras partes de mim mesmo e não procurar ser o que eu não posso ser.
Lembro-me que, em meu primeiro ano na Irmandade, eu concordava com todo mundo, na expectativa de que eles viessem a gostar de mim. Se john era um republicano, eu apoiava seus pontos de vista. Com Ed, um democrata, eu me tornava democrata. Meu padrinho veio prontamente em meu socorro nesse sentido, fazendo-me entender que era importante que eu fosse eu mesmo, ao invés de falsificar minhas opiniões em busca de aprovação. Ele sugeriu que eu experimentasse, por um tempo, uma simples oração: "Deus, ajude-me a ser eu mesmo".
MInha vida mudou assim que comecei a tentar seguir o modo de vida de A.A. Percebi, através dos Passos, que meus horizontes foram, aos poucos, se expandindo. Eu podia deixar a segurança do meu grupo de origem e viajar, participando de reuniões de A.A. em outras áreas. Muito lentamente, eu cresci. Descobri que podia me casar novamente e ter filhos. Cresci, também, no mundo dos negócios ao deixar meu primeiro trabalho como motorista de táxi para assumir uma posição de responsabilidade em um aeroporto internacional, no qual eu era o encarregado do setor de manutenção.
Participando de A.A. e guiando-me pelos Doze Passos, descobri um novo eu. Levou tempo, um bocado de tempo. Foi um processo, muitas vezes doloroso, mas sempre compensador.
Foi então que passei por um acontecimento que colocou à prova a minha capacidade de aceitação, quase até o limite. Com os meus bem vividos trinta e oito anos e com sete de sobriedade contínua no meu placar, tive um enfarto. O ataque cardíaco quase me tirou a vida e a subseqüente recuperação foi muito demorada. Novamente as limitações me foram impostas. Por certo tempo, as ordens médicas restringiram minha participação nas reuniões de A.A. em apenas uma por semana. Além disso, eu ainda não podia correr o risco de falar nas reuniões abertas, ou ter uma participação muito atuante nos trabalhos do Décimo Segundo Passo. Ou seja, aquelas coisas das quais dependia a minha sobriedade foram tiradas de mim.
Muitos dos meus companheiros de A.A. haviam tido experiências similares, que exigiram mudanças em suas atividades dentro de A.A. , e suas experiências se constituíram em grande conforto para mim. Igualmente, o ocorrido deu-me a chance de pôr em prática os princípios dos quais ouvira falar nas reuniões temáticas sobre os Passos, ao longo de toda a minha vida em A.A. Estava impossibilitado de comparecer todas as noites às reuniões, como costumava fazer até então, para recarregar minhas baterias.
Descobri que as minhas maiores dificuldades de aceitação se encontravam nas minhas novas limitações relacionadas ao trabalho. Não demorou muito para que eu fosse remanejado da posição de responsabilidade que conseguira para o serviço de escritório. Minhas atividades físicas e mentais foram podadas drasticamente.
Urgentemente, precisei rever meus conceitos sobre aceitar as coisas que eu não podia modificar. No meu começo em A.A., servi-me intensamente da Oração da Serenidade, e agora, mais do que nunca, precisava servir-me dela novamente. Eu tive que voltar ao princípio e refazer ou retomar os Passos, para amoldá-los às minhas novas circunstâncias. Sabia que eu havia feito isso antes, como muitos outros que eu conheço o fizeram, mas, com o passar do tempo, a gente muda e todo o significado dos Passos, das Tradições e de tudo que é de A.A., precisa mudar dentro de nós mesmos, para manter-nos em nosso alegre caminho rumo à recuperação.

Primeiro, eu tive que parar de ficar ressentido com as mudanças que ocorreram em minha vida e aceitá-las como elas eram. Surpreendentemente, assim que fiz isso, muitas restrições se esvaíram.
Hoje, vivo a vida em toda a sua plenitude, dosando-a de forma equilibrada entre o A.A., o trabalho, e o lazer. Desfruto da convivência com minha família, com meus companheiros de A.A., e com os meus parceiros nos negócios, com muito mais entusiasmo do que fazia antes do ataque do coração.
E por fim, hoje eu gosto e preciso de A.A. muito mais do que naquele dia de outubro de 1964, quando eu nada tinha a perder e tudo a ganhar ao me juntar à Irmandade. Eu ainda tenho tudo a ganhar seguindo as pegadas dos meus companheiros de A.A. bem sucedidos. Por outro lado, sei que eu teria um enorme prejuízo se me afastasse da Irmandade.
Hoje, comparando a minha vida sóbria com aquela existência de bêbado, dou muito valor ao que consegui e pagaria qualquer preço para mantê-lo.
Best of the Grapevine
W.H.
(Vivência nº 44)

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