sábado, 24 de março de 2012

O Passo do milagre

O Passo do milagre
Eloy T.

Se, simplesmente, parássemos de beber sem fazer qualquer outra coisa em nosso favor, seria como nas inúmeras vezes que paramos anteriormente - por pouco tempo.

Parar de beber, em A.A., tem um significado mais amplo e implica, conseqüentemente, em maiores responsabilidades. Parar de beber em A.A. significa buscar os meios de não voltar a beber. Devemos repetir sempre o que disse Bill W.: "Não posso afirmar que jamais beberei, mas posso afirmar que não pretendo voltar a beber". Para tanto, é preciso que se opere em mim uma mudança. Mas, mudar o quê? Como posso saber o que mudar? Mudar o que está errado, é claro. Mas, o que está errado? Como saber as respostas para essas perguntas?

A resposta está no Quarto Passo. Preciso conhecer-me, e conhecer-me a fundo. Preciso seriamente rever o meu passado, examinar a minha conduta, estudar as minhas atitudes; preciso saber porque agia desta ou daquela maneira. Meu comportamento frente aos fatos da vida foram, constantemente, ditados por minhas virtudes e por meus defeitos. Portanto, todos os fatos e os atos são importantes e merecem ser longamente estudados à luz de demorada e repetida meditação. Devo dedicar ao Quarto Passo quantas horas forem necessárias: dias, ou semanas, talvez. Ele (o Quarto Passo) só terá atingido seu objetivo quando eu puder afirmar: "Agora eu me conheço; sei quem sou e porque o CRIADOR me colocou neste mundo e me deu esta vida". O Quarto Passo é o Passo do auto-conhecimento. É o destruidor da falsa imagem que projetei para minha própria satisfação. Agora sei quem sou e posso enfrentar a realidade.

Da mesma forma que o Quarto Passo nos assustou, o Quinto Passo também nos encherá de medos. Já não basta saber que não a pessoa boa que me acostumei a admirar? Terei, ainda, que mostrar aos outros, desvendar o segredo? Na verdade, os segredos que carrego comigo, por si, nenhuma importância têm, mas, se desvendados, revelarão quem verdadeiramente sou.

Mas, o Quinto Passo que Bill denominou: "O passo da reconciliação consigo mesmo", bem poderia chamar-se "O Passo do Milagre". Sim, do Milagre! No momento em que rompo as barreiras do medo, abro com outro o meu coração. No momento em que revelo a alguém a pessoa que sou, sem máscara ou disfarces, nesse mesmo momento, qual um milagre, tudo muda. Em um único segundo esvai-se o medo, desaparece a culpa que dá lugar ao perdão. Estou perdoado, e perdoado pelo simples propósito que tenho de mudar minha vida. Agora gosto de mim apesar de minha feiúra, de meus defeitos; esses defeitos que de agora em diante serão minha permanente preocupação. De fato, redimir-se do passado é organizar o presente com vistas ao futuro. Feito o Quinto Passo, posso afirmar: "Estou salvo". Agora parto em busca de uma vida melhor; do encontro com um irmão, parto à procura de outros irmãos; reconciliado comigo mesmo, irei me reconciliar com todos.
Destas afirmações conscientes, nasce a nova ótica da vida e do mundo, a alegria de viver. Nada mais tenho a temer, pois adquiri a capacidade de dar e receber.

(Vivência - Nov/Dez 95)

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