domingo, 27 de novembro de 2011

O " pode" e o" não pode" em A.A.


O " pode" e o" não pode" em A.A.

Dr. Laís Marques da Silva
Presidente da Junta de Serviços Gerais de A.A. do Brasil (em 1996)

Há um jogo de “pode”, “não pode” que é sintetizado magistralmente na Oração da Serenidade.

Os depoimentos feitos pelos alcoólicos nos grupos de A.A. freqüentemente mostram que o alcoólico na ativa procurava ter o controle absoluto sobre os seus sentimentos e sobre o seu ambiente. Bebiam para relaxar, para ficar “altos”, para ficar espirituosos, para abrandar a dor, para controlar-se. Mas as coisas não são assim e a verdade é que o ânimo depende das situações e até de pessoas que estão fora do nosso controle. Bebiam também para negar esta dependência.

Ao usar o álcool, procurava negar a limitação da vontade e da dependência e aí esta se tornava absoluta. Procuravam o controle ilimitado e a negação da dependência. Mas ser humano significa ser limitado e não há absolutos nem ilimitados no nosso poder.

O A.A. mostra que somos tanto parcialmente dependentes como capazes de ter um controle apenas parcial. Mostra também que a verdade é que o ser humano está sempre ajoelhado, a meio caminho de estar de pé e de estar deitado.

A Irmandade de A.A. sugere: “Levante-se com as suas pernas você pode fazer alguma coisa, mas não todas as coisas”. O A.A., por outro lado, modera a tendência para a grandiosidade dizendo: “Ajoelhe-se, você pode fazer alguma coisa, mas não todas as coisas”.

Há um jogo de “pode”, “não pode” que é sintetizado magistralmente na Oração da Serenidade: “Concedei-nos senhor a Serenidade para aceitar as coisas que não podemos modificar, coragem para modificar aquelas que podemos e sabedoria para distinguir umas das outras”. Ela retrata a condição humana em relação ao “pode”, “não pode” e mostra o caminho para esse reconhecimento, a partir do qual a paz e a serenidade de espírito são alcançadas.

O alcoólico ativo é uma pessoa que “tem” que beber, mas que “não pode” beber. Mais tarde, na abstinência, o alcoólico percebe que não abre mão da “liberdade de beber”, mas que ganha a “liberdade de beber” e compreende que o alcoólico não é uma pessoa “que não pode beber” mas sim uma pessoa que “pode não beber”. É preciso aceitar o paradoxo para poder apreciar a natureza humana e esse jogo do “pode”, não “pode”, de importância fundamental para alcançar a serenidade, ajuda a perceber e a compreender toda a dimensão de grandeza contida na Oração da Serenidade.

REVISTA VIVÊNCIA N°. 44 NOV/DEZ 1996.

Nenhum comentário:

Postar um comentário