quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Morre uma bêbada, nasce uma mulher


Morre uma bêbada, nasce uma mulher

Militei no alcoolismo durante seis anos. Neste seis anos, em minha vida, foi como se tivesse passado um furacão, destruindo tudo. A catástrofe foi total e aconteceram perdas irreparáveis: família,, dignidade, moral e credibilidade.

Ao olhar para trás, percebi encontrar-me numa encruzilhada sem saída. Com todas as portas fechadas, me vi só.
A semente já havia sido lançada e chegou a hora de desabrochar. Neste momento vi que teria de começar do zero. apesar de ter perdido tudo, agora estava tendo a maior oportunidade da vida. Agarrei-me a ela com um pouco de forças que ainda me restava. Dei-me a oportunidade de ser feliz, iniciando um programa de vida chamado A.A.

A partir daí passei a valorizar minha aparência.

Tornei-me uma pessoa gentil, feliz e livre.Deixei de ser uma mulher indiferente e aborrecida, tornando-me ativa e delicada.

Desapareceu o medo, o sentimento de inferioridade. Readquiri o meu espaço e minha vida tornou-se cheia de interêsses e de atividades.

Na sala de a.A., encontrei "calor humano" por estar com outras pessoas que tem o mesmo problemas. Uma atmosfera de amor.

Comecei a fazer uma reformulação de vida sugerida nos Doze Passos. Tudo começou a mudar. Olhei para dentro de mim e percebi que não sou normal.

Descobri ser portadora de uma doença tríplice que afeta o físico, a mente e o espírito. Passei a ter autonomia do Eu. Eliminei o comodismo, comecei a fazer parte da obra, ajudando nas atividades do Grupo.

Descobri que havia ferido muito àqueles que me rodeavam e comecei a reparar esses danos.

Quando estacionei meu alcoolismo, a primeira impressão que tive foi de que estava sóbria, mas com o tempo percebi que sobriedade não é apenas abster-se do álcool. Sobriedade é algo mais, é tentar mudar, caso contrário, corro o risco não só de voltar a beber, como também de perder a vida.

Minha sobriedade, agora, não é mais um favor que estou fazendo a mim mesma, é uma necessidade de vida. Necessito ficar sóbria para viver. Concluí que o álcool não é o elixir da vida, e sim, causa de sofrimentos, mortes, crimes, pobrezas, etc.

Às vezes, basta lutar e a luta é grande. Cavei um buraco muito fundo e agora terei que tampá-lo. com calma, aos poucos, vivendo um dia de cada vez.

Tornei-me frágil, pequena, diante do álcool e se não admitir isto, não me livrarei da obsessão do álcool; e é através do meu sofrimento, dos fantasmas do passado, que poderei alcançar a felicidade e a base para esta felicidade é a humildade.

Percebi que travei uma batalha com a garrafa e esta me derrotou.

Perdi o medo do ontem e do amanhã e comecei a viver o hoje em toda a sua plenitude. Descobri novas amizades, amizades verdadeiras e retomei o meu lugar na sociedade, lugar este que foi meu e que o álcool me tomou.

Através da recuperação passei a transformar os maus em bons momentos e os bons em ótimos. Descobri, acima
de tudo, que as reuniões de A.A., são o alimento para o meu Espírito, e que não poderei alterar os acontecimentos da vida. Não poderei mudar as outras pessoas, nem seus pensamentos, atitudes, gênios e personalidades. Poderei mudar somente a mim mesma, e isto me basta. Hoje tenho plena certeza: sou a pessoa mais importante e feliz deste mundo. aos poucos desapareceram os problemas de hipertensão, insônia, tremores, apatia sexual, nervosismo, depressão, desajuste familiar e má conduta.

Passei novamente a ser amada pelo meu marido. admirada pelos filhos e reconhecida profissionalmente.

Minha sobriedade hoje é tudo o que tenho na vida, pois somente ela me devolveu a alegria de viver, a paz e a harmonia. Minha sobriedade vale peso de ouro, pois ela me devolveu a vida.

Naquele dia em que atravessei as portas de Alcoólicos Anônimos, morreu uma bêbada e nasceu uma mulher.

Revista Vivência nº 25

Nenhum comentário:

Postar um comentário