terça-feira, 29 de novembro de 2011

Gere beleza em sua vida


Gere beleza em sua vida

Foi muito proveitoso para minha jornada interior, fazer meu ambiente pessoal o mais para cima possível.
Examinei bem as coisas que me cercavam, tanto em casa como na obra.
Conclui que vivi meses e anos sem notar, ao menos em um nível consciente, se coisas ou pessoas decididamente me agradavam ou não. Vivia por viver, só respeitava, no máximo, a minha doença, e olhe lá.
Depois de alguns desencontros e desenganos, tomei as medidas necessárias para tornar os dois ambientes onde vivo o maior tempo possível, mais inspiradores, belos e libertadores do mundo, e isso foi muito bom para meu espírito.
Descobri que todo sentimento de culpa e ansiedade que estão por trás da minha compulsão , têm causas psicológicas profundas. Se foi difícil para mim perceber isso, claro que o foi também para meus companheiros de Irmandade.
Aí passei a aceitá-los melhor.
Voltando à infância, foi lá que desenvolvi minha compreensão do mundo,a partir de dois sentimentos iniciais: desconforto e prazer.
Desconforto quando chorava, ora por insatisfação, ora quando percebia que os adultos, até então super poderosos, ficavam de certa forma dependentes de mim. Aí eu comandava o jogo e eles se submetiam à armadilha neurótica. Esperavam vir: a fome, a dor ou outra necessidade qualquer, era legal, eu tinha o poder. O prazer veio depois, primeiro com meu próprio corpo e mais tarde com os outros.
Não sei se por masoquismo ou onipotência, expressava meus conflitos, isso já bem mais longe, creio que na adolescência, em rituais obsessivos:beber, destruir-me, errar, repetir os mesmos erros...
Como disputei atenções com todos, pois eles eram os donos das situações privilegiadas, vieram daí os vários medos: da punição, do desamor, do desprezar, da rejeição, e concluí que aí estão as origens do meu alcoolismo.
As Doze Tradições de A.A. deram-me condições de, ao cumpri-las e respeitá-las, poder conviver bem com os companheiros e companheiras de jornada em relação aos seus e aos meus atos compulsivos, em vários aspectos:
A - Vivenciei os princípios da UNIDADE como uma forma de defesa contra desejos censuráveis, mas agora todos bem resolvidos.
B - Não reprimi mais meus impulsos quando eles vinham à tona, pois isso gerava angústia e ressentimento, terror de todo o alcoólico.
C - Como alcoólica obsessiva e bastante sortuda, só por hoje, mantendo-me antenada aos sentimentos alheios, para isso, preciso estar preparada para dar e receber coisas boas. A vida é uma troca e não uma disputa de atenções.
D - Esse mergulho nas Tradições ajudou-me a recuperar meu amor próprio e fortalecer minha auto-estima, tão desvalorizada quando cheguei em A.A.
E - Os grupos de pessoas iguais a mim me sinalizaram a esperança e a força de continuar na luta e depois trazer mais um, dois...
F - Com a Segunda Tradição, aprendi que minha experiência com o Poder Superior não aconteceria dissociada do mundo do Grupo, assim como o estado transcendente da minha impotência não aconteceria sem o Grupo de iguais, quando me sinalizaram que também tinha defeitos de caráter e imperfeições.
Não sou o Poder Superior... Aí minha reformulação poderia ocorrer, como de fato está ocorrendo, mais foi preciso a UNIDADE ser bem forte.
Nessa UNIDADE, identifiquei meus sentimentos, vendo que o medo e a iranão são capazes de estraçalhá-los, logo não os temo. A AUTONOMIA e a AUTO-SUFICIÊNCIA geraram beleza em minha vida e com FÉ passei a entender o sentido dos atos compulsivos dos outros. Modifiquei a mim e não a eles.

Coloquei beleza no sofrimento, na dor, na renúncia e até na resignação; esse posicionamento atrai pessoas e não me promove.

Aprendi que de um limão, faço uma limonada, às vezes adoço...

Maria Luiza- RJ.

(Vivência - Março/Abril 97)

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