quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Notícias do A.A. de Angola

Notícias do A.A. de Angola

Caros leitores da Revista Vivência. Eu sou o Carlos, um alcoólico em recuperação.

O A.A. de Angola, como é do conhecimento de muitos companheiros foi fundado a 15 de Janeiro de 2005, através de uma reunião convocada quase de improviso, no Chat (conversa) de voz do AABR.

Do lado oriental do Oceano Atlântico alguns companheiros experientes, com a coordenação do J.M., e do lado ocidental, dois novatos, sentados em frente a uma tela de computador.

Nesse dia, o primeiro grupo de Angola ainda não tinha nome. Alguns meses depois, a consciência coletiva, representada por 4 membros, decidiu batizá-lo de Grupo Serenidade e Coragem de Alcoólicos Anônimos de Benguela.

E assim, ele vem funcionando há mais de dois anos, com muitas dores de parto e crescimento, mas também com muita fé e muita coragem. Afinal, nós, alcoólicos em recuperação, sabemos bem como é sábia a tese de que “o sofrimento é a pedra de toque do crescimento espiritual”.

Em Fevereiro de 2007, recebemos, pela primeira vez, a visita de um companheiro de fora de Angola. Não tenho palavras para descrever a emoção, não só minha, mas, de todos os companheiros e de muita gente nova que pôde assistir a palestras semi-públicas e também a entrevistas no rádio com a participação da nossa visitante, a companheira brasileira, também membro do AABR. Não tenho palavras para exprimir, em nome do neófito A.A. de Angola, a gratidão que sentimos por termos podido compartilhar tanta emoção.

Desde logo, o que temos registrado com enorme alegria é o aumento da autoconfiança das companheiras e o aumento do número de pedidos de ajuda de mulheres depois que escutaram as partilhas da companheira.

Pudemos receber com entusiasmo o apoio de jornalistas e clérigos de diversas confissões religiosas. A mensagem foi ouvida por muita gente das mais diversas condições sociais. Tem gente que gravou e passa o tempo escutando e divulgando as entrevistas.

Acredito que para além de outras coisas maravilhosas, a visita da companheira serviu também (nós acreditamos), para fazer chegar ao Brasil os ecos da sobriedade que começa a nascer pela mão do A.A. aqui em Angola.

Por outro lado, foi possível que os companheiros daqui percebessem a força do A.A.; percebessem que não estamos tão isolados quanto eles pensavam e sentiam.

Na verdade, de entre os atuais membros, eu sou um privilegiado que pode se comunicar com o exterior via internet. Eles não têm essa condição, mas estão sóbrios e ficaram felizes por “ter a certeza” de que A.A. existe “de verdade”; que eu não sou um “charlatão habilidoso”.

A visita da nossa companheira constitui um marco histórico para o A.A. de Benguela e de Angola. Visitamos alguns centros de recuperação que estão prestando apoio a pessoas oriundas de todas as províncias de Angola, até mesmo da capital, Luanda, que ainda não conseguiu fazer nascer o seu primeiro grupo. Mas eu sei que já existe muita gente em Luanda que agora já tem conhecimento de A.A. e de algum conteúdo da mensagem de recuperação.

Acreditamos que na hora certa, nascerá o primeiro grupo da capital e também de outras cidades.

A 80 km de Benguela, em uma cidadezinha chamada Cubal, destruída pela guerra, um pequeno grupo de companheiros está tentando fazer funcionar um grupo. Eles se reúnem.

Sei que misturam tudo: princípios de A.A. com religião. Não podemos julgá-los nem condená-los, eu penso. O mais importante na minha ótica, e até que seja possível desenvolver um trabalho mais eficiente, acredito que o fato de eles estarem conseguindo evitar o primeiro gole já é muito bom.

Aliás, tenho encontrado muita gente que, mesmo tendo parado, por diversos motivos, de freqüentar as reuniões, estão conseguindo se manter abstêmios graças a esse simples mas tão profundo e sábio princípio de evitar o primeiro gole só por hoje.

Alguns deles passavam a vida pulando de um centro de recuperação para outro. Hoje confessam que não sabiam que o alcoolismo era uma doença e para eles “evite o primeiro gole” é uma expressão mágica, para não dizer sobrenatural.

Confesso que às vezes quase me sinto culpado ou ingrato por não participar mais das atividades deste grupo AABR onde iniciei a minha recuperação.

Tive a oportunidade de partilhar com a D. as dificuldades que estamos sentindo aqui. Na minha vida profissional, depois que comecei a sentir-me mais firme, encetei algumas reformas que precisava fazer. Estava procrastinando algumas decisões, por medo, e com isso ia agravando o meu modo de beber... ia cavando o fundo do meu poço!

Decidi então dar um STOP no meu passado. Tomei algumas decisões e as coloquei em prática. Tive um misto de medo e de fé. Sofri bastante, mas valeu a pena. Consegui dobrar o Cabo das Tormentas com a ajuda Dele. Acabei me envolvendo em uma atividade profissional, que me ocupa muito mais do que o tempo que eu planejava ocupar.

O tempo que me sobra, procuro ocupar com o serviço em A.A., com o meu inventário pessoal (4º e 5º Passos que estou fazendo com a ajuda de um padrinho, que caiu do céu, um missionário de nacionalidade escocesa, o bom Padre J. F. que Deus colocou aqui – ele é membro do Al-Anon há mais de 30 anos e estava isolado em Angola. Agora estamos juntos e ele se empolgou para fundar o primeiro grupo de Al-Anon de Angola) e procuro ler toda a literatura de A.A. que tenho (livros, livretes e folhetos).

Percebo cada vez mais nitidamente que o Poder Superior me deu uma chance e estou tentando ir tão longe quanto as minhas forças me permitem. E, o que é curioso, é que quanto mais energia coloco nessa missão, mais quantidade de energia positiva recebo de volta. Sinto-me cada vez mais forte e abençoado. Funciona mesmo!

Obrigado ao AABR. Obrigado ao A.A. virtual. É bom que todos saibam que o A.A. de Angola nasceu no A.A. na internet. A companheira desabafou comigo, e eu já tinha percebido isso antes, que existem companheiros que têm uma má impressão sobre o A.A. na internet.

Talvez eles consigam fundamentar a razão da sua oposição quanto ao A.A. virtual. Talvez mesmo a maioria dos companheiros (fora da internet, naturalmente) seja contra a existência do A.A. virtual. Talvez seja necessário um debate muito profundo sobre este assunto. Bill W. dizia que, em A.A., o bom é inimigo do ótimo. Por razões óbvias não posso nem devo me ingerir nos assuntos internos do A.A. do Brasil, todavia sou de opinião que em qualquer parte do mundo, qualquer decisão sobre esta matéria, deve ser amplamente debatida e as minorias devidamente escutadas.

Talvez existam preconceitos da parte de quem se opõe ao A.A. virtual, por falta de informação.

Por mim, enquanto membro da irmandade posso dizer que devo a minha vida e a minha sobriedade ao A.A. virtual, em particular ao AABR.

Depois de freqüentar o A.A. virtual durante alguns meses, e depois de ter percebido a importância do serviço, concluí que era necessário fazer um trabalho de 12º Passo, não só na internet, mas também ali, a 10 metros de minha casa, fora do computador.

Gostaria de lembrar aqui o saudoso companheiro H., um dos companheiros que me incentivou para avançar com o A.A. presencial em Angola. Não quero bancar o herói (eu só estava querendo me salvar). Quis o Poder Superior que existissem pessoas dispostas a me escutar. Foi, e continua sendo difícil, mas está funcionando.

Milhares de pessoas em Angola, já sabem da existência do A.A.

Alguns virão rápido, outros demorarão mais, muitos nunca procurarão ajuda. A história do A.A. em nível mundial é mesmo assim. No início eu me sentia frustrado quando as primeiras abordagens redundavam em fracasso. O passar do tempo vem me mostrando que muitos dos que abandonam voltam quando sentirem que “agora sim, estou mesmo precisando de ajuda!...” E muitos dos que não vem acabam sempre passando a palavra a outros e despertando a sua curiosidade!... Digamos que um 12º passo involuntário, mas que ajuda muitos a encontrar a porta de A.A.

Em resumo, gostaria apenas de exprimir mais uma vez a minha gratidão a toda a Irmandade, ao A.A. do Brasil, ao AABR, a todos os companheiros que me ajudaram e me estimularam a fundar o grupo; aos companheiros que estiveram presentes na reunião virtual do “Chat” (conversa) de voz do AABR que marcou a “inauguração oficial” do Grupo Serenidade e Coragem de A.A. de Benguela e, por conseqüência, a fundação do A.A. em Angola.

Obrigado também ao A.A. do Paraná e a nossa companheira visitante.

Enfim, obrigado a todos, em nome de todos nós, AAs de Angola.

Um abraço fraterno e muitas 24 horas de serenidade e paz para todos, pela graça do Poder Superior do entendimento de cada um de nós.


Carlos S/Benguela/Angola

Vivência nº107 – Maio/Junho/2007.

Um comentário:

  1. companheiro de Angola - Benguela eu não sei o que diser , mas uma coisa sei você de deixou estremamente emocionado com seu relato. E de fato você me fez um bem muito grande e me auxiliou em mais uma 24 hora de feliz sobriedade. Parabens a você e todos os companheiros que residem em Angola e Benguela, desejo a todos vcs inúmeras 24 horas de feliz sobriedade seguidas de serenidade,bonança,fartura,paz,saúde,prosperidade,equilibrio emocional e que suas mãos estejam sempre dispostas a auxiliar aqueles que irão ao encontro de vcs pedindo ajuda. - Cidade: Imperatriz - Estado Maranhão - País Brasil. Rubimar - Grupo 14 de junho . paz e bem .

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