sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A Contribuição Católica para o Movimento dos 12 Passos

A Contribuição Católica para o Movimento dos 12 Passos

Por W. Robert Aufill

Inicialmente não havia membros católicos em A.A., mas sua participação foi tornada possível com a separação definitiva de A.A. dos Grupos Oxford.

Em Nova Iorque, o primeiro membro Católico foi Morgan R., que agiu como a primeira ligação não oficial com a Igreja Católica. Morgan submeteu o manuscrito do livro Alcoólicos Anônimos ("O Livro Azul") ao Comitê de Publicações Arquidiocesano de Nova Iorque e recebeu uma resposta favorável. O Comitê, relatou Morgan, "só tinha que falar bem dos nossos esforços . Do ponto de vista deles, o livro estava perfeito da maneira como "se apresentava." Umas poucas sugestões editoriais foram pronta e de bom grado incorporadas principalmente na seção referente a prece e meditação.

Apenas uma mudança foi solicitada.. Na estória de Bill, ele usou "um floreado retórico para dizer que encontramos o Céu aqui na velha e boa Terra. " Foi sugerido que trocasse "Céu" por "Utopia." "Afinal de contas,nós Católicos prometemos aos fiéis algo muito melhor mais tarde!"


Um Católico não alcoólico que influenciou profundamente A.A. em seus primeiros dias foi Fr, Edward Dowling da Companhia de Jesus. Apesar de que seu envolvimento com A.A. tenha sido apenas mais um de seus muitos serviços apostólicos e caritativos, sua influencia em A.A. foi considerável. Seu trabalho é valioso como um padrão para os Católicos que desejem se relacionar construtivamente com A.A. e outros grupos de recuperação.

Dowling era um jesuíta de St. Louis e o editor de uma publicação Católica chamada The Queens Work ( A Obra da Rainha ). Ao ler o Livro Azul, ficou favoravelmente impressionado e encontrou paralelos entre os doze passos e aspectos da espiritualidade Inaciana (1) – Talvez de uma maneira especial a sugestão Inaciana de rezar como se tudo dependesse de Deus e agir como se tudo dependesse apenas de você mesmo.

Dowling veio a conhecer Bill em uma noite fria e chuvosa de 1940. Bill admitiu mal humoradamente o visitante, pensando que essa visita inesperada fosse outro bêbado em busca de ajuda e atenção. Assim que começaram a conversar, o jesuíta começou a compartilhar uma compreensão da vida espiritual que influenciaria Bill daqui por diante.


Isso é tão notável, porque Bill nunca tinha conhecido nenhum Católico intimamente e sentia um persistente preconceito contra clérigos, de toda e qualquer denominação.


Bill encarou seu encontro com Dowling como " uma segunda experiência de conversão" O jesuíta aleijado, disse ele," irradiava uma Graça que enchia a sala com um sentido de presença"( o interessante é que Bill usou a mesma expressão "sentido da presença" para descrever sua impressão sobre a Catedral de Winchester, na Inglaterra, que é obviamente uma associação Católica e aonde sentiu a necessidade de Deus muitos anos atrás.) Bill neste momento estava deprimido e zangado com Deus, porque se sentia um fracasso.

Como nos conta o biografo de Bill "Quando Bill perguntou se nunca encontraria a satisfação, o idoso replicou: " Nunca, nunca mesmo!" Há uma espécie de insatisfação divina que o mantém sempre caminhando,sempre procurando.


O padre continuou: Tendo se rendido a Deus e recebido de volta a sua sobriedade, Bill você não pode voltar atrás de sua rendição e exigir contas de Deus, quando a vida não transcorre de acordo com suas preconcebidas expectativas. Até mesmo o sentimento de insatisfação pode ser uma oportunidade para o crescimento espiritual.

Dowling então se encaminhou mancando para a porta e de lá disparou, "se alguma vez Bill ficar impaciente ou zangado com a maneira como Deus faz as coisas, se alguma vez esquecer de ser grato por estar vivo, seja onde estiver, ele, o padre Ed fará toda a viagem a partir de St. Louis para golpeá-lo na cabeça com sua bengala irlandesa. Desta forma,começou uma amizade de vinte anos entre Bill e Dowling , o qual passou a ser o conselheiro espiritual de Bill.


Bill foi profundamente atraído pela Igreja Católica e até mesmo recebeu instrução de Fulton Sheen em 1947. A esposa de Bill, Lois, relembrando esses fatos tinha a certeza de que ele nunca estivera próximo da conversão; mas um amigo íntimo pensava de outra forma: "Eu tive a impressão de que no último minuto ele não consumou a conversão porque sentiu que tal não seria bom para A.A.


A explanação mais simples é a de que Bill permanecia profundamente ambivalente a respeito de religiões e doutrinas organizadas. Da mesma forma como antipatizou com " Os Quatro Absolutos" dos Grupos Oxford, não poderia seguir seu caminho através da aceitação do absolutismo do Catolicismo – particularmente a infalibilidade papal e a eficácia dos sacramentos. "Apesar de não descrê totalmente em milagres,não posso imaginar Deus agindo dessa forma."

A respeito da infalibilidade, Bill escreveu a Dowling : "É muito difícil acreditar que algum ser humano,não importa quem, tenha a capacidade de ser infalível a respeito de um determinado assunto." Em uma carta de 1947 para Ed Dowling afirmou: " Estou mais afetado do que nunca pela doce e poderosa aura da Igreja, essa maravilhosa essência espiritual fluindo por séculos, me toca como nenhuma outra emanação conseguiria, mas quando vejo o layout autoritário; a despeito de todos os argumentos a favor, não consigo me preparar, nenhuma convicção positiva acontece....P.S. Oh, se pelo menos a Igreja tivesse um departamento para peregrinos, um local acolhedor onde se poderia aquecer as mãos ao fogo e abocanhar somente aquilo que se pode engolir. Talvez eu esteja sendo mais um espertinho querendo barganhar nesta virtude – a obediência!"
Para Sheen Bill escreveu: Seu senso de humor despertará, tenho certeza, no momento em que lhe disser que, a cada dia que passa, eu sinto mais como católico, e penso mais como protestante.

Este é precisamente o desafio enfrentado pelos apologistas do Catolicismo testemunhando àqueles em grupos de recuperação; manter a cabeça e o coração em sintonia.

As dificuldades de Bill com a fé católica nos mostram que – sem diminuição – precisamos tornar a nossa fé e suas graças mais acessíveis, unindo a fé à experiência. Isso não quer dizer que devamos negligenciar as apologias racionais – longe disto. Devemos respeitar a inteligência das pessoas. Mas, como Sheen ressaltou, em alguns casos, nosso arrazoado "esfria a alma moderna, não porque seus argumentos não sejam convincentes, mas porque a alma moderna está tão confusa que não consegue apegar-se a eles."


Se oferecermos um relato das implicações religiosas dos Doze Passos para a Recuperação, talvez consigamos alcançar um ouvido receptivo para uma completa evangelização e catequese.

Na Convenção que marcou o 20º aniversário de A.A. ( A Irmandade "Atingindo a Maioridade"), Dowling falou: "Nós conhecemos os Doze passos de A.A. levando o homem em direção a Deus. Posso sugerir os 12 passos de Deus em direção ao homem,como o Cristianismo me ensinou." E então começou a traçar paralelos entre os passos de A.A. para a recuperação e a redenção por Deus da raça humana em Cristo, que é igualmente o Deus Encarnado e o Novo Adão da humanidade redimida.


Dowling concluiu com o poema de Francis Thompson The Hound of Heaven, sugerindo que o poema era" O imagem perfeita do questionamento de A.A. em relação a Deus, mas principalmente a busca amorosa de Deus ao A.A.


Outra importante influencia Católica, um pouco mais tarde, foi o Padre John C. Ford, Companhia de Jesus, um dos mais eminentes teólogos católicos. No início dos anos 40, o próprio Ford recuperou-se do alcoolismo com a ajuda de A.A. Tornou-se um dos primeiros católicos a propor que se considerasse o alcoolismo como um problema com dimensões espirituais, fisiológicas e psicológicas.


Ford disse que a adição ao álcool é uma patologia que não é escolhida conscientemente, mas rejeitou a idéia determinística de que o alcoolismo é apenas uma doença sem nenhum componente moral envolvido: "É óbvio que possui dimensões morais, e essa é uma razão pela qual o clérigo e encarado como tendo um papel especial a desempenhar.

"Para responder a pergunta: O alcoolismo é um problema moral ou uma doença? Eu acho que a resposta é; ambas. Não acredito que seja verdade dizer que o alcoolismo é apenas uma doença, no mesmo sentido que o câncer ou a tuberculose são doenças. Acho que há muitas e óbvias diferenças entre ambas para se classificar o alcoolismo , nesse sentido,como doença. Por outro lado,Não é justo se dizer que o alcoolismo é apenas um problema moral. Ainda existem muitas pessoas que vêem o alcoólico como um inútil,um fraco, incapaz de usar sua força de vontade.

"Eles continuam dizendo, Não faça isso de novo, e repetem e se repetem. Não acredito que ele faça isso porque quer e esta com vontade mesmo. Quando você vê a agonia que o alcoólico se auto-inflige ao longo dos anos, se torna muito difícil para mim que ele quer esse caminho ou fez isso de propósito... Acho mais lógico falar do alcoolismo como uma doença tripla – uma doença do corpo, uma doença da mente ,e também uma doença da alma.!


Bill, impressionado pela visão de Ford, lhe pediu que editasse "Doze Passos e Doze Tradições ( Com o Livro Azul, este é o texto básico da recuperação pelos 12 passos) e Alcoólicos Anônimos atinge a Maioridade. Em parte,a preocupação de Bill com estes livros era apresentar o programa de A.A. em uma forma aceitável para as sensibilidades católicas.


A contribuição de Ford para o A.A. foi dupla: ele utilizou-se tanto da religião quanto da psicologia para mostrar o alcoolismo como um problema sintético e que requer uma medicação igualmente sintética, encarou com seriedade a natureza quase que compulsiva da adição enquanto rejeitava tanto o absoluto determinismo e as conseqüentes armadilhas de uma abordagem puramente terapêutica. Ele utilizou enfoques Psicológicos, mas finalmente compartilhou os sentimentos do Dr Bob que costumava dizer, "Não se atrapalhe com a psiquiatria".


Em muitas maneiras, o enfoque de Ford sobre a adição e a recuperação permanece como um modelo de discernimento espiritual para os nossos dias.


Traduzido do site
Cybriety.org por Ricardo Gorobo

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