segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A fala do cacique

A fala do cacique
“Transmitindo a mensagem ao alcoólico”

Um dia encontrei um velho Cacique da etnia Paresi, nos prezamos muito e ele falava comigo sobre o problema que tinham com as pessoas alcoólicas da aldeia. Ele sempre nos ajudou muito nas reuniões de A.A. falando sobre as experiências que tinha de seu povo. Ele não é alcoólico e me disse que essa história de alcoolismo já matou muita gente de seu povo; que se lembra de uma passagem da sua história que tem alguma coisa a haver com os Doze Passos: - “dois irmãos beberam muito, brigaram e um matou o outro. Havia na aldeia, uma velha índia que passava essa história e com isso as bebedeiras eram controladas, mas com o tempo esqueceram-se dessa tragédia e, tudo voltou novamente: mortes, brigas e desavenças. Agora companheiro, você chega e conta a história da mesma forma, que o álcool mata!”
Aquela velha mulher citada pelo Cacique de hoje, não conhecia os Doze Passos de Alcoólicos Anônimos, não havia o Grupo de A.A. na aldeia, mas o início da Irmandade não ocorreu desta forma? Um não alcoólico conseguiu unir dois alcoólicos?
Na aldeia, esqueceram e a doença voltou novamente; não é isso que ouvimos em quase toda reunião de recuperação? Noutra ocasião o mesmo Cacique me disse: “companheiro, você não acredita, mas todos esses bêbados da aldeia são gente boa, conversam bem, sabem das coisas, que bom que lês não estão mais embriagados!”
Alcoólicos Anônimos reintegra pessoas à sociedade, sua maneira anarquista de ver a vida dá a oportunidade ao homem de que ele é impotente somente perante o álcool e não é impotente perante outros problemas, inclusive o relacionamento humano e perante outro homem.
Quantos de nós dizemos que se tivermos oportunidade de conversar sobre assuntos que dominamos não nos intimidamos perante qualquer autoridade, pois, praticamos lá fora e em nossas vidas, os Conceitos de Alcoólicos Anônimos.
Só há um Poder Superior que nos governa, somos somente servidores de confiança.
Nessa mesma ocasião em que ele comentava a recuperação das pessoas da aldeia, ele me disse: - “Companheiro, quando ouvimos falar que você estava na aldeia tratando do problema do alcoolismo, a maioria deu risada, riram demais de você! Onde só falar vai resolver alguma coisa? Nem proibindo beber ele está! Perda de tempo com esse povo! Foi dessa forma que falavam. Depois você veio de novo, e veio de novo, não vê agora? Um monte de gente entendeu a mensagem”.
Nas reuniões de recuperação não afirmamos que só um alcoólico entende outro alcoólico? Nas abordagens, tão necessárias para a nossa recuperação, sentimos o quanto magoamos as outras pessoas, não nos importamos com o que nos falam, já que as mesmas expressões nós usamos quando nos abordam.
“Quando qualquer um, seja onde for, estender a mão pedindo ajuda, quero que a mão de A.A. esteja sempre ali. E por isto: Eu sou responsável”.
A responsabilidade, para muitos desavisados é para manter as portas abertas para nós.
Vejo muitos companheiros falarem que lá fora pessoas sofrem com o alcoolismo e as portas devem estar sempre abertas, abertas para essas pessoas e para nós mesmos membros. Perante a doença não somos em nada diferentes dos que estão lá fora.
Faço as abordagens e cumpro a 5ª Tradição, pois meu desejo de forma alguma é recair, mas se isso acontecer quero que peguem minha mão e me puxem é por isto que: Eu sou Responsável!
Só por hoje sou muito grato em pertencer à Irmandade de Alcoólicos Anônimos.

Martins/Tangará da Serra/MT

“A única coisa que importa é o fato de ser ele um alcoólico que encontrou a chave da sobriedade. Esses legados de sofrimento e reabilitação são facilmente transmissíveis entre os alcoólicos, passando de indivíduo para indivíduo.
Trata-se de nossa dádiva divina e cuidar que ela seja também conferida a outros como nós é o único objetivo que hoje em dia move os AAs em todo o mundo”.

(Fonte: Reflexões Diárias)

Vivência nº112 – Março/Abril/2008.

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