segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Atitudes alteradas

Atitudes alteradas

"Então, pus-me a fazer reparações, mas como na maioria das minhas outras atitudes, acabei me excedendo. Noite e dia ficava a rodear minha família repetindo sem parar o quanto eu estava arrependida, como eu agora estava diferente, abarrotando-os com presentes e dinheiro, tornando-me o proverbial 'capacho'."

Tanto quanto posso me lembrar, sempre fui muito bem sucedida em sentir-me "ferida". Desenvolvi a idéia de que ninguém gostava de mim, de que eu estava sempre no caminho, e de que eu era um estorvo permanente em suas vidas. Conseqüentemente, muito cedo descobri a arte da vingança. Posso lembrar-me, quando ainda criança, de ter cortado o vestido favorito de minha mãe, deixando-o em tiras, por ela ter me chamado à atenção por algo que naquele momento eu julgava merecer, mas que ela assim o fazia apenas como
uma maneira de me magoar.

Quando descobriu aquilo, ela sequer aumentou o tom de sua voz; ela simplesmente mostrou-se magoada. Aquilo devia ter-me feito sentir melhor, mas não foi o que aconteceu. Senti-me pior (talvez, até mesmo uma pontada na consciência) por acreditar que ela havia reagido daquela maneira para que eu me sentisse ainda pior! Então, comecei a maquinar a minha vingança, de novo. Pensando bem, lá no fundo, sentia-me arrependida, mas mesmo naquela tenra idade, eu não podia dizer isso. Não era capaz de admitir que eu estava errada. Não podia demonstrar qualquer fraqueza.

Muito antes de jamais ter experimentado qualquer tipo de bebida, eu já apresentava pelo menos alguns sintomas da doença do alcoolismo. Durante os meus anos de bebedeira, causei danos e maltratei muitas pessoas, muitas mesmo! Tanto quanto consigo me lembrar eu nunca machuquei alguém fisicamente no entanto, espiritualmente e emocionalmente eu danifiquei muitas vidas.

Incapaz de lembrar muito do que fiz, não podia acreditar em muitas coisas que diziam eu ter feito. Por exemplo, sair correndo atrás do meu filho caçula em volta do jardim, com uma faca na mão, com toda a intenção de apunhalá-lo. Esta é apenas uma das coisas insanas e perigosas que eu fiz durante meus apagamentos. E aí vinham os danos causados "sem querer" - a dor a preocupação e o medo que eu fazia meu marido e toda a minha família sofrer por conta do meu alcoolismo ativo. Além do desgosto que, sem dúvida, dei à minha mãe quando ela se encontrava no leito de morte de um hospital, ainda bem jovem, e eu não ia visitá-la, pois isso diminuiria meu tempo para beber.

Quando larguei a bebida pela primeira vez e a névoa alcoólica se desvaneceu, compreendi quão gravemente minhas ações afetaram os outros. Estava tão genuinamente arrependida pelo que fizera, que era impossível para mim fazer o suficiente para consertar qualquer coisa. Foi só então que compreendi que nem todos os meus erros podiam ser corrigidos. Alguns deles não deveriam sequer ser expostos, poderiam tão somente ser perdoados. Hoje não espero clemência como sendo meu direito; tenho apenas direito ao arrependimento.

Para algumas pessoas, tenho feito reparações diretamente. Para outras, nem posso fazer reparações pelos danos causados, pois fazê-lo significaria aumentá-los ainda mais. Aos familiares e amigos mais chegados, faço minhas reparações diariamente por não estar bebendo; pelo firme propósito de ser útil ao próximo.

Para mim, hoje, fazer reparações não é apenas dizer "sinto muito", é demonstrar que realmente se sente muito. E a única maneira que disponho para fazer isso é modificar minhas atitudes com relação a outras pessoas, a lugares e a coisas. É permanecer sóbria, um dia de cada vez, participando do maior número de reuniões possível, e agradecida entregar a minha vontade e a minha vida aos cuidados de Deus. Ao aceitar responsabilidades posso desenvolver novas perspectivas na vida.

(Liz)
Vivência n° 47 MAI/JUN. 1997

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