domingo, 7 de agosto de 2011

A família do alcoolista


A família do alcoolista(Fonte:Site da Uniad)

por: Neliana Buzi Figlie

Se você tem um amigo, um familiar, um colega de trabalho que é dependente de álcool, você tem o que fazer!
O alcoolismo acaba sendo uma armadilha para o dependente e também para a família, para o trabalho e para a comunidade onde o dependente vive. Mas você pode tentar desarmar esta armadilha!

QUEM É FAMÍLIA ?

A primeira idéia que nos vem a mente quando falamos em família é: casal heterossexual, com dois filhos, um animal de estimação, o homem como chefe da família e a mulher como dona de casa.
Quando temos esta estrutura, torna-se fácil definir a família. Mas nem sempre isso é real. Por família, devemos entender várias formas de relacionamento com compromisso. Por exemplo: um alcoólatra solteiro que mantém uma relação amigável com a família do vizinho, casais homossexuais, irmãos de criação, entre outros. A família pode ser aquela que tem acesso ao dependente, sem ser necessariamente a família consangüínea.
O alcoolismo não é causa, mas sim efeito
O alcoolismo é um sintoma que ao surgir, se interpõe entre o indivíduo, a família e outros relacionamentos sociais, influenciando todo curso de vida.
Todo sintoma tem uma causa.


RELAÇÃO DE CAUSA E EFEITO
As causas podem ser as mais variadas possíveis:
• Conflitos emocionais ou pessoais
• Dificuldade escolares, sociais e/ou profissionais
• Acréscimo ou perda de um dos membros da família
• Crises familiares
• Consumo de bebida para o controle da ansiedade
• Consumo de bebida para fuga de problemas
• Separações, divórcios ou término de relacionamento amorosos
• Ausência de pais
• Filhos de alcoólatras: aprendizagem de comportamento
• Pressão Social ("Quem não bebe não é macho!")

Embora o sintoma traga sérios prejuízos e desvantagens para a vida do dependente, o alcoolismo tem uma função na vida deste. Podemos dizer que a pessoa "aprendeu a funcionar com o álcool ", seja qual for a causa. Se o álcool é retirado, como o dependente vai funcionar (psicológica e fisicamente)?

Fica a questão: " Como funcionar sem a bebida ?". Daí a dificuldade de abandonar o hábito de beber, embora a pessoa perceba as conseqüências negativas em sua vida.

Mas existem Fatores Protetores que podem evitar a continuação do hábito ou as recaídas:
• Boas oportunidades de trabalho
• Boas oportunidades educacionais
• Recursos da Comunidade: serviços sociais, lugares com o número reduzido de traficantes, tratamento clínico e psicológico, grupos de auto-ajuda (AA,NA) , etc.
• Família: amor materno e paterno, relacionamento conjugal positivo, moradia definida, bom relacionamento.

Nem sempre estes fatores existem simultaneamente. Em alguns casos basta um destes itens para motivar o dependente para tornar-se abstinente.
ATENÇÃO: Existem famílias em que ocorre a necessidade de uma pessoa alcoólatra para que ela funcione.
Exemplo: "Eu bebo porque você me deixa nervoso."
"Mas eu só fico nervosa quando você bebe."
A família tem um padrão de comunicação que define comportamentos. Em alguns casos, quando o alcoolista "se cura", alguém pode piorar.

TIPOS DE FAMÍLIA
Esconder Assumir
O alcoolismo é visto como um desgosto e a família tende a esconder o alcoolista, tentando ajudá-lo.
A família não tem controle sobre o beber do alcoólatra, mas este beber acaba afetando a vida da família.
Como mudar esta situação:
1. Aprender o que é Alcoolismo (conceito de dependência, tolerância, síndrome de abstinência e recaídas).
2. Entender o funcionamento da família: Qual é o real papel de cada membro ?
3. Pedir e procurar ajuda: as conseqüências físicas, sociais e emocionais do alcoolismo são difíceis de serem suportadas, principalmente quando os vizinhos começam a comentar, alguns familiares a recriminar o apoio dado, contas a pagar, demissões... Nestes momentos de crise é bom contar com um amigo para desabafar, um terapeuta para orientar ou mesmo a procura da religião para confortar o sofrimento.

O alcoolismo não é fraqueza ou falta de moral. Trata-se de uma dependência física e psicológica que controla o comportamento do dependente.
MITOS
Existem falsas noções sobre alcoolismo. É importante sabermos quais são elas para modificarmos nossos pensamentos e/ou atitudes:
1. "Para quem bebia pinga, uma cerveja não faz mal"
Álcool é álcool! Uma cerveja grande eqüivale a uma dose de whisky, pinga ou um copo de vinho.
2. "Se eu tenho emprego, não sou alcoólatra "
O alcoolismo atinge até mesmo grandes executivos, que conseguem desempenhar suas atividades, mas que não excluí o consumo abusivo. O outro lado da moeda são os cargos pequenos , onde o indivíduo necessita tomar pelo menos uma dose antes de trabalhar para evitar as famosas ressacas ou tremedeiras que acabam por prejudicar seu desempenho.
3. "Mas ele(a) uma boa pessoa!"
Ser alcoólatra não é sinônimo de que a pessoa seja um mau caráter. Contudo, quando intoxicada, a pessoa perde a consciência de seus atos, mas não quer dizer que possua uma personalidade má.
4. "Mas nós temos um bom lar"
Muitos alcoólatras permanecem com suas famílias por longos anos, mantendo muitas vezes uma família de aparência.
5. "Mas ele(a) não bebe sempre
"Beber diariamente não caracteriza o alcoólatra. Uma pessoa que bebe uma dose diária tem um beber social. Se o número de doses for igual ou maior que 21( para homens ) e 14 ( para mulheres ), mesmo que o consumidor beba uma vez por semana, já é um beber abusivo.
6. "Mas ele é tão inteligente que não pode ser um alcoólatra"
Esta é uma fala comum entre os patrões quando começam a desconfiar do consumo de álcool de seu funcionário.
Lembre-se: Não há relação entre inteligência e alcoolismo.
7. "Ele desempenha seu trabalho brilhantemente e raramente falta"
Que bom! Este funcionário ainda não deixou que seu consumo afetasse seu trabalho, mas e depois do expediente?
8. "Mas eu nunca o vi beber"
Quando pensamos na figura do alcoólatra, a primeira imagem é o estereótipo do consumidor que não sai do bar. Porém, existem muitos alcoólatras que compram sua bebida e a bebem nos lugares mais inesperados.
9. "Todo alcoólatra é um vagabundo ou beberrão"
Não pense que o alcoólatra é apenas aquele que fica jogado na sarjeta. Muitos são pessoas respeitáveis, que têm a aparência bem cuidada.
10. "Mas ele(a) veio de uma boa família"
Alcoolismo acontece com qualquer pessoa, independente do nível social, econômico ou de status.
11. "Com a internação ele(a) irá se curar"
Na maioria das vezes a internação é vista como "Salvadora da Pátria", mas para alguns familiares que já passaram por esta experiência , sabem que a afirmação acima nem sempre é verdadeira.
Em alguns casos a internação pode ser eficaz quando o dependente está motivado ou quando ele está muito doente.
Pensemos: em um ambiente protegido de problemas , pressão social e bebida, com cuidado 24 horas por dia, tornar-se fácil atingir a abstinência. Quando ocorre o retorno para o seu meio de origem : amigos, problemas, bares, bebidas e cobranças continuam a existir. Por tal o tratamento ambulatorial em alguns casos pode ser mais efetivo.
12. "O alcoolismo só atingem os homens"
A realidade é que existe mais homens do que mulheres alcoólatras. Contudo, existem mulheres alcoólatras e por ser considerada uma dependência masculina, é esperado que as mulheres escondam sua dependência por vergonha ou culpa.


COMO A FAMÍLIA ACABA AGINDO
Para amenizar sentimentos ruins ou de pressão social, profissional, escolar e por que não dizer familiar, os parentes acabam atuando de forma a proteger a alcoólatra, isentando-o de seus atos ou diminuindo sua auto-estima. Veja alguns casos:
1. O familiar que presta socorro 24 horas por dia
Se o patrão reclama a ausência do funcionário e o familiar dá "desculpas", fica cômodo para o alcoólatra permanecer escondido e protegido. Uma vez assumido um compromisso a responsabilidade é de quem o assumiu, mas vem o pensamento: "Se o patrão o ver desta forma (ressaca), irá demiti-lo".
Questão: Com o passar do tempo, havendo a diminuição na qualidade do trabalho e aumentando o número de faltas, o patrão não irá demiti-lo?
2. Policiar intensivamente
O dependente deve ter consciência de que não deve beber e não somente o familiar. Ilusão pensar que você poderá controlar os hábitos do dependente 25 horas por dia, todos os dias.
Acontece um desgaste duplo: o ato de fiscalizar gera ansiedade e nervosismo e consequentemente , a ausência de seus próprios compromissos para ter tempo de fiscalizar.
Com o familiar preocupando-se pelo dependente, para que o dependente vai se preocupar ?
3. Perda de controle
Os familiares tornam-se tão preocupados em controlar o beber do dependente ou evitar recaídas, que chegam a abandonar suas próprias vidas (lazer, trabalho, estudos...). O beber de forma indireta passa a dominar os pensamentos e ações dos familiares.
Lembre-se que esta preocupação tem que ser do dependente e não sua. Por mais que ele esteja despreocupado, você apenas poderá lembrá-lo e ajudá-lo, mas não atuar por ele.
4. Agressão Física
Infelizmente ocorrem casos de espancamento e atos de violência com alguns familiares, principalmente esposas e filhos. Quando restam os sinais de agressão é comum filhos deixarem de ir à escola ou esposas evitarem sair de casa por vergonha. Indiretamente estas atitudes omitem os atos do alcoólatras.

Violência é crime! Não se esconda e procure ajuda! Você sabe que existe a Delegacia da Mulher e o SOS Criança?
5. Os passivos
Apatia não ajuda!

O familiar apático tenta se esconder em seu mundo e não se confronta com o beber e suas conseqüências.
6. Os acusadores
São aqueles que acreditam que o alcoólatra é o problema da família, tornando responsabilidade do dependente todas as ações dos outros membros da família.
Intensifica o rebaixamento da auto-estima- O dependente se sente o pior dos piores, sem saída para mudar seu conceito.
7. Símbolo da perfeição
Tratam-se de familiares que tentam chamar atenção do alcoólatra através de seu comportamento exemplar, comparando-se a este em todo o momento. Também é comum a comparação entre irmãos ou cônjuges. Tal atitude somente contribui para que o dependente se sinta pequeno, sem valor.

BUSCANDO SOLUÇÕES

A solução ideal seria a "cura do alcoolismo", mas esta solução depende da motivação do dependente e do familiar. Se o dependente não tem esta motivação, a melhor solução para a família seria efetuar algumas modificações nos comportamentos dos familiares, objetivando a interrupção ou pelo menos dificultar, o curso do alcoolismo.
1. Não atuar pelo alcoólatra
É importante a família quebrar o sistema de proteção, atribuindo a responsabilidade dos problemas e conseqüências do beber ao próprio alcoólatra.
2. Pensar mais em você
Só podemos ajudar alguém quando estamos bem, caso contrário, como oferecer algo que não temos para dar?
O dependente causa um abalo na vida do familiar e este tende a abandonar algumas de suas atividades. Retome-as, cumpra suas responsabilidades e cuide mais de si mesmo. Quando o alcoólatra passa a perceber que você não está mais seguindo o ritmo dele, ele começa apensar: "o que está acontecendo?".
3. Adquirir conhecimento
Informe-se : é importante saber alguns conceitos básicos para poder entender e ajudar o alcoólatra. Por exemplo: nos primeiros dias em que o dependente fica sem beber, é comum um hálito alcoólico, que dá a impressão de consumo, denominada "Hálito de Vinagre. A família se desespera, fiscaliza ou cobra, fato este que pode levar o alcoólatra a beber. Se os familiares tem este tipo de informação, a atitude muda.
4. Conversar
Evite falar com o dependente apenas assuntos relacionados ao álcool. Procure mantê-lo interessado e também interessar-se sobre outros aspectos da vida. E, lembre-se: o alcoolismo é conseqüência e não causa. Porém existem pessoas que chegam a um grau de dependência tão elevado, que mal restam outros aspectos de vida para conversar. Nestes casos procure estimular ou mesmo apontar este "vazio" na vida do alcoólatra, tentando ajuda-lo a enxergar o que ele pode fazer para modificar seu futuro.
5. Recaídas
Prepare-se! Por mais estabilizada que esteja a situação de abstinência, as recaídas são previstas no processo.
Tenha em mente que o voltar a beber pode ser passageiro, principalmente se forem tomadas as medidas adequadas.
6. Limites
Seja compreensivo e amigo com firmeza, sabendo definir limites e regras, principalmente sobre sua competência e do dependente.
No primeiro momento a reação é de raiva, ódio e explosão! Tente se acalmar e refletir sobre a situação. Não gaste suas energias em falar com uma pessoa intoxicada. Espere os efeitos passarem para haver um diálogo consciente. Neste diálogo, procure colocar o que você espera e até onde você agüenta (seus próprios limites).
7. Aspecto Social
Com a abstinência, perde-se ou ocorre uma diminuição no convívio social com os amigos do bar. Daí vem as frustrações: falta de amigos e falta de bebida.
Propiciar atividades de lazer ou de convívio familiar para tentar abrandar estas frustrações são importantes. Atividades físicas acabam sendo as mais comuns , mas também pense em passeios, vídeo, cinema, teatro, leitura, visitas a casa de parentes e amigos, buscar filhos na escola, etc.
8. EVITE: Não dar importância ou ignorar os fatos
Expulsar de casa
Julgar o dependente como o único culpado
Policiar intensivamente
9. Procurar ajuda profissional
Não se deixe levar pelo sentimento de fracasso. Os profissionais de saúde existem para ajudar tanto o dependente, como o familiar. Em alguns casos é necessário uma atuação técnica e não apenas familiar.
Será que não é uma exigência muito grande a família acreditar que deve dar conta de tudo sozinha?
10. Procurar Recursos da Comunidade
Existem grupos de Auto-Ajuda (AA e NA), religião e palestra...enfim, tudo que o dependente possa sentir como eficaz para ajudá-lo.
ATENÇÃO: Nem sempre o que é melhor para a família, é melhor para o dependente. O principal envolvido precisa estar motivado.
Vale ressaltar que estes recursos podem ser utilizados simultaneamente a um tratamento. Não existe um único detentor do saber ou uma forma única de cura.

FAMÍLIA IDEAL
Este quadro pode tornar-se realidade.
O alcoolismo não é um caminho sem volta !
Acredite! Você pode ajudar muito para modificar a rota deste caminho.

BOA SORTE!!!!

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