sábado, 7 de julho de 2012

A Sétima Tradição e o Amor


A SÉTIMA TRADIÇÃO E O AMOR
POR: EDSON H.

Quando um doente alcoólico aplica em sua vida pessoal o nosso Programa de Recuperação - os Doze Passos - sua desintegração é detida e sua unificação é iniciada. O Poder que agora mantêm-no integrados numa unidade sobrepõe-se àquelas forças que o tornaram marginalizado.".

Bill nos diz que o mesmo princípio se aplica a cada grupo de A.A. e a Alcoólicos Anônimos de forma global.
"Se como membro de A.A. cada um de nós recusar o prestígio público e renunciar a qualquer desejo de poder pessoal; se, como Associação, insistirmos em permanecer pobre, evitando, assim, as querelas por propriedades e sua administração; se, resolutamente, declinarmos as alianças de tipo político, sectário ou de qualquer classe, evitaremos a divisão interna e a notoriedade pública; se, como uma Associação, mantivermo-nos uma entidade espiritual, preocupada apenas em levar a nossa mensagem aos alcoólatras que sofrem, sem esperar recompensa ou honorários, poderemos levar a cabo, de forma mais efetiva, a nossa missão".

`A unidade de A.A. não pode preservar-se automaticamente. Da mesma forma como o fazemos com a recuperação pessoal, devemos dar tudo de nós para preservar a unidade. Como tudo mais em A.A., aqui também necessita de honestidade, humildade, mente aberta, generosidade e, sobretudo, vigilância."
`Nossa Declaração de Unidade diz que devemos colocar em primeiro lugar o bem-estar comum para manter nossa Associação coesa."E complementa afirmando que `da unidade em A.A. dependem nossas vidas e as vidas daqueles que venham".

As Doze Tradições têm a intenção de estabelecer princípios sólidos de conduta do e suas relações públicas. Elas são suficientemente consistentes para converterem-se num guia básico de proteção ao A.A. como um todo e penso que devemos aplicá-las tão seriamente à nossa vida de grupo quanto o fazemos conosco, de forma individual, com os Doze Passas de Recuperação, onde o Décimo Segundo - na parte de levar a mensagem - "é o serviço básico prestado pela comunidade A.A." "E nosso principal objetivo e a razão primordial de nossa existência".

Portanto, diz-nos Bill, "A.A. é algo mais que um conjunto de princípios. E uma Sociedade de alcoólatras em ação. Devemos levar a mensagem, pois se não o fizermos podemos recair e, além disso, aqueles a quem não se a transmite, podem perecer. E prossegue Bill":
"Portanto, um serviço em A.A. é tudo aquilo que, seja o que for, ajuda-nos a alcançar uma pessoa que sofre, passando por todos os degraus, desde o Décimo Segundo Passo propriamente dito, até urna chamada telefônica; desde uma xícara de café, até o Escritório de Serviços Gerais. A soma destes serviços é o nosso Terceiro Legado".

"Os serviços incluem lugares para reuniões, cooperação com hospitais e com escritórios intergrupais; supõem a utilização de folhetos, livros e uma boa publicidade. Requerem comitês, delegados, custódias e conferências. E, não podemos esquecer, tudo isto requer contribuições voluntárias de dinheiro por parte dos membros da Comunidade".
Conquanto saibamos que as nossas contribuições não são, de forma alguma, uma condição para pertencermos à Sociedade de Alcoólicos Anônimos, devemos nos sentir muito felizes ao colaborar financeiramente para que determinadas prestações de serviço tornem-se exeqüíveis.

Deve haver prazer em contribuir, não apenas para que obedientes à Sétima Tradição sejamos realmente auto-suficientes. Como vejo, é muito mais que isso. Nossa participação pecuniária em verdade deve representar um gesto de generosidade e de desprendimento que não pode ser substantivado como despesa e, sim, como investimento, ratificando o texto da Oração de São Francisco que diz que "é dando que se recebe", Trata-se de uma ação espiritual. O ideal é que nunca venhamos a participar nas sacolas porque alguém usou de termos coercitivos conosco. Se coação houver, que seja de nossa própria consciência, o que ainda não é bom, já que a linguagem do coração é a que o surdo ouve, a que o cego vê e a que o mudo fala - o idioma universal de Alcoólicos Anônimos. Aqui cabe a reflexão que diz que não devemos, apenas, dar a quem pede, mas oferecera quem não ousa pedir, porque acima da generosidade que dá, está a generosidade que oferece.

É belíssima a Sétima Tradição, inclusive no que diz respeito à democratização do dinheiro. Muito além do dever, temos, todos, o direito assegurado dela participar. É nesse momento que nos é oferecida uma oportunidade de contribuir na redistribuição das bênçãos que recebemos desde que chegamos ao A.A. E quem redistribui as bênçãos recebidas, fica com todas elas. Espiritualmente, o que nos torna ricos não é o que guardamos. E o que damos.

A sacola tem o aroma do amor. Amor que se afirma quando não nos esquecemos de tantos alcoólatras que se encontram nas penitenciárias, nos hospitais psiquiátricos, nos xadrezes dos distritos policiais ou em baixo de viadutos, passando fome e enfrentando as duras noites do inverno quando os cobertores que os aquecem são jornais velhos e amarelados. E o que dizer do colchão dessas pessoas? Quando colocamos o nosso dinheiro na sacola, generosamente, sabendo que uma parte dele se destinará aos nossos organismos de serviço - que realizarão o trabalho do 12° Passo, através do C.T.O., também com outros alcoólatras além daqueles que acabo de mencionar - por certo estaremos alegrando o coração de Deus.

Não nos esqueçamos que a oração do Pai Nosso, usada por milhares de grupos no mundo inteiro, não nos foi ensinada no singular. Em sendo "Pai Nosso"o seu Autor nos diz claramente que somos todos irmãos. Se, ao colocarmos o dinheiro na sacola, fazemo-lo com sovinice e frieza, não estamos observando que Aquele que tirou nossa obsessão pelo álcool, e que nos mantém sóbrios, sabe o que estamos fazendo. Nossos companheiros não sabem, porque a contribuição é anônima. Mas, Deus sabe. Ele irá aferir se estamos ou não olhando para os bêbados irmãos assumindo a condição de irmãos dos bêbados.

Frases rotineiras apresentadas aos recém-chegados, tais como "Obrigado, companheiro. Você veio nos ajudar" ou "Fique conosco porque eu preciso de você", são importantes e legítimos subsídios para nos convencermos de que a nossa espontânea e eficiente participação financeira representa não menos que uma maneira de agilizar a chegada de novos membros visto que, por exemplo, o dinheiro destinado à criação e manutenção de ESLS, Comitês de Área, ESG. Etc. possibilita a execução de determinados serviços que os grupos isoladamente estão incapacitados de realizar. E se não estamos faltando com a verdade quando dizemos aos "ingressantes" aquelas frases, chegamos à conclusão óbvia de que a nossa participação com o dinheiro traz a contrapartida de nosso próprio benefício. Ou estaremos mentindo para os recém-chegados quando dizemos que deles necessitamos?

Quando afirmamos aos companheiros, nas reuniões, que lhes devemos as nossas vidas, abaixo de Deus, e que meios não há como resgatar a divida contraída pela nossa salvação, muitos de nós, até possivelmente por inadvertência, desatenta para a extensão dessa declaração. Estamos todos conscientizados de que todo "ingresso" representa um fator multiplicador de nossa segurança, tanto que agradecemos aos "ingressantes" o fato de virem nos ajudar. Por conseguinte, quando a nossa participação na sacola é rateada entre o dinheiro e o descaso, não estamos senão minimizando o nosso grau de reconhecimento por aquela dívida, pois se temos, muitos de nós, condições de contribuir mais generosamente para robustecer fundos que irão dinamizar tarefas que possibilitem a agilização da chegada de novos membros e não o fazemos, implicitamente estamos prejudicando àqueles a quem confessamos o nosso débito, visto que os novos "ingressantes" são tão importantes para nós quanto o são para os que nos ajudaram em nossa salvação. Não estaremos sendo contraditórios os confrontos das palavras com a ação?

A Sétima Tradição é urna célula num corpo constituído de doze e, tal como as demais, não devemos permitir que cancerize. Diferentemente do resto do mundo que, por motivos econômicos, permanentemente conflita, nessa Tradição se aloja um poderoso fator de fortalecimento de nossa Sociedade pois na medida em que obtemos recursos materiais que viabilizem a consecução da sublime tarefa de levar mais mensagens a mais alcoólatras, maior é o número de "ingressantes" e, por conseguinte, doses mais robustas de soro espiritual recebemos.
Quando não faço nada em favor dos alcoólatras ainda no cativeiro, já estou fazendo. Estou sendo parceiro do álcool nas devastações que causa, e alegar que minha omissão tem sido inconsciente não muda nada moralmente porque o homem é responsável por todos os seus atos, até mesmo os inconscientes. Não há espelho que melhor reflita a imagem do homem que as suas ações.

Deus ama àquele que dá sorrindo e, talvez, seja mais sensível ao sorriso do que ao próprio dom. Participar em A.A. não é um dever. É um privilégio.
Quando chegamos ao A.A. pela primeira vez, carregávamos toda sorte de distorções, com o egoísmo sendo mestre-sala na escola de samba de nossa miséria. Aprendemos, ao vivenciar os Doze Passos, que aquele excessivo amor ao bem próprio, sem atender ao dos outros, tinha que ser um dos alvos prioritários no bombardeio a que nos dispusemos realizar, municiados pelos projéteis que Alcoólicos Anônimos nos oferece. Mas, o egoísmo pode apresentar-se com mil e urna roupagens, não sendo inviável que, incontáveis vezes, passe imperceptível aos nossos olhos.

Não obstante o programa não recomendar que nos grupos fiquemos o resto de nossas vidas a remexer no lodaçal do nosso passado alcoólico, salvo quando nossa palavra tem por destino um `ingressante ", é de capital importância não consentirmos que os acontecimentos `daqueles tempos" evadam para o vale do esquecimento. Não devemos fazer deles - os acontecimentos - uma câmara de torturas. Entretanto, convém-nos impedir que se apaguem de nossas mentes não só para que nos ajudem a detectar os nossos instintos distorcidos - genitores de todos os males que produzíamos - como também para que possamos, pela nossa própria experiência, jamais não dar valor à angústia e ao sofrimento daqueles que na loteria da vida ainda não foram premiados com o ingresso" em Alcoólicos Anônimos, portanto, fortes candidatos à loucura, à prisão ou à morte prematura.
Nós, que no passado fomos personagens de uma peça em que o álcool era o astro, que desculpas encontraremos para dar a Deus se um dia Ele nos perguntar se nunca nos esquecemos das mulheres e dos filhos de doentes alcoólicos aos quais Alcoólicos Anônimos não conseguiu transmitir a mensagem porque fria e egoisticamente ficamos indiferentes aos apelos de reforço na sacola que muitas vezes companheiros nos trouxeram? Quando nos lembrarmos do que fazíamos às nossas crianças quando bebíamos, não podemos nos permitir esquecer das crianças daqueles que ainda não se uniram a nós. Não há como ignorar a verdade de que a criança que não é amada tem muitos nomes. Na hidrografia de A.A. o egoísmo é nascente do rio cujas águas são constituídas pela indiferença, pelo desinteresse e pela insensibilidade. No ecossistema de A.A., o desprezo pela sacola é poluente rio programa de recuperação. E não é degradável.

Somos veementes na afirmação de que o alcoolismo é uma doença de determinação fatal e que por isso reserva aos seus portador três destinos: hospitalização, presídio ou morte prematura. A sociedade, por seu turno - leiga no assunto - vê no alcoólatra um patife, um imoral, um desprezível ser desprovido de um mínimo de força de vontade, conceito em que se fundamenta para assumir sua posição de desdém e de insensibilidade. Para a sociedade, em regra, o alcoólatra é um ser asqueroso, hediondo, sórdido, imundo, repugnante e descarado, Cabe aqui perguntar:
Quando ficamos privados de Centrais de Serviços porque os recursos provenientes dos grupos que as criariam e sustentariam inexistem - e inexistem porque não damos ao cumprimento da Sétima Tradição o devido respeito e a merecida atenção - não estaremos tratando àqueles que ainda se encontram reativando a doença através da ingestão do 1° gole com o mesmo desprezo com que o faz a sociedade não esclarecida? Ela não é esclarecida, mas nós somos. Somos?

Alcoólicos Anônimos não pede e não quer o sacrifício de ninguém. Assim, se um dos nossos membros ao colocar certa quantia na sacola souber, de antemão, que com o seu gesto o litro de leite não poderá ser comprado na manhã seguinte, por favor, não coloque aquilo que em verdade significa a subtração de sua saúde e de seus familiares. Alcoólicos Anônimos não deseja comprometer a saúde de quem quer que seja. Por outro lado, envolve incoerência que eu vá à cabeceira de mesa fazer uma declaração de amor ao A.A., justificando-a com o muito com que tenho sido favorecido desde o meu `ingresso", mas não traduzindo em ação tão decantado amor. Provamos a nos mesmos o nosso amor por alguém ou por uma causa quando os nossos atos, voluntários, naturais e até inconscientes são atos de amor, Procuremos manter bem viva em nossa mente que o bem que se faz num dia, é semente de felicidade para o dia seguinte. Por que não semear todos os dias se a colheita é nossa?

O autor conhece alguns companheiros que recordam com profundo pesar o período de suas vidas a que denominam de "fase de infidelidade" a seus grupos. Dispunham de recursos para oferecer maior contribuição na sacola, mas comportavam-se com avareza, obrigando com isso outros a participar com importâncias significativas, compensatórias do seu gesto de sovinice. Mais ainda: ficavam sem ir ao grupo por vários dias e quando reapareciam deixavam de contribuir também pelos dias de ausência, "esquecendo" que o aluguel da sala, a conta da luz e outros gastos não se interrompiam com o seu afastamento. Esses confessos admitem que se constituía numa fraude suas declarações de gratidão a Alcoólicos Anônimos posto que conquanto Deus lhes oferecesse ai mais uma oportunidade de tornar efetivas tais declarações, eles não as materializavam. Envergonhados, graças a Deus, ainda têm diante de si a visão de companheiros desempregados ou beneficiários da Previdência Social contribuindo avidamente, apesar de todas as suas dificuldades. Ao que parece - é o que dizem aqueles que se autodenominam de "infiéis" - os desempregados e os aposentados, bem compreendiam os dois seguintes trechos escritos por Bill no livro "Alcoólicos Anônimos Atinge a Maioridade":

1. "Recusamos o generoso dinheiro de fora e decidimos viver à nossa custa". -
Pág. 257

2. "Em outra reunião, tratou-se do tema dinheiro em A.A. e houve uma discussão salutar. O principio de A.A. de que "não há taxas nem mensalidades obrigatórias" pode ser' interpretado e racionalizado corno: "Não existem responsabilidades individuais ou deveres de grupo de forma alguma" e esta idéia errada foi totalmente eliminada nessa reunião. Por `unanimidade, chegou-se a conclusão que, através de contribuições voluntárias, as contas legitimas dos grupos, áreas e A.A., como um todo, precisam ser pagas - Pág. 27.

Logo no primeiro parágrafo da pág. 39 da 5ª edição em português do livro "As Doze Tradições" está escrito: "Alcoólatras auto-suficientes? Onde já se viu isso? No entanto descobrimos que é isso o que devemos ser (inexiste destaque no original)". E prossegue: "O principio é um indicio revelador das profundas modificações ocorridas em todos nós (não há destaque no original)".. E finaliza o parágrafo dizendo: "Uma sociedade composta apenas de alcoólatras dizer que vai pagar todas (o destaque não consta do original) as suas contas constitui, realmente, uma novidade".Ante o transcrito, formulo duas indagações: Ocorreram ou não em todos nós as modificações a que Bill alude? Estamos de fato pagando todas as nossas contas? Lembremo-nos incessantemente que a ingratidão é a amnésia do coração. Se de fato reconhecemos que se Deus não houvesse colocado A.A, em nossas vidas talvez nem vivos estivéssemos, o mínimo que nos cabe é não consentir que jamais se apague em nós o sentimento de gratidão, já que a gratidão é a memória do coração. A maioria de nós crê firmemente que Alcoólicos Anônimos é uma criação de Deus. Não estaremos, muitos de nós, com relação à Sétima Tradição, com freqüência, assumindo uma posição ateísta? Lembremo-nos de que Deus se basta a si mesmo, mas Ele conta conosco para realizar suas tarefas.

Na página 32 do livrete "OS CO-FUNDADORES DE ALCOÓLICOS ANÔNIMOS" encontramos a seguinte mensagem de Bill: "A automanutenção é o conceito essencial da responsabilidade madura. Esperávamos crescer, em A.A., e nos mantermos independentes. Havíamos assumido esta responsabilidade, estamos dando conta do recado, e recusamos com firmeza quaisquer contribuições externas" (os destaques não aparecem no original). Em face desse pronunciamento de Bill, não seria ocioso aqui fazer-se um inventário:
1. A automanutenção tem sido o nosso conceito essencial da responsabilidade madura?
2. Ternos nos empenhado em nos manter independentes?
3. Estamos dando conta do recado?
4. Temos recusado com firmeza quaisquer contribuições externas?
Atentemos para a expressão `independentes" utilizada por Bill. Como todos sabemos, "independente" significa "que não depende de ninguém ou de nada, que não está sujeito a ninguém ou a nada". Poderíamos, HONESTAMENTE, afirmar que a maioria dos nossos grupos não depende de ninguém e que não está sujeito a ninguém?

Há um registro de Bill nas páginas 39 e 40 no livro "As Doze Tradições" (5ª edição em Português) muito interessante: "Desde logo se patenteou que ao passo que os alcoólatras abriam generosamente as suas bolsas nos casos do Décimo Segundo Passo, sentiam tremenda aversão em pingar seu dinheirinho num chapéu passado numa reunião com a finalidade de atender a algum interesse do grupo".
Uma análise corajosa desse texto nos conduzirá à conclusão do óbvio: O valor que se coloca na sacola não é do conhecimento de ninguém. Entretanto, quando se chega na sala trazendo um provável membro, todos vêem. E aí não importa que se tenha gastado R$ 50,00 de táxi para ir buscar o candidato. O importante é que todos estão vendo. E se não é isto, o que é então? Às vezes é extremamente simples entender o espírito com que Bill diz que "não existe o mais remoto perigo de A.A. ficar rico com as contribuições voluntárias de seus próprios membros!" ("A.A. Atinge a Maioridade P. 101)".

A Sétima Tradição recomenda que não ultrapassemos a fronteira que separa a Reserva Prudente da Imprudente, acumulando fundos sem nenhum propósito determinado em beneficio de A.A., fato que não ocorre em nossos dias, no A.A. do Brasil, cuja realidade exibe inumeráveis carências ditadas, em particular, pela insuficiência de recursos financeiros. Em nosso país, a maioria dos grupos fere frontalmente à Sétima Tradição, não sendo auto-suficientes, posto que aceitam doações de fora sob a forma de salas emprestadas. E o que é pior, procuramos mascarar essa situação de fato - tantas vezes produtora de humilhação - sob o embuste de que pagamos aluguel às igrejas através da contribuição que mensalmente destinamo-lhes. Quanto? R$ 40,00 ou R$ 50,00.

Há um artigo escrito por Bill W. para a Revista Grapevine de novembro de 1947, sob o título "A CONSTITUIÇAO DE SOCIEDADES: USO E ABUSO", onde consta em determinado trecho que a automanutenção econômica total deve ser alcançada tão logo seja possível. Depreende-se daí, pois, que o nosso co-fundador até admitia que um grupo pudesse não ser auto-suficiente durante algum tempo. Podemos entender por quê. Quando se inicia um grupo, em regra, os seus "fundadores" são de reduzido número de companheiros, circunstância que dificulta o enfrentamento de todas as despesas decorrentes de sua criação.

Teremos, então, aí, a única concessão feita por Bill. Entretanto, na medida em que o tempo avança, o grupo vai tendo o número de seus componentes multiplicado, condição abortífera da justificativa da violação do princípio da automanutenção. Quando este momento é chegado, não é sensato esforçarmo-nos para "esquecer" que as limitações reais do grupo não são representadas pelas coisas que deseja fazer e não pode, mas pelas coisas que deve fazer e não faz. A Sétima Tradição não nos impõe um dever legal. mas nos impõe o dever moral.

Não constituir-se-á em inutilidade de tempo observar que Bill, em seu artigo, fez uso da expressão "econômica" e não "financeira". Esta, tem seu significado limitado a dinheiro. Aquela engloba, além de dinheiro, bens tais como cadeiras, mesa, armários, quadro negro, giz, etc., etc. Enfim, tudo o que se fizer necessário para que um grupo funcione sem necessitar de ajuda de "fora".

Durante não saudosos anos fomos dependentes de bebidas alcoólicas e de pessoas. Hoje, pela graça de Deus, ganhamos nossa independência do álcool. Por que, sem o mais tênue sinal de ingratidão, não nos tornamos, também, independentes em outras áreas, cada um traduzindo em.ação sua afirmativa de que agora é responsável? Que resposta daremos à nossa consciência quando ela nos questionar se estamos transmitindo, aos que conosco vêm se associar, um efetivo exemplo de pessoas responsáveis? Não há modo de ensinar mais forte do que o exemplo:
Persuade sem retórica; reduz sem porfia; convence sem debate; desata todas as dúvidas e cortam caladamente todas as desculpas. Não estaremos nós comportando-nos com um modelo antiprograma? Afinal, acomodação é prima irmã da inconseqüência e não tem qualquer grau de parentesco com a responsabilidade. Responsabilidade em A.A. é fator de unidade. Acomodação é fator de desagregação.

Quando Bill nos diz que "se, como Associação, mantivermo-nos uma entidade espiritual preocupada apenas em levar a nossa mensagem aos alcoólatras que sofrem, sem esperar recompensa ou honorários, poderemos levar a cabo de forma, a mais efetiva, a nossa missão", ele nos concita a não termos outro tipo de preocupação que não seja a de levar a mensagem. Por que, então, sermos ingratos à Irmandade criando a preocupação paralela produzida pela nossa negligência ao participar da sacola - a geradora de recursos para a auto-suficiência dos grupos, para a criação e manutenção de lntergrupais, de Comitês de Área e de Centrais de Serviços? Em termos de auto-suficiência, estaríamos ou não causando alegria a Bill e Bob se ambos ainda estivessem vivos?

Somos uma entidade espiritual e como tal devemos ver o dinheiro como uma dádiva de Deus como meio de suprir as nossas necessidades. Não ficaremos nós, muitas vezes, antagonizando-nos a Deus impedindo-O que nos use como instrumentos para a Sua dádiva?
Há um pensamento que diz que "os grandes corações nunca são felizes. Para sê-lo, falta lhes a felicidade dos outros. De que tamanho será o coração de cada um de nós? Sabemos, todos, que podemos confiar em Deus, mas será que temos assumido um comportamento tal que Deus possa confiar em nós?".

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