segunda-feira, 30 de julho de 2012

Aqui é onde está o poder...


Aqui é onde está o poder...

Há cinco anos, estava sentado ao lado de um moço bonito, mas emocionalmente em frangalhos - um novato que viera para sua primeira reunião aberta de A.A.

Quando chegou a hora de encerrarmos a reunião da maneira costumeira (O Pai-Nosso e a Oração da Serenidade), ele mostrava-se visivelmente tocado pelo conteúdo emocional da reunião. Caiu em prantos antes do final da oração, com grandes soluços entrecortados. Ao final da prece, agarrou minha mão com toda a força e procurou explicar por que chorava. Eu próprio estava sóbrio há apenas seis meses, e tentei explicar para ele, por entre minhas próprias lágrimas, que não havia necessidade de explicação, que isso acontecia muito nas reuniões de A.A. Ele disse então algo que nunca esquecí, ao erguer nossas mãos juntas: "Aqui é onde está o poder." Foi uma coisa que me arrepiou naquela hora, e ainda me arrepia hoje, e espero que continue assim enquanto eu viva, e sóbrio.

Muitas vezes, em anos recentes, quando me senti para baixo, incomodado, e precisando de uma levantada, ia a uma reunião e sentia aquele poder. É espantoso como a minha perspectiva muda (a meu respeito e a respeito das minhas preocupações), quando me sento nas salas enfumaçadas e escuto outras pessoas falarem sobre o dia delas, suas vidas, sua sobriedade. Nunca falha esse poder quieto e singelo. Ergue-me e me puxa para fora de mim, e me reassegura que, só por hoje, as coisas (e eu) vamos melhorar - se conseguir passar por cima de mim.

Durante todo o inverno passado, não consegui ir a muitas reuniões, e apesar de ter um monte de desculpas - falta de dinheiro, de carro ou autorização, lá no fim do mundo, com a reunião mais próxima à distância de uns quinze ou vinte quilômetros - a verdade é que eu estava sentindo pena de mim e extremamente fora de contato com o Poder restaurador.

As coisas pioraram antes de melhorarem. Houve ocasiões em que engoli meu orgulho com relutância e, em quieto desespero, liguei para alguém e lhe pedi que me levasse a uma reunião. Ficava sentado lá, enrolado e miserável, esperando que alguma coisa acontecesse, esperando pela confirmação de que tudo (e eu) estaríamos bem. Às vezes, essa assertiva não vinha (ou eu não a escutava) e então saía sentindo-me pior (ou pensando que me sentía assim), e me perguntava se A.A. ainda estava funcionando. É claro que funcionava, eu é que não. Semana passada, fui a uma nova reunião ao meio dia, que ajudei a começar na cidade onde agora trabalho. Sabia que estava precisando de algum calor, de gentileza e de senso comum, e realmente nutria esperança por alguma coisa naquele dia. Havia seis de nós alí - e apesar de o tema ser "tomar a culpa para sí", cobrimos uma gama de emoções e sentimentos que começaram e terminaram com amor.

Foi uma ótima reunião e, advinhem se, quando encerramos da maneira de sempre, não houve aquelas lágrimas, os arrepios e o poder - igualzinho como eu me lembrava. Depois de todos os beijos e abraços, acho que saí flutuando da sala, na minha pequena nuvem particular. Não me sentía tão bem há meses, e fico tão grato pela lembrança que "aqui é que está o poder". Não está apenas nos livros que leio, ou nas minhas ações, ou nas coisas que penso e digo; está também nas mãos e nos corações das minhas irmãs e irmãos em A.A., e com cada mão num poder desses, como poderei perder? 

(A.T.)

Vivência - Mar/Abr. 2002)

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