quinta-feira, 12 de abril de 2012

Primeiro as Coisas Primeiras

Primeiro as Coisas Primeiras

Numa reunião de Serviços do Grupo que freqüento, há alguns anos atrás, discutia-se a respeito de se fazer uma festa de aniversário do Grupo.

As propostas iam surgindo, algumas delas distanciadas das Tradições, mas por fim, a consciência coletiva decidiu por uma festa em que seria servido um almoço a todos. Naturalmente, o dinheiro para pagar as despesas nem sempre saía dos bolsos de nós membros, porque o dinheiro da Sétima Tradição era insuficiente.

Naquela ocasião conhecia só o Grupo e nada sobre o programa de recuperação. Com muito entusiasmo, participei da festa e fui até responsável por providenciar os pernis e assá-los na padaria, e nem sei se pagamos também por isso ou se foi mais "um favor".

Isso se repetiu por vários aniversários do Grupo. O tempo foi passando e comecei a entrar em contato com o programa. Os Doze Passos, mesmo praticados por mim de maneira tímida e indecisa, estavam me fazendo muito bem. As Doze Tradições começaram a despertar em mim uma visão de nosso relacionamento dentro da Irmandade e com a comunidade.

Entrei em contato com os serviços e percebi que o retomo para meu bem estar era muito grande. Assim, conheci o Distrito, logo depois o Comitê de Área e o Escritório de Serviços Locais-sede, em Minas Gerais.

Embora não tivesse conhecimento a respeito do programa para ser mais útil do que fui, mesmo assim, continuei tentando aprender, para pôr em prática da maneira que podia, um dia de cada vez, como me foi sugerido pelos companheiros e companheiras.

Quanto mais o tempo passava, mais ia ficando confuso para mim a respeito do que eu estava fazendo para ajudar o Grupo. E isso estava prejudicando a minha recuperação. Um dia ao levantar, sentia fome e um bem-estar muito grande. Com minhas próprias mãos, já sem tremer, preparei o café da manhã. Agora sem o gosto ruim de uma ressaca na boca, senti o gosto do alimento. Percebi também que usava alimentos bem saudáveis. Estava cuidando bem de mim e isso era bom! Por que eu estava tão bem? Porque admiti meu alcoolismo livremente e aceitei livremente o programa de recuperação de A.A.

Mas, para que isso acontecesse, o Grupo um dia me recebeu. Os companheiros e companheiras compartilharam comigo suas experiências como alcoolismo, o programa e sua prática. Eles estavam usando parte de suas vidas para colocar à minha. disposição a sobriedade.

Para isso o Grupo estava ligado a um Distrito que, por sua vez, se ligava a um Comitê de Área e este ao Escritório de Serviços Gerais da JUNAAB. Tudo isso envolve muito trabalho, dedicação, sacrifício e dinheiro que, segundo a Sétima Tradição, deve sair das contribuições de seus próprios membros.

Nesse momento em que usufruía de tão grande bem-estar através do programa de A.A., muitas pessoas estavam sofrendo com o alcoolismo, sem terem a mesma oportunidade que tive um dia. Aprendi também que os Órgãos de Serviços, tendo mais recursos de servidores e de dinheiro, podem levar a mensagem a um número maior de alcoólicos que eu jamais poderia alcançar e nem o meu Grupo de recuperação.

Veio à minha mente também um lema que me foi ensinado e que quando pratico, facilita muito minha vida: "primeiro as primeiras coisas". No Grupo ia ter mais uma reunião de serviços para que fossem apresentadas sugestões para a festa de comemoração dos 30 anos de atividades.

Decidi apresentar uma proposta na reunião, embora não quisesse, de maneira nenhuma, ter qualquer atrito com esses homens e mulheres que ajudam em minha recuperação: Simplificar um pouco a festa, deixar o almoço de lado, e repassar uma contribuição para o Escritório de Serviços Gerais, no mês da gratidão (novembro).

Assim poderíamos alcançar melhor nossos objetivos que são nossas primeiras coisas. Sei que é um sacrifício para mim, mas esse reparo me aliviou. Qualquer que seja a decisão da consciência coletiva do Grupo a respeito, sei que minha coragem para modificar o que posso em mim, naquele momento, foi importante para minha recuperação.

Muito agradecido pelas minhas últimas vinte e quatro horas, desejo a todos mais vinte e quatro horas de abstinência, serenidade e paz.

(Anônimo /Pedro Leopoldo /MG)

VIVÊNCIA n° 93 – Jan/Fev. 2005

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