sexta-feira, 13 de abril de 2012

O Grupo Base

O Grupo Base

"O que é para mim o Grupo Base?"

Numa reunião de consciência de grupo alguém se lembrou que seria engraçado cada um de nós, membros regulares deste grupo, escrevermos sobre este tema - aqui vai o resultado desta sugestão...

Antes de o álcool ter atingido proporções graves na minha vida, fiz parte de alguns grupos mas, na verdade, nunca me senti a pertencer. Gostava de passar despercebida, achava sempre que nada tinha para dizer e normalmente ficava calada, tinha medo de dizer disparates, tinha medo que pensassem mal de mim, tinha medo de tomar decisões e não queria e nem sabia assumir responsabilidades. E quando não era possível manter-me à parte, tinha de me preparar muito bem para não falhar, sempre com muito medo e um desejo enorme que ninguém me contrariasse e se tal acontecia eu deixava de ouvir os outros pois só me preocupava com as respostas que ia dar. As minhas ideias tinham então de prevalecer, o esforço que eu tinha feito não podia ter outro resultado senão, eu ser considerada a melhor. Às vezes eram os outros que tinham ideias melhores que as minhas e quase que morria de raiva. Mais uma vez a minha cabeça dizia que eu não prestava.

Quando descobri que o álcool me fazia não dar importância ao que eu sentia, bebia antes de começar com qualquer coisa e então, de uma forma progressiva veio o descalabro. Falava quando não devia e passei de uma pessoa passiva, a agressiva, sem olhar a nada e a ninguém.

Cheguei a AA, completamente destroçada e derrotada. A pouco e pouco fui atingindo algum discernimento mas as minhas velhas atitudes mantinham-se. Demorei algum tempo a escolher o meu grupo base, saltitava de reunião para reunião e recordo-me que fugia caso fosse consciência de grupo, era uma "seca" e eu, diferente e especial, não tinha que estar numa reunião de serviço que, na minha cabeça doente, não era de recuperação.

Foi graças ao amor incondicional de alguns companheiros mais próximos e da minha madrinha, com a sua tolerância e paciência, que se foi fazendo alguma luz para eu seguir a sugestão e escolher o meu grupo base. A mudança que tanto ouvia falar e que, apesar da minha teimosia, eu também queria para mim, estava a começar a acontecer.

A pouco e pouco comecei a perder o medo e a confiar nos outros; mesmo que diga asneiras não está ali ninguém para me julgar. Tenho aprendido a ouvir e a mudar a minha opinião as vezes que forem necessárias. Tenho aprendido a respeitar os outros e a mim própria. Tenho aprendido que a minha vida faz sentido. tenho aprendido o significado da palavra gratidão. Hoje, não quero ser passiva nem agressiva e as consciências do meu grupo base e o serviço que vou fazendo, ajudam-me muito a limar todas aquelas características menos boas que há em mim. Hoje sinto-me a pertencer e com a ajuda de todos os meus queridos companheiros vou, a pouco e pouco, crescendo e a aprender a ser responsável.

É ali que vou buscar energias para o meu dia a dia, ouvir e partilhar com os outros e lembrar-me da minha doença e de onde vim. É ali que sinto que posso encontrar todas as receitas para a minha vida melhorar se eu mudar. É ali que me conhecem melhor. É ali que eu choro e rio. É ali que trocamos os melhores abraços do mundo. É ali que eu quero continuar, só por hoje.

(Revista Partilhar - n° 24)

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