quarta-feira, 11 de abril de 2012

Alcoólicos Anônimos - The New York Times Magazine

ALCOÓLICOS ANÔNIMOS
The New York Times Magazine
Por Nan Robertson

Mais jovens, negros, mulheres, homossexuais, hispânicos, e alcoólicos adictos a outras drogas agora ingressam no AA.

Somente Bill Wilson poderia ter imaginado o AA como ele é hoje, porque somente Bill, entre os antigões dos Alcoólicos Anônimos, tinha sonhos tão grandiosos, improváveis. No verão de 1935 havia somente dois membros de AA – Wilson um corretor falido de Wall Street, e Dr. Bob Smith, um médico-cirurgião – sentando na cozinha de Smith em Akron, Ohio, através de metade da noite, fumando um cigarro atrás do outro e tomando goles de café e tentando entender como eles poderiam fazer outros bêbados ficarem sóbrios como eles mesmos. A sociedade que eles tinham fundado atraiu somente 100 membros nos quatro próximos anos, ela nem mesmo tinha um nome até 1939.

Agora existem mais de um milhão e meio de nós ao redor do mundo - membros do mais bem sucedido, imitado, no entanto freqüentemente incompreendido movimento de auto-ajuda do século XX.

Cerca de metade dos Aas estão nos Estados Unidos, o resto está espalhado por outros 114 países. Muitos milhões adicionais passaram pelo movimento e se recuperaram através deste programa, mas o AA periodicamente conta apenas aqueles que estão atendendo às reuniões regularmente.

Para aqueles que sabem, existem dicas da presença de AA em toda parte: o aviso na capota do Jipe numa cidade mexicana que diz o "Grupo Bill Wilson" vai se encontrar esta noite, o adesivo no pára-choque em West Virginia que diz "Mantenha simples". A prece da serenidade, atribuída ao teólogo Reinhold Niebuhr e recitada no final das reuniões de AA, aparece em uma moldura na parede de uma sala de estar da África do Sul ou bordada em um travesseiro de uma loja de luxo na Madison Avenue.

Aas se encontram em Pagopago, Samoa Americana, nas quartas-feiras à noite, em McMurdo Sound, Antártica, aos sábados, e em Lilongwe, Malawi, as Segundas e Sestas. Eles se encontram para apenas sentar e conversar entre reuniões em uma loja de biscoitos e cafés na avenida principal de Peterborough, N. H., uma cidade de 5.200, que tem 4 grupos de AA. Um deles é chamado de Nossa Cidade, em honra de Thornton Wilder, que usou Peterborough como modelo para sua nostálgica peça teatral sobre a vida em uma pequena cidade americana.

A torre de uma Igreja Católica Romana perto do Jardim do Convento em Londres e uma sala de diretoria de um banco na região de Marin, na Califórnia, estão reservadas para reuniões de AA uma vez por semana.

Alguns grupos se encontram em barcos, no oceano ou em portos. A estes arranjos exóticos devem ser incluídos os milhares de prosaicos porões e salões em igrejas, centros comunitários e hospitais, onde a maioria dos AAs progridem no seu caminho de volta para uma vida de qualidade.

Na última década ou tanto, um grande número de americanos, sobretudo artistas, revelaram em público que eles são alcoólicos recuperados.

Quase todos disseram que sua motivação e sua esperança eram, inspirar, por seu exemplo, os alcoólicos ainda bebendo a se recuperarem. Mas a grande massa de membros em toda parte é composta de pessoas mais ou menos comum.

Eles não são estrelas de cinema, nem vadios miseráveis, o grande drama de suas vidas não foi exibido com holofotes nem em motéis de baixa categoria.

Estes alcoólicos sofreram, cada vez mais isolados, em bares, em seus próprios quartos de dormir, ou em salas de estar de amigos que se afastaram por cause de seu comportamento bêbado. Sua recuperação foi trabalhada em particular.

Nos últimos 50 anos, a essência do AA - sua literatura básica, seu programa de recuperação e seu jeito de ver a vida - mudou muito pouco. Mas em termos de números e diversidade de seus membros, o AA, hoje, estaria irreconhecível para seus pioneiros. Nos anos iniciais, os membros de AA eram quase exclusivamente homens, brancos, de classe média, na meia idade e ocidentais.

Eles eram homens que tinham caído muito, freqüentemente do topo de suas profissões e negócios.

O AA de 1988 é enorme, crescentemente internacional, multi-étnico, multi-racial, de todas as classes, menos religiosamente rígido do que no início, mais receptivo a pessoas gays e mulheres, que agora são um terço do total de membros norte-americanos e cerca de metade dos membros de AA nas grandes cidades. Crescentemente, mais pessoas procuram ajuda no AA nos primeiros estágios da doença.

Uma tendência muito mais abrupta e espetacular é que pessoas jovens correram para o AA nos últimos 10 anos, a maioria deles adictos a outras drogas além do álcool. Dr. LeClair Bissel, o diretor fundador do centro de alcoolismo Smithers, em Manhattan, expressa o consenso da pesquisa sobre alcoolismo e tratamento a nível mundial quando ela diz: "Quase não há mais alcoólicos "puros" entre pessoas jovens. Eles estão viciados em bebida e outras drogas, ou somente outras drogas".

É comum agora em reuniões de AA ouvir um jovem com a palavra dizer: "Meu nome é Joe, e eu sou um viciado em drogas e alcoólico".

Os alcoólicos cruzados enraivecem alguns membros de AA. Um com 20 anos de sobriedade diz: "Esta irmandade foi formada para ajudar os alcoólicos que ainda sofrem, e alcoólicos somente. Daí porque ela tem sido tão bem sucedida - nós não macaqueamos em volta com outros problemas".

Em algumas poucas comunidades, membros de AA formaram grupos direcionados para aqueles acima de 30 anos. A mensagem é clara: drogados não são desejados. Este desenvolvimento enfurece John T. Schwarzlose, diretor executivo do centro Betty Ford para usuários de drogas em Rancho Mirage, Califórnia: "AA é o epítome de tolerância, flexibilidade e inclusão, mas alguns usuários de drogas me falaram sobre serem mandados para fora de reuniões de AA no meio oeste e sul, quando eles disseram que eram apenas usuários de drogas". Nas grandes cidades e no escritório central do AA, as atitudes quanto ao usuário cruzado são muito mais receptivas.

Por um longo tempo, acreditou-se que Alcoólicos Anônimos era um fenômeno apenas norte-americano. Acreditou-se que seus temas de auto-ajuda e voluntarismo não seriam transferíveis para outras culturas mais relaxadas. O AA nascido equatoriano coordenador dos grupos hispânicos expressou o ponto de vista inicial entre seus amigos latinos: "O AA é ok para gringos, mas não para nós. Na América Latina... se um homem não bebe, ele não é macho". Para sua surpresa, o AA começou a florescer entre hispânicos em 1970. Os 250000 membros do México são superados somente pelos Estados Unidos. O Brasil com 78.000 membros, e a Guatemala, com 43000 são os próximos maiores números na América Latina.

Até recentemente, o AA tinha sido incapaz de ganhar espaço na União Soviética ou no leste europeu. O movimento era visto lá como uma possível ameaça, por cause de seus princípios de anonimidade e confidencialidade, seu tom religioso e o fato de operar fora de qualquer controle governamental. No ultimo verão, a União Soviética enviou aos Estados Unidos 4 médicos especializados em adicção. Eles visitaram centros de tratamento de alcoolismo, e os estudos sobre álcool da escola de verão na Universidade de Rutgers e numerosas reuniões de AA. Quando eles voltaram para casa, ele levou grande número de panfletos de AA traduzidos para eles para o russo.

Até agora, a única nação do leste europeu a abraçar o AA foi a Polônia.

Seu governo finalmente reconheceu o que é chamado de valor "psicoterapêutico" de AA.

Nos Estados Unidos, aqueles que são familiares com as reuniões de AA notam que parece haver um numero altamente desproporcional para alguns grupos étnicos. "O alcoolismo anda junto com certas culturas, tais como os Celtas ou os escandinavos, que aprovam a bebida ou são pelo menos ambivalentes quanto a isto", diz Dr. Bissel. "Mas em alguns ambientes ou religiões, as pessoas não bem por princípios. Estas culturas de abstinência nos Estados Unidos incluem Batistas, alguns outros protestantes do Sul e Mórmons"

Por um longo tempo, houve uma crença largamente aceita de que os judeus não se tornavam alcoólicos. O trabalho do JACS está ajudando a desfazer o mito. Judeus estão presentes em largos números, diz o JACS, nas reuniões de AA nas grandes cidades, onde existe uma população significativa de judeus. Mas raramente reuniões de AA acontecem em sinagogas ou em centros comunitários judeus.

Sheldon B., um conselheiro de alcoolismo em Nova York, falou de como poucos anos atrás, ele abordou seu próprio rabino com a idéia de abrir templo deles para um grupo de AA. Ele pensou que os membros judeus de qualquer grupo de AA poderiam se sentir mais confortáveis em aceitar ajuda em uma sinagoga do que em uma igreja. O rabino informou a ele que não havia necessidade: "Não existem judeus alcoólicos". Quando Sheldon B. disse: "Mas eu sou um alcoólico", o rabino pensou por um momento e então replico: "Você tem certeza de que você sabe que foi seu verdadeiro pai?".

Embora existam grupos de AAs negros e grupos raciais mistos nas grandes cidades do norte, o número de AAs negros não parece refletir a proporção da raça na nação - 29 milhões, ou 12 por cento da população.

"Existe um grande estigma em ser negro e ser bêbado, mesmo recuperado, um professor negro da Filadélfia declarou em uma reunião dedicada ao assunto: "Eu cometi o erro de falar para a diretora que eu tinha um problema. Eu ingressei num centro de reabilitação. Ela me cortou.

Como um negro trabalhador social de Milwawkee explicou: "A comunidade negra tem medo que se os negros admitirem seu alcoolismo, isto vai reforçar o estereótipo de que eles são preguiçosos... A comunidade negra gosta de pensar que a opressão causa o seu alcoolismo... Outras minorias oprimidas usam o mesmo argumento. "Quem não beberia?" eles dizem, "Nossas vidas são tão desgramadas de terríveis... Esquecimento é o único jeito de escapar da dor".

Homossexuais estão vindo para o AA e são bem vindos em comunidades sofisticadas. Alguns alcoólicos recuperados formaram grupos de gays somente, do mesmo modo como há grupos especiais para mulheres, médicos, agnósticos, advogados, pilotos aéreos e outros.

"Sendo criado no Alabama, eu fui ensinado a odiar a mim mesmo", um membro gay falou em uma reunião de AA. "Eu era uma fresca preta. No AA, eu aprendi que Deus ama a todos nós. Meu negócio em AA é ficar sóbrio e te ajudar se você quiser isto".

As pesquisas do AA não perguntam se os membros atendem a serviços religiosos ou se eles acreditam em Deus. Não há perguntas sobre origem étnica ou racial, preferência sexual ou se o alcoolismo é comum na família. Mas uma predisposição familiar para o alcoolismo é notadamente refletida no AA.

Freqüentemente, palestrantes em reuniões começam: "Meu nome é Mary, e eu sou uma alcoólica. e meu pai era alcoólico".

Membros antigos de AA acreditam que é perda de tempo arrastar outro alcoólico para a sobriedade se ele está determinado a não ser ajudado ou se recusa a acreditar que está doente. Mesmo assim, as cortes em alguns estados estão mandando milhares de infratores para as reuniões de AA em vez de para a cadeia. Mas o programa de AA algumas vezes pega mesmo com alcoólicos que não querem.

Há muitas coisas que as pessoas de fora acreditam que o AA é e que ele não é. Ele não é uma organização de moderação ou uma sociedade de proibição. O AA não quer salvar o mundo do gim. Ninguém te convida para ingressar no AA. Você é um membro se você disser que é, ou se você entrar em uma reunião de AA com o pensamento de que você tem um problema de bebida ou que você quer parar. Não existem papéis a serem assinados, nenhuma promessa a ser feita, nem obrigação de falar, nem braços torcidos. A atitude dos membros em relação às pessoas de for a que bebem moderadamente é: "Eu gostaria de poder beber como você, mas eu não posso".

AA não é um culto religioso. Alguns membros são agnósticos ou ateus. Muitos escolhem acreditar que seu Poder Superior é seu grupo de AA. A maioria dos membros prefere chamar o programa de AA de espiritual. Ainda assim, Deus é mencionado direta ou indiretamente em cinco dos 12 passos, os quais o AA usa para ajudar a tratar indivíduos, e isto algumas vezes repele pessoas que poderiam de outro modo ser atraídas. .

AA não funciona para todo mundo. Mas bem, nada funciona para todo mundo. Cerca de 60 por cento daqueles que vem para o AA pela primeira vez, continuam no AA depois de irem às reuniões e "trabalhar o programa" assiduamente por meses ou mesmo anos. Usualmente, eles ficam sóbrios pra valer. Mas cerca de 40 por cento abandonam. Estas estatísticas refutam uma noção largamente difundida de que o AA é sempre bem sucedido ou uma "cura instantânea". Apesar disso, sua taxa de sucesso é fenomenalmente alta.

Analise freudiana e fé religiosa, por exemplo, podem ser dois grandes caminhos para tratar o espírito humano, mas eles não funcionam por si mesmos para os alcoólicos. A grande maioria de médicos, psicólogos e membros do clero que são familiarizados com o AA, bem como quase todos os especialistas em alcoolismo colocam o AA como a escolha número 1 para um programa de recuperação de longa duração. Os preceitos do AA são presentes nos programas de todo centro de tratamento intensivo respeitável no país, incluindo aqueles do Hazelden no Minnesota, os Smithers em Nova York e o Centro Betty Ford. John Schwarzlose do centro Betty Ford expressa uma opinião típica: "Os pacientes perguntam quão importante é eles irem para o AA depois de saírem daqui. Eu digo: "Eu posso te dar uma garantia.

Quando você sair daqui, se você não for para o AA, você não vai conseguir."

O AA não tem laços com partidos políticos, fundações, caridade ou causas, nem patrocina pesquisas sobre alcoolismo.

E diferente da maioria das organizações isentas de impostos, o AA, cujo orçamento atual é de 11milhões e 500 mil dólares, não faz campanha para arrecadar fundos. Nem aceita dinheiro de gente de fora. Os fundos que sustentam o escritório central de serviços vêm principalmente do enorme império de publicação do AA, o qual distribui literatura autorizada para os membros.

Cada grupo é auto-suficiente, passando o cesto em cada reunião para ajudar a pagar o café, aperitivos, literatura e aluguel pelo espaço de reunião.

Aqueles presentes freqüentemente dão um dólar. Outros podem simplesmente jogar uma moeda no cesto. Alguns podem não dar nada.

Nenhum membro pode doar mais que mil dólares por ano para o AA. Nem pode um membro deixar em testamento mais que mil dólares ou deixar uma propriedade para o AA, que nunca foi dono de nenhuma propriedade.

"A razão que nós desencorajamos presentes e heranças", diz Dennis Manders, um não alcoólico que serviu por 35 anos como inspetor no escritório central do AA, "é que nós não queremos jamais que uma pessoa coloque um milhão de grana no tanque do AA e dizendo: "Agora, agora as coisas vão ser do meu jeito".

Cerca de metade dos grupos não contribui com nada para o escritório central de serviços. Muitos membros sentem que bancar as despesas do seu próprio "grupo de base" é suficiente. Este tipo de autonomia e descentralização é típico dos Alcoólicos Anônimos.

A média de membros de AA, de acordo com pesquisas, atende a quatro reuniões por semana. Depois de cinco anos de atendimento regular, alguns AAs vão para menos e menos reuniões. Eles podem parar de ir de uma vez quando eles sentem que eles podem funcionar confortavelmente sem álcool. No entanto, alguns palestrantes em reuniões são cheios de histórias de aviso sobre como eles se afastaram do AA e beberam novamente, algumas vezes desastrosamente e por longos períodos, antes de retornarem para o grupo.

O movimento funciona de modo simples e quieto. Os membros usualmente se dão sem reservas, trocam números de telefones com novatos, vêm para ajudar a qualquer hora quando um membro está em crise, são abertos com dicas de como evitar o primeiro gole. A maioria das pessoas no AA são flexíveis, tolerantes ou excêntricas, suspeitam de "regras" e "deveres". A falta de ritual pode ser uma surpresa para os iniciantes. Também é a ausência de confrontação, dedos apontados, acusações, debates raivosos e lamentação crônica.

A essência do AA pode ser adivinhada nos grandes, ruidosos encontros, tais como as convenções internacionais, realizadas a cada cinco anos. É na intimidade das reuniões na vizinhança que a verdade, o sabor e um pouco de noção das razões do sucesso do AA pode ser capturada. Os membros podem se encontrar em pequenos grupos de 2 ou 3, ou tão grandes quanto 200, mas a freqüência usual é algo entre 12 e 40 pessoas. Na cidade de Nova York, o AA mais ativo de qualquer lugar, há uma escolha de 1.826 reuniões listadas mantidas por 724 grupos toda semana.

Na medida em que o AA cresceu e se diversificou, o estigma do alcoolismo gradualmente de desgastou. Houve muitos estágios na estrada do AA para a respeitabilidade, começando com nos anos 40, que gradualmente se transformou na percepção do público da sociedade de alcoólicos recuperados partindo da descrença e até mesmo do ridículo para aquela de uma organização aceita e admirada. Nada foi mais significante do que a ação tomada pela Associação Médica Americana.

Em 1956, os custódios da AMA e sua Casa dos Delegados declarou que o alcoolismo era uma doença, desta forma validando a crença central do AA, desde seus co-fundadores em diante, de que isto é uma doença, não um pecado.

Agora, a Suprema Corte dos Estados Unidos está debatendo a legalidade do assunto. Em sete de dezembro último, a corte recebeu uma contestação de dois veteranos da Guerra do Vietnam contra a Administração dos Veteranos por excluir o "alcoolismo primário" da lista de doenças e desabilidades que permitem os veteranos mais tempo para pedir benefícios de educação. Extensões podem ser garantidas para veteranos impedidos por problemas mentais ou físicos "que não são resultado de uma má conduta deliberada". Espera-se que a justiça ofereça uma opinião antes do fim do termo da Corte em junho.

A estrutura do AA é um pouco mais difícil de pegar do que a teoria do alcoolismo como doença. É próximo da verdade dizer que o AA consiste de um milhão de índios sem chefes. E isto é menos uma organização do que um organismo que continua se dividindo como uma ameba em ainda mais grupos. Se um membro não gosta de como as coisas são conduzidas em seu grupo, ele pode começar outro com as pessoas que achar mais compatíveis. Isto levou ao dizer de AA "Tudo que você precisa para começar um novo gruo é dois bêbados, uma garrafa de café e algum ressentimento".

Existe uma estrutura nos Alcoólicos anônimos, mas esta acertaria na cabeça de qualquer noção convencional de como conduzir um negócio. Basicamente, os grupos locais são chefes e o comitê de custódios e os funcionários do Escritório de Serviços Centrais devem obedecer a suas ordens. O comitê de custódios é composto de 14 membros de AA e 7 não alcoólicos.

Embora os alcoólicos tenham todos as funções administrativas do topo, eles nunca manejam dinheiro. A operação financeira do AA é conduzida por não alcoólicos. A razão é que Bill Wilson e os primeiros Aas tinham medo de que se alguém conduzindo o AA caísse do trem, isto seria ruim o suficiente, mas se ele estivesse administrando as finanças também, os resultados poderiam ser desastrosos. A filosofia permaneceu.

A maneira como o AA dirige suas questões coletivas e decide procedimentos pode ser vista mais claramente – ou em toda sua confusão democrática – na sua Conferencia de Serviços Gerais anual, a aproximação maior de um corpo de governo do AA. Cerca de 135 pessoas atendem, incluindo 91 delegados eleitos nas assembléias regionais nos Estados Unidos e no Canadá. Também nas mãos dos custódios do comitê e dos representantes dos funcionários do escritório central.

O dia a dia dos negócios dos Alcoólicos anônimos tem sido conduzido desde 1970 em um prédio de tijolos na Park Avenue South, 468, no meio de Manhattan. Seja qual for o procedimento decidido na conferência é aplicado pelos funcionários do escritório central. Os trabalhos são divididos em especialidades, tais como literatura, centros de tratamento, prisões, informação pública e cooperação com profissionais – medicos, conselheiros, trabalhadores sociais e professores, por exemplo, no campo do alcoolismo. E em caso alguém se torne excessivamente fã de uma especialidade, todos os funcionários do topo, com exceção do administrador geral e do coordenador hispânico, trocam de funções a cada dois anos. A mesma rotatividade freqüente ocorre em cada nível do AA. Servidores nos grupos locais usualmente renunciam cada seis meses. Os sete custódios não alcoólicos, que são freqüentemente especialistas em alguma profissão, tal como medicina, direito, bancos ou assistente social, serve a uma necessidade especial. Joan K. Jack on, um sociólogo, com longa experiência entre os alcoólicos, explica: "Nós podemos usar nossos nomes completos em público. Nos não somos percebidos pelos de fora como tendo nenhum interesse velado. Privadamente, com o AA, nossa maior função é de incomodar e questionar".

O que faz o escritório central de AA funcionar é o império de publicação do Serviço Mundial de AA. Ele agora traz 8 milhões e 800 mil dólares anuais ou 76 por cento dos rendimentos corporativos anuais de AA. Esta é a causa de algumas trepidações entre aqueles que fizeram o que equivale a um juramento de pobreza. Cada ano, o AA distribui 7 milhões de cópias de mais de 40 panfletos , e quase um milhão e meio de cópias de 6 livros e dois livretos. Sete milhões de cópias do Big Book têm sido vendidos. No último ano somente, cerca de um milhão de Big Books foram comprados, virtualmente todos eles em reuniões de AA, centros de reabilitação alcoólica ou através de ordens pelo correio.

Pela época de sua morte, cedo em 1971, Bill Wilson estava ganhando cerca de 65000 dólares por ano em royalties do Big Book e três outros livros que ele escreveu para o AA. No ultimo ano, sua viúva, Lois, recebeu 912 mil dólares em royalties. Sob os termos do acordo que Bill fez com o escritório central de AA em 1963, foram alocados para ela 13,5 por cento dos royalties de Wilson, outros 1,5 por cento foram para sua última amante, que morreu poucos anos depois de Bill.

Tem havido quase nenhuma publicidade negativa sobre Alcoólicos Anônimos nas suas cinco décadas de história. Pesquisas abrangentes retornaram somente umas poucas visões críticas na imprensa. Escrevendo no The Nation, em 1964, Jerome Ellison declarou que o conselho superior conservativo do AA tinha perdido o contato com o ainda mais diversificado membro comum. No mesmo ano, Arthur H. Cain, um psicólogo de Nova York, em um livro e em artigos de várias revistas, chamou o AA de um "culto" que escravizava seus membros para uma sobriedade fanática. A reação de Bill Wilson foi típica da tolerância do homem. O co-fundador tentando acalmar a confusão seguinte no escritório central, disse: "Em todos estes anos, este é o primeiro criticismo completo que nossa irmandade já teve. Logo, a prática de absorver críticas como esta de bom humor deve ser válida".

Este foi o primeiro criticismo público e provou ser o último.

Privadamente, com o AA, tem havido uma crescente insatisfação com o escritório central. Alguns membros dizem que os membros do serviço estão se tornando congelados em burocracia e são excessivamente sensíveis a pressões dos membros mais rígidos e de visão limitada, particularmente os antigões, que têm o Big Book e outras literaturas autorizadas quase como as Escrituras Sagradas.

"Se alguma coisa vai destruir o AA", diz Dr. John Norris, um médico não alcoólico, amigo de Bill Wilson e presidente do comitê de custódios de AA por muitos anos, "Será o que eu posso chamar de "advogados das tradições".

Eles acham mais fácil viver com preto e branco do que com cinza. Estes diáconos sangrentos – estes fundamentalistas tem medo e lutam contra qualquer mudança".

Fonte: The New York Times Magazine, 21 de fevereiro de 1988.

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