quinta-feira, 26 de abril de 2012

Coragem!


Coragem!

"É firmeza na auto-avaliação, é bravura na confissão, é ousadia na tomada de atitudes, é o seguir em frente, apesar do medo".

Estas são as virtudes tão necessárias a prática do 4º, 5º e 6º Passos de recuperação de A.A.

Desde que cheguei em A.A., percebi que não basta "tapar a garrafa", até porque não se acredita que a partir de 69 anos de experiência acumulada seja possível apenas parar de beber.

Para que eu não volte a beber, preciso passar por profundas mudanças pessoais; na verdade, a reformulação completa do meu estilo de vida, um processo que só obterei através da prática do programa espiritual de A.A.: Os Doze Passos.

Enquanto a medicina classifica o alcoolismo como uma doença biopsicosossial, A.A. simplifica tudo: - alcoolismo é uma doença física, mental e espiritual, ficando bem claro para mim que é de fundamental importância a recuperação do meu espírito.

Como disse Jung, em carta dirigida a Bill: "álcool em latim é "spíritus" e usa-se a mesma palavra para a mais alta experiência religiosa, assim como para o mais perverso veneno. A fórmula auxiliadora pois: spíritus contra spíritus".

Foi preciso muita coragem para, após a prática dos três primeiros Passos, dar início ao meu trabalho individual: buscar o que estava espiritualmente errado em mim enfrentando os tão temídos 4º e 5º passos.

No quarto passo, de caderninho em punho, conforme sugere nossa literatura, examinei principalmente as deturpações dos meus instintos que, quando desenfreados, deixam de cumprir seus papéis naturais de autopreservação e crescimento passam a ser forças destrutivas.

Fui escrevendo e me dando conta de que não sou nenhuma santa, mas também não sou nenhum monstro; sou apenas um ser humano que cometeu erros e quer repará-los.

Procurei distingüir as falhas cometidas decorrentes da bebida das cometidas devido a minhas imperfeições naturais, humanas, e comecei a ter melhor compreensão das minha atitudes de terceiros para comigo, muitas vezes motivados pelos atos que eu praticava.

Recorrí à relação chamada Sete Pecados Capitais, que nós AAs, chamamos os Defeitos de Caráter, e concluí que me utilizava da bebida como um meio de fuga para problemas da vida e que a bebida potencializa meus defeitos.

Comecei então a limpar a auto-imagem, uma vez que consegui ver com clareza e exatidão a natureza das minhas falhas.

Sentí que esse processo é o começo de uma prática que durará por toda minha vida, daí a necessidade de entregar-me à mudança e, uma vez já admitido perante mim mesma a natureza de minhas falhas, precisei de muita coragem para admitir perante Deus e perante outro ser humano, enrtegando-me assim, à confissão.

Li para minha madrinha o que havia escrito no caderninho.

Ouvir minha voz "expelindo" fatos que me incomodavam me aliviou e clareou meu raciocínio.

A pessoa com quem compartilhei meus erros, minhas mágoas, meus ressentimentos, me mostrou aspectos que não haviam me ocorrido e meu entendimento ficou mais completo.

O quinto passo ajudou-me a sair do isolamento, pois admitindo meus próprios defeitos, comecei o verdadeiro parentesco com as pessoas e com Deus.

Chegou então o momento de pedir a ajuda do Poder Superior para não cometer mais essas falhas: o 6º Passo.

Entrou novamente a coragem. Há falhas minhas de que eu gosto! Fazem-me mal e eu gosto delas! Como me conscientizar e livrar-me delas? Só mesmo com a ajuda do Poder Superior.

Ora, já evoluí no campo espiritual, empenhando-me em crescer à imagem e semelhança do Criador, e quando me dispus a "limpar a casa" no 5º Passo, consegui uma completa libertação do alcoolismo. Por que não chegar pelos mesmos meios à libertação dos meus defeitos?

Foi assim que me dispus a tentar uma prática mais virtuosa para me libertar das amarras da dependência.

Confesso que a vontade de beber ainda não foi arrancada de mim.

Analisei detidamente a filosofia de recuperação de A.A. e identifiquei que ela propicia condições excepcionalmente favoráveis para o cultivo das virtudes como anticorpos naturais dos meus defeitos de caráter.

Por exemplo: quando estou doente, vou ao médico, tomo remédio e saro. Quando há uma epidemia, tomo vacina, me previno fisicamente e fico imune.

E quando o mal está no meu espírito? Quando sinto mágoas, ressentimentos? Que recursos tenho à minha disposição?

O Poder Superior colocou à minha disposição um leque de opções de defesas: AS VIRTUDES; o meu lado bom; os anticorpos naturais no combate ao mal.

Ele me "deu de graça" esses dons que, uma vez cultivados, ajudam-me a combater meu "lado ruim".

Todos nós temos virtudes. Basta cultivá-las.

A coragem é uma virtude; é força interior. É a virtude que me impullsiona a lutar por aquilo que acredito e a seguir em frente apesar do medo.

Cultivando a coragem, tornou-se mais fácil meu minucioso inventário, a confissão, o propósito de deixar Deus remover meus defeitos de caráter.

É fácil? Não, não é.

O que me impulsiona a não ter medo, a seguir em frente, é o exemplo dos veteranos de A.A., hoje sóbrios, serenos e felizes.

Eles me dão coragem e é por isso que acredito no meu desenvolvimento espiritual em direção ao conhecimento da vontade de Deus para comigo.

Luto por aquilo que acredito: Viver sóbria e feliz.

(L./São Paulo)

(Vivência - Julho/Agosto 2004)

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