segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

O Manto Protetor

O Manto Protetor

O Manto Protetor (Grapevine, Set. 99)

Como é aconchegante a nossa Tradição de anonimato!

Algum tempo atrás, uma das voluntárias em nosso escritório central pendurou um espelho na parede, no qual ela colou um bilhete que dizia: "Você é uma atração?"

Isso me fez pensar em algo que ouvi no início da minha sobriedade, mas que não ouvia ultimamente. Um veterano me falou que antes de eu ficar muito orgulhoso de ser um membro de A.A., eu deveria ter certeza de que A.A. sempre poderia estar orgulhosa em me ter como membro.

Nunca esqueci aquele pequeno conselho. Quando sou tentado a exibir minha irmandade publicamente, me lembro sempre disso. Se eu tenho um adesivo no pára-choque de meu veículo que o público possa associar com A.A., meus atos refletirão uma pessoa sã, sóbria e espiritual? Se eu estou falando sobre A.A. num lugar público, meu comportamento e minha aparência são uma atração para a Irmandade? Esses são somente dois de muitos exemplos onde aquela regra simples do dedo polegar me ajuda a examinar meu próprio comportamento. Nunca aconteceu de meus inventários periódicos revelarem que eu fosse um exemplo perfeito dos princípios espirituais de A.A.

Essa mesma medida pode ser aplicada em nível de imprensa, rádio, e filmes. Se eu quebro meu anonimato em nível público, ou se eu permito isso a outra pessoa, não lhe informando a respeito de nossa Tradição de anonimato em nível público, estou assumindo a responsabilidade pessoal de ser um exemplo. Posso sempre estar orgulhoso do exemplo que dei? Já que ainda sou um alcoólico, e acredito que sempre serei, posso estar seguro de que nunca recairei? Será que alcancei um nível de orgulho tão grande que penso ter todas as respostas para todo alcoólico que me olhar, como se eu fosse a incorporação viva de A.A.?

Todos nós em A.A. estamos familiarizados com essas personalidades públicas - os atores, atletas e outras pessoas famosas - que quebraram o anonimato em nível público, com a melhor das intenções, voltando a beber novamente em público. Eu posso então pensar: "Não sou famoso, ninguém olhará para mim como modelo, ninguém realmente será afetado pelo que faço ou digo". Na verdade, a mídia não daria destaque à minha sobriedade ou falta de sobriedade amplamente, como dá por celebridades, mas aqueles que me conhecem observarão meu comportamento e podem ser afetados por ele. Isso me traz à mente outra velha declaração em A.A.: você pode ser a única cópia do Livro Grande que alguém já viu.

Anos atrás, através de tentativa e erro, uma experiência sugeria que nossa política de relações públicas deveria ser de atração ao invés de promoção. Isso é verdade para Irmandade como um todo e para nós como indivíduos. Nossa Irmandade chama muito a atenção da mídia, não porque nós buscamos publicidade, mas por causa de nosso sucesso ao trazer a sobriedade. De forma parecida, nós como indivíduos atraímos as pessoas para Alcoólicos Anônimos não porque estamos procurando novos membros ou porque gritamos isso aos quatro ventos, mas porque estamos sóbrios e os resultados de nosso programa são evidentes à nossa volta.

Essa insistência em atração ao invés de promoção, e em anonimato pessoal em nível público, tem outro aspecto que a princípio pode não ser aparente. Tem o efeito de nos fazer lembrar de nossa essencial igualdade. Todos nós sofremos da mesma doença de alcoolismo, e todos nós somos providos da mesma oportunidade para a recuperação. Essas coisas que nos distinguem na sociedade - dinheiro, propriedade, prestígio - não têm lugar em Alcoólicos Anônimos. Nós às vezes nos esquecemos que esses membros de A.A., famosos em nível público, merecem a mesma oportunidade que todos nós para se recuperar. Não devemos alimentar expectativas sobre eles baseadas no seu sucesso e sim na experiência deles com a sobriedade.

Um de nossos bem-amados membros de A.A. compartilhava a idéia de que o ego simplesmente é nossa separação de Deus e de nossos companheiros. Nossa tradição de anonimato nos recorda que somos todos uma parte da, e não à parte da, irmandade de Alcoólicos Anônimos.

(Vivência - Março/Abril 2001)

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