terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Bem-estar dos participantes de A.A.

Bem-estar dos participantes de A.A.

Entre as substâncias consideradas drogas lícitas, está o álcool como uma das mais preocupantes, cujo problema não é seu consumo, mas seu abuso, levando a ser considerado como uma dependência.

O alcoolismo é reconhecido como doença de causas múltiplas pela Organização Mundial de Saúde, quando o ato de ingerir bebidas alcoólicas passa a ser um problema, ao invés de ser um prazer.

Reconhecer que está doente e desejar o tratamento é a fase mais importante e, talvez, a mais difícil no processo de recuperação do alcoolista.

Fundado em 1935, Alcoólicos Anônimos é baseado em um programa pessoal, de "Doze Tradições" e a orientação é feita através de "Doze Passos", com a meta de levar os participantes do Grupo a uma conscientização de evitar o primeiro gole, com o objetivo de não perderem o controle da doença.

Assim, irão recuperando sua auto-estima e sua imagem frente à família, aos amigos, ao ambiente de trabalho, à sociedade.

Como propósito para pertencer ao Grupo de Alcoólicos Anônimos, cita-se a união voluntária para uma ajuda mútua e para ajudar outros a conseguirem manter uma sobriedade serena.

Como requisito único para pertencer ao referido Grupo basta o sincero desejo de abandonar a bebida. Os companheiros dos Grupos de Alcoólicos Anônimos valorizam cada membro pela decisão de parar de beber, pois um alcoolista entende melhor o outro, o que representa o medo, o que são as idéias, as reações, etc., podendo-se dizer que falam a mesma linguagem. Conseqüentemente, a observação e o entendimento do outro alcoolista leva à consciência crescente de si mesmo e alivia suas próprias ansiedades.

Nota-se a utilização de uma metodologia com uma programação simples, mantendo todo o trabalho em cima do conceito de alcoolismo como doença, não deixando de observar que a doença pode estender-se às outras áreas da vida do indivíduo.

A força do Grupo de A.A. está, para sua própria manutenção, tanto em cada participante antigo que, ao compreender, aceitar e sentir as dificuldades do novo ingressante permite que este se modifique e enriqueça, quanto em cada novo ingressante, o qual representa sempre um fortalecimento para o antigo membro do Grupo.

A descrição dos alcoolistas à agnose e suas histórias pessoais esclarecem três idéias principais, isto é, que eram alcoolistas e não conseguiam dirigir suas vidas com acerto, em segundo lugar, que provavelmente nenhum ser humano seria capaz de aliviar seu alcoolismo e, em terceiro, que Deus podia e o faria, se Ele fosse procurado.

A princípio, parece levar o indivíduo a um egocentrismo fazendo-o pensar em si mesmo, em primeiríssimo lugar e, paralelamente, a encontrar algo que esteja acima do homem, ou seja, uma fé, denominada por eles de Poder Superior.

Os que conseguem deixar de lado o preconceito e expressar, pelo menos, a disposição para acreditar num Poder Superior aos seres humanos, começarão a ver os resultados, mesmo antes de definir ou compreender totalmente esse Poder (Deus).

Um alívio muito grande é sentido no momento em que se conscientizam de que não precisam ligar-se às concepções de Deus formuladas por outras pessoas, mas à sua própria.

No momento em que se conscientizam e colocam o Poder Superior como seu Mentor, tomam-se cada vez mais interessados neles mesmos e em seus projetos e planos, começando a pensar mais no que podem ofertar à vida no presente, perdendo, aos poucos, o medo do hoje, do amanhã e do depois.

Percebendo através de um inventário pessoal que estavam prejudicando sua auto-estima, revisam sua conduta, detalhadamente, perguntando-se porque tinham medo e pedindo ao Poder Superior que o remova.

O clima de afetividade e aceitação entre os membros do Grupo de Alcoólicos Anônimos favorece que façam um inventário pessoal, sem medo de serem censurados ou discriminados. Falar com alguém sobre seus próprios defeitos toma-se difícil, mas aprendendo a controlar o orgulho, o alcoolista consegue falar de si para outra pessoa.

Tentando reparar os danos causados no passado, procura não se basear na vontade própria. Para acabar a sensação de autopiedade, ninguém de fora pode julgar alguma situação íntima, podem sim, rezar a respeito, pensando, principalmente, no bem do outro.

Para isso, precisam inicialmente entender a palavra serenidade, o que significa conhecer a paz, uma nova liberdade e alegria.

Ao vencer a doença espiritual, tentam vencer a mental e física. Começam em outra fase a reagir com os processos cognitivos, isto é, crescimento em compreensão e valores. A autenticidade existente entre eles favorece a cada um colocar-se frente a frente, entrando em contato com suas vidas e consigo mesmos.

O poder de ajudar não está centralizado em um só indivíduo, mas, sim, cada participante é facilitador de seu próprio crescimento e do Grupo.

A troca de experiências favorece o seu projetar no outro que, por conseguinte, possibilita uma identificação que promove a auto-conscientização e a percepção do sentimento egocêntrico.

A exposição de conteúdos pessoais favorece a prática da humildade e do autoconhecimento.

Considerando os Grupos de Alcoólicos Anônimos como de ajuda mútua, consegue, através de sua informalidade e aceitação do outro como doente, sem recriminações, por serem iguais, propor uma meta, ou seja, uma programação diária e prática de sucesso, no aqui e agora, de evitar o primeiro gole e de não beber durante as próximas 24 horas.

Para a realização deste trabalho foi feito um levantamento de elementos-conteúdo do bem-estar subjetivo relativo à consciência de Grupo, através de um questionário/entrevista com dez perguntas, aplicadas a dez alcoolistas em recuperação.

Foi possível verificar que a situação com a vida em geral dos participantes respondentes do Grupo de A.A. é relativamente boa, já que os resultados positivos foram encontrados frente aos seus julgamentos de estados de ânimo.

Todos os participantes respondentes experimentavam mais tempo em estados agradáveis do que desagradáveis.

O mesmo pode ser dito quanto aos participantes respondentes do Grupo de A.A. que experienciam o bem-estar subjetivo como sendo o grau de felicidade na presença às reuniões, havendo predomínio de afetos positivos sobre afetos negativos na troca de experiências, ou seja, nos depoimentos dados pelos companheiros.

Existe uma consciência interna por parte dos integrantes do Grupo de A.A., de concordância e satisfação com a obra, enquanto que externamente vem-se cada vez mais, admitindo-se a taxa de sucesso dessa "Irmandade" com forte conteúdo de espiritualidade.

As relações interpessoais se dão em clima de muito respeito e seriedade com o sofrimento do outro.
O vínculo amarra os participantes nessa teia de responsabilidade, divididos e atuantes, carregados de emoções positivas no ser útil ao companheiro.

Pode-se, então, inferir que o participante do Grupo de Alcoólicos Anônimos é um organismo total que funciona como um conjunto, onde se conscientizam tanto o afeto positivo como o afeto negativo como subdimensões de um mesmo ser e que experimenta a felicidade quando, no seu conjunto, o afeto positivo predomina sobre o afeto negativo.
A consciência de "posso, mas não devo e não quero beber" é fundamental para os indivíduos continuarem sendo membros do Grupo de A.A.

A consciência do grupo é fundamental para a continuidade desta Irmandade e a felicidade é o principal estado de ânimo encontrado relativo ao sentimento do alcoolista durante as reuniões.
Atualmente é notório o reconhecimento da taxa de sucesso dos Grupos de Alcoólicos Anônimos.

(Civani C. Mendes - Pedagoga e Psicóloga Verônica Baer - Comunicadora Social e Psicóloga Carlos Américo Pereira - Psicólogo Social)

(Vivência 92 - Nov/Dez 2004)

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