terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Aceitar o que não posso transformar


Aceitar o que não posso transformar

Meditar sobre as várias partes da Oração da Serenidade fortaleceu a recuperação de uma companheira.

Contentar-se com tudo é ser fatalista? Ou somos sábios bastante para sabermos que podemos transformar quando assim o quisermos? Quando alguma missão parece demasiadamente grande, algum obstáculo parece intransponível, então, acontece que o constatamos assombrados: uma revelação.
"Senhor, dá-me a serenidade para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar aquelas que posso e sabedorias para distinguir umas das outras."
Quantas vezes já recitei este pensamento, depois das reuniões! Também na vida cotidiana ele me ocorre, e ainda procuro aplicá-lo sempre. Eu também já o dei de presente a conhecidos. Por isso, certamente, para mim vale a pena dividí-lo em partes, transformando cada trecho em reflexões:

a) "Senhor, dá-me a serenidade para aceitar o que não posso modificar..."

Pode ser que haja coisas em nossa vida difíceis de serem aceitas, mas tenho que me contentar com o fato de que não as posso modificar. Quanto tempo gastei para aceitar que eu, Bernadete, sou alcoólica e não podia mais dominar a minha vida! Esse foi realmente um longo processo, vinculado a recaídas e internações. Hoje estou feliz porque pude aceitar isso e encontrei o caminho de A.A., onde posso me soltar sempre que acontecem coisas novas, as quais não posso modificar.
Precisamente antes do Natal faleceu, subitamente, uma pessoa querida e conhecida de nossa família. Isso me perturbou muito pois, freqüentemente, eu a visitava, bem como a seu marido. Agora, procuro ajudar seu marido, às vezes por telefone, pois a perda dessa esposa foi muito dolorosa para ele, que se esforça a aceitar que ela já não está mais aqui.
Assim, há coisas na vida - como a morte súbita, uma doença crônica, etc. - que tenho de aceitar sem nada poder fazer para mudar. O importante é saber que, apesar dessas coisas, não vou me deixar levar pela auto-piedade, mas estou aprendendo a aceitar e a experimentar fazer o melhor que posso para chegar a isso.

b) "...coragem para modificar o que posso..."

Quando encontrei o caminho de A.A., no início, mal podia falar. Ainda tinha recaídas. Depois de algum tempo, finalmente, sentia que não podia lidar com os meus sentimentos negativos (agressividade e outros)) e observava que me fazia bem quando podia falar sobre o assunto nas reuniões. Aprendi também, quando ficava semanas remoendo algumas coisa que me ocupava, a deixar acontecer livremente as coisas que me faziam bem. Aprendi logo a falar com alguém quando algo me magoava ou não dava certo para mim.
Também tive que aprender a dizer não quando algo me repugnava. Antes, com freqüência, dizia sim por "amor à paz" e fazia o que me pediam. Até mesmo quando comecei a ouvir os meus pais que antes eu sempre precisava de assistência, ainda assim e apesar disso fico feliz por arriscar a dizer não quando não estou de acordo.
Além disso, eu tinha que aprender a me conhecer completamente, com a transformação de um vidro. Aos poucos, mas com firmeza, tive que modificar não só alguns hábitos, como também mudar o círculo de amigos por um determinado período de tempo. Dessa forma redescobri, lentamente, o que me dava prazer (por exemplo, tocar flauta doce ou ir ao concerto). Isso está me auxiliando em minha caminhada para permanecer sóbria.

C) "... e sabedoria para distinguir umas das outras."

Ainda hoje é difícil decidir ou perceber o que agora é certo para mim. O que sempre me ajuda muito é, por um lado, dedicar-me a ouvir a mim mesma, escutar de meu coração e de meus entendimentos o que é certo. E, por outro lado, é preciso também que eu possa sempre entregar a minha força de vontade - isso me ajuda constantemente!
Desejo a todos, então, a serenidade necessária, muita coragem e sabedoria em sua recuperação, em solidariedade.

(Bernadete, Zürich, Suíça)

Vivência nº 64- Mar/Abr de 2000

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