sábado, 17 de setembro de 2011

Servir com EQUILIBRIO

Servir com EQUILIBRIO

Hoje, lendo o relatório final da XXV Conferência de Serviços Gerais, entendi que, para servir em A.A., dentre outros requisitos, o equilíbrio emocional é fundamental. Na forma que entendo, o serviço na Irmandade faz parte da recuperação, ou seja, sair de dentro da minha solidão e egocentrismo em direção àquele que ainda sofre. Porém, como servir sem o necessário equilíbrio emocional? Vejo então este estranho dilema: servir para ter equilíbrio emocional e ter equilíbrio para servir.

Tenho lentamente percebido, desde que entrei para a Irmandade (nov /99), que todos os fatos e ideias não são e não acontecem de forma absoluta e concreta como eu gostaria: a caminhada em direção ao equilíbrio emocional deve ser constante, pois não se equilibram as emoções de um ex-bêbado em pouco tempo e nem de forma imutável. Tenho percebido também que o equilíbrio emocional não tem nada a ver com não sentir mais tristeza, angústia ou qualquer outro sentimento "negativo", e sim poder ter todos esses sentimentos e suportá-los com aceitação, tendo a certeza de que são momentâneos e necessários para a correção das imperfeições, não na forma de punição, mas por fazerem parte das emoções humanas.

Desde que participei da minha primeira reunião não precisei mais beber. Já havia ficado sem beber anteriormente, às vezes até por meses, mas mergulhado na autopiedade e raiva daqueles que bebiam. Secretamente, sentia que seria impossível um dia deixar definitivamente de me embriagar, então seguia maneirando. Após um período de seis meses sem beber, não resisti e disse para mim mesmo: "Pôxa, eu sou humano e não agüento mais". Fui ao supermercado e comprei umas seis latas de cerveja e as tomei, comprando mais algumas depois, terminando completamente bêbado. Então pensei: "Fico mais seis meses sem beber, tomo outro porre, e vou levando". Em uma semana já estava contando as horas para chegar o final da tarde e tomar uma cervejinha.

Hoje, após mais ou menos um ano e meio sem ingerir álcool nem outra substância qualquer, sinto o privilégio e a gratidão de poder praticar esse programa de recuperação. Tenho tido alguns problemas para me relacionar, mesmo morando sozinho. Uma raiva desmedida ainda toma conta dos meus pensamentos e ações de vez em quando, e sinto a minha impotência diante das minhas emoções e de meus próprios pensamentos. A compulsão alcoólica é devastadora e sutil, está infiltrada no meu mais íntimo sentimento e emoção, pois sou um alcoólico típico. Bebi desde a adolescência e cheguei em A.A. com 34 anos. Mesmo assim não tenho bebido mais e tenho vivido plenamente os dias nas mais diversas situações, por ter aceitado as sugestões de meus companheiros do grupo e a sincera prática, dentre outros princípios, dos Doze Passos (base da recuperação). Muitas vezes, em depoimento, eu dizia saber ser impotente perante não só o álcool, mas também perante as minhas emoções. Só agora me propus a recomeçar a caminhada, pois diante de possíveis perdas devido ao meu descontrole emocional, rendo-me novamente ao meu verdadeiro tamanho e poder.

Novamente admito a derrota, concebo e acredito num Deus que, da mesma forma que me permite viver plenamente, me concederá serenidade, coragem e sabedoria para que eu possa viver também com equilíbrio emocional.

Ainda que não seja a minha vontade, vou me inventariar novamente e, mais contra a minha vontade ainda, falar a outro ser humano o que eu encontrar no meu íntimo, enfim... seguir caminhando com os Passos que encontrei no programa sugerido em Alcoólicos Anônimos.

VIVÊNCIA N.° 74 NOV/DEZ 2001.

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