Quantas vezes tentei representar que possuia uma segurança absoluta, quando na realidade, era vulnerável.
Meu estilo de vida, em muitas ocasiões, era ilógico e neurótico, demonstrando claramente quantos ressentimentos e mágoas guardava das pessoas que me eram muito queridas. O "querer viver" sem decepções, sem ingratidão, com aceitação e consideração incondicionais, era desastrosamente irreal.
Nutrir a crença de que nunca seria traída, de que sempre seria amada e entendida plenamente por todos era irracional. Mas era assim que eu vivia: "curtindo meus ressentimentos no álcool".
Ora, o ressentimento mal-elaborado se voltou contra o meu interior, transformando-
Foi em A.A. que essa luta interna e esse peso que carregava em minha consciência começaram a ser aliviados e esclarecidos. Quando fiz meu Primeiro Passo, não só aceitei minha impotência perante o
álcool como admiti também ter ressentimentos, aceitá-los como eles realmente se apresentavam (Quarto Passo) e procurar uma maneira decisiva de me livrar deles (Sexto Passo).
Quando comecei a escrever meu Quarto Passo me dei conta de que, ao ignorar meus ressentimentos, estava me adaptando firmemente à realidade dos fatos que vivenciava e comecei a trabalhar meus conflitos, meus desarranjos emocionais e comportamentais, prontificando-
O ressentimento é um instrumento de frustação, é quando a emoção sobrepuja a razão, é uma forma de negar os impulsos do coração; aqueles impulsos que me levaram a sentir compaixão e a perdoar os meus próprios erros... aqueles que via refletido nos outros.
Para meu equilibrio interior precisei primeiro admitir ter ressentimentos; que eles não morreram quando eu parei de beber, e que havia necessidade de dar valor a esse sentimento compreendendo-
um meio de fuga.
Conforme fui fazendo meu inventário, fui retirando minha opinião negativa dos fatos, descarregando assim, grande parte da minha carga emocional; comecei a ter melhor compreensão das minhas atitudes decorrentes da bebida e das atitudes dos outros para comigo, pois, muitas vezes, eram minhas opiniões que me causavam indignação, ressentimentos e autocompaixão.
Hoje, negar a existência do ressentimento equivale a negar parte de mim mesma, mas, com certeza, não o cultivo mais; procuro descobrir a razão do mesmo, vasculhando meu íntimo, buscando compreensão e perdoando; canalizando a válvula de escape do ressentimento para energias positivas, como a sobriedade e a serenidade.
Maria Olívia, Campinas/SP
Vivência nº 77 Mai/Jun. 2002
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