quinta-feira, 5 de maio de 2011

Ressentimentos, quem não os têm?

Ressentimentos, quem não os têm?

Quantas vezes tentei representar que possuia uma segurança absoluta, quando na realidade, era vulnerável.

Meu estilo de vida, em muitas ocasiões, era ilógico e neurótico, demonstrando claramente quantos ressentimentos e mágoas guardava das pessoas que me eram muito queridas. O "querer viver" sem decepções, sem ingratidão, com aceitação e consideração incondicionais, era desastrosamente irreal.
Nutrir a crença de que nunca seria traída, de que sempre seria amada e entendida plenamente por todos era irracional. Mas era assim que eu vivia: "curtindo meus ressentimentos no álcool".

Ora, o ressentimento mal-elaborado se voltou contra o meu interior, transformando-me com o tempo, numa criatura rancorosa; exterminando gradativamente meu interesse pela vida, entregando-me completamente à bebida.

Foi em A.A. que essa luta interna e esse peso que carregava em minha consciência começaram a ser aliviados e esclarecidos. Quando fiz meu Primeiro Passo, não só aceitei minha impotência perante o
álcool como admiti também ter ressentimentos, aceitá-los como eles realmente se apresentavam (Quarto Passo) e procurar uma maneira decisiva de me livrar deles (Sexto Passo).

Quando comecei a escrever meu Quarto Passo me dei conta de que, ao ignorar meus ressentimentos, estava me adaptando firmemente à realidade dos fatos que vivenciava e comecei a trabalhar meus conflitos, meus desarranjos emocionais e comportamentais, prontificando-me a deixar que Deus removesse esse defeito de mim.

O ressentimento é um instrumento de frustação, é quando a emoção sobrepuja a razão, é uma forma de negar os impulsos do coração; aqueles impulsos que me levaram a sentir compaixão e a perdoar os meus próprios erros... aqueles que via refletido nos outros.

Para meu equilibrio interior precisei primeiro admitir ter ressentimentos; que eles não morreram quando eu parei de beber, e que havia necessidade de dar valor a esse sentimento compreendendo-o , não desviando a atenção como forma de dispersar a dor, a mágoa dissimulada e me utilizando da bebida como
um meio de fuga.

Conforme fui fazendo meu inventário, fui retirando minha opinião negativa dos fatos, descarregando assim, grande parte da minha carga emocional; comecei a ter melhor compreensão das minhas atitudes decorrentes da bebida e das atitudes dos outros para comigo, pois, muitas vezes, eram minhas opiniões que me causavam indignação, ressentimentos e autocompaixão.

Hoje, negar a existência do ressentimento equivale a negar parte de mim mesma, mas, com certeza, não o cultivo mais; procuro descobrir a razão do mesmo, vasculhando meu íntimo, buscando compreensão e perdoando; canalizando a válvula de escape do ressentimento para energias positivas, como a sobriedade e a serenidade.

Maria Olívia, Campinas/SP

Vivência nº 77 Mai/Jun. 2002

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