terça-feira, 24 de maio de 2011

Reflexões sobra a segunda Tradição de A.A.

 “Ao longo dos anos, todos os desvios possíveis de nossos Doze Passos e Doze Tradições foram tentados. Nada mais inevitável, uma vez que somos em alta escala um bando de individualistas egocêntricos. Estes mesmos desvios criaram um amplo processo de tentativas e erros que, graças a Deus, colocou-nos onde hoje estamos” – escreveu Bill W.”.
 “Os Doze Passos de Alcoólicos Anônimos, que no símbolo de A.A. estão representados pela palavra RECUPERAÇÃO, são para nós membros, o inicio de uma longa caminhada em busca do cumprimento de uma missão que nos foi confiada quando ultrapassamos pela primeira vez os umbrais de uma sala de AA”.
Os 12 Passos é o início de uma escalada constante e ascendente em busca da sublimação.
 “No livro “Alcoólicos Anônimos” é descrito o alcoolismo no ponto de vista do alcoólico. Nele estão codificadas as idéias espirituais da Irmandade e os esclarecimentos e aplicações dos Doze Passos ao dilema do alcoólatra”.
 “As Doze Tradições de AA, dizem respeito à vida da própria Irmandade. Delineiam os meios pelos quais AA mantém sua Unidade e se relaciona com o mundo exterior, e a sua forma de viver e desenvolver-se e também, a visão clara dos princípios através dos quais funciona o Grupo de Alcoólicos Anônimos”.
 A.A. é um programa espiritual. Não basta “botar a rolha na garrafa”.  Requer o estudo e a prática dos 36 princípios sugeridos. Sem os Passos, continuamos “Bêbados Secos” – tão brabos, tão auto-suficientes, tão isolados dos outros, tão cheios de auto-piedade, como quando bebíamos. Sem os Doze Passos, qualquer raiva ou frustração pode provocar uma recaída.
Sem os Passos, continuamos sendo inseguros, rígidos, inflexíveis, arrogantes e incapazes de discutir alguma coisa com calma e respeito mútuo.  Sem os Passos, continuamos sendo pessoas cheias de raiva e de ódio de NÓS MESMOS, que descarregamos nos outros, na família e em nosso Grupo de AA.
 Cada uma de nossas Tradições está baseada na aceitação do desejo de servir uns aos outros e a Alcoólicos Anônimos como um todo.
  Atrás de cada uma das Doze Tradições está a Unidade. O seu objetivo maior. E somente através de uma atitude recíproca de Serviço é que podemos trabalhar juntos em espírito de humildade e harmonia para assegurar o bem estar comum de todos nós. Somente através desta atitude estaremos prontos para servir em vez de dirigir, levando nossas mensagens a outros sofredores do alcoolismo.
 A chave da Segunda Tradição está na grande Graça de termos permanente entre nós a ação divina, que nos ajuda a estar juntos, presidindo ao nosso propósito comum, nas manifestações da consciência do grupo, fazendo dos servidores de AA os executores desta vontade e lembrando-nos sempre que como única autoridade em A.A, existe um Deus amantíssimo que nos governa e ilumina.
 O nivelamento e a igualdade de propósitos entre todos os membros, ou o é “proibido proibir”, a não obrigatoriedade, a não exclusão e a ausência de regras direcionam a Irmandade ao longo dos anos, para um segmento cada vez mais admirado e compreendido dentro da sociedade.
 E, principalmente entre seus membros, que absortos na contemplação de todas estas dádivas, se esquecem por completo do seu inicial ceticismo, da sua desconfiança e da arrogância. Ou do seu egoísmo, como também da sua prepotência, todos estes, comportamentos comuns nos primeiros dias em AA, vivenciados pela maioria de nós, os seus membros.
 A consciência coletiva de AA a nível mundial, parece concordar em seis pontos que definem um grupo de AA:
 1. Todos os membros de um grupo são alcoólicos;
2.Como grupo, são inteiramente auto-suficientes;
3.O propósito primordial de um grupo é o de ajudar aos alcoólicos a se recuperarem através dos Doze Passos;
4.Como grupo, ele não possui nenhuma outra afiliação;
5.Como grupo, ele não emite opinião sobre quaisquer assuntos alheios;
6.Como grupo, sua norma de procedimento para com o público é baseada na atração ao invés da promoção, e seus membros mantém o anonimato pessoal a nível de imprensa, rádio, televisão, cinema e internet.

Hoje em dia são raros os grupos que elaboram regimentos internos ou estatutos, embora nos primórdios de AA fossem considerados desejáveis. Muitas vezes, quanto mais regras e leis fossem adotadas, maior número de problemas criava. Assim, gradativamente, a maioria das antigas normas foi cedendo lugar à força dos costumes. Entretanto, uma filosofia herdada dos primeiros grupos vem se provando acertada: quanto mais bem informados são os membros de um grupo, tanto mais eles participam das decisões e mais saudável e feliz será o grupo, onde geralmente irão diminuir as divergências, críticas e os problemas.
 A maioria de nós também aprende que a recuperação do alcoolismo não é uma dádiva para ser agarrada egoisticamente para si própria. Significa também responsabilidade por servir a outros, tanto dentro como fora de AA.
 Nosso entendimento é que toda espécie de trabalho tem que ser realizado para se manter um grupo de AA em funcionamento.
 É através do trabalho dos membros do grupo que os doentes alcoólicos de uma comunidade ficam sabendo que AA existem e de como pode ser encontrado. É através do Serviço em AA que são atendidos os pedidos de ajuda e são mantidos os contatos necessários com o restante do AA a nível local, nacional e internacional e o Grupo fica informado, não se isolando.
 Nos grupos, os membros encarregados destes serviços são chamados de Servidores, que escolhidos pelos demais membros executam suas atividades por períodos limitados, proporcionando a rotatividade. Como lembra a Segunda Tradição: “Nossos líderes são apenas Servidores de Confiança; não têm poderes para governar”.
 Portanto, aprender a aceitar a responsabilidade dentro do grupo é um privilégio. Devidamente manejada, pode ser útil à recuperação. Muitos membros de AA descobriram e constataram que as obrigações (diga-se Serviços) representam uma excelente maneira de fortalecer a própria sobriedade.
 É longo o aprendizado que se obtém através da Segunda Tradição:
-Questiona: de onde recebe o AA a sua direção?
-Mostra que a única autoridade em AA é um Deus amantíssimo que Se manifesta através da consciência do grupo.
-Preocupa-se com a formação de um grupo.
-Preocupa-se com as dores resultantes do crescimento.
-Propõe os comitês rotativos;
-Questiona se AA tem uma verdadeira liderança.
-Exemplifica os Velhos mentores e os velhos resmungões.
-Mostra que os líderes não governam: eles apenas servem.
-Propõe a busca constante de um saudável exercício da consciência do grupo.

Por isto, a reunião de serviço de um grupo base, transforma-se em um bem extremamente necessário. Não é o local para se digladiar. Não se precisa ir com o espírito preparado para isto ou para aquilo. Precisa-se sim, estar com a mente aberta, disposto a conhecer, participar e ver as coisas como funcionam de forma objetiva.
 Diante de nossa própria imperfeição, para exercitar a consciência do grupo, nem sempre tem sido assim. Temos que reconhecer que “é a nossa idéia” ou o “nosso ponto de vista”, ou a “minha maneira de coordenar”, que tem nos atrapalhado e muito.
 Muitas vezes até tem criado um desestímulo de participar em outras reuniões, depois que “o que e, como eu queria, não foi aceito”.
 É claro que existe sempre uma verdade dentro de cada um de nós. Mas, temos que lembrar também, que existe esta ou outra verdade dentro do outro. Na dúvida, pesquisar a literatura passa a ser uma “obrigação”, para não “cairmos em tentação”!
 Na preparação de uma consciência de grupo, que tal conhecer a agenda antes da reunião de serviço, para se ter a idéia já formada no momento que estiver sendo discutida? Não é bom ser objetivo e rápido nas conclusões?
Falar pouco, mas objetivo, às vezes indo até a exaustão, são dinâmicas para uma reunião de serviço onde se trabalha a consciência coletiva, informando-a com detalhes e linhas mestres dos tópicos para análises. Assim, o voto será consciente.

É quem coordena que estimula a participação dos demais. É ele quem esclarece as dúvidas. Talvez ele até fale demais. Mas é porque é ele quem deve direcionar o assunto. Não é ele quem conduz a consciência do grupo .
 Tem assuntos que precisam de uma reflexão mais demorada. BEM mais estudada.  Mas outros, pelas próprias colocações da coordenação e em seguida uma “amostra” colhida entre alguns participantes, já podem ser levados em votação.
 Nesta dinâmica, tem-se a oportunidade de se verificar o amadurecimento consciente do grupo. Por outro lado, também, o desconhecimento e o desinteresse da minoria.
 Tanto maioria quanto minoria, duas correntes que atuam nas reuniões de serviços têm que reconhecer suas importâncias nestas reuniões.  Uns, procurando estimular o conhecimento mais profundo da prática do Terceiro Legado – Serviço em AA – que não se restringe apenas ao seu grupo, quando nos encargos.  Outros, admitindo suas limitações. Sendo este o momento de humildemente se ver que tudo que ambos procuram, nada mais  é do que melhorar a forma de praticar o 12º Passo, dentro do seu próprio grupo e na sua comunidade.
Nisso tudo, o importante é que para nós, as feridas causadas pelo alcoolismo devam ser cicatrizadas. E que jamais, outras sejam abertas em sobriedade, no programa de recuperação que nos é oferecido.
 No fundo, o que nos compete, é ver no membro de AA, aquele ser humano que quer e quis parar de beber. Ver no membro de AA aquele que ama o grupo e os companheiros e ainda, aqueles que um dia ainda virão. Ver no membro de AA a esperança de que a mensagem de Bill e do Dr. Bob jamais será por ele, o membro,  esquecida. Porque ele continuará a transmiti-la. Ver no membro de AA a fé, a esperança e o amor. Ver no membro de AA, a sua capacidade e o seu devotamento à irmandade, sua garra, sua disposição, sua conscientização no programa e seu novo sistema de vida dentro do grupo.
O nosso Deus amantíssimo, a nossa autoridade, a nossa consciência de grupo surgem quando, em nosso propósito primordial, não nos apegamos aos fatos alheios ao Programa de recuperação de cada um.
 Que importa, se o companheiro é originário do mundo do crime, se praticou roubos, sedução, vadiagem, homossexualismo, tóxico ou se deu o seu nome trocado? Nada importa. “O único requisito para se tornar membro é o desejo de parar de beber” e, posterior a este desejo é dito: em AA ninguém vigia ninguém, mostrando assim a opção até para “o voltar a beber”.
 É bem verdade, a vida particular pode e deve ser reformulada. Mas, jamais julgada. Salvo pela própria pessoa. Que me adianta saber se a transação imobiliária que alguém fez foi desonesta? Ou saber se o elemento continua gostando do sexo com a pessoa do seu próprio sexo, ou mantendo o relacionamento familiar em desacordo. A vida de cada um a cada um pertence. O programa do meu companheiro é dele. O do Grupo é meu na medida que procure e saia dali fortalecido. Reforçado. Conscientizado da minha impotência ao 1º Gole. Com a mente aberta e despojada de ódio, orgulho, rancor e incompreensão.
 A manifestação da consciência coletiva de um grupo, implica em conhecimentos. Senão, iremos sempre encontrar membros ou servidores que insistirão em querer que prevaleça dentro do grupo, a sua opinião, a sua condição sócio-econômica, intimidando inclusive aos demais. Em alguns casos, a “personalidade forte” de alguns membros também contribui para a subserviência de um grupo.
 Muito ainda há que ser dito sobre a Segunda Tradição.
 Atenciosamente, com votos de felizes 24 horas.

CAMPOS S

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