domingo, 16 de dezembro de 2012

Comprei o "veneno" no lugar do doce



COMPREI “O VENENO” NO LUGAR DO DOCE 


Com 10 anos de idade, bebi, bebi, bebi e bebi até cair!

Com uma garrafinha de 250 ml fui ao bar e pedi pinga “solta”.

Nunca havia experimentado qualquer outra bebida. Quando decidi comprar aquele “veneno” com o dinheiro que minha mãe me deu para comprar doce juntei as quirelas e pronto, lá estava eu comprando pinga para minha fuga. O dono do bar vendeu sem constrangimento, pois pelo menos umas 8, 12 vezes ao mês eu ia comprar pinga “solta” para outra pessoa, mas naquele dia a pinga era para mim, um meio para fugir da minha realidade. Na verdade era uma forma de protesto, um grito de socorro, pois eu sentia uma carência muito grande, tanto paternal e muito, principalmente a falta de diálogo de minha mãe para comigo. Hoje já não cobro e nem a culpo.

Quando peguei aquela garrafa de 250ml e virei de frente para a rua já ingeri o primeiro gole, ali mesmo, perto do bar. Andei mais quinze metros e bebi mais um bocado. Minha cabeça já estava desnorteada e parecia que um vulcão que estava adormecido dentro de mim entrava naquele momento em erupção. Já “grogue”, meu subconsciente queria mais;
minhas pernas já estavam perdendo o domínio sobre o corpo, mas meu cérebro pedia uma destruição total; pronto pensei: - vou atravessar a pista e no gramado do “balão do laranja” bebo o restante. Dito e feito! Com a visão já embaralhada, a língua dormente, a tristeza, o sentimento de solidão e revolta permaneciam, bem vivos. Atravessei a pista cambaleando, tomei o gole de misericórdia, tomei mais uma talagada e dei apenas dois passos, no terceiro ali mesmo caí, na grama, babando e já praticamente desmaiado.

Meus amigos me levaram para casa, fui posto pra dormir e minha mãe ficou preocupada. O tempo passou, definitivamente tomei nojo de pinga, mas em compensação tomei gosto pela cerveja e como a doença é progressiva, comigo não foi diferente; fui me afundando na cerveja e quando dei por mim já havia perdido o emprego, a esposa e a dignidade.

Graças ao Poder Superior conheci Alcoólicos Anônimos e estou fazendo parte desta Irmandade. Há meses faço parte da consciência coletiva do Grupo Campinas, onde sou RV e Suplente de secretário.

Tudo que faço é por amor à Irmandade por que Alcoólicos Anônimos salvou a minha vida. A.A. salva vidas.

Obrigado ao meu padrinho do Grupo Salva-Vidas e minha madrinha do Grupo Campinas.

Leandro/Campinas/SP
Vivência nº109 – Set./Out. 2007

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