sexta-feira, 17 de junho de 2011

Orgulho, uma venda em meus olhos!

ORGULHO, UMA VENDA EM MEUS OLHOS!

"Eu ainda possuía uma bela casa em um bairro nobre da minha cidade, um carro do ano e um diploma de médico".

Foi lá pelos idos do outono de 1982, que um amigo me convidou a assistir uma reunião de Alcoólicos Anônimos.

Dizia ele que era para dar apoio moral a um irmão seu, que havia recentemente ingressado em A.A.

Relutei muito, pois não acreditava neste negócio de grupos de auto-ajuda.

Como psiquiatra eu me achava o supra sumo da saúde mental. Se nós médicos não resolvêssemos, ninguém jamais resolveria. Ainda por cima eu pensava ser esta doença mais moral que orgânica ou mental.

Acabei indo a tal reunião, somente pela grande afetividade que nutria pelo meu amigo. Não gostei. Achei que aquele povo, em sua maioria analfabeto, nunca poderia ajudar a mim ou a algum outro. Mais uma vez dormi embriagado, naquela noite.

Não passava por minha cabeça que o convite não era por causa do irmão do meu amigo, pois ele não necessitava da minha ajuda, já que tinha o A.A. eu, sim, que era um homem carente, prepotente e emocionalmente doente. Antes de ser médico eu era um ser humano, e como tal poderia ser portador de qualquer doença, inclusive o alcoolismo.

Eles não iriam me ensinar medicina; iriam me informar como parar de beber, pois eu não sabia e isto não tinha nada a ver com meu lado intelectual.

Mas eu possuía um defeito muito perigoso, o orgulho, que era como uma venda a tampar minha visão, não me permitindo enxergar e entender isto.

Seis meses se passaram.

Eu ainda possuía uma bela casa em um bairro nobre da minha cidade, um carro do ano e um diploma de médico. Não tinha mais amigos nem colegas e meu consultório estava fechado há tempos; minha família havia me abandonado.

Minha esposa se foi e com ela se foram também meus dois filhos, ainda crianças. No dia 21 de novembro de 1982, acordei na minha grande e vazia casa, numa tremenda ressaca e muito depressivo. Olhei para as paredes do meu quarto e vi duas fotos dos meus filhos sorrindo para mim. Neste momento notei o que eu havia perdido. Tudo estava terminado. Não podia suportar a idéia de morrer aos poucos com estes tremendos sofrimentos. Só restava uma
saída: o suicídio.

Como tinha dois revolveres, fui pegar um deles, o de maior calibre para dar um tiro em minha cabeça. Não encontrei nenhum deles, minha esposa antes de partir tinha dado fim nestas armas. O pânico tomou conta do meu ser. Tinha medo da vida e também da morte.  O que fazer? Instintivamente me ajoelhei e gritei com toda minha força: - MEU DEUS ME AJUDE!

Recordo-me que naquele momento uma espécie de serenidade tomou conta de mim. Meu quarto parecia estar cheio de pessoas amigas e eu me sentia mais só. Fui ao telefone e liguei para meu amigo, que com um membro de A.A. me levou a uma clínica de desintoxicação.

Ao sair de lá comecei a frequentar as reuniões de Alcoólicos Anônimos, sendo que até hoje não mais bebi nem tive vontade de beber, pois encontrei a humildade.

Reconquistei tudo que havia perdido inclusive minha família.

Hoje sei que se ainda vivo é somente pela Graça de Deus e pela nossa querida Irmandade: Alcoólicos Anônimos.

JB. /Cuiabá/MT

A vida é o dia-dia.

O hoje é tudo que temos. E qualquer pessoa pode passar um dia sem beber.

Primeiro tentamos viver no presente só para não beber e vemos que funciona. E, depois que essa ideia se torne parte de nosso modo de pensar verificamos que viver a vida em pedacinhos de 24 horas é uma forma eficaz e agradável de lidar com outros assuntos também.

(Viver Sóbrio)

Vivência nº. 103 Set. /Out. 2006.

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