quinta-feira, 10 de maio de 2012

Sóbrio e Sobriedade - Dr. Laís Marques da Silva

" SÓBRIO E SOBRIEDADE "

Dr. Laís Marques da Silva – ex-custódio e presidente da JUNAAB

Área do Distrito Federal
Coordenação do 5º Comitê de Distrito
3º Ciclo de Estudos Doze Passos de Alcoólicos Anônimos
Sobriedade Emocional: Fronteira de Bem-estar
De 4 a 6 de 2011

Sobriedade é a qualidade ou estado de estar sóbrio. É uma condição de grande importância para o alcoólico, pois é para ela que o programa de recuperação está voltado e a sobriedade só é alcançada por meio da abstinência. É evitar o primeiro gole, é ter um programa que considera um dia de cada vez, o programa de 24 horas. Assumir o compromisso de parar de beber por toda vida, num primeiro momento, seria muito pesado, compromisso esse que, usualmente, já fora assumido muitas vezes antes mas que não vinha sendo posto em prática até então por ser difícil de cumprir. A abstinência por cada vinte e quatro horas, de cada vez, só por hoje, incorpora a sabedoria que nos foi transmitida há milênios quando o Mestre dizia que a cada dia bastavam as suas tribulações. A sobriedade é como um alicerce, indispensável e que dá o necessário apoio para tudo o que deve suceder a essa primeira conquista. Primeira porque outras devem ocorrer em seqüência. Afinal, ninguém faz um alicerce e fica nisso, para nesse ponto. A existência de um alicerce pressupõe que se vá fazer algo mais, que é a construção e, no nosso caso, a construção da serenidade que vem por meio da adoção do programa de recuperação. Por tudo isso a sobriedade nos é muito cara, por ser o passo inicial, por ser indispensável, por ser a primeira grande vitória e porque, uma vez assumido o compromisso com o programa, o alcoólico começa a vencer o seu primeiro e grande obstáculo que é a negação. Assim, aí está o início da recuperação, de uma nova vida.
Numa primeira acepção, ou entendimento, da palavra sobriedade, vimos que ela se refere ao organismo do alcoólico, em que se consideram os efeitos da ingestão de uma droga, no caso, o álcool.
Voltamo-nos agora para outra acepção da palavra sobriedade, mas dentro de outra dimensão, que é a emocional. Sobriedade emocional existe quando se está com as emoções em ordem, em equilíbrio. O primeiro entendimento da palavra, que acabamos de desenvolver, volta-se mais para o aspecto do organismo intoxicado, sob o efeito da droga. Agora, no campo emocional, sobriedade significa estar calmo, com um comportamento moderado marcado pela temperança, pela moderação, contido no tom e na cor e sem exibir excesso de emoção ou fantasia.

Serenidade

Sóbrio e emocionalmente sereno, o alcoólico se apresenta calmo, que é a qualidade de estar sóbrio, de ser marcado pela temperança, moderação e seriedade. É não estar intoxicado, é não ter o hábito de beber ou de usar drogas e é sereno por estar tranquilo, manso e sossegado, sem preocupações ou pressa. Seus compromissos não o incomodam além da justa medida e não sente que o mundo vai acabar, caso não os cumpra. Vive o momento presente sem sofrer o peso do presente ou estar preocupado com relação ao futuro. Aceita o mundo como ele é, uma vez que aceita as coisas que não pode modificar. Está consciente de que o seu problema com o álcool o faz sentir dor mas que esse estado de consciência é o início da libertação e é preciso que esse entendimento cresça sempre, porque significa progredir ao longo da vida.
Desenvolvemos a compreensão do que é a serenidade porque ela é uma qualidade indispensável para que o alcoólico se mantenha sóbrio e, assim, retornamos para o tema da sobriedade porque, sem ela, o alcoólico pode ser envolvido pelo ressentimento, pelo desespero, pelo egocentrismo e afastar-se do convívio social e isso pode leva-lo à garrafa. Não desfrutando da indispensável serenidade, o alcoólico pode não conseguir manter esses problemas dentro de limites seguros. A serenidade permite ver com maior clareza e distinguir bem as coisas.
Por outro lado, é preciso estar atentos para o fato de que todos nós temos o nosso lado de sombra, aquela nossa parte que gostamos de negar, de não pensar e de não estar consciente dela e corremos até o risco de tentar botar para baixo do tapete, o que não só não é solução mas complica muito as coisas. Mas o mal não é a coisa em sim, mas o problema está em não aprender a lidar com esse nosso lado. Ignorá-lo e procurar não estar consciente dele pode ser o caminho do desastre ou, pelo menos, não teremos serenidade enquanto não tivermos uma boa compreensão desta realidade. É preciso se aceitar e amar a si próprios e aí estaremos no caminho da serenidade.
Estando sóbrios e emocionalmente serenos, estaremos, em alguma medida, dentro do quadro que iremos desenhar da pessoa sóbria, serena: tem esperança, é amorosa, humilde, paciente e honesta. É alegre e sabe que tem valor. Le livros e revistas, frequenta os grupos de A. A., visita amigos, aprecia as belezas do mundo, pratica passa-tempos, toca instrumentos musicais, vai à praia, viaja e muito mais.
Para ajudar a alcançar e manter a serenidade há grupos em que são expostos pensamentos que ajudam e que, pela repetição constante, passam a fazer parte do subconsciente, como: "um dia de cada vez", "viva e deixe viver", "isso também passará", "com calma se resolve", "vá de vagar, mas vá", "se funciona, não conserte" e outros mais.
Em A. A. não se diz quando eu crescer na minha programação eu vou... e isso porque estaremos sempre crescendo. É perigoso pensar que está bem e deixar de crescer porque não é possível para ninguém estar sereno o tempo todo, mesmo não sendo um alcoólico e pela razão simples de que somo humanos e, portanto, imperfeitos. Logo, o crescimento dever ser constante.

Bem-estar

Nesse ponto chegamos ao segundo termo do binômio do lema do encontro, a fronteira de bem-estar.
O bem-estar é a parte subjetiva da saúde mental. É a satisfação com a vida, é um componente da felicidade. É sentir-se calmo e feliz.
O bem-estar pode ser visto como um estado de prazer ou felicidade (hedonismo) ou apoiar-se no bem estar que traduz o pleno funcionamento das potencialidades de uma pessoa (eudemonismo), ou seja, na sua capacidade de pensar, raciocinar e usar o bom senso. São os aspectos subjetivo e psicológico do bem-estar respectivamente.
O que podemos observar nos grupos de A. A. é que os que seguem o caminho da sobriedade e se tornam serenos atravessam a fronteira e penetram na condição de bem-estar nas duas dimensões, rapidamente aqui analisadas.

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