domingo, 13 de maio de 2012

Padrinhos, Madrinhas & Afilhados...

Padrinhos, Madrinhas & Afilhados...

Meus primeiros dias em A.A. foram assustadores. Sem beber, tudo ficava mais difícil. Minha insegurança, meus medos, tudo veio à tona.

Apesar de saber que alí estava a minha "turma", um enorme sentimento de solidão me envolvia. Eu não entendia muito bem o que estava acontecendo comigo. O meu último período de ativa fora muito sofrido. Estivera a um passo da loucura. Sem fé, sem esperança, sem identidade, eu parecia uma menininha deixada sozinha num quarto escuro, completamente entregue aos seus fantasmas. E a vontade de beber não passava...Quanto maior a minha insegurança, quanto mais medo eu sentia, mais forte era a tentação de recorrer ao primeiro gole. Todos no grupo me pareciam fortes, invencíveis e...distantes... Ainda não tinha conhecido nenhuma companheira.

Mas havia um olhar e um sorriso que aqueciam o meu coração. Eram do primeiro padrinho em A.A. Ele foi se aproximando, puxando conversa. Havia nele uma serenidade que eu gostaria de ter.

Desconfiada de tudo e de todos, sem entender quase nada da programação, fui confiando nele. Comecei a lhe fazer algumas tímidas confidências e algumas perguntas sobre a Irmandade. Ele me emprestou os livros "Viver Sóbrio", "Alcoólicos Anônimos", "Os Doze Passos e as Doze Tradições". Tratava-me com carinhosa atenção, sempre pronto a me ouvir, partilhar suas experiências comigo e fazia sugestões muito úteis para mim. Aos poucos fui me sentindo mais segura. Era bom chegar na sala e sentir a sua presença sempre ali, mostrando-me, com o seu exemplo, que "a participação é a chave da recuperação".

Hoje somos mais que companheiros, somos amigos! Com ele aprendí os segredos do apadrinhamento. Tenho alguns afilhados, a maioria mulheres, as quais também recebí com carinho e atenção. E tenho caminhado junto com eles, como o meu padrinho caminhou comigo nos primeiros tempos.

Acho que meus afilhados jamais entenderão o quanto me ajudam. É um mistério essa maravilhosa troca de energia que acontece entre nós. Vou partilhando com eles as minhas experiências e eles vão partilhando comigo as suas dificuldades e os seus sentimentos, que são tão iguais aos meus!...

Outro dia, num momento de descontrole emocional, quando o meu comportamento não foi nada exemplar, uma afilhada, um pouco assustada comigo, concluiu: "É, com a minha madrinha eu vou aprendendo o que fazer e o que não fazer."

A grande lição que tenho aprendido em Alcoólicos Anônimos, especialmente com a minha experiência no apadrinhamento, é que, neste planeta, não existem professores. Todos somos aprendizes: estamos caminhando juntos, de mãos dadas, em direção ao infinito.

Que Deus conceda a todos vinte e quatro horas de serena sobriedade!

(Nícia, Campinas/SP)

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