
POR QUE SOMOS ANÔNIMOS?
O presidente da Junta de Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos, no qüinqüênio de 1951 1956, Bernard Schmidt afirmou: "acredito que aqueles que vivem de acordo com os princípios de A.A., gozam de uma felicidade maior do que qualquer tipo ou grupo de pessoas que conheço."
E, principalmente, quando não colocamos nossa personalidade, nosso egoísmo, acima desses princípios.
No decorrer da existência, presenciamos no dia-a-dia a luta pelo poder, prestigio e riqueza, arrasando a civilização homem contra homem, família contra família, grupo contra grupo, nação contra nação, todos se digladiando.
Quase todos aqueles envolvidos nesta violenta competição, declararam que seus objetivos são a paz e a justiça para eles mesmos, para os seus semelhantes e para as suas nações."Dê-nos o poder", dizem eles "e faremos justiça"; "dê-nos a fama e daremos nosso exemplo"; "dê-nos o dinheiro e ficaremos satisfeitos e felizes". As pessoas do mundo inteiro acreditam profundamente nisso e atuam de acordo com isso. Nessa verdadeira e espantosa bebedeira seca, a sociedade parece estar entrando num beco sem saída. O sinal de "pare" está claramente marcado, e anuncia "desastre", catástrofe.
O que tem a ver isso tudo com ANONIMATO DE ALCOÓLICOS ANÔNIMOS?
Nós de A.A. deveríamos saber disso. Quase todos temos transitado por esse beco sem saída. Sob a influencia do alcoolismo e da autojustificação, muitos de nós perseguimos os fantasmas da importância pessoal e do dinheiro, até o sinal do “pare†do desastre, quando chegamos em A.A.
A partir daí, olhamos ao redor e nos encontramos numa nova estrada, onde os sinais de indicação (esse programa maravilhoso de A.A.: Doze Passos e Doze Tradições) jamais revelam uma palavra a respeito de poder material, fama ou riqueza. Os novos sinais dizem: "Esse é o caminho para a sanidade e serenidade e o preço é o auto-sacrificio", a humildade.
A Décima Primeira Tradição surgiu de uma grande experiência de relações públicas: "Nossas relações com o público baseiam-se na atração em vez da promoção; na imprensa, no rádio e em filmes, cabe-nos sempre preservar o anonimato pessoal."
E, mais ainda, o anonimato é o manto protetor que cobre nossa sociedade toda. É mais que uma proteção; tem uma outra dimensão, um significado espiritual e continua refletindo com os mesmos propósitos em nossa Décima Segunda Tradição: "O anonimato é o alicerce espiritual de nossas Tradições, lembrando-nos sempre da necessidade de colocar os princípios acima das personalidades."
É, pois, "o anonimato a maior proteção que nossa sociedade pode ter" e a "essência espiritual do anonimato é o sacrifício". Sacrifício do abandono do álcool, exigindo-nos outros sacrifícios: "mudança de hábitos, amigos e outros mais". Os extremistas e os falsos pensamentos têm que desaparecer.
Temos que tentar atirar pela janela a autojustificação, a autopiedade e a raiva. Temos que nos livrar da competição louca, em busca do prestigio pessoal e grandes saldos bancários. Temos que assumir a responsabilidade pelo nosso estado lamentável e deixar de culpar os outros por isso. Temos que aprender a viver e conviver com o que nos restou.
São realmente sacrifícios?
Sim, são. Para obter suficiente humildade e respeito próprio a fim de permanecermos vivos, temos que abandonar o que realmente sempre foi nossa possessão mais querida, ou seja, a ambição e o orgulho exagerado.
Mas ainda isso não é o suficiente. O sacrifício precisa ir mais longe. Outras pessoas têm que ser beneficiadas, também, de maneira a começarmos a sentir o verdadeiro despertar espiritual do Décimo Segundo Passo, levando a mensagem de A.A. Muitas vezes, sacrificando tempo, energia, comodidade e até mesmo o conforto material, no sentido de tornarmos os outros felizes.
Tomamos essas atitudes, não porque pretendemos virtudes especiais ou sabedoria: fazemos essas coisas porque a dura experiência nos tem ensinado que A.A. tem que sobreviver num mundo conturbado como é o de hoje. Nós também abandonamos nossos direitos e nos sacrificamos, porque precisamos e, melhor ainda, porque queremos. A.A. é uma força maior do que qualquer um de nós; ele precisa continuar existindo ou milhares de nós morrerão.
Bill W. nos conta que a quebra de anonimato pode trazer conseqüências desagradáveis, não só para quem a pratica como para a própria Irmandade. Relata-nos sobre aquele jogador de beisebol que, em razão de sua recuperação espetacular através de A.A., obteve grande aclamação pessoal na imprensa, com seu nome completo e fotografia. Até Bill gostou da repercussão, pois foi atingido por essa publicidade, passando a ser fotografado e a dar entrevistas. Não demorou muito tempo, surgiram os comentários dos seus companheiros de A.A.: "esse sujeito, Bill, está se aproveitando do grande momento e o Dr. Bob não está pegando a sua parte." "Será que toda essa publicidade não vai subir à cabeça de Bill e ele se embriagará?"
Outros fatos ocorreram na época, inclusive intromissão em comícios políticos e outros ao lado de policiais, informando quais os bêbados que deveriam ir para A.A. e quais os que deveriam ir para a cadeia. Gente sendo contratada para dar palestras com o intuito de promoção de vendas, etc.
Essa preocupação todos nós ainda hoje a temos. Principalmente em casos de recaídas. Como ficam a imagem e o conceito de Alcoólicos Anônimos junto as público em geral?
Isso significa que qualquer membro mal-orientado pode assim pôr em perigo nossa Irmandade, a qualquer momento e em qualquer lugar. Imaginemos todos os membros de A.A. trabalhando em propaganda, procurando patrocinar comercial, usando o nome de A.A. para vender qualquer coisa, desde livros, pães, doces e até suco de uvas?
É lógico que daí começariam a aparecer as complicações de dinheiro, envolvendo quebra de anonimato e outras dificuldades negativas.
Naturalmente nenhum A.A. precisa ser anônimo para sua família, amigos ou vizinhos. Revelar sua condição a esse nível é geralmente correto e bom. Nem há qualquer perigo especial, quando falamos ao grupo ou em reuniões públicas, tomando o cuidado de não ser fotografado ou sair seu nome completo em reportagens jornalísticas.
Nós agora compreendemos perfeitamente que cem por cento do anonimato pessoal perante o público a nível de mídia é tão vital para a vida de A.A. como cem por cento de abstinência alcoólica para a vida de cada membro. Esse não é o conselho do medo, é a voz prudente de uma longa experiência, a fim de que aqueles que estão chegando tenham certeza de que seus nomes jamais serão revelados, também, por qualquer membro da Irmandade.
AUGUSTO G. PR
VIVENCIA N°. 37 SET/OUT 1995.
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