domingo, 20 de maio de 2012

Por que somos anônimos?

POR QUE SOMOS ANÔNIMOS?

O presidente da Junta de Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos, no qüinqüênio de 1951 1956, Bernard Schmidt afirmou: "acredito que aqueles que vivem de acordo com os princípios de A.A., gozam de uma felicidade maior do que qualquer tipo ou grupo de pessoas que conheço."

E, principalmente, quando não colocamos nossa personalidade, nosso egoísmo, acima desses princípios.

No decorrer da existência, presenciamos no dia-a-dia a luta pelo poder, prestigio e riqueza, arrasando a civilização homem contra homem, família contra família, grupo contra grupo, nação contra nação, todos se digladiando.

Quase todos aqueles envolvidos nesta violenta competição, declararam que seus objetivos são a paz e a justiça para eles mesmos, para os seus semelhantes e para as suas nações."Dê-nos o poder", dizem eles "e faremos justiça"; "dê-nos a fama e daremos nosso exemplo"; "dê-nos o dinheiro e ficaremos satisfeitos e felizes". As pessoas do mundo inteiro acreditam profundamente nisso e atuam de acordo com isso. Nessa verdadeira e espantosa bebedeira seca, a sociedade parece estar entrando num beco sem saída. O sinal de "pare" está claramente marcado, e anuncia "desastre", catástrofe.

O que tem a ver isso tudo com ANONIMATO DE ALCOÓLICOS ANÔNIMOS?

Nós de A.A. deveríamos saber disso. Quase todos temos transitado por esse beco sem saída. Sob a influencia do alcoolismo e da autojustificação, muitos de nós perseguimos os fantasmas da importância pessoal e do dinheiro, até o sinal do “pare” do desastre, quando chegamos em A.A.

A partir daí, olhamos ao redor e nos encontramos numa nova estrada, onde os sinais de indicação (esse programa maravilhoso de A.A.: Doze Passos e Doze Tradições) jamais revelam uma palavra a respeito de poder material, fama ou riqueza. Os novos sinais dizem: "Esse é o caminho para a sanidade e serenidade e o preço é o auto-sacrificio", a humildade.

A Décima Primeira Tradição surgiu de uma grande experiência de relações públicas: "Nossas relações com o público baseiam-se na atração em vez da promoção; na imprensa, no rádio e em filmes, cabe-nos sempre preservar o anonimato pessoal."

E, mais ainda, o anonimato é o manto protetor que cobre nossa sociedade toda. É mais que uma proteção; tem uma outra dimensão, um significado espiritual e continua refletindo com os mesmos propósitos em nossa Décima Segunda Tradição: "O anonimato é o alicerce espiritual de nossas Tradições, lembrando-nos sempre da necessidade de colocar os princípios acima das personalidades."

É, pois, "o anonimato a maior proteção que nossa sociedade pode ter" e a "essência espiritual do anonimato é o sacrifício". Sacrifício do abandono do álcool, exigindo-nos outros sacrifícios: "mudança de hábitos, amigos e outros mais". Os extremistas e os falsos pensamentos têm que desaparecer.

Temos que tentar atirar pela janela a autojustificação, a autopiedade e a raiva. Temos que nos livrar da competição louca, em busca do prestigio pessoal e grandes saldos bancários. Temos que assumir a responsabilidade pelo nosso estado lamentável e deixar de culpar os outros por isso. Temos que aprender a viver e conviver com o que nos restou.

São realmente sacrifícios?

Sim, são. Para obter suficiente humildade e respeito próprio a fim de permanecermos vivos, temos que abandonar o que realmente sempre foi nossa possessão mais querida, ou seja, a ambição e o orgulho exagerado.

Mas ainda isso não é o suficiente. O sacrifício precisa ir mais longe. Outras pessoas têm que ser beneficiadas, também, de maneira a começarmos a sentir o verdadeiro despertar espiritual do Décimo Segundo Passo, levando a mensagem de A.A. Muitas vezes, sacrificando tempo, energia, comodidade e até mesmo o conforto material, no sentido de tornarmos os outros felizes.

Tomamos essas atitudes, não porque pretendemos virtudes especiais ou sabedoria: fazemos essas coisas porque a dura experiência nos tem ensinado que A.A. tem que sobreviver num mundo conturbado como é o de hoje. Nós também abandonamos nossos direitos e nos sacrificamos, porque precisamos e, melhor ainda, porque queremos. A.A. é uma força maior do que qualquer um de nós; ele precisa continuar existindo ou milhares de nós morrerão.

Bill W. nos conta que a quebra de anonimato pode trazer conseqüências desagradáveis, não só para quem a pratica como para a própria Irmandade. Relata-nos sobre aquele jogador de beisebol que, em razão de sua recuperação espetacular através de A.A., obteve grande aclamação pessoal na imprensa, com seu nome completo e fotografia. Até Bill gostou da repercussão, pois foi atingido por essa publicidade, passando a ser fotografado e a dar entrevistas. Não demorou muito tempo, surgiram os comentários dos seus companheiros de A.A.: "esse sujeito, Bill, está se aproveitando do grande momento e o Dr. Bob não está pegando a sua parte." "Será que toda essa publicidade não vai subir à cabeça de Bill e ele se embriagará?"

Outros fatos ocorreram na época, inclusive intromissão em comícios políticos e outros ao lado de policiais, informando quais os bêbados que deveriam ir para A.A. e quais os que deveriam ir para a cadeia. Gente sendo contratada para dar palestras com o intuito de promoção de vendas, etc.

Essa preocupação todos nós ainda hoje a temos. Principalmente em casos de recaídas. Como ficam a imagem e o conceito de Alcoólicos Anônimos junto as público em geral?

Isso significa que qualquer membro mal-orientado pode assim pôr em perigo nossa Irmandade, a qualquer momento e em qualquer lugar. Imaginemos todos os membros de A.A. trabalhando em propaganda, procurando patrocinar comercial, usando o nome de A.A. para vender qualquer coisa, desde livros, pães, doces e até suco de uvas?

É lógico que daí começariam a aparecer as complicações de dinheiro, envolvendo quebra de anonimato e outras dificuldades negativas.

Naturalmente nenhum A.A. precisa ser anônimo para sua família, amigos ou vizinhos. Revelar sua condição a esse nível é geralmente correto e bom. Nem há qualquer perigo especial, quando falamos ao grupo ou em reuniões públicas, tomando o cuidado de não ser fotografado ou sair seu nome completo em reportagens jornalísticas.

Nós agora compreendemos perfeitamente que cem por cento do anonimato pessoal perante o público a nível de mídia é tão vital para a vida de A.A. como cem por cento de abstinência alcoólica para a vida de cada membro. Esse não é o conselho do medo, é a voz prudente de uma longa experiência, a fim de que aqueles que estão chegando tenham certeza de que seus nomes jamais serão revelados, também, por qualquer membro da Irmandade.

AUGUSTO G. PR

VIVENCIA N°. 37 SET/OUT 1995.

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