segunda-feira, 20 de junho de 2016

Sobriedade Consciente e Inconsciente





 
 

asci em 1949, na cidade do Rio de Janeiro, provavelmente já possuindo o gene do alcoolismo. Na genética clássica, o gene é a unidade funcional da hereditariedade, sendo esta palavra criada em 1909, pelo botânico dinamarquês Wilhelm Ludvig Johannsen.

Tornei-me ciente da minha doença do alcoolismo, provavelmente fruto de um atavismo, no final do ano de 2014, quando atingi o meu “fundo de poço”. Fui então resgatado pela minha filha e por minha ex-esposa, indo de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro, onde fui ingressado em Alcoólicos Anônimos no Grupo Igualdade, localizado em Niterói. Após o meu retorno a BH, cidade onde moro e trabalho, passei a frequentar o Grupo Carmo Sion. Hoje considero que A.A. e minha família salvaram a minha vida.

Em tempo, pois já ia me esquecendo, meu nome é Franz H., sou engenheiro e atuo até hoje como tal. Após minha graduação em engenharia, trabalhei como pesquisador por dez anos, fato este que, pelo costume, me proporcionou um grande e contínuo interesse por constantes procuras pelos “porquês” da vida.

Como membro de A.A., passei a refletir sobre a afirmação utilizada pela maioria dos nossos companheiros e companheiras: “Sou um alcoólico em recuperação”. Mas até quando? Consigo me recuperar? É possível atingirmos um estado de Sobriedade Consciente (SC) ou até mesmo a Sobriedade Inconsciente (SI)?

Na tentativa de responder estes questionamentos que corriqueiramente fazemos como AA’s  ̶ esta é a minha Tese  ̶, faz- se necessário um breve retorno à literatura psicanalítica. Sigmund Freud, “o pai da psicanálise”, em primeira instância dividiu o cérebro humano em duas partes: o “Consciente” e o “Inconsciente”, sendo este último também chamado de Subconsciente.

Figurativamente, são as duas zonas de um iceberg.
 
Nós, seres humanos, temos acesso ao nosso Consciente e até mesmo podemos controlá-lo.
 
 No Consciente estão o raciocínio, os pensamentos e nossas percepções. O nosso Inconsciente, menos flexível, não permite ser controlado por nós, ele que nos controla. Em sua estrutura estão as nossas lembranças, memórias, medos, recalques e desejos.

Como exemplos, o nosso Inconsciente nos permite ter acessos às lembranças de fortes emoções que tivemos em nossas vidas, fatos recentes e significativos, bem como os fatos que foram arquivados devido às inúmeras repetições. Acho que todos se lembram do ditado: “É como andar de bicicleta, a gente nunca esquece”.

Nós, os alcoólicos, quando ingressamos em A.A., vindos de uma “tempestade”, iniciamos a nossa trajetória rumo aos níveis de sobriedade, se, como condição primordial, admitimos o “Primeiro Passo”, que diz: “Admitimos que éramos impotentes perante o álcool – que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas”; e , com similar importância, abraçamos efetivamente o programa de nossa Irmandade e seus princípios, atuando com perseverança, humildade e honestidade e sempre usando como lemas: “Frequentar as Reuniões” e “Evitar o Primeiro Gole”.

O gráfico apresentado a seguir, “coisas de engenheiro”, ilustra níveis de sobriedade de um AA com o tempo e exemplifica as suas diversas trajetórias. No gráfico não estão representadas escalas (ex.: meses, anos, etc.), pois estas são inerentes a cada um de nós alcoólicos; é um gráfico qualitativo. A Tese aqui apresentada tem como objetivo a liberdade de sugerir que existem dois principais Níveis de Sobriedade (NS) em uma mente alcoólica: Sobriedade Consciente (SC) e a Sobriedade Inconsciente (SI).


Ingressamos em A.A. no Nível de Sobriedade “zero” e começamos a nossa trajetória na Zona de Recuperação (ZR) e, em minha opinião, nesta fase podemos dizer: “Sou um alcoólico em recuperação”. Na ZR, podemos ter as mais variadas trajetórias, ou seja, mantermo-nos sóbrios, ou, após um período de sobriedade, infelizmente recairmos por algum “motivo”, podendo ou não posteriormente retornar à sobriedade, como demonstram as curvas 3, 4 e 5. Porém, para os que efetivamente atentam para os fundamentos e orientações de A.A., estes podem ter a chance de atingir o nível de Sobriedade Consciente (SC) e permanecerem nesta zona, que eu a chamo de Zona de Manutenção (ZM). Neste estágio, podemos dizer: “Sou um alcoólico em manutenção”. Esta é uma fase interessante, pois nos eleva a uma sensação de “alcoólico recuperado”, mesmo sabendo que infelizmente o alcoolismo não tem cura, somente tratamento. As curvas 1 e 2 representam esta trajetória. Cabe ressaltar, que uma vez estando na zona ZR, ainda corremos riscos de recaídas. Todavia, neste estágio de sobriedade, temos mais recursos e conhecimentos para evitar o “retorno ao copo”.

Vocês se lembram do “saber andar de bicicleta”? - Lembrança que o nosso Inconsciente armazenou por ter sido um ato extremamente repetitivo; logo, em nossas reuniões terapêuticas de A.A. (“terapia dos iguais”), também por inúmeras repetições sobre permanecermos atentos ao ato de não ingerir bebidas alcoólicas, passamos à condição de vivenciar: “Eu hoje posso não beber”. Neste estado de espírito, o membro de A.A., com o passar do tempo, mantendo-se focado nos fundamentos de Alcoólicos Anônimos, tem a possibilidade de atingir a zona por mim chamada de Zona de Estabilidade (ZE) e possivelmente atingir, em um maior nível, a Sobriedade Inconsciente (SI), mantendo-se na Zona de Estabilidade Plena (ZEP), como mostra a curva 6 do gráfico. Considero que este nível sobriedade é para poucos. Há que se ressaltar que muitas 24 horas em A.A., mesmo sem ingestão de bebidas alcoólicas, não asseguram necessariamente a nossa sobriedade plena. Nós, doentes alcoólicos, temos que estar sempre atentos e focados em nossa meta de “Evitar o Primeiro Gole”.

Em fim, a Tese aqui apresentada tem como objetivo estabelecer correlações entre a mente de um alcoólico de A.A. e os seus possíveis níveis de sobriedade. Todavia, esta Tese não pretende esgotar o assunto e nem tem a pretensão de que os leitores tomem-na como verdadeira. Vai depender da análise de cada um...

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