
asci em 1949, na cidade do Rio de Janeiro, provavelmente já
possuindo o gene do alcoolismo. Na genética clássica, o gene é a
unidade funcional da hereditariedade, sendo esta palavra criada em
1909, pelo botânico dinamarquês Wilhelm Ludvig Johannsen.
Tornei-me ciente da minha doença do alcoolismo,
provavelmente fruto de um atavismo, no final do ano de 2014, quando
atingi o meu “fundo de poço”. Fui então resgatado pela minha
filha e por minha ex-esposa, indo de Belo Horizonte para o Rio de
Janeiro, onde fui ingressado em Alcoólicos Anônimos no Grupo
Igualdade, localizado em Niterói. Após o meu retorno a BH, cidade
onde moro e trabalho, passei a frequentar o Grupo Carmo Sion. Hoje
considero que A.A. e minha família salvaram a minha vida.
Em tempo, pois já ia me esquecendo, meu nome é
Franz H., sou engenheiro e atuo até hoje como tal. Após minha
graduação em engenharia, trabalhei como pesquisador por dez anos,
fato este que, pelo costume, me proporcionou um grande e contínuo
interesse por constantes procuras pelos “porquês” da vida.
Como membro de A.A., passei a refletir sobre a
afirmação utilizada pela maioria dos nossos companheiros e
companheiras: “Sou um alcoólico em recuperação”. Mas
até quando? Consigo me recuperar? É possível atingirmos um estado
de Sobriedade Consciente (SC) ou até mesmo a Sobriedade Inconsciente
(SI)?
Na tentativa de responder estes questionamentos
que corriqueiramente fazemos como AA’s ̶ esta é a minha Tese
̶, faz- se necessário um breve retorno à literatura
psicanalítica. Sigmund Freud, “o pai da psicanálise”, em
primeira instância dividiu o cérebro humano em duas partes: o
“Consciente” e o “Inconsciente”, sendo este
último também chamado de Subconsciente.
Figurativamente, são as duas zonas de um iceberg.
Nós, seres
humanos, temos acesso ao nosso Consciente e até mesmo podemos
controlá-lo.
No Consciente estão o raciocínio, os pensamentos
e nossas percepções. O nosso Inconsciente, menos flexível, não
permite ser controlado por nós, ele que nos controla. Em sua
estrutura estão as nossas lembranças, memórias, medos, recalques e
desejos.
Como exemplos, o nosso Inconsciente nos permite
ter acessos às lembranças de fortes emoções que tivemos em nossas
vidas, fatos recentes e significativos, bem como os fatos que foram
arquivados devido às inúmeras repetições. Acho que todos se
lembram do ditado: “É como
andar de bicicleta, a gente nunca esquece”.
Nós, os alcoólicos, quando ingressamos em A.A.,
vindos de uma “tempestade”, iniciamos a nossa trajetória rumo
aos níveis de sobriedade, se, como condição primordial, admitimos
o “Primeiro Passo”, que diz: “Admitimos que
éramos impotentes perante o álcool – que tínhamos perdido o
domínio sobre nossas vidas”; e , com similar importância,
abraçamos efetivamente o programa de nossa Irmandade e seus
princípios, atuando com perseverança, humildade e honestidade e
sempre usando como lemas: “Frequentar as Reuniões” e
“Evitar o Primeiro Gole”.
O gráfico apresentado a seguir, “coisas de
engenheiro”, ilustra níveis de sobriedade de um AA com o tempo
e exemplifica as suas diversas trajetórias. No gráfico não estão
representadas escalas (ex.: meses, anos, etc.), pois estas são
inerentes a cada um de nós alcoólicos; é um gráfico qualitativo.
A Tese aqui apresentada tem como objetivo a liberdade de sugerir que
existem dois principais Níveis de Sobriedade (NS) em uma mente
alcoólica: Sobriedade Consciente (SC) e a Sobriedade
Inconsciente (SI).

Ingressamos em A.A. no Nível de Sobriedade “zero”
e começamos a nossa trajetória na Zona de Recuperação (ZR) e, em
minha opinião, nesta fase podemos dizer: “Sou um alcoólico
em recuperação”. Na ZR, podemos ter as mais variadas
trajetórias, ou seja, mantermo-nos sóbrios, ou, após um período
de sobriedade, infelizmente recairmos por algum “motivo”, podendo
ou não posteriormente retornar à sobriedade, como demonstram as
curvas 3, 4 e 5. Porém, para os que efetivamente atentam para os
fundamentos e orientações de A.A., estes podem ter a chance de
atingir o nível de Sobriedade Consciente (SC) e permanecerem nesta
zona, que eu a chamo de Zona de Manutenção (ZM). Neste
estágio, podemos dizer: “Sou um alcoólico em manutenção”.
Esta é uma fase interessante, pois nos eleva a uma sensação de
“alcoólico recuperado”, mesmo sabendo que infelizmente o
alcoolismo não tem cura, somente tratamento. As curvas 1 e 2
representam esta trajetória. Cabe ressaltar, que uma vez estando na
zona ZR, ainda corremos riscos de recaídas. Todavia, neste estágio
de sobriedade, temos mais recursos e conhecimentos para evitar o
“retorno ao copo”.
Vocês se lembram do “saber andar de
bicicleta”? - Lembrança que o nosso Inconsciente armazenou por
ter sido um ato extremamente repetitivo; logo, em nossas reuniões
terapêuticas de A.A. (“terapia dos iguais”), também por
inúmeras repetições sobre permanecermos atentos ao ato de não
ingerir bebidas alcoólicas, passamos à condição de vivenciar: “Eu
hoje posso não beber”. Neste estado de espírito, o membro de
A.A., com o passar do tempo, mantendo-se focado nos fundamentos de
Alcoólicos Anônimos, tem a possibilidade de atingir a zona por mim
chamada de Zona de Estabilidade (ZE) e possivelmente atingir,
em um maior nível, a Sobriedade Inconsciente (SI),
mantendo-se na Zona de Estabilidade Plena (ZEP), como mostra a
curva 6 do gráfico. Considero que este nível sobriedade é para
poucos. Há que se ressaltar que muitas 24 horas em A.A., mesmo sem
ingestão de bebidas alcoólicas, não asseguram necessariamente a
nossa sobriedade plena. Nós, doentes alcoólicos, temos que estar
sempre atentos e focados em nossa meta de “Evitar o Primeiro Gole”.
Em fim, a Tese aqui apresentada tem como objetivo
estabelecer correlações entre a mente de um alcoólico de A.A. e os
seus possíveis níveis de sobriedade. Todavia, esta Tese não
pretende esgotar o assunto e nem tem a pretensão de que os leitores
tomem-na como verdadeira. Vai depender da análise de cada um...
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